No mundo desenvolvido, sobretudo na Europa ocidental, presenciamos a força renovada das grandes cidades, que parecem concentrar uma participação significativa e frequentemente desproporcional da atividade econômica em setores dominantes. Nos anos setenta, muitas das grandes cidades em países altamente desenvolvidos estavam perdendo população e atividade econômica. Muito se disse, naquela época, sobre o irreversível declínio dessas cidades. Desde então tem havido um ressurgimento que resulta, em boa parte, da interseção de duas grandes correntes: (1) uma mudança em direção aos serviços, particularmente a ascendência das finanças e dos serviços especializados em todas as economias adiantadas e (2) a transnacionalização cada vez maior da atividade econômica. Pode essa transnacionalização atuar nos níveis regional, continental ou global. Essas duas correntes estão interligadas e alimentam-se mutuamente. As implicações espaciais consistem em uma forte tendência à aglomeração das atividades pertinentes nas grandes cidades. Essa dinâmica do crescimento urbano baseia-se sobretudo nas necessidades de locação ou nas preferências das empresas, ao passo que o crescimento urbano, em países menos desenvolvidos, resulta principalmente do crescimento da população, especialmente da imigração.
A pronunciada orientação em direção aos mercados mundiais, evidente em tais cidades, suscita questões sobre sua articulação com o interior e com os Estados-Nação. As cidades, o que é um fato muito característico, estiveram e ainda estão profundamente imersas na economia de sua região, refletindo com frequência as características desta última. No entanto, aquelas cidades que são locais estratégicos na economia global tendem, em parte, a desconectar-se de sua região. Esse fenômeno também entra em conflito com uma proposta fundamental do conceito tradicional relativo aos sistemas urbanos: a de que esses sistemas promovem a integração territorial das economias regionais e nacionais.
Duas tendências que contribuem para novas formas de desigualdade entre as cidades são visíveis na geografia e nas características dos sistemas urbanos. Por um lado, existe uma articulação crescente em nível internacional entre as cidades. Isso é evidente no nível transnacional regional e no nível global. Em alguns exemplos ocorre aquilo que se poderia denominar geografias de articulação ou hierarquias que tudo ultrapassam e que operam em mais de um nível. Quer isso dizer que existem cidades, como Paris ou Londres, que pertencem a um sistema ou hierarquia urbana nacional, a um sistema transnacional europeu e a um sistema em nível global. Por outro lado, cidades e regiões situadas fora dessas hierarquias tendem a se tornar periféricas ou ainda mais periféricas do que têm sido até então.