Massacre na Nigéria deixa 528 cristãos mortos
Pelo menos 528 agricultores de aldeias cristãs foram assassinados desde sábado em confrontos com pastores muçulmanos no centro da Nigéria, o país mais populoso da África. Em pelo menos três aldeias ao sul de Jos, capital do Estado de Plateau, homens, mulheres e bebês foram cortados a golpes de facão e tiveram seus corpos queimados.
O presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, ordenou que a polícia nigeriana ficasse em estado de alerta máximo para impedir novos ataques. O Vaticano manifestou "dor e preocupação" pela "horrível violência", mas seu porta-voz, Federico Lombardi, evitou fazer comentários de natureza étnica ou religiosa.
Conflitos do Quênia
A discrepância sócio-política entre os quicuios e as demais etnias explica os conflitos no Quênia.
Durante toda sua história, o Quênia foi considerado um dos mais pacíficos países de todo continente africano. Contudo, no final de 2007, violentos conflitos deram fim à boa fama da região em um episódio marcado pela morte de milhares de pessoas. Diversos homens munidos de facões invadiram uma favela em Nairóbi, capital do país, provocando uma série de linchamentos, estupros, mutilações, incêndios e assassinatos.
Essa ação extremada foi uma resposta ao fraudulento processo eleitoral que oficializou a reeleição do presidente Mwai Kibaki, membro da etnia quicuio. De fato, esta sangrenta manifestação foi produto das rixas existentes entre os quicuios e as demais tribos e etnias que também habitam esse país. Para entendermos melhor essa rivalidade, é necessário voltarmos nossos olhos para o processo de colonização desenvolvido pelos britânicos entre os séculos XIX e XX.
Ao iniciar a ocupação do Quênia, os europeus realizaram o transporte de enfermidades animais que simplesmente dizimaram uma significativa parcela do gado presente no país. Em pouco tempo, milhares de pessoas sofreram com epidemias geradas pela má alimentação e bruscos processos de concentração populacional. Contudo, enquanto algumas tribos perderam boa parte de seus integrantes com tais problemas, outros conseguiram resistir à falta de alimento e às epidemias.
No caso do quicuios, a devastação produzida pela ocupação européia permitiu que os mesmos se tornassem o grupo tribal majoritário dentro do Quênia. Além disso, ao longo da ocupação britânica, desfrutaram de vantagens e benefícios que os colocaram em posição desigual em comparação às outras tribos também presentes na região. Um exemplo disso se deu na própria construção da capital Nairóbi, localizada nas proximidades das terras dos quicuios.
Com o passar das décadas, somente os quicuios tiveram oportunidade de estudar nas escolas britânicas e, consequentemente, aumentar suas chances de ingressar nos cargos políticos e administrativos do estado queniano. Apesar disso, não podemos deixar de assinalar que essa população também sofreu com as imposições da ação imperialista quando tiveram suas terras tomadas para que outro tipo de exploração econômica fosse nelas implantado.
No contexto do processo de descolonização afro-asiático, os quicuios organizaram a rebelião Mau-Mau, uma importante revolta que contribuiu para o processo de independência do Quênia. Quando decidiram finalmente retirar suas instituições do país, no começo da década de 1960, os ingleses preferiram repassar o poder para uma pequena elite de quicuios proprietários de terra. Com isso, mais um ponto da desigualdade entre as tribos locais se perpetuava.
A hegemonia política e econômica dos quicuios no país reflete todo um processo de desigualdades sofrido desde o período da experiência imperialista. Contudo, cabe aos representantes políticos dessa maioria étnica reconhecer e ampliar os direitos de participação política e social dos luias, calenjins, luos, cambas, mijiquendas, somalis e outras tribos que ocupam esse mesmo território. Caso contrário, as discrepâncias e conflitos oriundos da ação imperialista tendem a ganhar maior profundidade.
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