sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Geografia do Brasil

    GEOGRAFIA

    A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO

    DE QUEM É ESTA TERRA? QUEM SOMOS NÓS?

    Em 22 de abril de 2000, enquanto o governo se empenhava em festejar oficialmente os "500 anos de Brasil", vários grupos indígenas, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), organizações não-governamentais (ONGs) ligadas a questões ambientais, de direitos humanos, infância e adolescência, moradia, entre outras, protestavam e questionavam: "De quem é esta terra?", "Quem são os brasileiros?".

    Quando dizemos que o Brasil foi descoberto em 22 de abril de 1500, na verdade estamos evocando a data que marca oficialmente a presença européia em terras brasileiras. Mas e os povos que viviam no atual território brasileiro antes da chegada dos europeus? E seus descendentes? Essa comemoração foi importante porque promoveu vários debates sobre a história, a organização social, a estrutura política e económica e a enorme diversidade dos modos de vida no Brasil atual. [Releia o texto Patrimônio cultural, p. 10]

    Será que a história e o significado de Brasil são os mesmos para alguém que mora numa grande metrópole, um sertanejo ou um descendente de indígenas que conseguiu manter a sua identidade cultural?

    Leia os fragmentos de texto a seguir, sobre as comemorações dos "500 anos de Brasil". O primeiro foi escrito por Kaka Werá Jecupé, um descendente dos Txucarramãe, povo indígena que se deslocou do rio Araguaia (Goiás) para o Norte de Minas Gerais, no início da década de 1960, e o segundo é parte do discurso feito por Matalauê, um Pataxó, povo do Sul da Bahia.

    O que é índio?

    Kaka Werá Jecupé

    O índio não chamava nem chama a si mesmo de índio. O nome "índio" veio trazido pelos ventos dos mares do século XVI, mas o espírito "índio" habitava o Brasil antes mesmo de o tempo existir e se estendeu pelas Américas para, mais tarde, exprimir muitos nomes, difusores da tradição do Sol, da Lua e do Sonho.

    (...)

    Segundo os historiadores, os portugueses de 1500 tinham colonizado alguns lugares da África e da Ásia. Eles chamavam de colonização o ato de se estabelecer em terras estrangeiras como se fossem deles, colocar nessas terras feitorias (sistemas encarregados de aquisição de bens para a corte real portuguesa) em lugares considerados importantes, geralmente próximos ao litoral, e a partir de seus feitores realizavam a exploração e o comércio das riquezas do lugar.

    Trechos de JECUPÉ, Kaka Werá. A terra dos mil povos: história indígena do Brasil contada por um Índio. São Paulo: Fundação Peirópolis, 1996. p. 13 e 50. (Educação paia a paz).

    Discurso sobre as comemorações dos "500 anos de Brasil"

    Matalauê

    Hoje é esse dia que podia ser um dia de alegria para todos nós. Vocês estão dentro da nossa casa. Estão dentro daquilo que é o coração do nosso povo, que é a teria, onde vocês estão pisando. Isso é nossa terra.

    Onde vocês estão pisando vocês têm que ter respeito porque essa teria pertenre a nós.

    Quando vocês chegaram aqui, essa terra já era nossa. O que vocês fizeram com a gente?

    Nossos povos têm muita história para contar. Nossos povos nativos e donos da terra, que vivem em harmonia com a natureza: tupi, xavante, tapuia, caiapó, pataxó e tantos outros.

    Séculos depois, estudos comprovam a teoria, contada pelos anciãos, de geração em geração dos povos, as verdades sábias, que vocês não souberam respeitar e que hoje não querem respeitar.

    São mais de 40 mil anos em que germinaram mais de 999 povos com culturas, com línguas diferentes, mas apenas em 500 anos esses 999 povos foiam reduzidos a menos de 220. Mais de 6 milhões de índios foram reduzidos a apenas 350 mil.

    Quinhentos anos de sofrimento, de massacre, de exclusão, de preconceito, de exploração, de extermínio de nossos parentes, aculturamento, estupro de nossas mulheres, devastação de nossas terras, de nossas matas, que nos tomaiam com a invasão.

    Hoje, querem afirmar a qualquer custo a mentira, a mentira do Descobrimento. Cravando em nossa terra uma cuz de metal, levando nosso monumento, que seria a resistência dos povos indígenas. Símbolo da nossa resistência e do nosso povo.

    Impediram a nossa marcha com um pelotão de choque, tiros e bombas de gás. Com o nosso sangue, comemoraram mais uma vez o Descobrimento.

    Com tudo isso, não vão conseguir impedir a nossa resistência. Cada vez somos mais numerosos. Já somos quase 6 000 organizações indígenas em todo o Brasil.

    Resultado dessa organização: a Marcha e a Conferência Indígena 2000, que reuniu mais de 150 povos; teremos resultado a médio e longo prazo.

    A terra para nós é sagrada. Nela está a memória de nossos ancestrais dizendo que clama por justiça. Por isso exigimos a demarcação de nossos territórios indígenas, o respeito às culturas e às nossas diferenças, condições para sustentação, educação, saúde e punição aos responsáveis pelas agressões aos povos indígenas.

    Estamos de luto. Até quando?

    Vocês não se envergonham dessa memória que está na nossa alma e no nosso coração, e vamos recontá-la por justiça, terra e liberdade.

    MATALAUÊ, índio Pataxó registrado com o nome de Jerry Adriani Santos de Jesus. Folha de S.Paulo, São Paulo, 27 abr. 2000. Caderno Brasil, p. 1-4.

    PARA EXERCITAR

    Por que os descendentes de indígenas se consideram explorados pelos colonizadores europeus?

    SOCIEDADE, A NATUREZA E O PENSAMENTO GEOGRÁFICO

    A geografia estuda o espaço, constituído pelas formas naturais e pelas que foram criadas pelo trabalho humano, em conjunto com as relações que ocorrem na vida em sociedade. O espaço geográfico, ou simplesmente espaço, é analisado levando em conta os lugares, as regiões, os territórios e as paisagens. As relações sociais, econômicas e culturais explicam a sua dinâmica, o seu constante processo de transformação.

    Ao estudar o espaço, porém, cada um possui o seu enfoque. Há geógrafos, por exemplo, que consideram a geografia uma ciência essencialmente social. Para outros, ela seria uma ciência da natureza. Há outros, ainda, que vêem nas relações da sociedade com a natureza o seu objeto de análise.

    Neste livro, estudaremos o Brasil e o mundo tendo como base as relações da sociedade com a natureza, tratando a geografia física e a humana de forma interligada.

    Leia o texto a seguir, Organização espacial. Nele, o autor apresenta a postura de análise que permeia este livro.

    PARA PENSAR - GEOGRAFICAMENTE

    Observe as fotos abaixo, reflita sobre outros exemplos e responda (por escrito):

    1. Pense no papel que os serviços públicos têm no dia-a-dia dos cidadãos: o que muda na vida das pessoas quando as condições de moradia, transporte, educação, saúde e outros serviços públicos melhoram?

    2. Quais são as nossas responsabilidades, quando utilizamos um serviço público ou privado?

    O cotidiano das pessoas é influenciado, ou mesmo determinado, pela forma como o espaço está organizado. Observe as fotos e responda às questões a seguir.

    Barco transportando turistas, no pantanal mato-grossense , em 2000.

    Terminal de ônibus, em São Paulo, em 1999.

    Rua de Fortaleza (Ceará), em 2001.

    Organização espacial

    Roberto Lobato Corrêa

    Como a geografia objetiva o estudo da sociedade? Ou seja, qual é a objetivação da geografia que, sem deixar de ser uma ciência social, distingue-se da história, antropologia, economia e sociologia, todas elas também ciências sociais?

    O longo processo de organização e reorganização da sociedade deu-se concomitantemente à transformação da natureza primitiva em campos, cidades, estradas de ferro, minas, voçorocas, parques nacionais, shopping centers etc. Estas obras do homem são as suas marcas apresentando um determinado padrão de localização que é próprio a cada sociedade. Organizadas espacialmente, constituem o espaço do homem, a organização espacial da sociedade ou, simplesmente, o espaço geográfico. A objetivação do estudo da sociedade pela geografia faz-se através de sua organização espacial, enquanto as outras ciências sociais corretas estudam-na através de outras objetivações.

    Resumindo, o objeto da geografia é, portanto, a sociedade, e a geografia viabiliza o seu estudo pela sua organização espacial. Em outras palavras, a geografia representa um modo particular de se estudar a sociedade.

    CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1988. p. 52-3. (Princípios, 53).

    Outro elemento de análise muito utilizado pela geografia para interpretar a sociedade e suas relações com a natureza é o território. Podemos falar em território nacional, território indígena, território de uma gangue de traficantes de drogas, território de ação de um grupo de ajuda humanitária, etc.

    Em cada um deles, há relações de poder, de posse ou de domínio, e vigoram determinadas regras ou leis. Essas podem ser institucionais - criadas pelo Estado - ou reconhecidas informalmente pela sociedade - não estão escritas, mas todos as conhecem.

    O território nacional é controlado por um Estado. Dentro dos limites do território de qualquer país, administrado pelo Estado, vigoram leis próprias e várias outras normas, que deixam de ter validade fora dos seus limites físicos, delimitados pelas fronteiras político-administrativas.

    Ampliando a escala da nossa abordagem, constatamos que há territórios sob a influência de instituições, organismos e empresas que extrapolam os limites dos territórios nacionais. A Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a Organização Mundial de Comércio (OMC), o Mercosul, a União Européia, por exemplo, acabam interferindo, direta e indiretamente, nas decisões dos governos nacionais, ou seja, têm ação direta e indireta sobre a gestão dos territórios nacionais.

    Estado-nação - cidadania e globalização, na atual fase do processo de globalização, a gestão dos territórios nacionais sofre influências externas cada vez mais acentuadas. Leia, no texto a seguir, que além de sua dimensão espacial a noção de território deve ser associada a escalas de tempo histórico.

    O território

    Marcelo José Lopes de Souza

    A palavra território normalmente evoca o "território nacional" e faz pensar no Estado - gestor por excelência do território nacional-, em grandes espaços, em sentimentos patrióticos (ou mesmo chauvinistas), em governo, em dominação, em "defesa do território pátrio", em ·guerras... A bem da verdade, o território pode ser estendido também à escala nacional e em associação com o Estado como grande gestor (se bem que, na era da globalização, um gestor cada vez menos privilegiado). No entanto, ele não precisa e nem deve ser reduzido a essa escala ou à associação com a figura do Estado. Territórios existem e são construídos (e desconstruídos) nas mais diversas escalas, da mais acanhada (p. ex., uma rua) à internacional (p. ex., a área formada pelo conjunto dos territórios dos países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN); territórios são construídos (e desconstruídos) dentro de escalas temporais as mais diferentes: séculos, décadas, anos, meses ou dias; territórios podem ter um caráter permanente, mas também podem ter existência periódica, cíclica. Não obstante essa riqueza de situações, não apenas o senso comum, mas também a maior parte da literatura científica, tradicionalmente restringiu o conceito de território à sua forma mais grandiloqüente e carregada de carga ideológica: o "território nacional".

    SOUZA, Marcelo José Lopes de. O território. In: CASTRO, Iná Elias; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs.). Geografia, conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 81.

    REFLEXÃO EM EQUIPE

    PARA EXERCITAR

    Responda, por escrito, à questão a seguir.

    Embora existam uma Constituição Federal e outras leis e regras que vigoram em todo o território brasileiro, ele está inteira e absolutamente administrado.

    Pelo Estado, pelas autoridades constituídas? (Pense nas fronteiras amazônicas e nos territórios das gangues ou dos traficantes de drogas.)

    Cite exemplos e compare a sua resposta com as de seus colegas de equipe.

    O LUGAR

    Para a geografia, o lugar é a porção do espaço onde se desenrolam as relações cotidianas. Leia, no texto a seguir, uma de suas definições.

    Definir o lugar?

    Ana Fani Alessandri Carlos

    Como o homem percebe o mundo? É através de se corpo, de seus sentidos que ele constrói e se apropria do espaço e do mundo. O lugar é a porção do espaço apropriável para a vida apropriada através do corpo - dos sentidos - dos passos e seus moradores, é o bairro, é a praça, é a rua, e nesse sentido poderíamos afirmar que não seria jamais a metrópole ou mesmo a cidade latu sensu a menos que seja a pequena vila ou cidade - vivida/ conhecida/ reconhecida em todos os cantos. Motoristas de ônibus, bilheteiros, são conhecidos - reconhecidos como parte da comunidade, cumprimentados como tal, não simples prestadores de serviço. As casas comerciais são mais do que pontos de troca de mercadorias, são também pontos de encontro. É evidente que é possível encontrar isso na metrópole, no nível do bairro, que é o plano do vivido, mas definitivamente não é o que caracteriza a metrópole.

    (...)

    Por outro lado a metrópole não é "lugar", ela só pode ser vivida parcialmente, o que nos remeteria à discussão do bairro como o espaço imediato da vida das relações cotidianas mais finas - as relações de vizinhança, o ir às compras, o caminhar, o encontro dos conhecidos, o jogo de bola, as brincadeiras, o percurso reconhecido de uma prática vivida/reconhecida em pequenos atos corriqueiros e aparentemente sem sentido que criam laços profundos de identidade, habitante identidade, habitante - lugar. São os lugares que o homem habita dentro da cidade que dizem respeito a seu cotidiano e a seu modo de vida, onde se locomove, trabalha, passeia, flana, isto é, pelas formas através das quais o homem se apropria e que vão ganhando o significado dado pelo uso. Trata-se de um espaço palpável - a extensão exterior, o que é exterior a nós, no meio do qual nos deslocamos. Nada também de espaços infinitos. São a rua, a praça, o bairro - espaços do vivido, apropriados através do corpo - espaços públicos, divididos entre zonas de veículos e calçada de pedestres, dizem respeito ao passo e a um ritmo que é humano e que pode fugir ao do tempo da técnica (ou que pode revelá-Ia em sua amplitude). É também o espaço da casa e dos circuitos de compras, dos passeios, etc.

    Trechos de CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo; Hucitec, 1996. p. 20-2. (Geografia; teoria e realidade, 38).

    Embora os lugares sejam percebidos na esfera do cotidiano, as relações que se estabelecem em seu interior são cada vez mais influenciadas por ocorrências dos mais variados pontos do planeta. Assim, partindo do lugar, podemos ampliar a escala para analisar a organização do espaço da cidade, da região, do estado, do território nacional, e mesmo mundial, selecionando as ações humanas que quisermos estudar.

    Observe os exemplos a seguir.

    Acima, Petrolina (Pernambuco), em 2001. Mais abaixo, turistas em Paris (França), em 1999.

    Às vezes, só observamos a paisagem e o espaço quando viajamos. Nesses momentos também percebemos o quanto estamos ligados ao nosso país, ao nosso município e, principalmente, ao nosso lugar. Leia no texto a seguir, escrito por volta de 1962, como uma inglesa (Ianthe) reagiu diante do que observou e vivenciou em parte de sua viagem à Itália.

    Duas inglesas e a Itália

    Bárbara Pym

    Ianthe meditou sobre a paisagem e as outras pessoas no trem, que eram tão comuns – embora de uma maneira italiana – quanto o seria um grupo semelhante de pessoas num trem inglês. As únicas diferenças eram que o padre parecia meio sujo, e o jovem casal se fitava de um jeito que não se via na Inglaterra, de repente, Ianthe que questionou: será que um pastor da Igreja Anglicana nunca parecia sujo? Será que os jovens casais ingleses nunca se fitavam de modo tão devorador: Afinal de contas, John a beijara na estação, pensou, baixando os olhos ao sentir o olhar de Sophia.

    - A gente sabe que está chegando ao Sul – falou esta, com entusiasmo. – O sol está brilhando e as casas parecem diferentes.

    É... os telhados planos são meio feios, não acha?

    - Mas olhe só para as laranjas - disse Sophia, com reprovação.

    - Quer dizer que estamos quase em Nápoles?

    - Sim... temos que mudar de trem ali. Aliás, aqui, em Mergelina. O ar não é maravilhoso e diferente? - falou Sophia, enquanto saltavam do trem.

    - Tem um cheiro meio estranho - comentou Ianthe.

    - É... é a baía... é um tipo de emanação. Às vezes a gente também sente em Londres, em horas inesperadas.

    Ianthe ficou contente por Sophia estar com ela e saber o que fazer e onde tomar o trem para Salerno. Foi só quando estavam no ônibus que serpenteava pela estrada costeira na direção de Amalfi que começou a ficar animada de novo. Uma viagem, especialmente no estrangeiro, é sempre cansativa, com o medo ou a emoção adicionais, de não saber exatamente o que se vai encontrar no final. Ianthe pensou com compaixão nas governantas inglesas que iam trabalhar com famílias estranhas. Então o ônibus entrou na estrada para Ravelo e ela esqueceu a sua estranheza na emoção mais imediata do caminho sinuoso e da vista revelada a cada curva.

    (...)

    Ianthe ficou aliviada quando a levaram para o se e a deixaram sozinha para desfazer as malas. Saiu para a varandinha um tanto nervosa, achando que não parecia muito segura, e olhou para baixo para acres de bosques de limoeiros. As árvores eram todas emaranhadas, deixando os frutos quase escondidos, mas Ianthe pôde sentir que havia centenas, talvez milhares de limões pendendo entre as folhas. Todos aqueles limões, pensou a enfermeira Dew diria que eles quase lhe davam arrepios. Para além dos bosques de limoeiros, pôde enxergar o mar, o que a reconfortou, pois além do mar ficavam a Inglaterra, a sua, a biblioteca e John.

    Trechos de PYM, Bárbara. Uma relação imprópria. Rio de Janeiro: Record, 1982. p. 142-3

    PARA PENSAR GEOGRAFICAMENTE

    1. Destaque duas passagens do texto em que a autora analisa a - a paisagem e o lugar visitado (leia o item seguinte - A paisagem).

    2. Ao conhecermos novas paisagens e estabelecermos contato com novos lugares mesmo que por meio de televisão costumamos compará-los com o nosso lugar: qual é mais bonito mais organizada mais agradável etc. Isso já aconteceu com você? Em que situação? Descreva por escrito.

    A PAISAGEM

    Quando observamos uma paisagem, seja ela de um local cujas condições naturais estão preservadas, ou do centro de uma grande cidade, podemos assumir uma postura meramente contemplativa, considerá-la feia ou bonita, tranqüila ou agitada. A forma como as paisagens se apresentam aos nossos olhos nos permite interpretar heranças do passado, tentar entender o presente e propor ações com vistas a melhorar o futuro.

    Ao compararmos paisagens de lugares diferentes - rios e praias limpos ou poluídos, matas preservadas e áreas desmatadas, impactos ambientais provocados por diferentes tipos de indústrias e práticas agrícolas, etc., podemos avaliar e criticar o resultado da ação humana sobre o espaço, pois ela está impressa na paisagem.

    Leia, a seguir, trechos de duas obras do geógrafo Milton Santos em que expõe um dos conceitos de paisagem para a geografia. O segundo aborda a distinção entre paisagem e espaço. Perceba que as pessoas, por serem diferentes, possuírem formações diversas, enxergam as coisas que as cercam cada qual à sua maneira.

    Paisagem, o que é?

    Milton Santos

    Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc.

    (...)

    A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção, o que chega aos sentidos. Por isso, o aparelho cognitivo tem importância crucial nessa apreensão, pelo fato de que toda nossa educação, formal ou informal, é feita de forma seletiva, pessoas diferentes apresentam diversas versões do mesmo fato. Por exemplo, coisas que um arquiteto, um artista vêem, outros não podem ver ou o fazem de maneira distinta. Isso é válido, também, para profissionais com diferente formação e para o homem comum.

    A percepção é sempre um processo seletivo de apreensão. Se a realidade é apenas uma, cada pessoa a vê de forma diferenciada; dessa forma, a visão pelo homem das coisas materiais é sempre deformada. Nossa tarefa é a de ultrapassar a paisagem como aspecto, para chegar ao seu significado. A percepção não é ainda o conhecimento, que depende de sua interpretação e esta será tanto mais válida quanto mais limitarmos o risco de tomar por verdadeiro o que é só aparência.

    (...)

    A paisagem não se cria de uma só vez, mas por acréscimos, substituições; a lógica pela qual se fez um objeto no passado era a lógica da produção aquele momento. Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos. (...).

    Trechos de SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec, 1988. p 61-6. (Geografia: Teoria e realidade).

    Uma necessidade epistemológica: a distinção entre paisagem e espaço

    Milton Santos

    Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é conjunto das formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima.

    (... )

    Durante a Guerra Fria, os laboratórios do Pentágono chegaram a cogitar da produção de um engenho, a bomba de nêutrons, capaz de aniquilar a vida humana em uma dada área, mas preservando todas as construções. O presidente Kennedy; afinal renunciou a levar a cabo esse projeto.

    Senão, o que na véspera seria ainda o espaço, após a temida explosão seria apenas paisagem. Não temos melhor imagem para mostrar a diferença e entre -esses dois conceitos.

    PARA PENSAR

    1. Faça uma descrição por escrito da paisagem do lugar onde a sua escola está localizada. Se possível, cite exemplos que mostrem que "Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos".

    2. Depois discuta, em grupo, como cada um enxerga essa paisagem (como variam as percepções e as interpretações da realidade).

    Cada um tem a sua percepção da paisagem. O escritor argentino Julio Cortázar escreveu um conto muito divertido sobre essas diferentes visões. Vamos lê-Ia?

    LEITURA

    Geografias

    Julio Cortázar

    Demonstrando que as formigas são as verdadeiras rainhas da criação (o leitor pode tomá-lo como uma hipótese ou uma fantasia: de qualquer maneira lhe fará bem um pouco de antropofunguismo), eis uma página de sua geografia:

    (p. 84 do livro; assinalam-se entre parênteses os possíveis equivalentes de determinadas expressões, segundo a clássica interpretação de Gaston Loeb.)

    "... mares paralelos (rios?). A água infinita (um mar?) cresce em certos momentos como hera-hera-hera (idéia de uma parede muita alta, que expressaria a maré). Se a gente vai-vai-vai-vai (noção análoga aplicada à distância) chega à Grande Sombra Verde (um campo semeado, um mato, um bosque?) onde o Grande Deus eleva o celeiro contínuo para suas Melhores Operárias. Nesta região abundam os Imensos Seres Horríveis (homens?) que destroem nossos caminhos. Do outro lado da Grande Sombra Verde começa o Céu Duro (uma montanha?). E tudo isso é nosso, mas com ameaças."

    Essa geografia foi objeto de uma outra interpretação (Dick Fry e Niels Peterson Jr.). O trecho corresponderia topograficamente a um pequeno jardim da Rua Laprida, 628, Buenos Aires. Os mares paralelos são dois pequenos canais de esgoto; a água infinita, um banho para patos; a Grande Sombra Verde, um canteiro de alface. Os Imensos Seres Horríveis insinuariam patos ou galinhas, embora não se deva descartar a possibilidade de que realmente se trate de homens. A respeito do Céu Duro desenvolve-se uma polêmica que não acabará tão cedo. A opinião de Fry e Peterson, que vêem nele uma parede de tijolos, opõe-se a de Guilherme Sofovich, que presume um bidê abandonado entre as alfaces.

    CORTÁZAR, Julio. Histórias de cronópios e de famas. 6.ed.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998. p. 69-70.

    QUE PAÍS É ESTE?

    Dia 22 DE ABRIL DE 2000. Data comemorativa dos 500 anos da chegada dos portugueses è América. Aliás, trata-se de uma data controversa, pois há quem afirme que essa parte de nossa história teve início em um outro local que não a região de Porto Seguro (BA) e em um outro tempo.

    Idependente desta polêmica, o Brasil aí está, com seus aproximados 160 milhões de habitantes, com um território superior a 8,5 milhões de km2, paisagens muito diversas, dentro de um espaço geográfico que tem muita história para revelar. País tropical, dos contrastes sociais e econômicos, subdesenvolvido, potência do futuro, industrializado. Muitas são suas facetas. Com qual delas nos identificamos?

    Nos textos a seguir, procuraremos mostrar o retrato do Brasil. Embora não nos seja possível enquadrá-lo em uma só imagem, o mais recomendável é apresentarmos um painel, em que os diversos "Brasis" possam ser apreciados, criticados e, sobretudo, vivenciados. Afinal, é nele que se encontram nossas referências e se aprofundam nossas raízes. Vejamos. inicialmente, um pouco sobre o mundo em que vivemos.

    VIVEMOS NUM MUNDO CADA VEZ MAIS INTEGRADO

    Não é de hoje que se afirma que a realidade mundial passa por rápidas e profundas transformações de natureza política, econômica e social. As mudanças ocorridas no Leste Europeu e na antiga União Soviética resultaram no fim do socialismo real e no surgimento de uma nova ordem mundial, caracterizada pela hegemonia militar e diplomática dos Estados Unidos. Por outro lado, o mundo encontra-se marcado pela existência de três centros econômicos mundiais, polarizados pelos EUA, Japão e nações da Europa Ocidental. Assim, podemos afirmar que o mundo atual pode ser entendido, do ponto de vista militar e diplomático, como um mundo monopolar e, do prisma econômico, como multipolar.

    A Comunidade dos Estados Independentes, formada por boa parte das antigas repúblicas que compunham a ex-URSS é, juntamente com a China e a Ásia Ocidental, as três áreas do planeta que ainda não se encontram plenamente alinhadas com qualquer um dos pólos econômicos. É de se supor que a CEI venha a ser polarizada, em razão da maior proximidade, pela União Europeia e também dos vultosos investimentos procedentes da Alemanha. A China, por sua vez, tende a ser influenciada pelo Japão, muito embora a presença de capitais norte-americanos e europeus seja marcante no país. Quanto à Ásia Ocidental, tudo leva a crer que permanecerá sendo disputada pelos três principais pólos econômicos da atualidade, a não ser que consiga viabilizar uma união islâmica, com maior autonomia diante dos três pólos. Ainda sobre as informações contidas no mapa, é importante assinalar que o fato de existirem áreas de influência não deve significar que as mesmas não sofram qualquer tipo de incursão de outro pólo. Ao contrário, existe uma forte troca entre elas.

    Na esteira dessas mudanças, ocorreram inúmeros conflitos interétnicos, notadamente na antiga lugoslávia (Bósnia-Herzegovina, Croácia) e na extinta União Soviética (Geórgia, Chechênia).

    Além disso, verificou-se a unificação alemã, e o fim do apartheid na África do Sul, avanços e recuos nos acordos de paz no Oriente Médio, entre outros acontecimentos de natureza política.

    No campo econômico, as transformações lambem foram muito signilicativas, e podern ser facilmente percebidas nas páginas dos jornais. Globalização, crash global (crise econômica) Tigres Asiáticos e blocos econômicos são termos sempre presentes na imprensa e cada vez mais empregados pelas pessoas no seu dia-a-dia. Contudo, é o caso de questionarmos o real significado desta globalização e de que maneira ela cria impactos em nossa sociedade e em nosso cotidiano.

    Até que ponto temos consciência destes latos?

    Primeiramente, convém ressaltar que a globalização não é algo recente, exclusivo do nosso tempo. Sua origem remonta aos séculos XV e XVI, quando o processo de expansão marítima e comercial européia levou, aos quatro cantos do globo, uma nova maneira de produção: o capitalismo.

    Martim Afonso de Sousa, em pintura do século XVI. Na imagem, desembargue no porto de Piaçagüera (SP): início da colonização portuguesa na América.

    Como sabemos, o capitalismo é um sistema socioeconômico pautado na produção e acumulação de riquezas. Nesta perspectiva, a utilidade mercantil das coisas é o que importa, pois o objetivo é a obtenção de lucro. Assim, tudo passa a ter um valor de troca, ser mercadoria".

    À medida que o capitalismo se desenvolvia e se mundializava, formava-se uma Divisão Internacional do Trabalho (DIT): de um lado, passaram a existir os países fornecedores de bens industrializados e, de outro, aqueles especializados no fornecimento de bens primários (matérias-primas). Mas, na atualidade, tanto a globalização como a DIT apresentam-se bastante diferentes de séculos atrás. No caso da globalização, ela se processa a uma velocidade muito rápida, fruto dos avanços das telecomunicações e da informática. Além disso, seu alcance geográfico é cada vez maior. Um dos exemplos mais marcantes nos últimos tempos foi a crise das Bolsas de Valores do Sudeste asiático. Em outubro de 1997, ataques especulativos promoveram quedas na moeda e nas Bolsas da Coréia do Sul, Indonésia, Filipinas, Hong Kong e Taiwan, criando um clima de instabilidade e insegurança financeiras, que rapidamente se espalhou por todos os mercados de acões do planeta, inclusive do nosso país. Na Coréia do Sul e no Japão, importantes empresas faliram; no Brasil, um verdadeiro pacote fiscal, com elevações das taxas de juros, foi implantado em caráter de urgência. Como se vê, em razão da rapidez com que os meios de comunicação fizeram circular as informações, a dúvida deixou de existir e os aplicadores prontamente desviaram seus investimentos para outras praças. Assim, ao mesmo tempo que certos empreendimentos fracassavam, mecanismos de defesa eram providenciados. Tudo a uma grande velocidade, tentando acompanhar as constantes mudanças.

    As Bolsas de Valores movimentam milhões de dólares diariamente e caracterizam uma das faces da globalização: rápida circulação de grandes volumes de capitais.

    Não podemos deixar de comentar que, na atualidade, vivemos uma nova Divisão Internacional do Trabalho. Então, como se caracterizava a "velha" DIT?

    Até poucas décadas atrás, existia uma forte diferenciação econômica entre os países do Norte e os do Sul. Como se sabe, o Norte correspondia ao mundo desenvolvido, formado pelas nações mais industrializadas e, conseqüentemenle, especializadas na produção e na venda de produtos maquinofaturados. Neste quadro, o Sul ocuparia a posição de fornecedor de matérias-primas, como minérios, madeiras, cereais, etc., caracterizando uma situação de subordinação. Fica evidenciado que, nestas relações de troca, as regiões industrializadas levaram uma ampla vantagem, além de conseguirem aumentar sua riqueza.

    Contudo, o relacionamento entre o Norte e o Sul sofreu algumas alterações. Isso porque um número considerável de empresas transnacionais migrou para áreas bem específicas do mundo subdesenvolvido, destacando-se o Sudeste asiático. Naquela região, os EUA e notadamente o Japão, aproveitando-se de certas facilidades, como terrenos baratos, impostos baixos e legislação ambiental relativamente branda, instalaram urn número significativo de empresas, boa parte delas voltada para a produção de aparelhos eletroeletrônicos. Também ocorreu a associação de capitais estrangeiros e locais, como na Coréia do Sul, com destaque para o setor automobilístico.

    Uma vez que os produtos da indústria asiática apresentavam preços bastante competitivos, a concorrência entre o Sul e o Norte tornou-se mais acirrada, gerando conflitos e tensões. Estes acontecimentos, em muitos casos, levaram as partes a criarem mecanismos protecionistas*. Por outro lado, o mundo assistiu à criação de mercados regionais, os conhecidos blocos econômicos. Curiosamente, países ricos e pobres passaram a compartilhar, lado a lado, dos benefícios e das responsabilidades derivados dos acordos estabelecidos entre seus membros. É o caso do México, Estados Unidos e Canadá em relação ao NAFTA, e do Japão e diversos países asiáticos, em relação à Bacia do Pacífico.

    Como se vê, o mundo tornou-se mais complexo e dinâmico, por isso seu entendimento não é tarefa simples. O mesmo pode ser dito a respeito do Brasil. Embora vivamos em um mundo integrado, globalizado, nosso país é dependente. O que isso quer dizer?

    UM PAÍS DEPENDENTE

    O Brasil é urn país dependente económica e tecnologicamente. Porém, não é simples a percepção deste fato, sobretudo porque vivemos um período caracterizado pela forte integração entre as nações do globo.

    Costuma-se caracterizar a dependência econômica de um país a partir de três elementos:


  • a forte presença de multinacionais na economia;

  • relações comerciais desfavoráveis;

  • endividamento externo.


    Os dois primeiros tópicos são bastante controversos, notadamente a questão das multinacionais. Vejamos os motivos.

    Um aspecto relevante da globalização da economia diz respeito às estratégias de atuacão das empresas multinacionais nos mais variados países, ricos ou pobres.

    Inicialmente, convém recordarmos que a escolha para a instalação de seus empreendimentos, uma fábrica por exemplo, recai sobre as nações que asseguram determinadas vantagens, como terrenos baratos (ou gratuitos), impostos baixos, infra-estrutura de qualidade, mercado de consumo, entre outras. A princípio, somos levados a crer que esses atrativos, juntamente com a mão-de-obra barata, são próprios dos países subdesenvolvidos, verdadeiros paraísos das empresas transnacionais. Ao contrário, foi-se o tempo em que a mão-de-obra barata se constituía em fator favorável à instalação de multinacionais nos países subdesenvolvidos. A mão-de-obra qualificada, capaz de interagir com equipamentos informatizados e de tomar decisões, tornou-se um quesito indispensável. Portanto, a educação de qualidade passa a ser uma nova realidade para os países do Sul. Aquelas nações que não estiverem aptas a assegurar uma formação qualificada a seus cidadãos-trabalhadores tendem a sair da lista de interesses das multinacionais.

    Os novos ramos industriais necessitam de trabalhadores cada vez mais qualificados, sobretudo na área de pesquisa e desenvolvimento.

    Mesmo sendo um país industrializado (o setor secundário contribui com aproximadamente 33% do cálculo do PIB), a condição de subordinação econômica do Brasil não foi superada. Conforme já foi dito, a forte presença de transnacionais em um país costuma ser apontada como característica de dependência econômica.

    Entretanto, inúmeras empresas multinacionais fazem-se presentes em países desenvolvidos. Por exemplo, indústrias automobilísticas norte-americanas estão instaladas na Europa, mas este fato não é considerado dependência. Por quê? Observam-se dois aspectos. Primeiramente, porque não se percebe nas relações entre nações desenvolvidas o mesmo grau de subordinação existente entre pobres e ricas. No mundo subdesenvolvido, por exemplo, são comuns verdadeiros leilões na tentativa de atrair o interesse das multinacionais, como os ocorridos entre determinados Estados do Brasil, com relação às montadoras de automóveis. Em segundo lugar, porque o Norte desenvolvido representa o maior mercado de consumo do planeta, justificando o fato de os empreendimentos japoneses voltarem-se para os EUA, por exemplo. Além disto, diante da consolidação da União Européia, o Japão e os EUA, temerosos de perderem espaço neste mercado, anteciparam-se, usando como estratégia econômica a instalação de empresas na Europa Ocidental.

    Construção da fábrica da Renault, em São José dos Pinhais (PR). Para conseguir atrair os investimentos franceses, o governo do Paraná fez diversas concessões.

    Apesar de nosso país apresentar um certo grau de subordinação econômica, ele domina uma série de tecnologias, com destaque para a área da telemática ou da robótica. Caso contrário, sua dependência em relação aos grandes centros seria, certamente, maior.

    Uma vez que o Brasil é um país industrializado, sua pauta de exportações não se restringe apenas aos produtos primários. Ao contrário, dela faz parte uma diversidade de bens industrializados, como aviões, automóveis, navios e computadores.

    De 1995 para cá, a balança comercial apresentou déficits significativos. Esse fato está ligado à abertura da economia para o mercado mundial. Os impostos de importação foram significativamente reduzidos, tornando os preços dos produtos importados bastante atrativos. Assim, tanto os bens de produção como os de consumo passaram a entrar no país num volume jamais visto.

    A abertura da economia brasileira promoveu maior integração do Brasil com o mundo.

    É importante salientar que a balança comercial pode revelar uma certa dependência econmica e tecnológica na medida em que os produtos primários exportados apresentam um baixo valor agregado* e os importados, alto. Assim, vale a pena citar o exemplo do minério de ferro, cotado no mercado internacional na faixa dos US$10 a tonelada. Em contrapartida, a tonelada de chips custa entre US$20 milhões e US$30 milhões. Quantas toneladas de ferro precisariam ser vendidas para a compra dos chips? Entretanto, se nos basearmos apenas no valor do déficit comercial para avaliar o nível de desenvolvimento econômico de um país, podemos incorrer num erro. Afinal, os EUA apresentam, há algum tempo, déficits comerciais superiores a US$100 bilhões.

    Finalizando, não podemos desconsiderar o fato de a indústria nacional ser amplamente dependente da tecnologia desenvolvida no exterior. Ou seja, os equipamentos e o conhecimento necessários para a produção são originários do chamado mundo desenvolvido. Mais uma vez o Brasil revela sua face dependente. Os investimentos em educação e pesquisa são pequenos, o que dificulta uma maior autonomia do país diante das grandes potências econômicas da atualidade.

    Vale a pena levantarmos alguns questionamentos sobre as realidades brasileira e mundial:


  • Qual tem sido o comportamento da balança comercial brasileira nos últimos meses (ou anos)?

  • Os países africanos estão integrados ao mundo atual?

  • É possível diminuir nossa dependência econômica diante das grandes potências?

  • Existe a possibilidade de algum país manter-se isolado do mundo hoje?

  • O que é que a Coréia do Sul tem que nós não ternos?


    Fonte: Almanaque Abril, 2000.

    Uma outra característica da realidade brasileira são as fortes desigualdades sociais. De fato, em nossa sociedade é visível a diferenciação entre uma classe social e outra. E o que veremos a seguir.

    UMA SOCIEDADE DE CONTRASTE

    País rico, povoado por pobres. Esta expressão revela um dos aspectos mais marcantes da real idade brasileira. De fato, de cada 100 trabalhadores de 10 ou mais anos de idade, 28 apresentavam, em 1995, um rendimento mensal variando de meio até um salário mínimo. Por outro lado, apenas 3% desfrutavam de um rendimento superior a 20 salários mínimos, o que revela a má distribuição da riqueza ern nossa sociedade. Este fato leva à constatação de que as desigualdades sociais no Brasil podem ser consideradas muito acentuadas.

    Os contrastes sociais podem ser percebidos nas paisagens urbanas brasileiras.

    Os rendimentos auferidos por essa enorme massa de trabalhadores inviabiliza o acesso a uma série de bens e serviços, como alimentação, lazer, saúde e educação de qualidade. Para termos uma idéia, o salário mínimo a partir de maio de 1999 era de R$136,00 e o valor da cesta básica (o mínimo que dois adultos e duas crianças consomem por mês) era de RS120,51. Ou seja, alérn de baixos, os salários de uma grande maioria não apresentam poder de compra*.

    Uma vez que a maior parte dos serviços públicos no Brasil ou são de baixa qualidade, caso da saúde e da educação, ou são de acesso mais restrito, como a telefonia e o saneamento básico, muitos brasileiros são duplamente penalizados. De um lado porque os parcos rendimentos restringem o seu universo de consumo e, de outro, porque a sofrível qualidade do ensino público não cria a possibilidade de seus filhos disputarem vagas nas universidades ou no mercado de trabalho em igualdade com os filhos oriundos das classes mais favorecidas. Desta maneira, cria-se um círculo vicioso, no qual os menores de baixa renda são obrigados a ingressar prematuramente no mundo do trabalho e a abandonar os estudos. Como se trata de trabalhadores com pouca qualificação profissional, seus rendimentos serão como os de seus pais. Percebe-se uma verdadeira reprodução do status social. Em outras palavras, a pobreza se perpetua, indefinidamente.

    Enquanto a questão da má distribuição da riqueza não se resolve, a renda nacional não pára de crescer. Hoje, o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil é superior a USS 700 bilhões, o 8º maior do planeta, conforme podemos verificar na tabela a seguir.

    É interessante recordar que o Brasil é um país subdesenvolvido, porém industrializado. Seu parque fabril, embora não possa ser comparado ao de nações superindustrializadas, como os EUA, o Japão ou a Alemanha, apresenta tanto as indústrias de bens de produção* (siderúrgicas, refinarias de petróleo), como as de bens de consumo* (automobilística, de vestuário). Cidades como Campinas (SP) e São José dos Campos (SP), entre outras em vários estados brasileiros estão se transformando em tecnopólos*, abrigando empreendimentos de tecnologia de ponta, como os de produção de fibra ótica e de equipamentos de informática.

    Entretanto, a industrialização do país não eliminou as desigualdades sociais. Ao contrário, promoveu profundas transformações, tanto nas cidades, quanto na área rural. Assim, enquanto a industrialização da produção rural dispensava levas de trabalhadores e despovoava a área rural, as cidades acolhiam milhões de pessoas, fazendo crescer as favelas e aumentar o número de excluídos.

    Diante disso tudo, podemos deixar "no ar", a título de reflexão e debate, os seguintes questionamentos, que serão retomados em novas oportunidades:


  • As desigualdades sociais sempre foram fortes em nosso país ou é um fenômeno recente?

  • Onde a população de baixa renda vive melhor: na área rural ou na periferia urbana?

  • A reforma agrária é uma via para a justiça social?

  • Educação pública de boa qualidade é viável em um país como o nosso?

  • É possível tornar nosso país socialmente justo?

  • O que é que a Costa Rica tem que nós não temos?


    PAÍS

    INDICADOR

    BRASIL

    COSTA

    RICA

    POPULAÇÃO (milhão)

    164,8

    3,9

    DENSIDADE (hab./ km2)

    19,18

    76,32

    MORTALIDADE INFANTIL (%o)

    36,1

    12

    EXPECTATIVA DE VIDA (idade)

    67,5

    76,5

    ANALFABETISMO (%)

    14,66

    5

    PIB (US$ bilhões)

    777

    9,5

    PIB PER CAPITA (US$)

    4.802

    2.680

    Fonte: Almanaque Abril, 2000

    TAMANHO É DOCUMENTO?

    Qual a "medida" do Brasil? A resposta atualmente é a seguinte: 8 547 403,5 km2. Curiosamente, o país vem mudando de tamanho desde 1945, embora não tenha perdido nem anexado novas parcelas ao seu território. Então, qual foi a mágica?

    Observe o gráfico a seguir, onde aparecem as superfícies do Brasil, entre 1945 e 1991.

    Fonte: IBGE, Anuário Estatístico ao Brasil, 1995.

    Isso tudo está relacionado com o fato de o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a partir de 1945, ter passado a realizar revisões periódicas da área do Brasil. Em decorrência do aprimoramento dos processos de medição e cálculo das áreas dos estados e municípios do país, os valores obtidos sofreram alterações, razão pela qual as informações a respeito de seu tamanho mudaram.

    Revisões à parte, o que as dimensões territoriais brasileiras significam? O que representa urna superfície de 8,5 miIhões de km2? Embora estejamos habituados a avaliar os países apenas em termos de maiores e menores, algumas considerações podem ser levantadas. Basta pensarmos no caso do Japão. Durante a Segunda Guerra Mundial, o país possuía um vasto império, que se estendia desde as Ilhas Sacalina até a Península da Indochina, incluindo a Manchúria, boa parte da China, além da Coréia. Qual a razão do expansionismo japonês? A resposta, aparentemente simples, reside no fato de essas áreas assegurarem matérias-primas, fontes de energia e alimentos necessários a um país que se industrializava e possuía quase 100 milhões de habitantes. O território nipônico por si só não dispunha de tais recursos, dadas suas reduzidas dimensões. Portanto, quanto maior o país maiores são as possibilidades de seu aproveitamento econômico, através da agricultura ou da mineração.

    Nesse contexto, a grande extensão do território brasileiro é, de certa forma, uma garantia de que o país pode dispor, além de espaço, de recursos naturais. Contudo, é importante percebermos que não basta ter, mas, sobretudo, poder desfrutar, usufruir desses recursos. No caso do Brasil, sabemos da existência de muitas riquezas minerais, notadarnente no Quadrilátero Ferrífero (MG) e em Carajás (PA). Porém, boa parte da produção é exportada, particularmente para as nações mais industrializadas, como os EUA e o Japão, onde seria mais vantajosa a sua transformação em bens industrializados. Estes produtos, como já sabemos, possuem maior valor agregado do que os recursos naturais em estado bruto. Como vimos, uma tonelada de minério de ferro, no mercado externo, custa ao redor de US$10. Mas uma tonelada de chipsde computador pode custar entre US$20 milhões e US$30 milhões.

    No caso dos minérios e dos chips, a expressão "vale quanto pesa" não pode ser aplicada.

    Por outro lado, apenas um número muito restrito de países pode dispor de recursos tecnológicos e financeiros para transformar suas riquezas naturais ern produtos industrializados de alto valor agregado. A construção de uma usina siderúrgica, por exemplo, exige investimentos da ordem de bilhões de dólares. A instalação de um parque tecnológico, por sua vez, requer outro tipo de capital, o intelectual, que não se encontra disponível em qualquer lugar. O Brasil, enquanto nação dependente tecnológica e economicamente, não consegue formar quadros de profissionais altamente qualificados em número suficiente para o desenvolvimento de tecnologias de ponta. Além disso, muitos são os técnicos brasileiros que se dirigem ao exterior para trabalhar em laboratórios ou centros de pesquisa nos países ricos, ocasionando o fenômeno conhecido por evasão de cérebros.

    Um outro aspecto a ser considerado é que um território muito extenso, como o do Brasil, necessita de uma série de investimentos em obras de infra-estrutura, como rodovias, ferrovias, além dos sistemas de comunicação. Afinal, para que se tenha de fato uma economia nacional, com um amplo mercado interno, é necessário que as diversas regiões estejam integradas. Com isso, a produção pode circular, e as pessoas deslocarem-se de um ponto a outro do espaço geográfico. Nesta perspectiva, o Brasil construiu, sobretudo entre os anos 50 e 70, uma série de rodovias, que buscavam não só integrar entre si as diversas regiões do país, mas principalmente com o centro econômico, o eixo Rio - São Paulo. Entretanto, ainda hoje existem áreas relativamente isoladas no Brasil. A falta de recursos para a ampliação da malha rodoviária do país levou o governo brasileiro a transferir para a iniciativa privada, sob a forma de concessão, a administração de importantes rodovias federais.

    Não podemos deixar de ressaltar que as dimensões do Brasil, aliadas à disposição e à localização das suas terras, trazem reflexos também nas relações com as outras nações, a começar pelas vizinhas.

    Observe o mapa a seguir, com atenção.

    Os limites brasileiros estendem-se por mais de 23 mil quilômetros, dos quais 15 719 correspondem à fronteira com os países da América do Sul. O nosso país apresenta, portanto, uma linha divisória com dez países; note que apenas o Chile e o Equador não fazem fimite com o Brasil. Esse fato exige uma série de cuidados, como a necessidade de criação de postos para o controle da entrada e saída de pessoas e mercadorias no país, além de outras questões de natureza diplomática.

    No contato com o Oceano Atlântico, as terras brasileiras apresentam urn limite de 7 367 km. É muita água, ou melhor, é um espaço considerável a ser preservado, patrulhado e explorado. Mais uma vez fica em evidência que não basta apenas ter, é necessário dispor de condições para controlar e explorar as potencialidades marinhas. Como se sabe, o Brasil subaproveita os recursos do mar, importa, inclusive, um volume considerável de pescados de outros países, como Chile e Argentina. Como se pode concluir, não podemos julgar as potencialidades de um país apenas pela sua extensão e pela disponibilidade de seus recursos naturais. É necessário incluir, na análise, as condições existentes, para o aproveitamento do seu espaço, bem como o tipo de relação que ele desenvolve com as outras nações. Até porque estes elementos são fundamentais no processo de organização do espaço geográfico, podendo revelar características bastante significativas da sociedade que o organiza.

    Assim, em razão das particularidades de nossa sociedade e de nosso território, vale a pena refletirmos sobre alguns questionamentos, como os que seguem.


  • Tamanho é documento?

  • O que é mais importante: ter ou usufruir?

  • Vale a pena o Brasil manter áreas pobres e de difícil controle?

  • Seria vantajoso para o país internacionalizar a Amazônia?

  • O que é que o Japão tem que nós não temos?


    ATIVIDADES

    01) Vivemos num mundo que é, simultaneamente, monopolar e multipolar. Explique esta afirmação.

    02) A globalização pode ser concebida como um fato recente, exclusivo do nosso tempo? Justifique.

    03) A atual Divisão Internacional do Trabalho diferencia-se da anterior aos anos 40. Em que a antiga e a nova DIT se diferenciam?

    04) Brasil é um país dependente, embora esteja integrado em urn mundo cada vez mais globalizado. Explique essa aparente contradição.

    05) Brasil: país rico, povoado por pobres. Essa expressão condiz com a nossa realidade? Justifique.

    06) O fato de o Brasil ser um país subdesenvolvido significa que ele não é industrializado? Justifique.

    07) Compare os indicadores socioeconômicos do Brasil e da Costa Rica e chegue a conclusões significativas.

    08) Uma coisa é ter, outra é usufruir. Comente essa afirmativa tomando por base o Brasil.

    09) Compare os dados referentes ao Brasil e ao Japão e chegue a conclusões significativas.

    10) De acordo com o Banco Mundial, o Brasil ocupa o 3° lugar entre os países com pior distribuição de renda. Veja o gráfico:

    Apesar do que indicam esses dados, ainda há, no entanto, quem prefira exaltar o fato de o Brasil ser hoje a sétima economia do mundo.

    Quais os processos económicos que explicam esses contrastes?

    11) Um dos fatos que mais chamam a atenção no mundo contemporâneo é a formação dos chamados blocos econômicos. O Brasil vem aprofundando os entendimentos com os seus parceiros do MERCOSUL para melhor operacionalizar essa união. São parceiros do Brasil no MERCOSUL:


  1. Argentina, Uruguai e Chile;

  2. Argentina, Bolívia e Paraguai;

  3. Uruguai, Argentina e Peru;

  4. Argentina, Paraguai e Uruguai;

  5. Chile, Paraguai e Argentina.


    12) Sob o ponto de vista das trocas internacionais brasileiras, a tabela a seguir permite compreender:

    SALÁRIO MÍNIMO

    (em diversos países) abril de 92)

    País

    SN (US$)

    Horas de trabalho semanal

    Brasil

    Estados Unidos

    Canadá

    França

    Espanha

    Argentina

    México

    Itália

    43

    680

    920

    1000

    600

    98

    100

    500

    44

    40

    40

    39

    42

    -

    40

    37


  1. as razões das precárias condições de padrão de vida de grande parte da população brasileira;

  2. a explicação para o exíguo mercado interno do país, urna vez que, em função dos baixos salários, só uma pequena parcela da população pode consumir;

  3. por que países como a Itália preferem consumir aço ou automóveis (fabricados aqui por empresas italianas), importados do Brasil;

  4. a razão pela qual o Brasil exporta quase que somente produtos primários não-manufaturados;

  5. por que constantemente são feitas referências à economia e às relações de produção brasileiras, definindo-as como "capitalismo selvagem".


    13) Sobre o comércio externo brasileiro, assinale a afirmativa correta.


  1. Entre os produtos brasileiros de exportação, destacam-se semi-manufaturados, ferro, aço, automóveis, café, soja, alumínio bruto.

  2. Sempre que a balança comercial é favorável, ocorrem saldos na balança de pagamentos, o que reduz a divida externa.

  3. Os mais onerosos produtos da nossa pauta de importações são os cereais (como trigo e arroz) e motores de veículos.

  4. O comércio externo do Brasil é feito sobretudo com os países vizinhos do Mercosul (Argentina, Paraguai e Uruguai).

  5. As exportações e importações brasileiras representam quase a metade do valor do nosso PIB, sendo muito significativa sua participação no comércio internacional.


    14) A modernização do Brasil, resultante do crescimento da economia urbano-industrial, produz urna divisão territorial do trabalho que:


  1. torna a indústria dependente da agricultura;

  2. determina maior autonomia regional à Amazónia e ao Nordeste;

  3. diminui as desigualdades econômicas regionais;

  4. reduz o êxodo rural;

  5. subordina progressivamente o campo à cidade.


    15) Analise as afirmações abaixo e proceda ao somatório das corretas.

    Quanto ao fato de o Brasil ser considerado país subdesenvolvido industrializado, é correto afirmar que:

    01) mesmo não tendo superado a situação de subdesenvolvimento, o Brasil se industrializou, apoiado na iniciativa de milhares de trabalhadores e na abertura do mercado externo aos produtos brasileiros;

    02) no estágio atual do sistema capitalista, não se pode mais definir a situação brasileira como de subdesenvolvimento devido à forte presença da indústria;

    04) o grau de industrialização alcançado pelo Brasil pode ser atribuído, em grande parte, à expansão do setor de bens de consumo duráveis e não-duráveis;

    08) o Brasil tornou-se um país subdesenvolvido industrializado principalmente pela participação de empresas multinacionais em setores relevantes da atividade industrial;

    10) a situação de país subdesenvolvido industrializado não é exclusiva do Brasil. Outros países, como Argentina, México, Coréia do Sul e Formosa, estão em posição semelhante.

    O BRASIL NÃO NASCEU PRONTO

    A imagem abaixo é bastante familiar. Trata-se de um mapa com o contorno de nosso país.

    Certamente, a imagem que segue não é tão conhecida quanto a anterior. Afinal, trata-se de um mapa elaborado há muito tempo, em épocas quando a configuração e a extensão do Brasil eram bastante diferentes das atuais.

    Por que razão o "mapa" do Brasil mudou tanto do século XVI para cá? Inicialmente, é preciso deixar claro que não se trata de nenhum tipo de aprimoramento dos processos de medição e cálculo das áreas do seu território. Na realidade, estamos tratando da história do espaço geográfico brasileiro, a qual faz parte do processo de expansão das terras portuguesas no subcontinente sul-americano. Assim, desde a chegada do colonizador, um longo processo de ocupação e povoamento possibilitou que o território brasileiro adquirisse os contornos e as dimensões atuais. Como é do conhecimento público, esse processo esteve relacionado a uma série de disputas, envolvendo os indígenas, os espanhóis, os próprios portugueses, além de outros povos. Ou seja, a formação territorial do Brasil foi acompanhada de diversos conflitos e acordos, como veremos nos texlos a seguir.

    A COLONIZAÇÃO

    Independentemente da data em que os portugueses chegaram às terras americanas, um fato não se altera, o de o Brasil ter sido uma colônia até o começo do século XIX.

    A colonização do Brasil, como de praticamente toda a América, teve por propósito abastecer Portugal com produtos primários, como a cana-de-açúcar ou o café. Por razões climáticas, estes produtos da agricultura tropical eram impróprios para o cultivo na Europa.

    Engenho de cana-de-açúcar: agroindústria voltada para o mercado externo.

    Uma vez que a produção destes produtos se restringia a algumas poucas áreas no planeta, seus preços costumavam ser compensadores, trazendo ganhos elevados para comerciantes e governantes. E por se tratar de um ramo lucrativo, que sempre esteve sob o controle da classe dominante, as atividades agroexportadoras dominaram o cenário econômico (e político) brasileiro durante um longo período. Não houve no passado, por exemplo, interesse no desenvolvimento de outras atividades, salvo algumas exceções, como a do empresário Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, que possuía negócios com transportes, bancos, comércio internacional, além de indústrias. Desta forma, as atividades agrárias, os objetivos da colonização do Brasil e os interesses da classe dominante imprimiram uma série de marcas no espaço geográfico brasileiro e em sua organização, muitas das quais permanecem até os dias atuais.

    O POVOAMENTO

    Uma dessas marcas diz respeito à forma como se deu o povoamento do território, fortemente concentrado no litoral e nas suas proximidades. De fato, a atividade portuária, fundamental para a economia agroexportadora, polarizava as regiões onde ela se encontrava sediada. Cidades como Recife (PE), Rio de Janeiro ou Santos (SP), por exemplo, tinham no porto um elemento capaz de atrair uma série de atividades diretamente ligadas a ele, como os transportes e o armazenamento de mercadorias. Consequentetnente, representava um elemento gerador de riquezas e empregos. Assim, o porto era um fator de estímulo para o desenvolvimento do comércio e dos serviços, promovendo o crescimento das cidades e dinamizando a economia. Algo semelhante ao que ocorre atualmente em função da atividade industrial.

    Os portos não representavam somente o acesso de mercadorias no Brasil colonial. Através tietes, muitos portugueses chegavam à colónia, como a princesa Isabel, que desembarcou no Rio de Janeiro, século passado.

    O ESPAÇO AGRÁRIO

    Uma outra característica decorrente da colonização se refere à maneira como o espaço agrário foi sendo organizado. Talvez o aspecto mais significativo, que até hoje se mantém presente em nossa realidade, seja a estrutura agrária.*

    No passado, o colonizador desenvolveu um sistema agrícola, tendo em vista assegurar uma elevada produção, ao menor custo possível, denominado plantation. Suas principais características eram:


  • emprego abundante de mão-de-obra barata, inclusive escrava;

  • cultivo de um só produto agrícola, configurando uma monocultura; e o

  • uso de extensas áreas de terra para a produção.


    Assim, o sistema de plantation podia ser inserido num contexto, segundo o qual terra era sinônimo de poder e, consequentemente, concentrava-se nas mãos de poucos. Este pensamento estendeu-se por muito tempo em nosso país. Para termos uma ideia, até por volta de 1930, o controle dos partidos e da nossa vida política esteve nas mãos de famílias proprietárias de grandes extensões de terras.

    Ainda hoje, no Brasil, a terra encontra-se muito mal distribuída. Assim, ao mesmo tempo que isso revela uma questão social bastante significativa, mostra também uma permanência histórica, na qual o acesso à terra não se encontra, de fato, democratizado. Não é à toa, portanto, que as dificuldades para o estabelecimento de uma reforma agrária no país sejam tão grandes.

    No Brasil, ainda vigoram significativos conflitos na área rural.

    A FORMAÇÃO ÉTNICA

    Além de a colonização ter influenciado fortemente a distribuição populacional pelo território e determinado certas características do espaço agrário, a formação étnica brasileira também sofreu seus efeitos. E o caso da etnia negra no conjunto da nossa população. Como sabemos, os africanos foram trazidos, forçadamente, para o Brasil, para serem utilizados como mão-de-obra escrava, nas mais variadas atividades por meio de um comércio altamente lucrativo. Evidentemente que as atividades por eles desempenhadas eram aquelas menos valorizadas socialmente. Além disso, as condições para o seu exercício eram bastante precárias. Embora a escravidão tenha sido abolida há mais de um século, ainda constatamos que os índices socioeconômicos referentes à etnia negra costumam ser bastante precários. É o caso dos indicadores de educação, saúde, moradia, entre outros, o que nos leva, então, a questionar se no Brasil existe de fato uma democracia racial.

    A EXPANSÃO DO TERRITÓRIO

    O povoamento e a expansão do território brasileiro não podem ser entendidos fora do contexto da política mercantilista da época em que Portugal colonizava o Brasil. Afinal, ela tinha por objetivo assegurar o acúmulo de riquezas através de uma balança comercial favorável. Ou seja, cabia à colônia fornecer matéria-prima para as atividades manufatureiras localizadas nas metrópoles. Além disso, muitos produtos coloniais se prestavam a um lucrativo comércio. Assim, manter a posse de territórios coloniais era da máxima importância para o colonizador europeu.

    Inicialmente, convém recordar que a área que cabia à Coroa portuguesa na América era resultado do Tratado de Tordesilhas, estabelecido em 1494 entre Portugal e Espanha. Observe no mapa a seguir que a superfície do Brasil Colónia era inferior a 30% da área atual.

    O principal interesse do colonizador, como não podia deixar de ser, era encontrar metais preciosos, como ouro e prata. Afinal, a nação que pudesse acumular mais metais estaria não só assegurando a possibilidade de participar mais ativamente das transações comerciais, mas também garantindo um saldo positivo em suas trocas.

    E preciso salientar que os portugueses levaram algum tempo para Iniciar a exploração econômica da colônia, de forma efetiva. Mesmo porque os habitantes origina is, os indígenas, não possuíam uma tradição mercantil que viabilizasse um comércio que envolvesse, da parte deles, produtos exóticos e, do lado dos portugueses, artigos manufaturados na Europa. Esse tipo de comércio era praticado em alguns pontos da África e da Ásia, para onde se voltavam os principais interesses portugueses.

    Por outro lado, a ameaça expansionista espanhola e francesa fazia do Brasil um território potencialmente cobiçado, fazendo-se necessários a sua ocupação e o seu povoamento. Nesse sentido, o desenvolvimento da atividade agropecuária tornou-se uma solução providencial, pois o comércio do açúcar se expandia na Europa, despontando como um produto bem mais lucrativo que o pau-brasil. Alérn disso, a renda gerada com sua comercialização assegurava o financiamento da defesa do litoral, diante da presença do "inimigo".

    Engenho de açúcar, importante marca do espaço geográfico colonial brasileiro.

    Ao mesmo tempo que o cultivo da cana e a sua transformação em açúcar permitiam a ocupação do território, criavam-se condições mais favoráveis para o conhecimento de outros recursos naturais particularmente do ouro, da prata e das pedras preciosas, principal objetivo do colonizador. Como a busca de minerais requeria tempo, recursos e um mínimo de conhecimento das novas terras, ao longo do século XVI, o colonizador praticamente restringiu sua presença a uma faixa que se estendia de Natal, no Rio Grande do Norte, até a região onde hoje se situa a cidade de Laguna, em Santa Catarina.

    A necessidade de conhecer as possibilidades minerais da colônia levou os sertanistas (bandeirantes) a avançarem para o interior, rumo ao oeste. Uma série de bandeiras, tanto aquelas voltadas para o aprisionamento de índios como para a procura de minerais, ou ainda para desfechar ataques a quilombos, acabaram por estender os domínios portugueses para além do Meridiano de Tordesilhas. No final do século XVII, descobriu-se ouro na região de Minas Gerais. No século XVIII, a extração de ouro e diamantes era realizada em amplas áreas, que englobavam terras que hoje pertencem a Goiás e Mato Grosso.

    Nesse momento, o mapa do Brasil já possuía novos contornos. No mapa a seguir, uma ideia da expansão territorial do Brasil no Período Colonial (1500-1822).

    Como podemos perceber, a formação territorial do Brasil é uma decorrência do projeto expansionista português, que se caracterizava pela busca de recursos minerais. A ausência do colonizador espanhol, ern amplas áreas a ele destinadas pelo Tratado de Tordesilhas, facilitou as ações dos bandeirantes para além dos limites portugueses. Paralelamente, enquanto atividades como a pecuária e a cultura da cana asseguravam a fixação de populações pelo território, o aprisionamento de índios despovoava diversas parcelas da colônia, estabelecendo um paradoxo.

    Contudo, soluções diplomáticas se fizeram necessárias para a definição das fronteiras do novo território, a começar pelo Uti Possidetis. Segundo esse princípio, o país que de fato estivesse ocupando uma determinada área, independentemente de possuir ou não documento que comprovasse sua propriedade, teria o direito de apropriar-se dela. Ou seja, tornava-se dono da terra, pelo seu uso, pela sua ocupação. Fica evidenciado que os indígenas não faziam parte desse tipo de acordo.

    Vale mencionar dois importantes acordos estabelecidos entre os dois países, através dos quais os contornos do Brasil aproximaram-se bastante dos atuais: o Tratado de Madrid (1750) e o de Santo lldefonso (1777).

    Após a independência do Brasil, surgiram outras questões internacionais, decorrentes da necessidade de (re)definição de fronteiras, das quais se destaca a questão do Acre, envolvendo o Peru e a Bolívia. Através do Tratado de Petrópolis, o governo boliviano concedeu ao Brasil as terras que hoje formam o estado do Acre. Por este acordo, recebeu em troca uma indenizacão, e o compromisso, por parte do governo brasileiro, da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, que lhe asseguraria uma saída para o mar.

    A DIVISÃO DO BRASIL HOJE

    Em 1889, o Brasil deixou de ser um Império e tornou-se uma República dividida em Estados. No mapa a seguir, podemos observar a divisão política do Brasil atual.

    Do ponto de vista constitucional, o Brasil é uma Federação, cujas unidades (estados encontram-se organizadas, de forma a constituir uma só nação. Segundo os princípios da Federação, as unidades federadas deveriam gozar de uma ampla autonomia, o que não ocorre em nosso país. Basta que levantemos alguns questionamenlos para percebermos que existe uma forte centralização econômica e política, bastante apropriada para um Estado* unitário, e não para uma federação.

    Talvez o aspecto mais significativo seja aquele em que as constituições estaduais e municipais não podem contrariar a constituição federal. Por exemplo, a pena de morte não pode ser aplicada em nosso país, segundo a Carta Magna. Desta forma, nenhum Estado poderia dela fazer uso, pois feriria uma lei federal. E o mesmo se aplica ao caso do aborto, do desmembramento do território, das uniões matrimoniais entre pessoas do mesmo sexo, dentre muitos outros casos. Portanto, as leis federais acabam limitando as leis estaduais e municipais, deixando-lhes pouca liberdade.

    Nesse caso, não podemos deixar de mencionar que a democracia brasileira ainda tem muito o que avançar, considerando-se que países como os Estados Unidos e a França possuem uma tradição muito maior nesse campo. Desde a instalação da República (1889), nossa sociedade experimentou alguns períodos relativamente longos em que o Estado de Direito foi substituído por regimes ditatoriais. Nesses períodos, direitos como o de greve, de liberdade de expressão, de voto, praticamente foram abolidos e o Estado forialeceu-se através de um centralismo econômico e político. Ao mesmo tempo, diversas iniciativas eram tomadas sob o argumento de desenvolver o país. Um bom exemplo são as grandes obras, envolvendo a construção de rodovias, usinas hidrelétricas ou siderúrgicas, o que justificaria não só a criação de novos impostos como uma maior participação na sua arrecadação. Ern contrapartida, os municípios e os Estados tiveram seus poderes econômicos e políticos esvaziados. Um exemplo marcante diz respeito à eleição de governadores e prefeitos que eram eleitos indiretamente, isto é, eram escolhidos pelo governo federal. A arrecadação e a distribuição de impostos beneficiava (e continua beneficiando) a esfera federal, podendo-se dizer que isso levava a um empobrecimento dos estados e municípios e a uma maior dependência do governo central.

    É interessante observar que o fortalecimento do Estado brasileiro não possibilitou que as desigualdades regionais desaparecessem em nosso país. Ainda hoje são fortes os contrastes socioeconômicos existentes entre as regiões brasileiras, como veremos a seguir.

    OS CONTRASTES REGIONAIS

    Durante o processo de formação territorial do Brasil, determinadas áreas especializaram-se na produção de certos gêneros agrícolas, outras na exploração de recursos minerais ou vegetais, tendo em vista o mercado externo. No mapa a seguir, podemos ter uma noção da distribuição dessas áreas. Observe.

    É importante ressaltar que essas áreas, praticamente, não realizavam trocas comerciais importantes entre si, notadamente no período pré-industrial, quando a economia brasileira era de fato agroexportadora. Somente quando o país se industrializa e realiza a integração das diversas economias regionais com o novo ceniro econômico, o eixo Rio-São Paulo, é que a circulação de pessoas e mercadorias se intensifica no interior do Brasil.

    A construção de Brasília se insere no processo de integração do espaço nacional.

    Ao mesmo tempo que crescia a integração do território nacional e a indústria tornava-se o carro-chefe da economia brasileira, ficavam mais evidentes as diferenças entre as regiões do país. As áreas mais industrializadas, por exemplo, tornaram-se mais dinâmicas, capazes de gerar mais empregos, ampliar a sua infra-estrutura, atrair novos empreendimentos. As demais, que permaneceram voltadas para a produção agrícola e mineral, acabaram determinando regiões de menor grau de desenvolvimento, tendo de conviver com uma diversidade de problemas de ordem social e econômica, além de apresentarem uma certa subordinação econômica em relação ao centro.

    Mesmo nas áreas dinâmicas, encontramos espaços onde as condições de existência são muito precárias.

    Por outro lado, estas diferenças significam dificuldades para todas as regiões, tanto para as mais dinâmicas como para as menos desenvolvidas. Portanto, uma série de iniciativas governamentais tiveram de ser postas em prática para reduzir as desigualdades.

    A primeira delas foi a criação pelo governo federal de órgãos voltados para o planejamento regional, a começar pela SUDENE (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste), em 1959. Nos anos 60, foi a vez da SUDAM (Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia), da SUDECO (Superintendência para o Desenvolvimento do Centro-Oeste) e da SUDESUL (Superintendência para o Desenvolvimento do Sul), juntamente com essas superintendências, cuja área de ação correspondia à de uma macrorregião, foram criados órgãos para atuarem em áreas menores, no interior dessas regiões. É o caso da SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca de Manaus), localizada na região de atuação da SUDAM, entre outras.

    É interessante observar que os órgãos de planejamento regional, à exceção da SUDENE, foram criados durante o regime militar (1964 – 1983), dentro do contexto de fortalecimento do governo federal e de enfraquecimento dos Estados e municípios, como já foi tratado. Porém, hoje já estão extintas a SUDECO e a SUDESUL.

    Por último, é necessário tecermos alguns comentários sobre a divisão regional do Brasil, particularmente a apresentada pelo IBGE, segundo a qual o país encontra-se organizado em cinco grandes regiões, conforme o mapa a seguir.

    Além de essa regionalização resultar em agrupamentos muito grandes, ela apresenta particularidades que não possibilitam uma compreensão mais fiel da realidade brasileira. Merecem destaque os seguintes aspectos:


  • dificuldade de perceber, com clareza, a interdependência entre as diversas áreas do território brasileiro;

  • impossibilidade de associar as regiões com o processo de formação histórico-territorial do país;

  • desconsideração do fato de a realidade brasileira ter mudado significativamente nas últimas décadas, e já estar merecendo uma revisão;

  • utilização, como referência para suas fronteiras, dos limites estaduais, separando assim realidades sociais e econômicas comuns.


    Em razão desses problemas, tem crescido nos meios escolares o uso de urna nova forma de regionalizar o Brasil que considera a existência de três regiões geoeconômicas: a Amazônia, o Nordeste e o Centro-Sul. Observe-as no mapa a seguir.

    Além de essa regionalização superar as dificuldades apontadas contra a regionalização proposta pelo IBGE, um outro aspecto pode ser levantado a seu favor: o de que cada região geoeconômica apresenta, no seu interior, diversos espaços geográficos, com inúmeros pontos em comum. É o caso do Sul do Brasil, onde se pode perceber a forte presença da colonização europeia, de uma agricultura moderna, além de uma rede urbana formada por muitas cidades médias dentre outras características. Podemos citar como exemplos a Campanha Gaúcha (RS), o Vale do Itajaí (SC), a região serrana do Rio Grande do Sul, etc.

    Os contrastes regionais subsistem no Brasil atualmente, embora o Nordeste já apresente algumas ilhas de modernidade, áreas que se diferenciam do conjunto por seu maior dinamismo econômico. E o caso do Vale do São Francisco e do oeste baiano, onde uma moderna agricultura é praticada, contrastando com a maior parte da região.

    Em tempos de globalização, a abertura econômica do Brasil para o mercado internacional tem atraído uma grande quantidade de empreendimentos estrangeiros, destacando-se a vinda de montadoras de automóveis, algumas das quais já se dispuseram a instalar-se no Nordeste. Com isso, é possível vislumbrar uma certa redução nas diferenças regionais.

    Mas o Brasil não apresenta contrastes apenas socioeconômicos. Sua grande extensão territorial abriga, também, uma diversidade de paisagens naturais.

    ATIVIDADES


  1. Estabeleça uma relação entre a colonização do Brasil e o caráter periférico de seu povoamento.

  2. A má distribuição das terras no Brasil é uma decorrência da forma como seu território foi colonizado. Explique.

  3. Qual a importância do Uti Possidetis como solução diplomática necessária para a definição das terras portuguesas na América?

  4. O Brasil pode ser considerado uma Federação, de fato?

  5. Os contrastes regionais no Brasil se intensificaram com a industrialização do país. Comente.

  6. Onze estados do país entraram, a partir de 21 de outubro de 1990, no chamado horário deverão. Ao contrário dos anos anteriores, os Estados das regiões Norte e Nordeste (com exceção da Bahia) ficaram fora desse esquema.

  1. Quais são os motivos que levaram à adoção do horário de verão?

  2. A partir de elementos fornecidos pelo mapa anterior, explique por que alguns Estados ficaram fora desse esquema.

    1. Sobre a posição astronômica do Brasil, é correto afirmar:


    2. a maior parte do território brasileiro está localizada na porção extratropiral e o Trópico de Capricórnio atravessa a cidade de São Paulo;

    3. está totalmente situado entre os paralelos de 5º16'20" de latitude norte e 33°45'03" de latitude sul;

    4. fica entre os meridianos de 34°47'30" e 73°59'32" a leste de Greenwich;

    5. está localizado quase totalmente no Hemisfério Ocidental e totalmente no Hemisfério Sul.

  1. Que região brasileira conheceu, nas duas últimas décadas, grande expansão da fronteira agrícola, crescimento demográfico acelerado e significativo aumento na produção de café e cacau?


    a) Sul da Bahia;

    b) Norte de Mato Grosso;

    c) Roraima;

    d) Amapá;

    e) Rondônia.


    1. A criação de Brasília, na década de 60, representa uma ação que teve fortes consequências na organização do espaço brasileiro. Assinale a afirmativa que não corresponde a este fato:


    2. Colocou em pleno Planalto Central uma cidade, hoje corn cerca de 1,5 milhão de habitantes, de alto poder de consumo, ampliando o mercado regional.

    3. Permitiu melhor planejamento económico das diversas regiões brasileiras, feito de acordo com as peculiariedades de cada área (SUDENE, SUDAM – por exemplo).

    4. Gerou uma malha rodoviária, que dela parte e que permitiu a melhor integração de diversas regiões brasileiras e do conjunto do território nacional.

    5. Valorizou espaços como os do sul de Goiás, Triângulo Mineiro, leste de Mato Grosso, que desenvolveram suas cidades e sua produção.

    6. Facilitou, a longo prazo, a ocupação agrícola das áreas dos cerrados, hoje um dos novos espaços incorporados a uma agricultura mais moderna.


    10) l - É a região mais urbanizada e industrializada do país.

    II - Desde o século XIX fornece migrantes para as demais regiões do Brasil.

    III - A intensa ocupação atual é responsável pela devastação das matas.

    Assinale a correlação correta entre as áreas A, B e C assinaladas no mapa e as afirmações acima.

    a) A – III, B – ll e C – l

    b) A – III, B – I e C - II

    c) A - l, B – lll e C – ll

    d) A – I, B – II e C – III

    e) A - ll, B – l e C – lll

    11) A Constituição do Brasil, promulgada em 1988, alterou a divisão territorial do país criando Estados, anexando territórios e transformando território em Estado. Assim, a região:


  1. Centro-Oesle foi a que mais modificou, pois teve anexado o estado de Tocantins;

  2. Sul não sofreu nenhuma modificação, enquanto a Região Sudeste teve o estado do Espírito Santo incorporado à sua área;

  3. Norte e a Centro-Oeste foram as que tiveram sua área mais modificada, porque a Região Norte foi acrescida do estado do Acre e a Região Centro-Oeste, do estado de Tocantins;

  4. Nordeste sofreu pequena alteração, com a anexação do antigo território de Fernando de Noronha ao estado de Pernambuco;

  5. Sudeste e a Centro-Oeste não sofreram modificações.


    12) A divisão regional do Brasil em três complexos geoeconômicos tem as características a seguir, EXCETO:


  1. Explica melhor o processo de formação histórico-territorial.

  2. Permite observar as relações do espaço cada vez mais integrado física e economicamente.

  3. Despreza os limites estaduais, acompanhando os aspectos mais marcantes das áreas.

  4. Possibilita determinar áreas deprimidas e é fundada no conceito de regiões naturais.

  5. Expressa a divisão territorial do trabalho, vinculada à dinâmica da acumulação capitalista.


    13) Todas as afirmativas expressam corretamente contrastes e desigualdades encontradas no Brasil, EXCETO:


  1. A migração intensa para a porção ocidental alterou pouco a distribuição da população, que continua concentrada em sua maior parte na porção centro oriental do país.

  2. A queda no ritmo de urbanização verificada na década atual foi pequena, mas a população brasileira continua vivendo, por excelência, nas cidades.

  3. A renda per capita do Brasil apresentou crescimento em alguns anos, mas a distribuição da renda nacional continua desigual e são muitos os brasileiros que vivem em condições miseráveis.

  4. As regiões Norte e Centro-Oeste, nos últimos anos, aumentaram sua participação no Produto Interno Bruto do país, mas as desigualdades regionais persistem e favorecem o Centro-Sul.

  5. O aumento na taxa de mortalidade bruta pouco alterou o crescimento vegetativo que continua muito elevado, e a base da pirâmide de idades tem se ainpiiado.


    14) Observe atentamente o mapa regional e assinale a proposição CORRETA.

    01) O número 5 assinala a Região Sul, que apresenta numerosos descendentes europeus, que mantiveram a cobertura vegetal original e adotararn uma agricultura extensiva e itinerante, voltada para o exterior.

    02) O número 1 corresponde à maior das regiões e é onde as condições naturais permitiram o aparecimento de uma mata temperada homogênea, com devastações enormes, apontadas por satélites.

    04) O número 2 indica a região menos importante e mais pobre da época colonial e que, após a mineração nela ocorrida, se transforma e passa a atrair até hoje brasileiros de outras regiões.

    08) O número 4 diz respeito à região mais industrializada e urbanizada do Brasil, com destaque para as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro que polarizam o país inteiro.

    16) O número 3 assinala o Centro-Oeste, que passou a crescer após a construção de Brasília, mesmo apresentando condições adversas dadas pela semi-aridez e a vegetação de caatinga.

    Brasil, país subdesenvolvido industrializado

    "A evolução política progressista do Império corresponde assim, no terreno econômico, à integração sucessiva do país, numa forma produtiva superior, à forma capitalista."

    (Extraído de Caio Prado Júnior. Evolução política do Brasil: colônia e império. São Paulo, Brasiliense, 1983. p. 99.)

    O ingresso do Brasil, como país soberano, no sistema capitalista mundial ocorreu não como nação industrializada, mas como um dos inúmeros participantes da periferia do capitalismo.

    Durante quase um século, permanecemos como exclusivo produtor e fornecedor de matérias-primas agrícolas, como ocorreu no período colonial.

    O Brasil só consolidou sua industrialização após a Segunda Guerra, num processo conhecido como substituição de importações, como vimos no capítulo anterior.

    Apesar de industrializado, o Brasil permanece subdesenvolvido em virtude dos indicadores sociais, do nível tecnológico e da dependência da tecnologia e de investimentos internacionais, como financiamentos de bancos privados estrangeiros e abertura de filiais e de empresas transnacionais. Dessa forma permanece como uma nação capitalista industrializada periférica (considerado um dos Novos Países Industrializados). Não faz parte do "centro" do sistema, isto é, dos países desenvolvidos.

    Leitura e reflexão

    Canção do subdesenvolvido

    O Brasil é uma terra de amores/ alcatifada de flores/ onde a brisa fala de amores/ nas lindas tardes de abril/ Correi pras bandas do sul/ debaixo de um céu de anil / encontrareis um gigante deitado/ Santa Cruz/ Hoje o Brasil/ Mas um dia o gigante despertou/ Deixou de ser gigante adormecido/ E dele um anão levantou/ era um país subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ E passado o período colonial/ O país deixou de ser um born quintal/ E depois de dada a conta a Portugal/ Instalou-se o latifúndio nacional/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Então o bravo povo brasileiro/ Em perigos e guerras esforçado/ Mais que prometia a força humana/ Plantou couve/ Colheu banana/ Bravo esforço do povo brasileiro/ Mandou vir capital lá do estrangeiro/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ As nações do mundo pra cá mandaram/ Os seus capitais desinteressados/ As nações, coitadas, queriam ajudar, não é?/ E aquela ilha velha não roubou ninguém/ País de pouca terra só nos faz bem/ Um Big-Ben, um Big-Bem / Ben-Bem/ Ben-Bem/ Nos deu luz (Ah!)/ Tirou ouro (Oh!)/ Nos deu trem (Ah!)/ Mas levou nosso tesouro/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Mas data houve em que se acabaram/ Os tempos duros e sofridos/ Pois um dia aqui chegaram/ Os capitais dos Países Amigos / País amigo, desenvolvido/' País amigo, país amigo/ Amigo do subdesenvolvido/ País amigo, país amigo/ E os nossos amigos americanos/ Com muita fé, com muita fé/ Nos deram dinheiro e nós plantamos/ Só café, só café/ E muita terra em que se plantando tudo dá/ Mas eles resolveram que nós deveríamos plantar/ Só café, só café/ Bento que bento é frade/ Na boca do forno -forno/ Tirai um bolo - bolo/ Fareis tudo que seu mestre mandar?/ Faremos nós, faremos todos/ Começaram a nos vender e a nos comprar/ Comprar borracha, vender pneu/ Comprar minério, vender navio/ Pra nossa vela, vender pavio/ Só mandaram o que sobrou de lá/ Matéria plástica, que entusiástica, que coisa elástica, que coisa drástica/ Rock balada, filme de mocinho/ Ar refrigerado e chidet de bola/ E coca-cola/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ O povo brasileiro tem personalidade/ Não se impressiona com facilidade/ Embora pense como americano/ 'Tm going to kill that indian before he kills me"/ Embora dance como americano/ Embora cante como americano/ Eh boy/ Eh roçado no chão/ o maior do meu sertão/ Comero o boi/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ Subdesenvolvido/ O povo brasileiro embora pense/ Dance e cante como americano/ Não come como americano/ Vive menos/ Sofre mais/ Isso é muito importante/ Pois difere o brasileiro dos demais/ Personalidade, personalidade, personalidade/ Sem igual porém/ Subdesenvolvida/ Subdesenvolvida/ Subdesenvolvida/ Subdesenvolvida/ Essa é a vida nacional.

    (Extraído de: Carlos Lyra e Francisco de Assis. gravado em 1962 pelo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes <www.geocities com/ alta fidelidade/ eng_letras.htm> Acesso em mar 2003.)

    Escrita em 1962, proibida pela censura do regime militar de 1964, essa música retrata com muita ironia o período em que o Brasil consolidava sua industrialização tardia e dependente.


  1. Explique o sentido da seguinte frase do texto, que lembra uma velha brincadeira infantil: Bento que bento é frade/ Na boca do forno - forno / Tirai um bolo - bolo/ Fareis tudo que seu mestre mandar?/ Faremos nós, faremos todos.

  1. Identifique na letra da canção duas das principais características do subdesenvolvimento.

    O modelo econômico "arquipélago"

    Até fazer parte do conjunto das nações industrializadas periféricas, a economia brasileira funcionava como um "arquipélago", ou seja, apresentava um conjunto de áreas económicas que funcionavam como "ilhas", uma vez que eram voltadas para o exterior e desarticuladas entre si.

    Assim ocorria com a cana-de-açúcar no Nordeste, o café no Sudeste, a borracha no Norte e a pecuária no Sul.

    Somente após a Segunda Guerra Mundial, com a construção de indústrias e rodovias, houve a integração da economia brasileira em torno de um único centro polarizador, no caso a região Sudeste. Em função dessa nova organização espacial da economia brasileira a partir da industrialização, podemos utilizar diferentes propostas de estudo para explicar esse processo.

    A divisão regional oficial do IBGE, cinco grandes regiões. Veremos a seguir três dessas propostas: os complexos regionais, a regionalização elaborada por Milton Santos e os eixos nacionais de desenvolvimento.

    Geografia, ciência interdisciplinar

    [...] Assim, o engenho tornou-se o centro pulsante da vida social nas regiões marcadas pela lavoura canavieira. Nele conjugavam-se os três setores-chaves da economia colonial: a produção da cana, a fabricação do açúcar e a exportação para o mercado europeu.

    Além disso, a montagem do engenho permitiu que os portugueses e seus descendentes ocupassem mílitarmente a maior parte do litoral brasileiro, sobretudo o nordestino, pois os senhores de engenho eram obrigados a construir fortificações e a fornecer armas para a defesa da colônia.

    (Adaptado de: Rubim Santos Leão de Aquino e outros. Sociedade brasileira, uma história Rio de Janeiro, Record, 2000.p.103)

    01) Relacione o tipo de economia mencionado com a distribuição da população brasileira.

    02) Em grupo e com a ajuda do professor de história, tracem um paralelo entre a economia canavieira do passado e do presente.

    Os complexos regionais brasileiros

    Além da divisão oficial regional do IBGE, outra proposta caracteriza os espaços brasileiros segundo a organização da sua economia (modelo centro-periferia). Ela foi elaborada em 1967 pelo geógrafo Pedro Pinchas Geiger, que dividiu o Brasil em três grandes complexos regionais-Amazônia, Nordeste e Centro-Sul -, segundo suas características geoeconômicas.

    Na regionalização proposta por Geiger desaparecem os limites que separam os estados. Além disso, veja outras modificações que ela apresenta em relação à divisão oficial do IBGE:

  • O sul de Mato Grosso e de Tocantins está agrupado ao complexo regional do Centro-Sul, por causa de suas relações de dependência econômica.

  • O norte de Minas Gerais passa a compor o complexo do Nordeste por ser uma área com características económicas e naturais semelhantes: clima semi-árido e pobreza, fazendo parte, inclusive, do Polígono das Secas.

  • A porção oeste (ocidental) do Maranhão passa a integrar o complexo regional da Amazônia por sua afinidade econômica extrativista (da rnata dos Cocais).


    Fonte: Bertha Becker. Crescimento econômico e estrutura espacial do Brasil Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, ano 34, n. 4.1972.

    Conheça a seguir as principais características dos três grandes complexos regionais brasileiros.

    Amazônia

    O Teatro Amazonas, em Manaus, a mais populosa cidade da Amazônia, é uma relíquia dos áureos tempos do ciclo da borracha na região. Sua construção, iniciada em 1884, só foi concluída em 1896.

    Com uma área de 5 milhões de km2, a Amazônia compreende 58% do território brasileiro. Além da região Norte estabelecida pelo IBGE, que tem aproximadamente 3870 000 km2, abrange grande parte dos estados de Mato Grosso e Maranhão.

    Principais características:


  • Quadro natural: clima equatorial, domínio de terras baixas amazônicas, floresta equatorial e bacia Amazônica.

  • Quadro humano e econômico: pequena população absoluta, baixa densidade demográfica e economia baseada no extrativismo mineral e vegetal. Apresenta crescimento industrial na Zona Franca de Manaus. É o principal reduto de povos indígenas, de problemas de posse de terra e desmatamentos (queimadas). Desde a década de 1960, a Amazônia tornou-se fronteira de expansão agropecuária e de povoamento.


    Nordeste

    Com 1,5 milhão de km2 a região geoeconômica do Nordeste ocupa 18% do território brasileiro, área quase equivalente ao Nordeste delimitado pelo IBGE. Compreende o norte de Minas Gerais, mas não inclui o oeste do Maranhão.

    Considerada a "região-problema" do país, o Nordeste enfrenta graves conflitos sociais e econômicos: área de repulsão de população, analfabetismo, mortalidade infantil, concentração de renda e de terras, seca, falta de oportunidades de emprego. Pode ser dividido em quatro sub-regiões: Meio-Norte, Sertão, Agreste e Zona da Mata.

    O quadro a seguir resume as principais características de cada uma das sub-regiões nordestinas.

    As sub-regiões nordestinas

    Meio-Nordeste - Maranhão e Piauí compõem essa sub-região, que é uma zona de transição entre o Nordeste e a Amazônia. O extrativismo do babaçu e a agricultura do algodão e do arroz são as principais atividades econômicas do Meio-Norte. São Luís é a cidade mais populosa dessa sub-região.

    Sertão - É a maior das sub-regiôes nordestinas, ocupada em sua maior parte pelo Polígono das Secas, que abrange os locais afetados por secas periódicas. A pecuária extensiva de corte e o cultivo de arroz e algodão são as principais atividades econômicas do Sertão. Recentemente, a irrigação tem favorecido a produção de frutas em áreas sertanejas às margens do rio São Francisco.

    Agreste - Pequena faixa que atravessa de norte a sul os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. A cidade de Campina Grande, na Paraíba, é chamada de "capital do Agreste". O Agreste marca a transição entre a área litorânea (Zona da Mata) e o Sertão. A policultura comercial e a pecuária leiteira são as principais atividades econômicas.

    Zona da Mata - Sub-região economicamente mais importante do Nordeste, a Zona da Mata ocupa a faixa litorânea do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia, incluindo o Recôncavo Baiano. Foi o primeiro local do Brasil a ser povoado. Hoje é a área mais populosa e a que concentra duas das três maiores cidades do Nordeste: Salvador (Bahia) e Recife (Pernambuco). O cultivo da cana-de-açúcar e do cacau representa sua principal atividade econômica.

    Centro-Sul

    Com cerca de 2 milhões de km2, o complexo regional do Centro-Sul abrange integralmente os estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro, São PauIo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, a maior parte de Minas Gerais e Goiás e uma pequena parte de Tocantins e Mato Grosso. Corresponde às terras das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. E o complexo regional mais importante e o centro econômico da nação, com mais de 60% da população brasileira. Aí estão vinte das 26 áreas metropolitanas do país.

    As desigualdades regionais

    Podemos perceber a grande diferença socioeconômica entre os complexos regionais brasileiros analisando os indicadores sociais de alguns estados. Ficam nítidos os contrastes e o melhor desempenho dos estados ou unidades que compõem o Centro-Sul. Veja, na tabela a seguir, os melhores e os piores indicadores socioeconômicos do Brasil.

    Os "quatro brasis"

    O geógrafo Milton Santos e a professora Maria Laura Silveira propuseram uma nova regionalização do Brasil, baseada em quatro regiões ou em "quatro brasis". O critério principal definidor dessa nova regionalização foi o do "meio técnico-científico-informacional", isto é, a "informação" e as "finanças" estão irradiadas de maneiras desiguais e distintas pelo território brasileiro, determinando "quatro brasis".

    Veja a seguir corno é constituída cada região definida poressa nova regionalização:


  • Região Amazônica: inclui os estados do Amapá, Pará, Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia. Baixas densidades técnicas e demográficas.

  • Região Nordeste: inclui os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuço, Alagoas, Sergipe e Bahia. Foi a primeira região a ser povoada. Apresenta uma agricultura pouco mecanizada se comparada à região Centro-Oeste e à região Concentrada.

  • Região Centro-Oeste: inclui os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins. De ocupação recente, apresenta uma "agricultura globalizada", isto é, moderna, mecanizada e produtiva.

  • Região Concentrada: inclui os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É a região que concentra a maior população, as maiores indústrias, os principais portos, aeroportos, shopping ceriters, supermercados, as principais rodovias e infovias, as maiores cidades e universidades. Portanto, é a região que reúne os principais meios técnico-científicos e as finanças do país.


    Fonte Milton Santos & Mana Laura Silveira. O Brasil- território e sociedade no inicio do século XXI. Rio de Janeiro. Record, 2001. Encarte 2.

    Os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento

    A divisão em Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento talvez não possa ser encarada como uma nova divisão regional, mas como uma nova definição espacial do território brasileiro, feita pelo Ministério do Planejamento. Essa divisão leva em conta as potencialidades socioeconômicas e de infra-estrutura de cada área delimitada, visando maior integração de nosso país e redução dos desequilíbrios regionais e sociais através da criação de renda e empregos em todas as áreas do país.

    Os itens analisados para estabelecer os eixos de integração e desenvolvimento foram: hierarquia funcional e regional das cidades (hierarquia e rede urbana), principais atividades econômicas e distribuição da população, malha de transporte (rodovias, ferrovias, hidrovias interiores, transporte marítimo, portos e terminais marítimos e fluviais) e ecossistemas.

    Os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento são nove: Arco Norte, Madeira-Amazonas, Oeste, Sudoeste, Araguaia-Tocantins, Transnordestino, São Francisco, Sul e Rede Sudeste. Veja o mapa.

    A Rede Sudeste ou Rótula exerce o papel de articuladora entre as demais regiões. A Rótula não deve ser considerada como eixo, pois seu papel será integrar os demais eixos, uma vez que conta com 38% da população do país, 70% do PIB e o mais alto grau de urbanização.

    Aprenda um pouco mais

    Cartografia do Brasil para o século XXI

    Quem precisar de um mapa econômico do território brasileiro logo descobrirá que existem dois. Um deles estampa onze áreas de influência de macropolos. O outro mostra nove espaços definidos por macroeixos. Duas composições tão divergentes, e tão importantes para o desenvolvimento, que deveriam merecer mais atenção da mídia e de formadores de opinião.

    Macropolos são as aglomerações urbanas que funcionam como centros de gravidade do sistema econômico. A principal influência, a de São Paulo, atinge a melhor parte do sul de Minas, o Triângulo Mineiro, o sudoeste goiano e todo o estado de Mato Grosso do Sul. No outro extremo, Manaus também centraliza imensa área geográfica, só que insignificante do ponto de vista econômico. Os estados de Alagoas, da Paraíba e metade do Rio Grande do Norte vinculam-se a Recife, assim como o Piauí a Fortaleza, e o Maranhão a Belém.

    O Espírito Santo só poderia estar mesmo na órbita do Rio de Janeiro, que também abarca uma boa fatia mineira, composta pela Zona da Mata e pedaço do Sul. A dupla Brasília/Goiânia estende seus tentáculos desde o noroeste mineiro até Porto Velho. Sobra para Belo Horizonte apenas seu entorno industrial e algumas áreas atrasadas. Além disso, os raios de acão de Curitiba e Porto Alegre racham ao meio o estado de Santa Catarina. E é só na Bahia que o contorno estadual coincide com a esfera de influência de Salvador, pois a inclusão de Petrolina quase não altera o mapa.

    Macroeixo é a vertente logística que pode articular uma economia regional aos mercados internacionais. Foi a experiência de empresas exportadoras de matérias-primas - como a Vale do Rio Doce - que o transformou em alternativa a outros vetores de planejamento, como o pólo. Um trabalho que resultou ern nove espaços bem desiguais, tanto em extensão quanto em densidade socioeconômica. Entre a imensa Rede Sudeste e o minúsculo Arco Norte intercalam-se as regiões Sul, Transnordestina, São Francisco, Sudoeste, Oeste, Araguaia-Tocantins e Madeira-Amazonas.

    A vocação logístico-exportadora desses nove macroeixos pode ser entendida como uma espécie de contraponto prospectivo ao realismo fotográfico dos macropolos. Sua missão seria a de gerar um impulso desconcentrador contrário à tendência aglomerativa dos macropolos. Tudo dependeria do perfil dos investimentos em infra-estrutura e, particularmente, do redirecionamento da malha viária nacional. Com isso, as atuais forças centrífugas dos onze macropolos seriam em parte contrabalançadas pelas centrípetas de alguns dos nove macroeixos, melhorando a configuração territorial da economia brasileira.

    Mas todo esse otimismo também faz parte da visão unicamente econômica que aprisiona os dois esforços de regionalização. São abordagens avessas às características dos biomas e ecossistemas, mesmo que a segunda venha a absorver restrições impostas por futuras avaliações de impactos ambientais.

    A delimitação das áreas de influência dos macro-eixos respondeu antes de tudo ao sistema de transporte, depois à distribuição dos focos dinâmicos da rede urbana, e só em último lugar ao que foi vagamente chamado de "condicionantes ambientais". Uma concepção que deve ser considerada retrógrada, pois não atende sequer às mais vulgares interpretações da tão idolatrada noção de "desenvolvimento sustentável".

    Não é de estranhar, portanto, que o texto orientador das discussões sobre a Agenda 21 brasileira, aprovado pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável, tenha tomado distância da regionalização prospectiva aceita pelo Ministério do Planejamento. Mesmo que de forma tímida e canhestra, esse documento propõe uma reavaliação do significado de cada eixo para o desenvolvimento regional. Uma reavaliação que certamente poderá basear-se no programa de Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) iniciado pela extinta Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, e agora sob a responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente. Muito mais que um estudo das condições ecossistêmicas e socioeconômicas de determinada região, o ZEE pretende ser instrumento de negociação e de ajuste entre diversas propostas de desenvolvimento. E é só com esse tipo de procedimento que o Brasil poderá ter uma cartografia que de fato corresponda às necessidades deste início de século.

    (Adaptado de: José Eli da Veiga. O Estado de S. Pauto, 7 abt. 2001.)

    Com base no texto, diferencie macropolo de macroeixo, dando exemplos de cada um desses conceitos.

    VERIFICANDO A APRENDIZAGEM

    01) "A segunda etapa de desenvolvimento industrial consiste na aplicação de medidas destinadas a propiciar a diversificação e a expansão do setor. Neste contexto é que se colocam a Revolução de 1930, o Estado Novo instituído em 1937, o getulismo e suas variantes, a democracia populista, etc. Em linhas gerais, esse estágio situa-se entre 1930 e 1964. É a época da implantação do modelo substituição de importações."

    (Extraído de Octavio lanni. O colapso do populismo no Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1987 p. 33.)

    Com base nas informações deste capítulo e do capítulo anterior, descreva o modelo de substituição de importações introduzido no Brasil.

    02) O Brasil é industrializado, entretanto permanece subdesenvolvido. Justifique a afirmação apresentando dois exemplos.

    03) Os complexos regionais brasileiros seguem uma proposta diferente da regionalização estabelecida pelo IBGE.

    a) Aponte uma diferença dessa nova regionalização em relação ã do IBGE.

    b) O complexo regional do Nordeste está dividido em sub-regiões. Caracterize-as.

    c) Por que o norte de Minas Gerais passou a integrar o complexo regional do Nordeste?

    04) O Ministério do Planejamento (Ações Federais 1995-2002) publicou uma série de 27 livros que reuniu as ações federais realizadas entre 1995 e 2002.

    "Nesse período, a maior parte dos investimentos em projetos de desenvolvimento social, infra-estrutura, meio ambiente e informação - muitos deles desenvolvidos em parceria com governos estaduais, iniciativa privada e agências internacionais - foram direcionados para espaços geoeconômicos definidos por nove Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento, identificados por meio de estudo do BNDES e do Ministério do Planejamento, entre 1997 e 1999..."

    (Extraído de: Revista UpDale, São Paulo, ano XVIII. n. 385, ago. 2002. p. 12.)

    Com base no texto do capítulo e no texto acima, cite dois benefícios que podem resultar cia criação dos Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento.

    05) Por que a Rede Sudeste é também chamada de Rótula?

    A indústria no Brasil

    "Para a maioria dos analistas, o Brasil é um paradoxo. O país tem uma base industrial desenvolvida, um setor da sociedade altamente sofisticado e um corpo considerável de cientistas. O mistério é que tudo isso ainda não se traduziu em competitividade. Isso é um reflexo do desdém dos brasileiros pelo mercado internacíona . O Brasil precisa exportar para atingir a prosperidade. Não vendendo produtos agrícolas, mas, sim, de alta tecnologia. Se isso fosse feito, o país poderia realmente dar um grande salto. Com o fim da guerra fria, as velhas divisões ideológicas acabaram dando lugar a uma divisão baseada na tecnologia. Países onde vivem cerca de 15% da população mundial são responsáveis por quase todas as invenções. Os restantes 2 bilhões de seres humanos, um terço do total, não as produzem nem sabem como usá-las. As fronteiras das regiões excluídas não são as mesmas do mapa-múndi. A região da Amazônia no Brasil, por exemplo, faz companhia a vários países africanos no grupo dos excluídos."

    (Adaptado de: Jeffrey Sachs. Veja, 18 jul. 2001, p. 11-15.)

    Para o Brasil tornar-se industrializado, foi preciso percorrer um longo caminho.

    Durante a maior parte do período colonial (1500-1822), era praticamente proibida a instalação de estabelecimentos comerciais e industriais na colônia, principalmente até 1808, datada vinda da família real ao Brasil, porque os produtos fabricados aqui concorreriam com os da metrópole portuguesa. Por isso, entre os séculos XVIII e XIX, enquanto alguns países da Europa ocidental conviviam com a industrialização, o Brasil permanecia como exportador de gêneros agrícolas, papel que continuou a representar mesmo após obter sua independência política em 7 de setembro de 1822. Até a década de 1930, a industrialização brasileira foi marcada por indústrias tradicionais (alimentícias e têxteis) e pela importação de produtos industrializados.

    A crise mundial de 1929 afetou a economia brasileira, que até então se baseava principalmente na produção e na exportação de café. Com essa crise uma parcela razoável do capital cafeeiro foi reinvestida em atividades urbanas fabris, como a produção de alimentos e tecidos, modificando e dinamizando nossa economia com a lenta transição do predomínio do capital agrícola para o capital industrial. Este reunia o capital oriundo da cafeicultura, capitais internacionais (ingleses e norte-americanos, principalmente), poupança interna (capital privado nacional) e o capital estatal, que expandiu e diversificou a economia brasileira.

    A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) beneficiou a produção interna no Brasil, que, além de ler dificuldade em comercializar com a Europa, precisava substituir os produtos industrializados, queerarn importados, para atender ao mercado interno.

    A era Vargas e a era Kubitschek

    A segunda etapa do desenvolvimento industrial teve a participação decisiva desses dois governantes.

    Getúlio Vargas foi o responsável pela infra-estrutura necessária para a instalação de indústrias no país no período de seu primeiro governo (1930-1945). Entre suas realizações estão a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), organizada ern 1941 e posta em funcionamento em 1946, em Volta Redonda, Rio de Janeiro, e a mineradora Companhia Vale do Rio Doce, instalada em 1942 em Minas Gerais. Também fundou, em 1943, a Fábrica Nacional de Motores (FNM) e a Companhia Hidrelétrica de São Francisco, em 1945. Durante o seu segundo mandato (1950-1954). foi criado o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico (BNDE)ern 1952 e, no ano seguinte, foi instituída a Pe-trobras (Petróleo Brasileiro S/A).

    Juscelino Kubitschek (1956-1960) privilegiou as obras para a geração de energia, os transportes e principalmente a construção de rodovias, que facilitou a instalação de montadoras estrangeiras de veículos em nosso país. Seu governo, ao contrário do de Getúlio Vargas, que se preocupou em proteger a produção nacional, marcou o início da internacionalização do parque industrial brasileiro. Nessa época, além das montadoras, vieram indústrias de aparelhos eletroeletrônicos e de alimentos, que mais tarde passariam a controlar o mercado interno, após a compra de empresas nacionais, incapazes de competir com a tecnologia e com os preços praticados por essas transnacionais. Portanto, entre 1930 e 1960, ocorreu a segunda e principal etapa da industrialização brasileira, caracterizada pelo modelo de substituição de importações voltado para o abastecimento interno e baseada na união de capitais estatais, nacionais e capitais privados estrangeiros.

    As instalações da Volkswagen do Brasil foram inauguradas pelo presidente Guscelino Kubitschek, em 1959, em São Bernardo do Campo, São Paulo.

    A internacionalização da indústria

    No começo da década de 1960, o país passou por um conturbado período político que culminou com o golpe militar de 1964. Só nesse ano o processo de internacionalização da economia brasileira, iniciado no governo JK, consolidou-se definitivamente.

    No governo militar, o período entre 1967 e 1973 ficou conhecido como o "milagre econômico brasileiro", quando atingimos a 8ª posição mundial em relação ao PIB e o 1° lugar entre as nações subdesenvolvidas industrializadas ou periféricas. O Brasil recebeu vultosos empréstimos internacionais e sua produção industrial foi muito grande. No entanto, como consequência, a dívida externa aumentou muito nesse período, agravando as desigualdades sociais, pois a riqueza, que deveria ser aplicada em melhores condições de saúde e educação, foi desviada para o pagamento de compromissos assumidos com organismos internacionais, como o FMI e o Banco Mundial.

    Com o peso da dívida externa e os sucessivos aumentos do preço do petróleo no mercado internacional, o país viveu nos anos 1980 o período conhecido como a "década perdida", quando se verificou uma forte retração da produção industrial e um menor crescimento da economia em geral

    A indústria brasileira na globalização

    Os anos 1990 foram marcados pela globalização da economia mundial, pela política neoliberal e pelas crises econômicas em países emergentes como o Brasil. Em consequência, o capital transnacional passou a controlar cada vez mais não só a industrialização, mas também toda a economia brasileira, incluindo os setores agropecuários e de serviços. Neste último, destacam-se os que dão suporte à atividade industrial, como o energético, o de telecomunicações e o de transportes, com a privatização de empresas estatais, corno a Companhia Siderúrgica Nacional, a Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel) e grande parte das ferrovias e rodovias que compõem a malha de transportes do país.

    Ainda na década de 1990, o setor industrial caracterizou-se pela queda dá participação da indústria na composição do PIB e pela redução do número de empregos nessa área. Não se esqueça de que o Brasil participa e sofre os efeitos da globalização econômica, cujas inovações tecnológicas geram maior produtividade com menor número de trabalhadores no mundo todo. Porém, por ter sido bem mais produtiva do que a década de 1980, podemos dizer que a década de 1990 foi positiva para a indústria brasileira.

    A indústria brasileira no século XXI

    O terceiro milênio começou incerto não só para a economia brasileira, como também para a economia mundial. Grandes potências industriais, corno Estados Unidos e Japão, viveram um período recessivo entre 2001 e 2004. Como o Brasil tem uma economia dependente de capitais externos, apresenta fortes reflexos dessa crise mundial.

    A dependência da indústria brasileira não é só do capital e insumos, mas também da tecnologia estrangeira O Brasil ocupou o 43° lugar no ranking mundial de tecnologia da ONU, em 2001, o que atinge diretamente o desempenho industrial do país.

    Os golpes finais para o setor industrial foram o racionamento de energia elétrica implantado pelo governo em 1° de junho de 2001 e a crise econômica na Argentina, grande importadora de nossos produtos industrializados. Em 2003, o crescimento do PIB brasileiro foi de -0,2%.

    Se a economia já apresentava sinais de desaquecimento, com esses problemas as perspectivas para a indústria brasileira não são nada favoráveis para os próximos anos, apesar de alguns índices de crescimento industrial no início de 2004.

    A localização industrial no Brasil

    A localização das indústrias no Brasil seguiu os padrões comuns a essa atividade em todo o mundo. Em um primeiro momento, houve marcante concentração das indústrias em determinada região para mais tarde acontecer exatamente o oposto: as empresas estão fugindo dos locais muito industrializados, em um processo que chamamos de dispersão industrial.

    Concentração industrial

    A indústria brasileira começou a se concentrar no estado de São Paulo no período que vai de 1907 a 1920, tendo sua origem nos capitais da economia cafeeira.Em 1920, São Paulo participava com mais de 30% do número de indústrias do país.

    Na primeira fase do processo de industrialização brasileiro (1930-1960), além do capital do comércio do café. São Paulo reuniu os principais requisitos para o desenvolvimento dessa atividade:


  • mão-de-obra assalariada imigrante que, paulatina mente, substituiria a mão-de-obra escrava;

  • ferrovias que ligavam o interior ao porto de Santos;

  • o mercado consumidor que se formou na capital paulista e seus arredores.


    Coma força econômica de São Paulo e o poder político do Distrito Federal (no Rio de Janeiro até 1960), a região Sudeste firmou-se como a maior área de concentração industrial no país. O triângulo São Paulo-RiodeJaneiro-Belo Horizonte passou a concentrar as atividades do setor secundário no Sudeste e em todo o Brasil.

    Dispersão industrial

    No fim da década de 1980, já erarn nítidos os sinais da dispersão industrial no Brasil. Esse processo passou a ocorrer em duas escalas:


  • no território brasileiro (escala nacional), buscando se expandir para outras regiões;

  • na região Sudeste (escala regional), procurando fugir de áreas já muito industrializadas.


    No primeiro caso, planos do governo federal procuraram instalar pólos industriais em outras regiões, como o Norte (Zona Franca de Manaus - 1967) e o Nordeste (Recôncavo Baiano), e o pólo petroquímico de Camaçan, na região metropolitana de Salvador (1978).

    No segundo caso, a dispersão das indústrias foi marcada pelo congestionamento da área metropolitana de São Paulo. As empresas estão fugindo da poluição, dos altos preços dos terrenos, de sindicatos fortes, e procurando cidades menores, que ofereçam, entre outras facilidades, uma excelente qualidade de vida para seus funcionários. Outras vantagens são boa estrutura de transportes, mão-de-obra barata e, na maioria das vezes, qualificada, e mercado consumidor. Muitas dessas cidades possuem centros de pesquisa e universidades que permitem a instalação de tecnopolos.

    A "guerra fiscal"

    Um fator decisivo para o processo de descentralização industrial, tanto em escala nacional como regional, é a disputa travada por estados e municípios para receber as instalações de grandes empresas transnacionais. É a chamada "guerra fiscal", que consiste em conceder desde terrenos até isenções parciais ou totais de impostos para as fábricas que se instalarem na região.

    Com mais de 700 mil habitantes, São Bernardo do Campo, município da Grande São Paulo, faz parte da região industrial conhecida como ABCD.

    Contexto e aplicação

    Salário tira São Paulo

    da rota das montadoras

    Entre 1995 e 2000, as montadoras aplicaram cerca de US$ 17 bilhões em fábricas brasileiras - a maior parte foi direcionada para fora da região metropolitana de São Paulo. Um fator que contribuiu bastante para isso foi o custo da mão-de-obra.

    "Guerra fiscal" entre os estados

    Além dos salários maiores, a "guerra fiscal" - subsídios fiscais dados por estados e municípios para a instalação de novas unidades das montadoras - ajudou a afastar as montadoras de São Paulo.

    De acordo corri o professor do Departamento de Sociologia da USP Glauco Arbix, o maior prejuízo da ''guerra fiscal" deve ser sentido por São Paulo a longo prazo. "Os novos planos são direcionados para as novas unidades", explica. 'As fábricas antigas mantém-se com a produção de modelos mais velhos, que devem deixar de ser vendidos daqui a alguns anos. Ou seja, daqui a pouco, as linhas de montagem paulistas não terão mais utilidade."

    A "guerra fiscal" começou na década de 1990 e um dos primeiros estados a se envolver foi o Paraná.

    Em março de 1996 o governo do estado, o município de São José dos Pinhais e o Fundo de Desenvolvimentc Econômico assinaram um protocolo com a Renault. A empresa comprometeu-se a construir uma planta na cidade até o início de 1999. O estado e o município doaram um terreno de 2,5 milhões de m2 e providenciararr infra-estrutura e logística necessárias.

    O documento também previa que o suprimento de energia à montadora teria desconto de 25% e que 40% do capital investido sairia do estado. A Renault -e os fornecedores que se instalassem na região - ainda receberia isenção de impostos locais por dez anos.

    Essas condições especiais acabaram atraindo ainda a Volkswagen, que se instalou na mesma cidade "Costumo brincar que, com as condições apresentada: nessa guerra, dá até para fazer fábrica na Lua", comenta o professor da Politécnica da USP Mauro Zilbovicius

    (Adaptado de: Luciana Scarazzati Jornal da Tarde, 16 abr 2002.)


  1. Com base no texto, explique o que você entendei por "guerra fiscal".

  1. Como a "guerra fiscal" contribui para a dispersão industrial no Brasil?


    A INDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL

    O Brasil é considerado um país subdesenvolvido. Disto ninguém parece ter dúvida. Entretanto, ainda é grande o número de pessoas que acredita que nosso país ainda não se industrializou. Não são poucos os que pensam que a economia brasileira permanece agrária, baseada nas atividades do campo, ou que nossa sociedade seja tradicional e "atrasada".

    Contudo, menos pessoas ainda se dão conta do que é o Brasil de hoje: um país onde o moderno convive com o tradicional, onde metrópoles e aldeias indígenas integram o mesmo espaço geográfico, e onde os tecnopólos apontam os caminhos do terceiro milênio.

    Ao longo desta unidade, prosseguiremos revelando os retratos do Brasil. Neste sentido, iniciaremos pelo processo de industrialização, responsável por importantes transformações em nossa sociedade, nas paisagens e, por extensão, na organização do espaço geográfico brasileiro.

    UMA INDUSTRIALIZAÇÃO TARDIA

    A atividade industrial é rnais antiga que a agricultura. Sua origem remonta ao Período Paleolítico* (30 mil anos atrás), podendo ser considerada tão antiga quanto o surgimento do Homo sapiens*. Naqueles tempos, a elaboração de instrumentos de caça, por exemplo, já representava uma atividade industrial. Fica evidenciado que aquilo que classificamos como indústria hoje possui características bem diversas das daquele período.

    A atividade industrial pode ser considerada tão antiga quanto o surgimento do Homo sapiens.

    Podemos dizer, então, que a indústria apresenta estágios que caracterizam sua evolução ao longo da história. Tais estágios são o artesanato*, a manufatura* e a maquinofatura* ou indústria moderna.

    No caso do Brasil, é importante recordarmos que seu papel na antiga Divisão Internacional do Trabalho foi o de assegurar o fornecimento de produtos primários para o mercado europeu, onde eram transformados em bens de consumo. Uma vez que o Brasil não participou da Revolução Industrial, ou seja, não acumulou conhecimentos e técnicas que efetivas-sem a sua passagem do artesanato para a manufatura e desta para a indústria moderna, coube ao país industrializar-se muitos anos após este processo ter-se iniciado na Europa.

    A Revolução Industrial leve início na Inglaterra, por volta de 1750. Na ilustração, aspecto de um bairro industrial inglês, de Sheffield, no ano de 1855.

    De fato, enquanto a Inglaterra se industrializou em bases modernas no século XVIII, o Brasil somente se tornou industrial por volta de 1950 (duzentos anos depois). Daí falarmos que nossa industrialização foi tardia.

    No início do século, a atividade industrial era incipiente em nosso país e encontrava-se restrita a poucos ramos, como o têxtil.

    Por ter sido tardia, nossa industrialização foi dependente da tecnologia criada nos principais países industrializados do globo, como a Inglaterra, os EUA e a Alemanha.

    CAFEICULTURA: BASE DE UMA

    NOVA ECONOMIA

    Embora 1822 tenha sido um marco nas relações diplomáticas do Brasil com o mundo - o país tornou-se independente de Portugal - o mesmo não pode ser dito a respeito de suas relações econômicas. Isso porque permaneceu com o mesmo modelo agroexportador, conservando o mesmo tipo de dependência econômica diante dos centros mais desenvolvidos da época.

    Porém, ao longo do século XIX, a sociedade brasileira presenciou o fim da escravidão, ao mesmo tempo que se dava a expansão das relações capitalistas de trabalho. Nesse contexto, a cafeicultura colocou o país em urna nova ordem econômica, com implicações na paisagem e na organização do espaço, decorrência das transformações que aqui se processavam. Portanto, a cafeicultura, principal atividade da economia do Brasil durante boa parte do século XIX e as primeiras décadas do século XX, foi responsável pela modernização de nossa sociedade, sobretudo no Sudeste, na medida em que:


  • possibilitou a expansão das relações de trabalho assalariado;


    Trabalhadores de uma fábrica paulista


  • desenvolveu uma economia de mercado, que tinha por base a circulação do dinheiro proveniente da massa de assalariados;


    Construção do viaduto Santa Efigênia, em 1910: a cidade de São Paulo crescia e se modernizava.


  • estimulou o processo de urbanização, através do crescimento das cidades já existentes e do surgimento de novos centros urbanos, notadamente no estado de São Paulo;

  • criou uma rede de transportes, em São Paulo, baseada em importantes eixos ferroviários que partiam da capital para o oeste (interior), assegurando que o escoamento da produção chegasse até o porto de Santos;

  • fez crescer a demanda por uma mão-de-obra mais qualificada, voltada para atividades ligadas ao transporte e ao comércio do café.


    É importante observarmos que a modernização verificada no Sudeste cafeeiro não se propagou para outras regiões do país. notadamente a Norte, a Centro-Oeste e a Nordeste, onde as relações de trabalho assalariado tardaram a se desenvolver e o mercado de consumo pouco representava em termos numéricos. Estas regiões permaneceram, praticamente, com as mesmas características do Período Colonial (estruturas latifundiárias, monocultoras e de trabalho servil). Somente com a industrialização ganhando corpo, as marcas da modernização conseguem atingir os mais longínquos recantos do Brasil.

    O PROCESSO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES

    As transformações promovidas pela cafeicultura, bem como o aumento da demanda interna por produtos industrializados, serviram como estímulo para que muitos investimentos, antes concentrados no café, fossem desviados para a atividade industrial. Nesse contexto, a modernização resultou na criação de uma infra-estrutura de transportes e energia fundamental para a indústria, bem como a criação de um mercado de consumo.

    A urbanização da sociedade brasileira está inserida na modernização desencadeada pela cafeicultura e pela indústria.

    Ao mesmo tempo, a conjuntura internacional da primeira metade do século XX também serviu para a expansão da atividade industrial no Brasil. Merecem destaque a quebra da Bolsa de Nova Iorque e as duas grandes guerras mundiais. Estes acontecimentos estão fortemente ligados ao que se conhece por processo de substituição de importações. Vejamos o porquê.

    Tanto a Crise de 29 como a Primeira (1914-1918) e a Segunda Grande Guerra (1939-1945) causaram, como reflexo imediato para o Brasil, uma série de dificuldades em relação às importações, notadamente de produtos industrializados. Afinal, estes acontecimentos trouxeram prejuízos materiais e financeiros, em maior ou menor grau, a importantes nações desenvolvidas, corno os EUA, a Inglaterra e a França, para nos atermos apenas a estas, que, como sabemos, eram responsáveis pelo abastecimento de boa parte de nossas necessidades no mercado externo.

    Uma vez que os acontecimentos citados redundaram em uma baixa oferta de produtos maquinofaturados no mercado internacional, restou ao Brasil passar a fabricá-los internamente. Daí se falar em processo de substituição de importações. Além disso, os preços do café caíram significativamente, o que fez muitos cafeicultores realizarem investimentos em outras atividades, como a industrial.

    Boa parte das fábricas instaladas no Brasil no início do século eram de capital nacional.

    Inicialmente, as primeiras unidades fabris, além de estarem voltadas para a produção de bens de consumo, como vestuário, alimentos, móveis, entre outros, eram quase todas de capital nacional. Posteriormente, algumas iniciativas foram tomadas para assegurar o desenvolvimento da indústria de bens de consumo duráveis (automóveis, por exemplo) e, assim, diversificar a estrutura industrial* brasileira. Neste contexto, a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ), foi uma importante estratégia do Estado brasileiro, tendo em vista a industrialização do país. A política industrial da época (governo Getúlio Vargas), de cunho nacionalista, permitiu que diversos rarnos dinâmicos pudessem se expandir. Foi o caso das indústrias de papel e celulose, cimento, tecidos, pneumáticos, laminados de aço, além de outros. Entre as empresas estalais criadas, destacaram-se a Companhia Vale do Rio Doce (mineração), Fábrica Nacional de Motores (automobilística), a Companhia Álcalis (química) e, posteriormente (anos 50), a Petrobrás (extração, transporte, refino e venda de petróleo e derivados).

    A paisagem da cidade de Volta Redonda possui alguns elementos muito marcantes, como o Rio Paraíba do Sul e as instalações da Companhia Siderúrgica Nacional.

    Durante a Era Vargas (1930-1945), o Estado criou diversos órgãos públicos, que serviram para o desenvolvimento da indústria no país, pois contribuíram para sua modernização. Merecem destaque os ministérios do Trabalho, da Indústria e Comércio e o da Educação, além de institutos, como o do Álcool, o do Café, entre outros. É importante salientara criação de leis trabalhistas, as quais permitiram, na época, modernizar as relações de trabalho assalariado.

    Os anos que se seguiram após a queda de Vargas foram de abertura ao capital estrangeiro, notadamente a partir do governo de Juscelino Kubitschek (1955-1960), quando diversas empresas multinacionais passaram a se instalar no país, merecendo destaque as montadoras de automóveis.

    Os anos 50 consolidaram a industrialização do Brasil. Com isso, a organização do espaço geográfico brasileiro sofreu importantes mudanças: rodovias foram construídas, integrando o território; novas usinas hidrelétricas passaram a assegurar energia para as áreas que se industrializavam; um mercado nacional se formava. Enfim, um novo Brasil, mais urbano e industrial, começava a ser construído.

    E O BRASIL DEIXA DE SER UM "ARQUIPÉLAGO"

    Até por volta de 1950, o Brasil não possuía um mercado nacional consolidado, tampouco um espaço geográfico de fato integrado. Na realidade, o país mais se assemelhava a um "arquipélago", com a existência de verdadeiras "ilhas" de economia agroexportadora. Tratava-se de regiões voltadas para o mercado externo, para onde forneciam produtos primários e de onde adquiriam parte considerável dos bens de consumo de que necessitavam.

    Nesse sentido podemos dizer que o país não havia formado um mercado interno. Mesrno porque o sistema de transportes não contribuía para uma integração plena do território nacional; ao contrário, as poucas rodovias e ferrovias desempenhavam o papel de unir as regiões fornecedoras de produtos primários aos portos exportadores. Somente com a industrialização do país e, principalmente, a partir do ingresso das montadoras de automóveis, notou-se o fortalecimento do mercado interno. A partir de então, o sistema de transporte implantado pelo governo brasileiro passou a convergir para as áreas mais industrializadas, no caso, São PauIo e Rio de Janeiro. Ficavam, assim, assegurados o acesso das matérias-primas reclamadas pelas indústrias e, particularmente, a distribuição dos produtos por elas fabricados por quase todo o território brasileiro.

    A grande concentração da atividade industrial no Sudeste agravou os desequilíbrios regionais, ao mesmo tempo que as novas rodovias facilitavam o acesso de milhares de pessoas ao centro econômico do país. Boa parte destes migrantes era formada de nordestinos e foi, durante muito tempo, urn verdadeiro "exército de reserva" de mão-de-obra barata.

    O forte afluxo de pessoas fez crescer aceleradamente as duas metrópoles nacionais* (São Paulo e Rio de laneiro), que tinham de administrar a expansão desordenada de favelas, o aumento da violência, os problemas de trânsito, as questões ambientais, entre muitas outras dificuldades.

    São Paulo, à noite

    Se, por um lado, o crescimento industrial promoveu uma série de transformações no campo e na cidade, como o êxodo rural e o inchaço urbano, por outro, trouxe um desenvolvimento econômico considerável. No final dos anos 60 e início dos anos 70, a economia brasileira cresceu, em média, 8% por ano. Foi o período do "milagre brasileiro", caracterizado pela forte presença das empresas multinacionais. Para se ter uma ideia, as indústrias de capital estrangeiro erarn, em 1978, responsáveis por 44% da produção industrial brasileira, exercendo um grande controle dos mercados de pneumáticos, veículos automotores, cigarros e outros.

    Contudo, os anos 80 representaram a "década perdida" para a economia nacional. O elevado endividamento externo, superior a US$ 100 bilhões, agravado pela alta dos juros, freou o crescimento econômico. Esta crise ern que o país mergulhou estendeu-se ao setor público. Com isso os investimentos de iniciativa do Estado praticamente desapareceram. Somente a partir dos anos 90 a economia brasileira se "abre" e o Brasil retoma o seu crescimento.

    OS ANOS 90 E A INSERÇÃO DO BRASIL NA ECONOMIA GLOBALIZADA

    Nas últimas décadas, a economia brasileira caracterizou-se por um forte protecionismo. Os produtos importados mantiveram-se taxados, com a finalidade de "proteger" a economia nacional da concorrência externa, notadamente no setor industrial. Estas medidas protecionistas costumam assegurar o desenvolvimento das empresas nacionais e preservar empregos para os trabalhadores locais. E foi o que ocorreu no Brasil durante muito tempo. Um exemplo significativo foi o que aconteceu na área da informática. Este setor ficou livre de qualquer tipo de concorrência externa, na medida em que empresas estrangeiras não podiam atuar no país. O próprio governo federal possuía o controle acionário de uma fábrica de computadores, tal o interesse em proteger este setor.

    Entretanto, da segunda metade da década de 70 ern diante, o mundo passou a viver, de maneira cada vez mais intensa, o processo da globalização. Impulsionados pelos avanços da tecnologia das telecomunicações e da informática (telemática) e pela expansão do neoliberalismo, os mercados mundiais foram se tornando cada vez mais integrados. A nova ordem econômica em vigor passou a determinar o fim das medidas protecionistas e a diminuição da presença do Estado nas questões econômicas. As fronteiras deixaram de ser urn obstáculo às trocas, os capitais passaram a fluir livremente de um centro para outro e as multinacionais tornaram-se ainda mais presentes em todos os cantos do planeta.

    As privatizações de empresas do governo fazem parte da estratégia neoliberal de diminuição do Estado. Na foto, momento da venda de uma estatal.

    Seguindo esta tendência mundial, o Brasil incorporou o modelo neoliberal, não sem a oposição de diversos setores da sociedade. Neste contexto, a redução das taxas de importação dos produtos industrializados, o ingresso de capitais especulativos e a privatização das empresas estatais, entre outras medidas, foram acompanhados de muitos protestos, além de dúvidas e desconfianças sobre sua validade ou eficácia.

    Por outro lado, a liberação da economia estimulou a concorrência, obrigando as empresas instaladas no Brasil a se adequarem aos novos tempos. Isto representou o desenvolvimento de tecnologias, outras formas de gerenciamento e até de relações de trabalho. Houve um aumento significativo das importações, o que resultou em déficits consideráveis da balança comercial* brasileira.

    Com as mudanças ocorridas, houve um afluxo de investimentos estrangeiros no país, destacando-se a vinda de rnontadoras de automóveis japonesas, americanas e europeias.

    Embora as mudanças ocorridas nos anos 90 tenham um significado muito importante para o Brasil, nada disto representou alterações substanciais na estrutura da sociedade. Permanecemos como um país com graves desigualdades sócioespaciais e uma infinidade de questões a serem enfrentadas. O século XXI ainda representa um período de incertezas.

    ATIVIDADES


  1. Justifique o porquê de a industrialização ter sido tardia no Brasil.

  1. Porque a cafeicultura pode ser tomada como um marco no processo de modernização da sociedade brasileira? Seus efeitos podem ser estendidos a todo o território brasileiro?

  1. A industrialização brasileira foi de substituição de importações. Explique a afirmativa.

  1. Comente o papel do Estado brasileiro na industrialização do Brasil.

  1. Estabeleça uma comparação entre o espaço geográfico do Brasil pré-industrial e o do Brasil industrializado, ressaltando a distribuição espacial das atividades econômicas, o sistema de transportes, entre outros aspectos relevantes.

  1. Por que se diz que os anos 80 foram a "década perdida", para o Brasil?

  1. O Brasil encontra-se inserido na economia globalizada? Justifique.

  2. A industrialização, no Brasil, provocou profundas transformações na organização do espaço. Baseando-se nessa afirmativa, pode-se dizer:


    01) No período do governo de Juscelino Kubitschek, o Brasil atingiu um estágio de desenvolvimento e independência econômica que possibilitou a consolidação do seu parque industrial.

    02) O período do "milagre econômico" caracterizou-se pela concentração industrial, pela produção de bens de consumo duráveis e pelo aprofundamento dos desníveis regionais.

    04) O crescimento económico brasileiro, nas décadas de 70/80 deste século, está associado ao crescimento da sua dívida externa,

    08) Ao se industrializar, o Brasil conseguiu crescer economicamente e promover o seu desenvolvimento.

    16) A indústria automobilística brasileira consolidou a formação do complexo industrial de São Paulo.


  1. A industrialização brasileira tem como marco a década de 1930, com o processo de implantação de setores de base. Isto não quer dizer que, antes daquela década, não houvesse indústrias no país. Elas existiram, só que compuseram um setor de pouca monta e, ainda:

  2. se caracterizaram pela forte dependência a uma política de investimentos governamentais;

  3. se basearam em capitais provenientes da exportação da borracha amazônica;

  4. tiveram, na redução de tarifas de importação de manufaturados, seu principal fator de competitividade;

  5. estiveram ligadas à formação de um mercado consumidor representado pelo afluxo de imigrantes europeus assalariados;

  6. apresentaram forte concentração de investimentos nos setores de energia e transportes.

  1. Maior concentração industrial, no Brasil, acha-se na Região Sudeste. Uma das fortes razões para isso é:

  2. a chegada dos imigrantes japoneses à região em meados deste século;

  3. o património adquirido corn a venda de produtos minerais, como ferro, manganês e carvão;

  4. o aumento das exportações de produtos agrícolas bern diversificados após a crise do café;

  5. a reforma agrária processada no governo de Carvalho Pinto;

  6. o acúmulo de capitais obtidos com a lavoura do café e aplicados às atividades industriais.

  1. As seguintes afirmações referem-se à industrialização brasileira.


    I- Participação do capital das multinacionais na construção de infra-estrutura em produção energética e rede viária.

    II - Concentração espacial no Sudeste, especialmente no eixo Rio-São Paulo.

    III - Participação governamental, através do Plano de Metas, durante o governo Kubitschek.

    IV - Aplicação de vultosas verbas em ciência e tecnologia no setor de pesquisa das Universidades.

    Quanto a essas afirmações:

    a) todas estão corretas;

    b) somente a l está correta;

    c) somente a II e a III estão corretas;

    d) nenhuma está correta;

    e) somenle a l, a III e a IV estão corretas.


  1. No período compreendido entre os anos JK e o final do governo Geisel, o Brasil apresentou entre outras características econômicas:


    a) o predomínio da substituição de importações de bens de consumo e redução das disparidades regionais;

    b) grande desenvolvimento industrial dependente de tecnologia e capitais estrangeiros e maior intervenção do Estado na economia;

    c) grande expansão das empresas industriais de capitais nacionais, privados e estatais, declínio da dívida externa;

    d) o predomínio da substituição de importações de bens de consumo e menor intervenção do Estado na economia;

    e) grande desenvolvimento industrial dependente de tecnologia e capitais estrangeiros e a redução das disparidades regionais.


  1. A modernização do Brasil, resultante do crescimento da economia urbano-industrial, produz uma divisão territorial do trabalho que:

  2. torna a indústria dependente da agricultura;

  3. determina maior autonomia regional à Amazônia e ao Nordeste;

  4. diminui as desigualdades econômicas regionais;

  5. reduz o êxodo rural;

  6. subordina progressivamente o campo à cidade.

  1. "Entre 1955 e 1960 houve um salto no processo de industrialização brasileira através da fase conhecida como PLANO DE METAS, onde o crescimento econômico esteve apoiado em um conjunto de investimentos e profundas modificações na estrutura industrial do país."


    O conjunto de investimentos e modificações a que se refere o texto consistiam, entre outros:

    a) na grande ampliação das centrais de energia termelétricas; na instalação e modernização de terminais marítimos e no crescimento de indústrias de bens de consumo duráveis, como a alimentícia e a eletroeletrônica;

    b) na recuperação de áreas urbanas junto às metrópoles; na criação de corredores de exportação e no sensível crescimento dos setores de indústria de base, como a do aço, cimento e química pesada;

    c) na crescente diversificação da pauta de exportações de produtos primários e na nacionalização de indústrias inicialmente ligadas ao capital internacional, como a química leve e a farmacêutica;

    d) na aplicação significativa da capacidade instalada de energia elétrica; no aumento do número e na modernização das rodovias e no crescimento do setor de bens de produção e da indústria automobilística;

    e) na criação e instalação de portos fluviais; na expansão da agroindústría; na descentralização da atívidade industrial e no fortalecimento dos mecanismos de distribuição equilibrada da renda.


  1. Em sua fase inicial, associada à substituição das importações, a industrialização brasileira ressentiu-se principalmente:

  2. da falta de iniciativa estatal, uma vez que o Estado tinha interesse em manter a agroexportação do café;

  3. das dificuldades provocadas pela Grande Guerra as quais impossibilitavam a produção de bens, antes importados;

  4. da conjuntura internacional desfavorável, pois as grandes potências económicas procuravam manter o monopólio industrial;

  5. da ausência de uma integração em nível de América Latina;

  6. da falta de integralização do território, reflexo de uma organização espacial ligada à exportação de bens primários.

  1. O período de 1969 a 1973 caracterizou-se pelo crescimento acelerado da economia brasileira, ou seja, as taxas de crescimento do produto interno bruto (PIB) alcançaram cifras superiores a 10% ao ano. Este processo foi gerado por medidas político-econômicas implementadas pelos governos militares pós-64. Nesse período ocorreu o que se denominou de:

  2. "Milagre Brasileiro";

  3. "Crescer 50 anos em 5";

  4. "Brasil anos 2000";

  5. "Plano de Metas";

  6. "Diretas-Já".

  1. A industrialização dos países do Terceiro Mundo, entre os quais o Brasil, tem como características básicas:


    A - ser historicamente recente;

    B - depender, ern grande parte, de capitais estrangeiros;

    C - dar mais ênfase ao desenvolvimento das indústrias de bens de consumo;

    D - importar tecnologia estrangeira.

    Entre as consequências dessas características, destacam-se:


  1. desenvolvimento harmonioso desses países, já que o capital nacional fica disponível para investimentos sociais;

  2. aumento do desemprego e do subemprego, já que o crescimento demográfico continua alto e as tecnologias importadas são poupadoras de mão-de-obra;

    04) acentuação das desigualdades socioeconômicas, pela limitação do mercado de consumo às classes privilegiadas, já que a tecnologia importada encarece os produtos;

    08) aceleração do êxodo rural, fornecendo uma mão-de-obra qualificada às indústrias;

    16) desenvolvimento da tecnologia automobilística nacional.

    A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA INDÚSTRIA BRASILEIRA

    O que leva determinadas áreas do planeta a apresentarem uma grande concentração industrial, ao passo que em outras ela é quase nula? Por que, no Brasil, a indústria encontra-se distribuída de forma tão irregular?

    As razões são diversas. Como sabemos, a distribuição espacial desta atividade no Brasil envolve aspectos de ordem histórica e econômica, como foi visto em textos anteriores. Mas não podemos perder de vista que, no momento atual, os meios de comunicação e transporte, juntamente com uma série de outros elementos, tornam muito ágil a entrada de capitais estrangeiros no país. Diante deste fato, muitos investidores externos têm aplicado seus recursos em diversos setores da economia, entre eles, o industrial.

    Portanto, o Brasil apresenta uma distribuição de estabelecimentos fabris que resultou de uma série de fatores ligados ao seu passado histórico. Por outro lado, o neoliberalismo* e o contexto da globalização da economia já imprimem algumas mudanças na geografia da indústria em nosso pais. É o que veremos a seguir.

    RAMOS INDUSTRIAIS NO BRASIL

    As inúmeras fábricas instaladas em nosso território produzem uma enorme variedade de bens. Assim como costuma ocorrer com algumas nações industrializadas, os ramos industriais em nosso país encontram-se assim distribuídos:

    INDÚSTRIAS EXTRATIVAS

    Aquelas que realizam a exploração de recursos da natureza, porém em uma escala industrial. Para tanto, utilizam-se de equipamentos pesados, como escavadeiras e perfuratrizes. Um importante aspecto a ser considerado é o fato de este ramo encontrar-se fortemente ligado à indústria de transformação, responsável pela elaboração de subprodutos feitos a partir dos recursos naturais. É o caso das empresas de mineração, como a Companhia Vale do Rio Doce, cuja produção abastece diversas siderúrgicas. Outro exemplo é a exploração de petróleo, empreendida pela Petrobrás, que, por sua vez, também realiza seu refino.

    A indústria extrativa mineral emprega modernos equipamentos para a exploração em larga escala de recursos naturais que abastecem a indústria de transformação.

    INDÚSTRIAS DE TRANSFORMAÇÃO

    Como o próprio nome diz, são responsáveis pela conversão de produtos brutos em produtos acabados. Estão subdivididas em:

    INDÚSTRIAS DE BASE, OU DE BENS DE PRODUÇÃO, OU DE BENS DE CAPITAL

    Respondem pela fabricação de produtos que serão utilizados como matérias-primas por outras indústrias. Um exemplo importante é a indústria siderúrgica*, que produz chapas de aço para as metalúrgicas*, onde serão transformadas em peças metálicas, como metais para portas e banheiro, por exemplo.

    As siderúrgicas são exemplos de indústrias de base. Sua existência é fundamental para o desenvolvimento de outros ramos industriais.

    INDUSTRIAS DE BENS INTERMEDIÁRIOS

    Correspondem a um outro importante ramo industrial, na medida em que produzem máquinas e equipamentos necessários ao funcionamento de outras fábricas. Como exemplos deste ramo temos as indústrias mecânicas, produtoras de máquinas, e as indústrias de equipamentos, fabricantes de ferramentas, peças, etc.

    INDÚSTRIAS DE BENS DE CONSUMO

    Ao contrário das demais, este ramo encontra-se voltado diretarnente para a produção de bens que serão consumidos diretamente pela população. Estão classificadas em indústrias de bens de consumo duráveis, como as de automóveis e as de eletrodornésticos, e de bem de consumo não duráveis, que são produzidos para consumo imediato, como os alimentos, as roupas, as bebidas, os remédios, os cigarros, entre outros.

    Embora o vestuário possa ter uma vida úlil relativamente longa, isto não ocorre porque a indústria da moda, ao criar novos modelos a uma velocidade muito grande, impõe o rápido desuso aos antigos.

    No Brasil, embora existam os diversos ramos industriais, as indústrias de bens de consumo predominam sobre as de bens de produção.

    Por outro lado, é importante ressaltar que esta atividade vem passando por verdadeiras mutações nas últimas décadas, as quais já se estenderam das nações mais desenvolvidas para as do Sul, aqui incluído o Brasil. Com isso, percebem-se mudanças não só na organização do processo produtivo, em que o rígido modelo taylorista* é substituído pelo sistérnico-flexível*, como também na estrutura dos ramos industriais.

    Assim, as indústrias de tecnologia de ponta não são mais a siderúrgica e a petroquímica. Na atualidade, setores como os de informática, robótica*, química fina*, telecomunicações, astronáutica* e biotecnologia* tornaram-se setores-chave em que a economia é cada vez mais pós-índustrial*. Neste caso, o Brasil ainda ocupa uma posição secundária, típica de um país dependente.

    UM POUCO SOBRE A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA INDÚSTRIA BRASILEIRA

    Já sabemos, de antemão, que o Centro-Sul é a região geoeconômica mais industrializada do país, com destaque para o eixo Rio-São Paulo. Como foi visto, a cafeicultura gerou capitais e uma infra-estrutura que favoreceram o desenvolvimento desta atividade na região. Além disso, estimulou a expansão de um mercado consumidor, a partir do crescimento das relações de trabalho assalariado.

    Convém salientar que o Estado brasileiro criou mecanismos de incentivo à industrialização de outras áreas do país, que não o Sudeste e o Sul. Entre eles, podemos destacar as superintendências de desenvolvimento regional, a exemplo da SUDENE e da SUFRAMA (Zona Franca de Manaus), voltada sobretudo para a produção de bens de consumo duráveis, e a criação de alguns pólos industriais, como o Pólo Petroquímico de Camaçari, na Bahia.

    A presença do Estado brasileiro na industrialização do país pode ser percebida através dos pólos petroquímicos, como o do Rio de Janeiro.

    Embora a participação da Região Sudeste na produção industrial brasileira esteja declinando e a das demais esteja crescendo, ela continua sendo a mais industrializada e dinâmica do país, conservando, assim, o seu papel de liderança no setor industrial.

    E importante observarmos que alguns ramos industriais obedecem a critérios bem específicos para determinarem sua localização. É o caso daqueles que necessitam estar próximos das fontes de matérias-primas, como as usinas siderúrgicas e as agroindústrias*. Mas existem aquelas que dependem de áreas urbanas muito bem equipadas e integradas aos centros de decisão econômica do país, como determinadas indústrias de bens de consumo duráveis (indústria automobilística, por exemplo) e de bens de produção (indústrias de equipamentos).

    Vejamos inicialmente alguns aspectos referentes à localização das indústrias dependentes de matérias-primas minerais e agropastoris.

    INDÚSTRIAS SIDERÚRGICAS

    As indústrias extrativas, tanto as minerais como as vegetais, devem necessariamente estar localizadas junto às jazidas* ou às áreas florestadas. Assim, a Companhia Vale do Rio Doce, por exemplo, encontra-se instalada nas principais reservas minerais do país, como o Quadrilátero Ferrífero e a Serra dos Carajás.

    A indústria extrativa mineral localiza-se junto à jazida. Na foto, área de exploração ao ferro, em Carajás.

    As indústrias siderúrgicas, por outro lado, foram sendo instaladas a meio caminho entre as fontes de recursos minerais, como o ferro e o manganês, e os grandes centros consumidores. Não é à toa, portanto, que um número considerável delas esteja localizado no Sudeste, notadamente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. É no estado do Rio de Janeiro que se encontra a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), marco da indústria de base brasileira. Localizada em Volta Redonda, no Vale do Paraíba, esta usina é servida por ferrovias que lhe asseguram o abastecimento de minérios provenientes de Minas Gerais e carvão mineral procedente dos portos do Rio de Janeiro e de Angra dos Reis. Ao mesmo tempo, encontra-se, no coração do centro econômico do país, importante mercado consumidor de produtos siderúrgicos.

    É importante ressaltar que o transporte das matérias-primas minerais por longas distâncias é um fator de encarecimento dos custos de produção do ferro e do aço. Por esta razão as siderúrgicas encontram-se localizadas relativamente próximo às jazidas minerais.

    AGROINDÚSTRIA

    Os principais empreendimentos agroindustriais do país, como os da indústria sucroalcooleira* e a de sucos cítricos, também se encontram situados próximo às áreas fornecedoras de matértas-primas. Assim, as grandes usinas de açúcar e álcool, por exemplo, costumam quebrar, com a sua presença, a monotonia das paisagens dos grandes canaviais. Ao mesmo tempo, significa um novo elemento no espaço rural (a fábrica), tão próprio do meio urbano. É no estado de São Paulo que se observa a maior concentração deste tipo de indústria.

    Fábrica de óleo de palma, em Santa Bárbara, no estado do Pará, exemplo de agroindústria

    Além das usinas de açúcar e álcool e de beneficiamento de frutas, outros casos merecem atenção, tais como:

  • as vinícolas, na região serrana do Rio Grande do Sul (sobretudo em Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Garibaldi);

  • os lacticínios, situados ern importantes bacias leiteiras, notadamente no Centro-Sul;

  • as empresas frigoríficas, distribuídas principalmente pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, que operam com a transformação de aves e suínos, criados em pequenas propriedades da região;

  • as empresas de óleos e gorduras vegetais, de conservas de alimentos {frutas, legumes, etc.), entre outras.


    A presença da agroindústria no espaço rural brasileiro não significa apenas um novo elemento na paisagem. Acima disto, representa a penetração dos interesses urbano-industriais no campo. Com isso, nota-se o domínio da indústria sobre as atividades agropastoris, o que acaba impondo a muitos produtores rurais uma forma padronizada de produção. Neste sentido, a qualidade e a quantidade dos produtos passam a ser controladas pelas grandes empresas alimentícias, principais compradoras da produção rural do país. Por outro lado, indústrias de insumos agrícolas - sementes selecionadas, máquinas e equipamentos, adubos, pesticidas, etc. - fornecem os meios necessários para que os empreendimentos dêem resultados.

    A mecanização das lavouras é um reflexo da forte penetração dos interesses urbano-industriais no campo.

    Entretanto, os preços dos produtos agropastoris são muito sensíveis às variações do mercado. A crise econômica de alguns países asiáticos e da Rússia afetou significativamente, durante o ano de 1998, as exportações de frangos, café, soja e açúcar para aqueles países. Com isso, inúmeros produtores tiveram dificuldades para vender seus excedentes.

    INDUSTRIAS DE BENS DE CONSUMO DURÁVEIS E DE BENS DE PRODUÇÃO

    Dentre as indústrias de bens de consumo duráveis, merece destaque o setor automobilístico. Isso porque ele é capaz de induzir o crescimento de outros setores, como o de autopeças, que, por sua vez, mobiliza outros, como as metalúrgicas e a indústria extrativa. Neste contexto, a indústria automobilística pode ser classificada como urna indústria motriz*.

    A indústria automobilística é um exemplo de indústria motriz.

    De fato, a partir da década de 50, urn novo impulso foi dado à industrialização do Brasil, devido a um projeto de implantação de montadoras de automóveis criado no país. Este programa surgiu no governo de Juscelino Kubitschek, através do GEIA (Grupo Executivo da Indústria Automobilística), e foi o responsável pela vinda de importantes empresas multinacionais, como a Volkswagen.

    A princípio, as grandes montadoras se concentraram no estado de São Paulo, notadamente na sua área metropolitana, juntamente com elas, instalaram-se na região inúmeras fornecedoras de peças.

    Além destas, o setor automobilístico estimulou o desenvolvimento das indústrias siderúrgicas e petroquímicas, por serem de fundamental importância enquanto fornecedoras de matérias-primas para as indústrias de bens de consumo duráveis, no caso, as fábricas de autopeças. Por outro lado, isto evidencia o nível de subordinação de nossas empresas diante das multinacionais.

    É importante observar que a valorização dada ao setor automobilístico trouxe reflexos até mesmo nas políticas de transporte. Um fato marcante diz respeito ao transporte coletivo, nos grandes centros urbanos, onde fica patente que se privilegia o automóvel, em detrimento do ônibus, do trem e do metro. Com isso, agravarn-se os problemas de trânsito e de poluição (sonora e atmosférica). Vale lembrar que o automóvel é sinônimo de status, um verdadeiro símbolo criado pela indústria, como forma de estimular a sua compra. As campanhas de publicidade, como apelo para as vendas, associam o prestígio social do consumidor à aquisição de um carro.

    Atualmente, a indústria automobilística encontra-se distribuída em outras unidades da federação. A primeira grande montadora a optar por um Estado que não o de São Paulo foi a Fiat, localizada em Minas Gerais.

    Mas foi a partir dos anos 90, quando ocorreu uma maior abertura da economia brasileira para o mercado internacional, que novas indústrias se instalaram no Brasil, dando preferência a outros estados, como Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

    A partir do ingresso das novas rnontadoras, o mercado de veículos automotores mudou significativamente não só pela maior diversidade de modelos oferecida aos consumidores como também pela sua repartição. Afinal, até pouco tempo atrás, o mercado era controlado por apenas quatro marcas. Hoje, são mais de 10, afora as importadas.

    Por último, é necessário observar que o Centro-Sul, historicamente, foi a região mais beneficiada pelos investimentos do Estado brasileiro, notadamente no que se refere à produção de hidreletricidade, instalação de comunicações e transporte. Com isso, a região sempre conseguiu atrair importantes empreendimentos industriais, dos mais variados ramos, como os de metalurgia, eletroeletrônica, química, entre outros.

    ATIVIDADES


  1. Qual a importância da indústria de base para a expansão da indústria de bens de consumo duráveis?

  1. O Brasil já domina as avançadas tecnologias de ponta, próprias de uma economia pós-industrial? O que isso representa para a sociedade brasileira?

  1. Discorra sobre os critérios de localização da indústria siderúrgica brasileira.

  1. A presença da agroindústria no meio rural brasileiro representa o domínio da indústria sobre a agricultura, o avanço dos interesses urbano-industriais sobre o campo. Comente esta afirmativa.

  1. Qual a importância da indústria automobilística para o incremento da industrialização do Brasil?

  1. O desenvolvimento da indústria automobilística, notadamente em relação à produção de veículos de passeio, trouxe implicações importantes no sistema de transporte coletivo no Brasil. Explique esta afirmativa.

  1. O Centro-Sul é a região mais industrializada do país. Faça uma síntese das razões que levaram esta região a adquirir este status.

  1. Cite três condições, criadas pela cafeicultura, que favoreceram a concentração industrial em São Paulo.

  1. Sobre o processo de industrialização e distribuição espacial da indústria brasileira, é incorreto afirmar:


    01) A grande concentração industrial localiza-se na Região Sudeste, particularmente, no estado de São Paulo.

    02) As regiões Norte e Centro-Oeste apresentam uma participação marginal no setor secundario do país.

    04) A Região Norte tem-se destacado nos últimos 10 anos, com as indústrias extrativas minerais, siderúrgicas e automobilísticas.

    08) A Região Sul tem experimentado um notável crescimento no setor secundário nas últimas décadas.

    10) Sobrea Região Centro-Sul que, na distribuição espacial das indústrias brasileiras, apresenta forte e diversificada produção Industrial, é correto afirmar que:


  1. a maior concentração e diversificação fabril se verifica em Caxias do Sul, estendendo-se principalmente em direçào a Porto Alegre;

  2. a área do ABCD se destaca por suas indústrias madeireira, de alimentação e aeronáutica;

  3. a área de Belo Horizonte, apoiada em amplos recursos minerais, insere-se entre os 3 maiores núcleos industriais do país;

  4. o setor químico é, atualmente, a mola do desenvolvimento industrial; conjuntos petroquímicos em Betim e Juiz de Fora são exemplos dessa atividade;

  5. a área do Grande Rio é o 2º centro nacional; suas principais indústrias pertencem aos setores de alimentação, editorial e gráfica, e metalúrgico.


    11) Sobre a Zona Franca de Manaus podemos afirmar corretamente que:


  1. seu parque industrial é dominado principalmente por modernas indústrias têxteis e alimentícias;

  2. seu projeto industrial tem como base a proteção tarifária e, em sua estrutura, dominam os capitais internacionais;

  3. sua produção se destina basicamente a atender à demanda do mercado consumidor regional;

  4. mesmo caracterizando-se como um pólo industrial, a Zona Franca não chegou a promover um processo de expansão urbana;

  5. domina a utilização de matérias-primas regionais atendendo às necessidades do mercado consumidor.


    11)

    I - Até a década de 30, não se desenvolveu uma política de industrialização. As atenções voltavam-se para o setor agroexportador.

    II- Um período importante para o desenvolvimento industrial ocorreu após 1929 corn a crise da cafeicultura.

    III- Após 1950, o desenvolvimento foi realizado com grande participação de capitais estrangeiros, iniciando-se a internacionalização da economia do país.

    IV- Os governos militares, após 1964, interromperam o processo de internacionalização, diminuindo a dependência de capitais externos.

    Sobre as fases do processo de industrialização do Brasil, são correias as afirmações:


  1. l, II, Ml e IV.

  2. l, III e IV.

  3. II, III e IV.

  4. l, II e IV.

  5. l, II e III.


    13)

    I- Foi resultado da estratégia de subsídios e investimentos inaugurada com a criação da SUDENE.

    II- A implantação de um setor elétrico na Bacia do São Francisco e a presença de mão-de-obra abundante e barata ajudaram a atrair capitais do Centro-Sul.

    III - A preferência por indústrias de alta capitalização e tecnologia avançada impediu a participação de capitais regionais e limitou o emprego de mão-de-obra.

    As afirmações l, II e III referem-se à implantação da atividade industrial no Nordeste brasileiro. Então:


  1. nenhuma é verdadeira;

  2. todas são verdadeiras;

  3. apenas l e II são verdadeiras;

  4. apenas l é verdadeira;

  5. apenas II e III são verdadeiras.


    14) "Sem caminhão o Brasil pára."

    Essa frase, hoje encontrada em muitos caminhões, justifica-se pela política de transporte de carga adotada no país.

    Descreva essa política e suas consequências para a economia brasileira.

    15) "Houve concentração de investimento no setor rodoviário, que gerou urna série de implicações: o encarecimento dos produtos transportados (já que o frete rodoviário é sabidamente mais elevado que o dos outros tipos de transportes), além de um aumento considerável no consumo de derivados de petróleo, obrigando o país a arcar com o ônus da importação e uma consequente queima de divisas."

    Em relação ao Brasil, o texto é considerado:


  1. incorreto, porque a prioridade recentemente dada à construção das rodovias é real apenas para o Sudeste do país;

  2. incorreto, porque existe relativo equilíbrio entre a proporção de tráfego das hidrovias, ferrovias e rodovias;

  3. incorreto, porque as ferrovias são ainda muito utilizadas no país, estando interligadas às rodovias;

  4. correto, porque as hidrovias que tinham um papel importante para a economia nacional, hoje são deficitárias;

  5. correto, porque desde a década de 50 até nossos dias, a quilometragem de ferrovias não aumentou, significativamente, devido à priorização do transporte rodoviário.


    16) Durante a recente campanha eleitoral para a Presidência da República, foi intensamente discutida a questão da intervenção do Estado no campo econômico, a presença das empresas estatais na vida brasileira, a conveniência ou não da privatização dessas empresas e a eficiência das suas administrações.

    Verifique se podemos afirmar sobre a criação destas empresas que:

    I - foram criadas pela necessidade de dotar o país de uma infra-estrutura básica que viesse a permitir a industrialização;

    II - objetivavam que setores básicos da economia nacional (siderurgia, petróleo, energia elétrica, mineração de ferro) não ficassem em mãos de grupos internacionais;

    IIl — na sua criação, o país caminhasse no sentido da estatização de toda a economia;

    IV- pudessem ser realizados investimentos de vulto em setores básicos, onde o capital privado nacional não tivesse recursos suficientes para implantar tais atividades.

    Estão correias apenas as afirmativas:


  1. l e III.

  2. II e IV.

  3. l, II e IV.

  4. l, III e IV.

  5. II, III e IV.


    OS DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS DO BRASIL

    Nos textos anteriores, estudamos individualmente alguns dos principais elementos formadores das paisagens brasileiras, no caso o relevo, a estrutura geológica, o clima, a cobertura vegetal e a hidrografia.

    Nos textos a seguir, trataremos destes elementos no seu conjunto, através da abordagem dos Domínios Moríoclimáticos do Brasil.

    OS DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS

    Dependendo da posição que ocupamos como observadores da paisagem, este ou aquele elemento nos chamará mais a atenção. De um modo geral, o que primeiramente se destaca é a cobertura vegetal, seja no caso de urna mata fechada como a Amazônica, ou da vegetação xerófila da caatinga nordestina. Contudo, se nos posicionarmos às margens do Rio Amazonas, suas águas é que passarão a impressionar e, caso nos coloquemos no alto do Pico Itatiaia (RJ), a grandiosidade das formas de relevo nos saltariam aos olhos.

    Contudo, não podemos perder de vista que, em uma paisagem, todos os seus elementos se influenciam mutuamente, além de sofrerem os efeitos de outros, externos ao conjunto, como no caso da região semi-árida do Nordeste. Como já foi visto, nesta região a irregularidade da ação das massas de ar, que se originam alhures, é uma das principais causas da aridez.

    O semi-árído nordestino sofre os efeitos da irregularidade da ação de massas de ar que se originam em áreas distantes (Guia do meio Ambiente do interior de Alagoas - Projeto IMA/GTZ-AI).

    Por outro lado, também é certo que o clima e o relevo são os elementos que rnais influenciam os demais. Pode-se até dizer que eles acabam determinando o comportamento dos solos, da cobertura vegetal e da hidrografia. Por exemplo, na passagem de uma área para outra, podem ocorrer mudanças no relevo (tornar-se mais acidentado, por exemplo) ou no clima (passar de úmido para semi-úmido). Neste caso, tanto a cobertura vegetal como a rede hidrográfica refletem os efeitos dessa mudança.

    A Mata dos Cocais (2) é uma vegetação de transição, situada entre a Floresta Amazônica (1), de clima amido, e a Caatinga (3) (Guia do Meio Ambiente do interior de Alagoas - Projato IMA/GTZ-AI), de clima semi-árido.

    Assim, em relação aos Domínios Morfoclimáticos, o relevo e o clima são os elementos mais importantes, aqueles que fornecem mais explicações a respeito da caracterização do conjunto.

    No Brasil, os estudos do professor Aziz Ab'Saber resultaram no estabelecimento de seis Domínios, ou seja:

    "Grandes combinações de fatos geomorfológicos, climáticos, hidrológicos, pedológicos e botânicos, que por sua relativa homogeneidade são adotados como padrão em escala regional.

    Os Domínios Morfoclimáticos apresentam áreas homogêneas centrais (áreas core), com extensas faixas de transição entre si, nas quais se distribuem formações vegetais mistas, em gradientes ou não."

    CONTI, José Bueno; FURLAN. Sueli Angelo. Geoecologia:o solo. o clima e a biota. in: Jurandyr L. S. Ross (org.). Geografia do Brasil, p. 158

    Veja, no mapa a seguir, a distribuição espacial dos Domínios Morfoclimáticos brasileiros.

    O DOMÍNIO AMAZÔNICO

    O Domínio Amazônico corresponde ao conjunto formado pelas ferras baixas florestadas equatoriais, também conhecido simplesmente por Amazônia.

    A vegetação é o elemento mais marcante desta paisagem. De fato, a Floresta Amazônica é a maior formação florestal úmida contínua de todo o globo, estendendo-se para além do Brasil, atingindo a Guiana Francesa, o Suriname, a Guiana, a Venezuela, a Colômbia, o Peru, o Equador e a Bolívia. Em território brasileiro, seus limites são a mata dos cocais e os cerrados do Brasil Central.

    O Domínio Amazônico apresenta uma flora muito rica.

    Na realidade, a Floresta Amazônica representa uma diversidade de matas, pois ela é formada por florestas de inundação e por florestas de terra firme.

    As de inundação, formadas pela mata de igapó e pelas matas de várzea, ocupam aproximadamente 10% da área total da Bacia Amazônica. Nelas, são comuns árvores com 20 m de altura, além de arbustos, cipós e plantas aquáticas, como a vitória-régia.

    Contudo, são as matas de terra firme as mais ricas e diversificadas, com árvores de até 65 rn de altura. Como acontece com as florestas de inundação, suas espécies são perenifólias (sempre verdes), hidrófilas (adaptadas a ambientes úmidos) e latifoliadas (de folhas bastante largas). Em 1994, foi encontrada nos arredores de Manaus uma árvore da família das poligonáceas, cujas folhas mediam 2,5 m de comprimento e 1m de largura. De fato, na Amazônia tudo prima pela grandiosidade, incluídas espécies de animais, como a sucuri de 10 metros de comprimento ou o cururu, um sapo que pesa mais de 1 quilo.

    Entretanto, os solos da Amazônia são, na sua quase totalidade, de baixa fértil idade. Estima-se que a própria floresta devolva anualmente ao solo cerca de 8 toneladas de material orgânico por hectare, entre folhas, galhos, frutas, flores e raízes, que são decompostos, aumentando a sua fertilidade. Por essa razão as extensas monoculturas não costumam ser viáveis na região, muito menos os desmatamentos empreendidos pelas madeireiras.

    O desmatamento desenfreado que vem ocorrendo na Amazônia é uma constante ameaça a um dos mais frágeis ecossistemas do planeta.

    A vasta hidrografia amazônica é formada pelo maior rio do planeta, o Amazonas, com aproximadamente 6 870 km de extensão. Seus mais de 7 mil afluentes drenam, em território nacional, 4,8 milhões de km2. Além de rios dos mais variados tamanhos, a Bacia Amazônica apresenta furos, paranás, igarapés, paranás-mirins e lagos de várzea.

    A rede fluvial amazônica apresenta características próprias e complexas. Observando as figuras, podemos distinguir.


  • igarapés (igara = canoa; pé = caminho, em língua indígena) - pequenos rios que percorrem tanto a várzea como a terra firme, isto é, a área a salvo das inundações, sendo utilizados pela população ribeirinha para deslocamento;

  • furos - pequenos rios que unem os rios entre si ou a um lago (na foz do Amazonas existe a "região dos furos", separando a Ilha de Marajó do continente);

  • paranás (para=mar; na = semelhante) - extensos, largos e profundos braços de um grande rio que formam, na várzea ou planície de inundação, uma grande ilha e permitem a navegação o ano todo;

  • paranás-mirins (mirim = pequeno) - paranás de menor tamanho, nem sempre permitem a navegação, principalmente na época da vazante;

  • regos - canais estreitos que, na vazante, surgem do fundo das depressões lacustres e apresentam um processo de atuIhamento ou colmatagem bastante adiantado.


    Adas, Melhem (Adapt.). Panorama geográfico do Brasil: contradições, Impasses e desafios socioespaciais. p. 311.

    A rede hidrográfica mais densa do mundo lança ao mar o equivalente a 20% de toda a água doce que chega ao oceano. Junto com esse volume, são transportados, anualmente, 800 milhões de toneladas de sedimentos, como se 1,6 do Pão de Açúcar fosse dissolvido por mês em suas águas.

    Dadas as particularidades do relevo regional, os rios amazônicos apresentam longos trechos apropriados para a navegação. Realmente, o emprego de embarcações é amplamente realizado pelas populações, notadamente as ribeirinhas. Nos períodos das cheias, o transporte hidroviário torna-se praticamente o único meio de contato de seus habitantes com outras áreas.

    Por outro lado, no médio e alto cursos* de determinados rios, o fato de eles correrem sobre terrenos planálticos e de depressões, possibilita seu aproveitamento para a produção de hidreletricidade. Porém, como sabemos, a construção de usinas causa impactos ambientais muito fortes em virtude do alagamento de extensas áreas florestadas, para a formação do lago da barragem.

    No perfil a seguir, urna noção do relevo da região que apresenta um predomínio de baixos planaltos e depressões e um número bastante reduzido de planícies.

    O transporte fluvial é muito importante na Amazônia.

    Perfil esquemático da Amazônia, entre Roraima e Mato Grosso.

    As planícies inundáveis correspondem à Planície do Rio Amazonas, uma estreita faixa que acompanha as margens do próprio Rio Amazonas, alguns de seus afluentes, além da Ilha de Marajó.

    O norte da região apresenta as maiores altitudes, onde estão localizadas serras como a Imeri (Pico da Neblina, com 3 014 m; Pico 31 de Março, com 2992m), a Parima, a Pacaraima (Pico Roraima, com 2 875m; Monte Caburaí, com 1456m), a Acaraí e a Tumucumaque, verdadeiras escarpas do antigo Planalto das Guianas. Como sabemos, segundo a nova proposta do professor Jurandyr Ross, hoje essa parte do relevo brasileiro passa a ser denominada Planaltos Residuais Norte-Amazônicos e Depressão Marginal Norte-Amazônica.

    Contornando a Planície do Rio Amazonas, no trecho que vai da foz do mesmo rio até, aproximadamente, a altura da foz do Rio Madeira, aparece o Planalto da Amazônia Oriental. Em seguida, aparece a Depressão Amazônica Ocidental.

    Ao sul do Planalto da Amazônia Oriental, em direção aos planaltos e chapadas do Centro-Oeste, aparecem a Depressão Marginal Sul-Amazônica e os Planaltos Residuais Sul-Amazônicos.

    O DOMÍNIO DA CAATINGA

    Este Domínio, também conhecido como Domínio das Depressões Interplanálticas Semi-Aridas do Nordeste, apresenta a vegetação e o clima como os elementos mais marcantes de suas paisagens.

    A caatinga é uma mata seca e aberta, que perde suas folhas no período de estiagem, bastante pronunciado. Na realidade, ela é formada por uma diversidade de espécies, que se associam em formações arbóreas, arbustivas e não arbustivas. Daí nos referirmos a caatingas, no plural.

    Umbuzeiro em duas estações diferentes. Suas raízes têm órgãos de reserva de água, amido e outros nutrientes, permitindo-lhe suportar longos períodos de estiagem.

    Poucas pessoas têm conhecimento da riqueza de recursos que as caatingas possuem, como frutas, fibras, ceras, óleos vegetais, entre outros. Entretanto, a mata está cedendo lugar para a pecuária, para o cultivo da palma forrageira e até mesmo para a produção de carvão vegetal. Ocorre que a caatinga não oferece condições plenamente favoráveis à pecuária, pois a disponibilidade de água é baixa. Além disso, o pisoteio dos animais pode causar a destruição dos pequenos brotos das ervas, impedindo o seu desenvolvimento. Melhor seria, portanto, que se desenvolvesse o aproveitamento equilibrado de seus recursos, de modo a assegurar sua reposição, à medida que fossem explorados. Lamentavelmente, em boa parte do serni-árido, a vegetação original encontra-se destruída.

    Outra importante característica deste Domínio se refere aos seus solos, bastante férteis. Técnicas de irrigação que não causem o transporte dos sais e nutrientes para as camadas mais profundas, longe do alcance das raízes, podem viabilizar a prática de uma agricultura adaptada às características ambientais da Caatinga.

    Nas encostas serranas, onde a umidade é maior, aparecem os brejos de altitude. Neles, a vegetação é mais densa e rica, além de favorecer a ocupação humana.

    No oeste de Alagoas, por exemplo, nos municípios de Mata Grande e Água Branca, os brejos formam um verdadeiro microclima, com precipitações anuais de 600 a mais de 1 000 mm, quando a maior parte do semi-árido conta corn uma pluviosidade inferior aos 700 mm anuais. Além disso, suas temperaturas podem variar dos 12°C aos 36°C, refletindo a altitude do relevo, que se situa entre 600 e 800 m, em geral.

    A hidrografia do Domínio da Caatinga é intermitente, isto é, desaparece no período de estiagem. Vale salientar que esta estação pode durar nove meses ou mais, sobretudo quando a massa equatorial continental não traz as "chuvas de inverno", entre março e junho.

    Por outro lado, a retirada da cobertura vegetal agrava as enchentes no período chuvoso, ao mesmo tempo que os rios secam mais rapidamente.

    A maior parte do relevo da caatinga é dominada pela extensa Depressão Sertaneja e do São Francisco, bastante rebaixada e aplainada, com altitudes que dificilmente ultrapassam os 200m. Em diversos trechos, a monotonia de sua planura é quebrada pela presença de relevos residuais, formados por rochas cristalinas, que apresentam maior resistência à erosão, denominados inselbergs. Merecem destaque as chapadas do Araripe e do Apodi.

    Brejo de altitude, em Alagoas

    Aspecto da Depressão Sertaneja, no Nordeste.

    *As fotos desta página foram retiradas do Guia do Meio Ambiente do interior de Alagoas - Projeto IMA/GTZ-AI.

    Como não podia deixar de ser, esta enorme depressão é delimitada por formações mais elevadas, a exemplo de chapadas e planaltos. é o caso da Chapada da Diamantina e do Planalto da Borborema, no leste, dos Planaltos e Chapadas da Bacia do Parnaíba, no oeste, além das Serras e Planaltos do Atlântico Leste-Sudeste, ao sul.

    No perfil a seguir, podemos perceber as principais unidades do relevo nordestino, desde os tabuleiros* junto ao litoral, até os Planaltos e Chapadas da Bacia do Rio Parnaíba. Observe que o relevo de depressão nesse trecho (entre Maranhão e Pernambuco) não é cortado pelo Rio São Francisco.

    Perfil esquemático do Nordeste, entre Maranhão e Pernambuco

    O DOMÍNIO DO CERRADO

    Os chapadões cobertos por cerrados e penetrados por floresta de galeria, outra designação dada ao Domínio do Cerrado, ocupam uma importante parcela do território brasileiro. Trata-se das áreas onde prevalece o clima tropical alternadamente seco e úmido.

    O domínio vegetal do Cerrado é, em extensão, o segundo do país, mas não se limita apenas ao Brasil Central, apresentando algumas ocorrências isoladas importantes na Amazônia, alérn de Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Observe, no mapa a seguir, a distribuição geográfica dos cerrados no Brasil.

    Além do clima semi-úmido, este Domínio apresenta um relevo tabuliforme, caracterizado por chapadas e por chapadões que emprestam aos terrenos um aspecto plano ou levemente ondulado.

    Relevo de aspecto tabuliforme, no estado de Goiás

    Os cerrados formam uma vegetação definida como floresta-ecótono-campo. O ecótono corresponde a uma verdadeira zona de transição entre os campos e a formação florestal, denominada cerradão. No perfil a seguir, podemos identificar melhor os vários cerrados existentes. Note que a quantidade de árvores e arbustos sofre um decréscimo em direção às formações campestres.

    Perfil ecótono-cerrado

    Acredita-se que a existência dos ecótonos se deve principalmente ao tipo de solo da região, bastante ácido e pobre em nutrientes, e às queimadas, bastante comuns na região no período de estiagem. Em função disto, as árvores do Cerrado são de aspecto tortuoso, com casca espessa, lembrando espécies de ambientes semi-áridos. É importante recordar que na região do Cerrado as precipitações são superiores a 1000 mm anuais, não havendo falta de água no solo para as espécies arbóreas. Estas possuem um sistema radicular bastante desenvolvido, podendo atingir mais de 15m, assegurando, na seca, a absorção de água do lençol freático, mesmo quando este se encontra mais baixo.

    A rede hidrográfica da região pertence a três bacias hidrográficas; a do Rio Amazonas, a do Rio Paraná e a do Rio Paraguai. Merecem destaque os rios Tocantins e Araguaia. Contudo, pode-se dizer que a hidrografia regional é pouco densa e seus rios, embora perenes, têm seus volumes consideravelmente reduzidos na estiagem.

    O relevo é predorninantemente planáltico, mas possui algumas depressões, alérn de uma planície importante, a do Rio Araguaia. Entre as principais unidades, além da planície já mencionada, destacam-se, também, na região, as seguintes unidades:


  • Planaltos e Chapada dos Parecis

  • Planaltos e Serras de Goiás e Minas

  • Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná

  • Depressão do Araguaia

  • Depressão do Tocantins, entre outras.


O relevo pouco acidentado e o clima com duas estações bem definidas, uma seca e outra chuvosa, têm favorecido a prática agropecuária. Assim, vastas áreas encontram-se devastadas, dando lugar a pastagens e monoculturas, sobretudo de soja ou de cana-de-açúcar. Os impactos ambientais têm sido consideráveis, abrangendo desde a erosão e a compactação dos solos pelo intenso uso de maquinário agrícola até as grandes queimadas, responsáveis por graves danos à fauna e flora locais.

As monoculturas introduzidas nos cerrados são fonte de impactos ambientais.

O DOMÍNIO DAS ARAUCÁRIAS

Este Domínio denomina-se, também, Domínio dos Planaltos de Araucária e Mala Subtropical. Ele corresponde à área de ocorrência do clima subtropical e onde se localizam os extensos Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná, trechos dos Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste, além de duas depressões, a Depressão Periférica da Borda Leste da Bacia do Paraná e a Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense.

A mata de araucárias, formada originalmente por extensos pinheirais, além de bosques com espécies variadas e campos, desenvolve-se sobre solos férteis e numa área de temperaturas mais baixas que a dos demais domínios vegetais do Brasil. Assim, a influência do reíevo é muito significativa, já que a altitude determina não só menores valores térmicos, como também maior umidade. Assim, no Paraná, o limite inferior do bosque situa-se na faixados 500 m, ao passo que em trechos da Serra da Mantiqueira, em territóriu paulista ou mineiro, ele é de 1200 m, aproximadamente.

A cobertura vegetal do Domínio das Araucárias já foi bastante alterada

O Domínio das Araucárias apresenta grande variedade de rios, alguns deles de importância regional muito grande, corno o Iguaçu ou o alto curso do Uruguai. Dado o caráter planáltico, muitos de seus rios são aproveitados para a produção de hidreletricidade.

Como acontece corn outros ecossistemas brasileiros, o Domínio das Araucárias encontra-se bastante alterado pela ação humana, restando poucas áreas onde é possível encontrarmos ainda preservadas parcelas da mata subtropical.

O DOMÍNIO DOS MARES DE MORROS

Um outro importante domínio morfoclimático brasileiro é o dos Mares de Morros ou das áreas mamelonares tropicais-atlânticas florestadas. Estendendo-se do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, suas paisagens também encontram-se profundamente alteradas, restando pequenas manchas da Mata Atlântica, seu elemento vegetal mais característico, juntamente com o relevo.

Aspecto da Floresta Atlântica no estado do Paraná.

A Mata Atlântica é, na realidade, um conjunto de florestas costeiras úmidas que se desenvolviam originalmente numa faixa localizada entre o mar e o interior do território brasileiro. Em determinados trechos, notadarnente em São Paulo e no Paraná, as matas acompanharam os cursos de alguns rios, expandindo-se para o interior.

Assim como ocorre com as florestas amazônicas, as florestas atlânticas também depositam um volume considerável de matéria orgânica nos solos, assegurando a reciclagem dos nutrientes, fundamentais para a manutenção da floresta. Por outro lado, não podemos deixar de comentar a importância da umidade, trazida pelos ventos alísios de sudeste. Tais ventos são barrados pelas elevações do terreno, especialmente nas áreas da Serra do Mar, da Serra da Mantiqueira, Serra dos Órgãos, Serra da Chibata e da Serra Geral, no Sudeste e no Sul do país, sendo responsáveis por elevados índices pluviométricos, um dos maiores do país. É o caso de mencionarmos a área entre Bertioga e Taiaçupeba, no litoral paulista, onde as precipitações atingem valores da ordem de 4 000 mm anuais.

Esquema da chuva orográfica

Quanto ao relevo deste Domínio, nota-se a marcante presença de formas planálticas, acompanhadas por morros de topos convexos integrantes dos Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste. Suas formas convexas resultam da acão erosiva do clima quente e úmido, reinante na região.

Aspecto do relevo dos Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste

Aliás, as chuvas fortes de verão são responsáveis por deslizamentos de encostas, que atingem inclusive algumas áreas urbanas, como a cidade do Rio de Janeiro. Este aspecto do clima e do relevo exige certos cuidados na construção de habitações, de sistemas de captação de águas pluviais, de rodovias, entre outros. Também a prática agrícola exige técnicas que assegurem a proteção dos solos contra os efeitos das fortes chuvas.

O DOMÍNIO DAS PRADARIAS

Trata-se de um Domínio localizado em terras gaúchas, também conhecido por coxilhas subtropicais com pradaria mista.

As pradarias do sul do Brasil encontram-se ocupadas por criações de animais.

O Domínio vegetal das coxilhas são os campos naturais de gramíneas, situados mais para o interior do estado do Rio Grande do Sul, interrompidos em alguns trechos por malas subtropicais e matas de araucárias. Contudo, no contato com a Planície da Lagoa dos Patos e Mirim, a vegetação adquire o aspecto de um extensa banhado, com o predomínio de espécies herbáceas.

A expressão coxilhas é utilizada para designar as colinas, formadas pelo desgaste do embasamento cristalino, presente no sul e sudeste do Rio Grande do Sul.

Os campos naturais são ocupados pela pecuária bovina, há bastante tempo, mais especificamente a partir do século XVIII, quando a mineração praticada na região das Minas Gerais estimulou não só a criação de animais de corte, como também de tracão. Os animais eram criados em enormes fazendas, peculiaridade da geografia agrária local, denominadas estâncias.

Vale mencionar que o clima predominante é o subtropical, e que o relevo deste Domínio inclui parcelas dos Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná, da Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense, do Planalto Sul-Rio-Grandense, além da Planície da Lagoa dos Patos e Mirim, Sua hidrografia é formada por rios perenes, como o jacuí, cuja bacia é uma das mais aproveitadas para o transporte hidroviário de todo o país.

Na próxima unidade, veremos alguns dos mais significativos problemas ambientais brasileiros, com especial ênfase para os que se verificam no meio rural.   mmm

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