ÁFRICA
Quando começaram as grandes navegações do século XV, havia na África mais de 8 mil povos, organizados em tribos e alguns impérios. Ao longo de cinco séculos, os europeus desarticularam essas pequenas nações tribais e organizaram territórios coloniais segundo os seus interesses. Esse fenômeno é visto, sob a ótica do colonizador, como um processo de partilha. O que ocorreu de fato foi um violento processo de unificação, pois os milhares de povos e territórios existentes foram confinados aos atuais 51 Estados-nação, com as fronteiras impostas pelos europeus.
O desenho das fronteiras modernas da África pelos colonizadores gerou duas situações opostas: alguns povos foram divididos, passando a viver em Estados diferentes, enquanto dezenas de outros foram obrigados a viver juntos, em um mesmo Estado. Isso explica, em grande parte, os crescentes conflitos étnicos e tribais que ocorrem no continente.
Acabada a Segunda Guerra Mundial, após quase quinhentos anos de expansão, o colonialismo e o imperialismo europeu entraram em crise, já que os países do continente estavam arrasados. Dentro desse contexto teve início a Guerra Fria, marcada pela ascensão de duas superpotências antagônicas: Estados Unidos (capitalista) e União Soviética (socialista).
Com o enfraquecimento das Metrópoles européias, desenvolveu-se na África um nacionalismo caracterizado pelo antiimperialismo e pela busca de soberania política e econômica. Esse nacionalismo viria a ser a base dos processos de independência do período: somente entre 1950 e 1980 surgiram mais de 45 novas nações na África.
Esse fato, entretanto, não trouxe paz para o continente, pois as fronteiras impostas pelos europeus, raramente modificadas com as independências, contribuíam para a eclosão de conflitos no continente, a maior parte deles relacionados a diferenças étnicas.
Com as independências, muitos dos novos Estados tentaram manter sua coesão territorial por meio da federalização, onde cada etnia pudesse estar representada no governo central. Mas, a grande diversidade de povos e as lutas pelo poder acabaram marginalizando muitas etnias, o que originou novos conflitos.
Durante o processo de independência política das nações africanas foi criada a OUA (Organização da Unidade Africana), fundada em 1963. Os Estados-membros se comprometeram com os seguintes princípios: respeitar as fronteiras herdadas dos colonizadores; respeitar a soberania dos Estados; não intervir nos assuntos internos dos Estados-membros. Isso, no entanto, não impediu os conflitos, dentre os quais destacaremos dois:
Guerra de Biafra: ocorrida na Nigéria, é considerada como o primeiro grande conflito étnico africano do pós-colonização. Nela se opuseram os iorubas e os ibos. Em 1967, o governo ioruba retirou os campos de petróleo da região de Biafra do controle ibo, o que levou o chefe local a declarar a região independente. O novo país, Biafra, recebeu apoio de grandes empresas estrangeiras que desejavam explorar seu petróleo. Previa-se o fim da guerra em semanas, mas ela se alongou por mais de dois anos, só se encerrando em 1970 com um saldo de 2 milhões de mortos.
Ruanda e Burundi: a minoria tutsi, formada por pastores, dominava a maioria hutu, de agricultores. No fim da Primeira Guerra Mundial, quando a região ficou sob mandato belga, a maioria hutu passou a participar do poder. Perseguidos, os tutsis passaram a refugiar-se nos países vizinhos. Em 1990, com a volta dos tutsis vindos do Burundi, teve início a guerra civil em Ruanda. Em 1991, eles criaram a Frente Patriótica Ruandesa (FPR) que passou a controlar a parte nordeste do país e tentou, sem sucesso, negociações para formar um novo governo. Em 1994, a França enviou tropas e invadiu o país pelo oeste. A FRP ocupou a capital e lançou a ofensiva final em julho de 1994. No final desse ano mais de 2 milhões de pessoas já haviam fugido do país e cerca de 1 milhão havia sido morta.
A OUA não conseguiu manter seus princípios, sendo os dois conflitos acima apenas um exemplo pálido da dimensão dos problemas étnicos e políticos da África. O não-pagamento das contribuições dos Estados para a organização levaram-na ao fracasso.
Diante dessa situação, em julho de 2001 foi criada uma nova organização, a União Africana, inspirada na União Européia. Na ata de constituição da organização foi previsto que ela poderia intervir nos Estados-membros em três casos: prevenção ou pacificação de conflitos; crimes de guerra; e prática de genocídio. Isso também não tem impedido que os conflitos étnicos e as guerras entre nações continuem a acontecer.
Dentre os conflitos étnicos atuais destaca-se o que vem ocorrendo no Sudão, na região de Darfur. O Sudão é o maior país da África, com cerca de 2,5 milhões de km2. Obteve sua independência plena do Reino Unido em 1956 e desde então tem estado em guerra civil. Dois momentos mais intensos desse conflito são denominados de primeira guerra civil (1955-1972) e de segunda guerra civil (1983-2005).
Nessa última morreram cerca de 2 milhões de pessoas e mais de 4 milhões se refugiaram em países vizinhos. Ela foi marcada pela crescimento da milícia armada Janjaweed (demônios sobre cavalos), de origem árabe formada pela etnia baggara, nômades da região, seguidores do islamismo, que tinham como objetivo a eliminação dos grupos rebeldes, não-árabes, do sul do país. Para tanto, recebiam financiamento do governo.
A região de Darfur situa-se no oeste do Sudão, com cerca de 350 mil km2, sendo ocupada por cerca de 5 milhões de pessoas, onde predominam as etnias fur (de onde surge o nome Darfur – terra dos fur), masalit e zaghawa.
Quando começaram as grandes navegações do século XV, havia na África mais de 8 mil povos, organizados em tribos e alguns impérios. Ao longo de cinco séculos, os europeus desarticularam essas pequenas nações tribais e organizaram territórios coloniais segundo os seus interesses. Esse fenômeno é visto, sob a ótica do colonizador, como um processo de partilha. O que ocorreu de fato foi um violento processo de unificação, pois os milhares de povos e territórios existentes foram confinados aos atuais 51 Estados-nação, com as fronteiras impostas pelos europeus.
O desenho das fronteiras modernas da África pelos colonizadores gerou duas situações opostas: alguns povos foram divididos, passando a viver em Estados diferentes, enquanto dezenas de outros foram obrigados a viver juntos, em um mesmo Estado. Isso explica, em grande parte, os crescentes conflitos étnicos e tribais que ocorrem no continente.
Acabada a Segunda Guerra Mundial, após quase quinhentos anos de expansão, o colonialismo e o imperialismo europeu entraram em crise, já que os países do continente estavam arrasados. Dentro desse contexto teve início a Guerra Fria, marcada pela ascensão de duas superpotências antagônicas: Estados Unidos (capitalista) e União Soviética (socialista).
Com o enfraquecimento das Metrópoles européias, desenvolveu-se na África um nacionalismo caracterizado pelo antiimperialismo e pela busca de soberania política e econômica. Esse nacionalismo viria a ser a base dos processos de independência do período: somente entre 1950 e 1980 surgiram mais de 45 novas nações na África.
Esse fato, entretanto, não trouxe paz para o continente, pois as fronteiras impostas pelos europeus, raramente modificadas com as independências, contribuíam para a eclosão de conflitos no continente, a maior parte deles relacionados a diferenças étnicas.
Com as independências, muitos dos novos Estados tentaram manter sua coesão territorial por meio da federalização, onde cada etnia pudesse estar representada no governo central. Mas, a grande diversidade de povos e as lutas pelo poder acabaram marginalizando muitas etnias, o que originou novos conflitos.
Durante o processo de independência política das nações africanas foi criada a OUA (Organização da Unidade Africana), fundada em 1963. Os Estados-membros se comprometeram com os seguintes princípios: respeitar as fronteiras herdadas dos colonizadores; respeitar a soberania dos Estados; não intervir nos assuntos internos dos Estados-membros. Isso, no entanto, não impediu os conflitos, dentre os quais destacaremos dois:
Guerra de Biafra: ocorrida na Nigéria, é considerada como o primeiro grande conflito étnico africano do pós-colonização. Nela se opuseram os iorubas e os ibos. Em 1967, o governo ioruba retirou os campos de petróleo da região de Biafra do controle ibo, o que levou o chefe local a declarar a região independente. O novo país, Biafra, recebeu apoio de grandes empresas estrangeiras que desejavam explorar seu petróleo. Previa-se o fim da guerra em semanas, mas ela se alongou por mais de dois anos, só se encerrando em 1970 com um saldo de 2 milhões de mortos.
Ruanda e Burundi: a minoria tutsi, formada por pastores, dominava a maioria hutu, de agricultores. No fim da Primeira Guerra Mundial, quando a região ficou sob mandato belga, a maioria hutu passou a participar do poder. Perseguidos, os tutsis passaram a refugiar-se nos países vizinhos. Em 1990, com a volta dos tutsis vindos do Burundi, teve início a guerra civil em Ruanda. Em 1991, eles criaram a Frente Patriótica Ruandesa (FPR) que passou a controlar a parte nordeste do país e tentou, sem sucesso, negociações para formar um novo governo. Em 1994, a França enviou tropas e invadiu o país pelo oeste. A FRP ocupou a capital e lançou a ofensiva final em julho de 1994. No final desse ano mais de 2 milhões de pessoas já haviam fugido do país e cerca de 1 milhão havia sido morta.
A OUA não conseguiu manter seus princípios, sendo os dois conflitos acima apenas um exemplo pálido da dimensão dos problemas étnicos e políticos da África. O não-pagamento das contribuições dos Estados para a organização levaram-na ao fracasso.
Diante dessa situação, em julho de 2001 foi criada uma nova organização, a União Africana, inspirada na União Européia. Na ata de constituição da organização foi previsto que ela poderia intervir nos Estados-membros em três casos: prevenção ou pacificação de conflitos; crimes de guerra; e prática de genocídio. Isso também não tem impedido que os conflitos étnicos e as guerras entre nações continuem a acontecer.
Dentre os conflitos étnicos atuais destaca-se o que vem ocorrendo no Sudão, na região de Darfur. O Sudão é o maior país da África, com cerca de 2,5 milhões de km2. Obteve sua independência plena do Reino Unido em 1956 e desde então tem estado em guerra civil. Dois momentos mais intensos desse conflito são denominados de primeira guerra civil (1955-1972) e de segunda guerra civil (1983-2005).
Nessa última morreram cerca de 2 milhões de pessoas e mais de 4 milhões se refugiaram em países vizinhos. Ela foi marcada pela crescimento da milícia armada Janjaweed (demônios sobre cavalos), de origem árabe formada pela etnia baggara, nômades da região, seguidores do islamismo, que tinham como objetivo a eliminação dos grupos rebeldes, não-árabes, do sul do país. Para tanto, recebiam financiamento do governo.
A região de Darfur situa-se no oeste do Sudão, com cerca de 350 mil km2, sendo ocupada por cerca de 5 milhões de pessoas, onde predominam as etnias fur (de onde surge o nome Darfur – terra dos fur), masalit e zaghawa.
Em fevereiro de 2003 teve início o que vem sendo chamada de terceira guerra civil, quando grupos rebeldes de Darfur atacaram postos do governo região, como forma de protesto pelo descaso do governo, predominantemente árabe islâmico, para com as populações dessee território.
O governo ampliou o apoio as milícias islâmicas, dando início ao que foi classificado como uma limpeza étnica, com destruições de povoados, assassinatos de mulheres e crianças, destruição de plantações e confisco de colheitas, provocando uma onda de fome.
Várias propostas de intervenção internacional, feitas na ONU, não foram aprovadas por veto da China, maior parceira comercial do governo sudanês. No entanto, quando os combates se intensificaram na metade do ano de 2006, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução 1706 e enviou uma força de paz, composta de 20 mil soldados, para apoiar as tropas da União Africana.
Segundo cálculos da ONU, até setembro de 2007 já haviam morrido na região de Darfur mais de 500 mil pessoas e 2 milhões haviam se refugiado nos países vizinhos.
O governo ampliou o apoio as milícias islâmicas, dando início ao que foi classificado como uma limpeza étnica, com destruições de povoados, assassinatos de mulheres e crianças, destruição de plantações e confisco de colheitas, provocando uma onda de fome.
Várias propostas de intervenção internacional, feitas na ONU, não foram aprovadas por veto da China, maior parceira comercial do governo sudanês. No entanto, quando os combates se intensificaram na metade do ano de 2006, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução 1706 e enviou uma força de paz, composta de 20 mil soldados, para apoiar as tropas da União Africana.
Segundo cálculos da ONU, até setembro de 2007 já haviam morrido na região de Darfur mais de 500 mil pessoas e 2 milhões haviam se refugiado nos países vizinhos.
Texto extraído do seguinte endereço:
http://geografiaaovivo.blogspot.com/2008/06/conflitos-tnicos-na-atualidade-1.html
2 comentários:
Pô valeu, vc me ajudou e muito, tava precisando fazer um trabalho com esse assunto... valeu :D
Muito Bom
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