quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Geopolítica da Nova Ásia Central

O conceito de Ásia Central é algo recente na divisão regional que normalmente se faz do continente asiático. Até 1991, quando se dividia o continente asiático em regiões era muito comum identificarem-se o Oriente Médio, o subcontinente indiano, o Sudeste Asiático, o Extremo Oriente, mas não a Ásia Central. Esta porção do continente era parte integrante da hoje extinta União Soviética.

Embora nem todos os autores concordem quanto aos países componentes dessa unidade regional, de maneira geral, desde o fim da União Soviética em 1991, a região passou a ser identificada como aquela que reúne as repúblicas independentes do Casaquistão, Turcomenistão, Usbequistão, Tajiquistão e Quirguistão.

A Ásia Central atual abrange uma área com quase 4 milhões de quilômetros quadrados, pouco menos da metade do território brasileiro, e uma população de mais ou menos 60 milhões de pessoas (mais ou menos um terço do efetivo populacional do Brasil).

Várias características ajudam a definir a individualidade da região. Uma delas é que todos os países que a compõem são Estados interiores, isto e, não possuem acesso a oceanos ou mares abertos. Se juntarmos a estas cinco repúblicas o Afeganistão e a Mongólia, estaremos diante da maior área com países interiorizados do planeta. Esta macrozona, a mais distante de mares abertos, está pelo menos a 2.000 km. do mar Negro, do Golfo Pérsico e do Oceano Índico e cerca de 5.000 km. do Pacifico. O Usbequistão, por exemplo, é considerado um dos países mais “continentalizados” do mundo, porque faz apenas fronteiras com outros Estados que também não possuem acesso litoral.

Uma outra característica importante da região é que ela está situada numa espécie de encruzilhada de povos e civilizações que ao longo do tempo se sobrepuseram, deixando marcas culturais indeléveis nas populações atuais. A uma base turco-iraniana (persa) original, que legou à maioria das populações os fundamentos lingüísticos e religiosos, se sobrepôs, nos últimos dois séculos, a influência eslavo-ortodoxa russa.

Por conta dessa evolução histórica, a região apresenta uma relativa homogeneidade do ponto de vista religioso, já que grande maioria dos habitantes dos países da área professa o islamismo de rito sunita. Por outro lado existe uma grande heterogeneidade do ponto de vista étnico-nacional. Todos os Estados da região possuem inúmeras minorias, sendo que indivíduos de origem russa estão presentes, com maior ou menor expressão, nos cinco países da área.

Ao longo especialmente do século XIX, os espaços e as populações da Ásia Central foram incorporados pela força das armas ao Império Russo . De 1917 (revolução bolchevique) até 1991, passaram para o domínio direto da União Soviética. Entre as inumeráveis influências deixadas pela era soviética está a da criação, entre 1922 e 1936, dos espaços nacionais hoje existentes, cujas fronteiras arbitrárias e artificiais mantém-se inalteradas até a atualidade. Como têm acontecido em situações similares, à exemplo da África, a artificialidade das fronteiras têm sido objeto de conflitos e tensões geopolíticas.

Uma outra característica dos cinco países da Ásia Central foi a forma peculiar como eles se tornaram independentes. Todos se tornaram Estados soberanos em 1991, como resultado da desintegração da antiga União Soviética.

Por fim, um outro fato que individualiza os países da região é que seus presidentes atuais são homens que fizeram parte da nomenklatura comunista e que espertamente passaram por uma “reciclaram” ideológica após o fim da época soviética. Todos eles lideram regimes que, em maior ou menor grau, são classificados como autoritários.

Paisagens e recursos naturais

A Ásia Central possui uma paisagem dominante de estepes secas e semi-áridas, limitadas a oeste pelo Mar Cáspio; ao sul, pelas altas montanhas do Hindu Kush e dos Montes Pamir. Os montes Tian Shan, são os limites da Ásia Central a leste. Em sua porção setentrional, isto ao norte do Casaquistão, a fronteira natural não fica bem definida já que as estepes desse país se confundem com o domínio da Sibéria russa.

Historicamente, a região foi definida como a “terra entre dois rios”, já que o Amu Daria (o antigo Oxus) e o Sir Daria (Jaxartes) se constituíam em importantes fronteiras naturais. Assim, no passado, o Amu Daria foi a fronteira que separou o império turco e mongol do persa. No século XIX foi fronteira que separou as áreas sob o domínio do Império Britânico, daquelas que estavam dominadas pelo Império Russo. Nessa época, a região esteve envolvida no embate geopolítico entre russos e britânicos, que ficou conhecido como “O Grande Jogo”.

No centro desses amplos domínios estépicos cercados por altas montanhas, estendem-se dois desertos. Ao sul, está o deserto de Kara Kum, que cobre amplas áreas do Turcomenistão. Mais ao norte, no Usbequsitão está o de Kizul Kum. No interior dessas áreas desérticas são encontrados vales fluviais (o de Fergana, por exemplo) e oásis onde se desenvolveram algumas das principais e mais antigas cidades da Ásia Central como Samarcanda e Bukara.

Até o século XIX, os recursos naturais da região haviam sido pouco explorados. A partir de então russos e posteriormente os soviéticos transformaram drasticamente as paisagens naturais, especialmente no que diz respeito à construção de vastas redes de irrigação que, de um lado, promoveram o desenvolvimento agrícola (especialmente o plantio do algodão), mas de outro geraram gravíssimos impactos ambientais, sendo o mais dramático aquele que vem ocorrendo no Mar de Aral, que nos últimos 40 anos perdeu cerca de 2/3 de sua superfície líquida.

Nos últimos 15 anos, a descoberta de novas e promissoras reservas de hidrocarbonetos (gás natural e petróleo) vem aguçando os interesses de países e grandes multinacionais não só por sua exploração, mas também pelo seu escoamento para mares abertos. Esse é o “Grande Jogo” da atualidade.


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