A mundialização lida com mentalidades, hábitos e padrões; com estilos de comportamento, usos e costumes e com modos de vida, criando denominadores comuns nas preferências de consumo das mais diversas índoles. A mundialização compreende a generalização e uniformização de produtos, instrumentos, informação e meios à disposição de importantes parcelas da população mundial, que "se visitam e se desvendam" através do tráfego aéreo, com um total anual de 1,25 bilhão de passageiros (350 milhões nos Estados Unidos e 250 milhões na Europa); dos quais 340 milhões de viajantes internacionais. São cerca de 14 milhões de japoneses que viajam ao exterior anualmente, número que pode dobrar até meados da primeira década do próximo século [XXI]. A essa explosão de turistas do Japão se juntarão 20 milhões de novos ricos chineses - hoje já são três milhões - e mais 20 milhões de indianos. E mais alguns milhões de coreanos, indonésios, malaios, cingapureanos, vietnamitas e tailandeses, de um universo possível no futuro imediato de 500 milhões de asiáticos de classe média. Viagens apoiadas num certo patamar de poder aquisitivo: as sociedades da França, Alemanha, Japão, Reino Unido e Estados Unidos reúnem cerca de 200 milhões de consumidores com renda anual superior a 10 mil dólares, enquanto Brasil, Argentina, China, Polônia, Paquistão, México, Coréia do Sul, Índia, Indonésia e Tailândia têm, juntos, aproximadamente 100 milhões de consumidores na mesma situação.
(...)
Trata-se de uma população mundial que - a despeito das suas diferenças históricas (culturais, sociais, nacionais e religiosas) e das distâncias físicas - consome e reconhece como "seus" os mais diversos objetos e procedimentos: marcas e tipos de refrigerantes em lata e em garrafas sem retorno, medicamentos e comidas industrializadas, cartões de crédito e músicas na parada de sucessos, relógios e cosméticos, roupas de griffes, [...] personagens do esporte e do cinema. Gente que utiliza os intercomúnicantes subsistemas fínanceiros, que paga com cartões plásticos (a maioria pertencente a três grandes bandeiras, Visa, Máster-Card e American Express) reconhecidos no mundo inteiro, e contabiliza seus gastos e compras em dólares.
(...)
Neste sentido, a mundialização lida com a massificação e homogeneização cultural, evidente no consumo de hambúrgueres, pizzas, sorvetes, iogurtes, refrigerantes, cigarros, jeans, tênis, cartões, etc. Da China à Dinamarca, da Finlândia ao Peru, são os mesmos produtos, das mesmas marcas e modelos iguais. Mas a mundialização também incorpora as particularidades - locais, regionais, nacionais, étnicas, religiosas, de grupos sociais e culturais - subsumidas na dinâmica mundial de consumo de uma heterogênea Terra.
Trechos de DREIFUSS, René Armand. A época das perplexidades: mundialização, globalização e planetarização: novos desafios. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 136-8.
Nenhum comentário:
Postar um comentário