quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O Imperialismo Estadunidense e a América Latina


A "guerra contra o narcotráfico" promovida pelos EUA tem um aspecto econômico, político e militar. O aspecto econômico busca impedir que surja uma forte burguesia nos países semi-coloniais apoiada neste grande negócio, já que isto permitiria o controle de um negócio mundial que alcança cifras em torno de trilhões de dólares. Daí sua política de repressão seletiva, que ataca os pequenos produtores, com a destruição das plantações de coca na Bolívia, Peru e Colômbia e com os consumidores, sem atacar os grandes atravessadores que são os que detém o maiores no processo, principalmente as máfias americanas e os grandes bancos que recolhem o grosso dos lucros do narcotráfico.

É uma repressão seletiva porque busca destruir os grandes cartéis somente quando estes assumem proporções gigantescas, como os cartéis de Cali e Medellín que estavam constituindo grandes oligopólios mundiais por fora do controle americano. Por isso, foram desbaratados e em seu lugar surgiram dezenas de cartéis que continuam o trabalho inclusive produzindo e distribuindo mais cocaína que os dois cartéis juntos. A burguesia destes países produtores (Colômbia, Peru e Bolívia) se dividem alinhado-se ou não com o imperialismo americano pelo controle e pela apropriação da maior quantidade de lucro que gera para incluir no circuito "legal" do capitalismo.

Desta forma, o imperialismo, acossado pela crise econômica, busca controlar todos os ramos econômicos dos países semi-coloniais (vide privatizações e abertura dos mercados) e a "guerra contra o narcotráfico" é somente a cobertura para uma luta sem quartel para controlar e garantir que os volumosos lucros desta grande indústria seja açambarcado por suas empresas, bancos, e por setores aliados nos países atrasados e não potencialize o surgimento de uma forte burguesia lúmpen que rivalize com o imperialismo ou mesmo possa enfrentá-los ainda que circunstancialmente.

Ademais, desbaratando os grandes cartéis, utiliza o dito "dividir para reinar", já que pode infiltrar agentes da DEA e da CIA, informantes e pilantras da pior espécie dentro das organizações mantendo, perfeitamente, um controle sobre todo o negócio e "explodindo" os setores que não estão totalmente "sob controle". Para isso contam com a ajuda da subserviente burguesia latino-americana mais realista que o rei e totalmente subordinada aos interesses do Império do Norte.

É do conhecimento de todos os escândalos que relacionam os americanos em tráfico de drogas. Por exemplo, a esposa do coronel Hiett, o chefe dos militares destacados para seguir na Colômbia o combate às drogas foi detida por traficar cocaína usando os canais diplomáticos. O comércio é tão gigantesco que uma rede dentro da American Airlines, usava as facilidades de acesso a aeroportos para oferecer cocaína nas maiores capitais do Tio Sam.

Porém, estes dois exemplos são só a expressão de uma vasta rede clandestina montada pela CIA, DEA e outros órgãos de inteligência americana. Em janeiro de 1980 apareceu morto um
banqueiro australiano, F. Nugan, co-proprietário de uma instituição (NUGAN HAND INC) com sucursais nos 5 continentes. As atividades da Nugan: negócios com pessoas com conexões provadas com drogas; intensa atividade bancária na Florida ligada a narcóticos, tráfico de armas. Existem provas da conexão desta "empresa" com o FBI e a CIA. O quadro de acionistas e pessoas que tiveram relação com o banco vão desde Abe Saffron, personagem fundamental do crime organizado na Austrália, Terry Clarck, chefe do sindicato exportador de opiáceos chamado Mr. Ásia. Capos da Cosa Nostra americana que se conectavam com o Banco Nugan via Sir Peter Abeles, igualmente sir Peter Strasser, equivalente de Abeles ao nível de petróleos, Rupert Murdoch, Theodore Shackley, ex-diretor de operações clandestinas da CIA, Richard Secord, chefe de vendas de equipamento militar no Pentágono de 1978 a 1984, demitido depois de fraudar o exército americano em 8 milhões de dólares. Através de Oliver North - em nome do Conselho de Segurança Nacional, Secord foi encarregado de organizar a conexão Irã-Contras. Os administradores e conselheiros do banco eram na sua maioria militares de alta patente, ligados ao Conselho de Segurança Nacional dos EUA, chefes na guerra do Vietnã, ex-diretores da CIA.

Esta grande rede controlava o tráfico de heroína e venda de armas em acordos com os grandes cartéis, "sócios na luta contra o comunismo". Quando este banco vai à falência, surge imediatamente um substituto, o BCCI, que passa a ser parte desta rede clandestina e foi via ele que processou a negociata do escândalo Irã-Contras onde o governo financiou os contras nicaraguenses com a venda ilegal de armas ao Irã e com o tráfico de entorpecentes. O BCCI tinha uma rede secreta composta por 1.500 funcionários dedicados ao tráfico de armas, drogas e divisas, prostituição, seqüestros, assassinatos, etc.

Na verdade, o pretenso combate ao tráfico é a fachada para impor um controle econômico e político na região, já que sequer consegue efetivamente o que se propõe. O tráfico de drogas do Panamá aumentou após a intervenção imperialista contra Noriega. O governo do ex-presidente mexicano Carlos Salinas de Gortari, grande amigo dos EUA, tinha uma de suas bases de sustentação no tráfico e seu próprio irmão Raúl era uma das figuras centrais do contrabando e do tráfico.

Na Colômbia, os narcotraficantes mais poderosos apóiam os paramilitares e tiveram participação direta nas execuções de líderes sindicais, ativistas e jornalistas. Esses crimes permanecem impunes, com a conivência das mesmas FFAA que os EUA orientam e enchem de dólares.

O que preocupa o imperialismo é que os países exportadores de drogas se beneficiem economicamente. Por isso dirige seus ataques à periferia: as plantações, os centros de produção e principalmente a "lavagem de dólares" na América Latina. Porém, não combate estas atividades com a mesma intensidade e força em seu próprio território.

O imperialismo sabe, pela sua própria história, que o surgimento destes ramos "ilegais" é uma forma de acumulação primitiva do capital que pode permitir o surgimento de grandes capitais financeiros, como foi no seu tempo o tráfico de escravos, a colonização da América, os piratas a serviço da rainha da Inglaterra ou mesmo, mais recentemente, na década de vinte nos EUA, quando a proibição do álcool levou à formação de impérios clandestinos que depois transformaram-se em grandes negócios.
...recolonizar a América Latina

O aspecto político e militar da luta "contra o narcotráfico" é que a partir do final dos anos 80 o imperialismo norte americano utiliza o "perigo do narcotráfico" para assim justificar sua crescente intervenção nas forças de segurança dos países latino-americanos, como na Colômbia, Bolívia, Peru, Equador, Panamá, Brasil, Paraguai, México, etc.

Por trás dessa máscara se insinua a penetração de militares norte-americanos em toda América Latina, cuja ponta de lança para a intervenção começa na Colômbia, porém que está desenvolvendo seus tentáculos em todos os países da área. O Narcotráfico é utilizado para justificar intervenções abertas e descaradas, retrocedendo a formas coloniais que vai desde invasões, como foi o caso do Panamá, até treinamento de FFAA com "assessores" militares como na Colômbia, Bolívia, Peru, Paraguai, até ceder partes partes do território para que sejam patrulhados por ianques. O imperialismo norte-americano relocaliza dezenas de milhares de militares que estavam estacionados no Panamá, construindo bases e acordos militares com a maioria dos países da área, preparando-se para embates na luta contra a liberação nacional e os grandes enfrentamentos que estão por dar-se na área, como prenunciam Colômbia, Equador e outros.

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