segunda-feira, 19 de abril de 2010

HIERARQUIA URBANA

Desde o final do século XIX, muitos autores passaram a utilizar o conceito de rede urbana para se referir à crescente articulação entre as cidades, resultante da expansão da industrialização e urbanização e da intensificação dos fluxos comerciais entre cidades de diferentes tamanhos. No mesmo período, na tentativa de entender as relações travadas entre as cidades no interior de uma rede, a noção de hierarquia urbana também passou a ser utilizada.
O conceito foi tomado do jargão militar, em que há, de fato, uma rígida hierarquia, ou seja, o subordinado tem de se reportar ao seu superior imediato. Assim, por exemplo, no exército, o soldado tem de se reportar ao cabo, que por sua vez tem de se reportar ao sargento, que tem de se reportar ao tenente, capitão, etc. sempre num crescendo de poder e influência, até chegar ao topo máximo da hierarquia, que seria o posto de general.
Desse modo, fazendo uma analogia, a vila seria o soldado e a metrópole, o general. Logo, a metrópole seria o nível máximo de poder e influência econômica, e a vila, o nível mais baixo, e sofreria influência de todas as outras. Desde o final do século XIX até meados da década de 1970, foi essa a concepção de hierarquia urbana utilizada. Observe o esquema.
Essa concepção tradicional de hierarquia urbana não dá mais conta das relações travadas entre as cidades no interior da rede urbana. Com os crescentes avanços tecnológicos, a modernização dos sistemas de transportes e de comunicações, o barateamento e a maior facilidade de obtenção de energia, a disseminação dos automóveis, o aumento do tráfego aéreo, da telefonia, da Internet, enfim, com a "contração" do tempo e o "encurtamento" das distâncias, as relações entre as cidades já não seguem mais o "esquema militar", pelo qual era necessário "galgar postos" dentro da hierarquia das cidades, como foi visto.


Atualmente, já é possível falar da existência de uma nova hierarquia urbana, dentro da qual a relação da vila ou da cidade loca pode ser travada com o centro regional, com a metrópole regional ou, em certos casos, mesmo diretamente com a metrópole nacional sem a intermediação de cidades de porte médio. O esquema ao lado mostra a inter-relação das cidades no interior da rede urbana de uma forma rnais próxima do que realmente ocorre na atualidade.
Assim, é possível uma família morar numa vila (ou bairro da cidade de Sorocaba (centro regional), que fica a aproximadamente 100 quilômetros de São Paulo, e dirigir-se periodicamente à metrópole paulistana para as compras, ou para o lazer, ou mesmo para trabalhar, deslocando-se cotidianamente. É possível uma pessoa morar em Araçoiaba da Serra (cidade local) e ter mais vínculos com São Paulo (metrópole nacional) do que cor Sorocaba (centro regional). É também possível uma pessoa residir numa chácara, na zona rural da região de São Roque (cidade local), situada a uns 60 quilômetros de São Paulo, e estar totalmente integrada à metrópole, sem ter necessidade de ir ao centro de São Roque. O que há em comum entre todas essas pessoas é que elas podem dispor de boas rodovias para se deslocar.
Hoje em dia, uma pessoa pode residir numa chácara ou num sítio, na zona rural, ou numa pequena cidade, lugares distantes de umi grande centro, e estar mais integrada do que outra que resida no interior desse mesmo centro. Se a pessoa vive, por exemplo, numa chácara a quilômetros da grande cidade, mas tem à sua disposição telefone, computador, Internet, fax, aparelho de televisão conectado diretamente aos satélites de transmissão e boas linhas de transporte ou um automóvel, ela está mais integrada do que a pessoa que mora dentro da cidade, por exemplo, num cortiço ou numa favela, e não tem acesso a todos esses modernos bens e serviços.
Percebe-se, portanto, que o que define a integração ou não das pessoas à moderna sociedade capitalista é a maior ou menor disponibilidade de renda e, consequentemente, a possibilidade de acesso às novas tecnologias, conhecimentos, bens e serviços.
Essa relativização das distâncias, que tem repercussões na rede urbana, também pode ser verificada nas relações capitalistas de produção. Nos países desenvolvidos, e mesmo nas regiões industria zadas dos países subdesenvolvidos, é cada vez mais comum a descentralização das indústrias, instaladas na zona rural, nos eixos de modernas rodovias, ferrovias e hidrovias. Paralelamente, a produção agropecuária foi quase totalmente incorporada pelo capital industrial, pela agroindústria.
Tudo isso nos permite concluir que a oposição campo x cidade ou agricultura x indústria já não faz muito sentido na análise geoeconômica dos dias de hoje, notadamente nos países desenvolvidos.

Nenhum comentário:

Gostou? Compartilhe o Blog!!!

Facebook Twitter Addthis