domingo, 12 de dezembro de 2010

COMO SOBREVIVIA A INDUSTRIA CANAVIERIA


O objetivo da produção açucareira era o mercado externo. Seu funcionamento envolvia muita gente. Por isso, no interior da agricultura colonial escravista tínhamos dois setores:
·      Setor de exportação;
·      Setor de produção de alimentos
O setor exportador era a atividade principal, ocupava os melhores solos dos imensos latifúndios, empregava o trabalho escravo e avançava sobre as terras férteis da floresta (plantation).
À margem da atividade principal aparecia o setor de subsistência. Os escravos, nos dias santos e domingos, tinham permissão para praticar a lavoura de subsistência nas franjas do latifúndio, geralmente nos solos de menor fertilidade. Assim, cuidavam de sua própria alimentação diminuindo os gastos dos senhores com a importação de gêneros alimentícios.
Existiam ainda os pequenos agricultores, não integrados a produção do açúcar e que se dedicavam a lavoura de alimentos, muitas vezes pagando um aluguel aos proprietários dos latifúndios pela utilização de um pedaço de terra.
A produção de alimentos era subordinada à atividade principal do latifúndio e variava de acordo com os preços do açúcar no mercado mundial. Quando os preços do açúcar subiam no mercado, todas as terras e os escravos eram utilizados para expandir a produção, sobrando pouca terra para a agricultura de subsistência.
A queda dos preços do açúcar implicava a redução das rendas, obrigando os senhores a reduzirem despesas com a manutenção dos escravos. Nas épocas de baixa cotação do açúcar, os escravos podiam tratar da sua própria subsistência, o que ampliava a produção de alimentos no latifúndio.
Pois é... a alimentação dos escravos só aumentava quando diminuíam os lucros dos latifundiários da cana. Quanto mais “doce” (de cana-de-açúcar) a paisagem, mais amarga era a vida dos escravos.
A alta dos preços do açúcar era acompanhada da expansão dos canaviais que invadiam não só as áreas da mata, mas também a terra dos lavradores restringindo a produção de alimentos. Quando os preços estavam em declínio, os latifundiários alugavam pedaços de terra aos lavradores que podiam aumentar o cultivo para abastecimento de suas famílias, dos próprios latifúndios, das vilas e das cidades próximas.
Como se vê, o poder dos senhores de engenho repousava, no fundo, nas imensas terras  que possuíam. A vida dos demais habitantes ficava à mercê dos interesses desses grandes latifundiários  e dos preços do açúcar no mercado mundial.
Pode-se dizer que a região Nordeste tem uma larga experiência de conviver com crises. Isso pode ser observado na riqueza do artesanato de couro, sisal e barro, que se desenvolvia nos períodos em que era maior a dificuldade de exportar e, consequentemente, menor a capacidade de importar.
Na segunda metade do século XIX, com a diminuição da importação de escravos, a Zona da Mata nordestina sofreu uma modernização nas suas técnicas de introdução das usinas no lugar dos engenhos e da ferrovia no lugar dos carros de boi.
A organização do espaço geográfico modificou-se, pois aqueles que se transformavam em usineiros aumentavam o seu pode de influência. Estes se transformavam em fornecedores de cana das usinas, e muitos deles entraram em decadência. No entanto, a grande usina sofria os mesmos males dos antigos engenhos: a oscilação dos preços do açúcar no mercado externo.
Além disso, o poder dos latifundiários da cana já não era o mesmo na segunda metade do século XIX, pois o café se desenvolvia no Sudeste brasileiro, e o Brasil se destacava como o mais importante produtor mundial. Sem falar que, mesmo na região Nordeste, o século XIX verá o prestígio econômico e político que começava a se deslocar da Zona da Mata para o Sertão, com a produção de Algodão.

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