Sem dúvida alguma a década de
1990, marca um novo momento na história da defesa do meio ambiente, dentro do
sistema capitalista de produzir. Inúmeros fatores contribuíram para uma tomada
de postura diferenciada diante da problemática ambiental. O dilema produzir X preservar
dividia as discussões dos ambientalistas mais “verdinhos”, por assim dizer.
Pode-se afirmar que até então, a defesa ecológica era no mínimo ingênua, uma
vez que a bandeira de defesa do ecos era
pintada com as cores do não explorar, não mexer, morrer se preciso for, mas não
alterar a natureza. Mas como não alterar a natureza diante da necessidade da
multiplicação de mais mercadorias para uma população mundial geometricamente
crescente?
O
capitalismo hegemônico, após o enfraquecimento do socialismo real, necessitava
de respostas que pudessem equacionar o dilema: crescer sem produzir um colapso
na oferta de recursos naturais em âmbito mundial.
Afinal
os países socialistas também já tinham produzido grandes estragos em seus meios
ambientes, graças aos planos qüinqüenais que planejavam quase tudo, menos a
recuperação de seus ecossistemas extremamente alterados. Os Estados
Unidos, o Canadá, o Japão e Europa Ocidental tinham novos espaços a ocupar e o
ritmo de criação dos bens de consumo e de produção deveria se comportar de
maneira exponencial.
É
no bojo desse contexto histórico que a Eco-92 apresenta a resposta esperada:
podemos sim crescer, podemos sim desenvolver, podemos sim tornar o mundo cada
vez mais tecnológico, mas em contrapartida devemos criar condições de
sustentabilidade sob pena de provocarmos a destruição completa da complexidade
ambiental que proporcionou condições para o surgimento de vida no terceiro
planeta do sistema solar . Essa premissa fica evidente nesta conferência. O
mundo ganhou mais fôlego. Não éramos mais uma potencial vitima de uma guerra
nuclear de caráter mundial. Agora deveríamos nos preocupar com o aquecimento
global, com a emissão descontrolada de metano e gás carbônico na atmosfera;
deveríamos nos preocupar com a modificação das correntes marinhas, com o degelo
das neves eternas e das calotas polares. Deveríamos nos preocupar com a
sobrevivência dos povos da floresta, pois eles podem ser os guardiões dos
segredos para a cura da Aids, câncer, mal de chagas, gripe suína ou outros
males que há muito assolam a humanidade.
A
luta por um meio ambiente sustentável faz eco
na forma como o sistema capitalista se porta nos países desenvolvidos, e por
conta da globalização, também influencia no comportamento das empresas
transnacionais nos países subdesenvolvidos. Afinal os problemas ambientais
globalizam na mesma proporção que os meios de comunicação evoluem e em similar
proporção que as informações são cooptadas pelas camadas populacionais
ambientalmente mais engajadas e conscientes do poder transformador da opinião
pública ou, simplesmente, poder transformador da opinião do consumidor dos
produtos globalizados. Afinal um produto ecologicamente correto tem lugar
preferencial nas prateleiras dos supermercados e nas principais lojas dos shoppings
localizados nas maiores metrópoles mundiais.
Nesse
sentido os governos adotam políticas públicas que acabam sendo transformadas em
novos ecos dos movimentos
ambientalistas de alcance global. Novas leis são criadas. Leis que contrariam os interesses dos velhos
capitalistas , de empresários que ainda não deixaram a fase industrial desse
sistema no passado. Infelizmente não se trata de uma concepção mais purista de
um mundo melhor. Trata-se de uma nova roupagem que o capital veste para se
adequar as necessidades ambientais do modelo de produção global.
No
que tange a região da Amazônia a qual vivemos, pode-se afirmar que vivenciamos
em contra-ponto nesta história. Vivemos um dicotomismo: crescimento e meio
ambiente. Cabe, portanto a nós, o papel de discutirmos a luta por um sistema
socioeconômico menos predatório e que respeite a ecologia local. Esse respeito garantirá
a existência de homens e mulheres amazônicos que se sintam feliz vivendo nessa
última grande fronteira tecno(eco)lógica chamada Amazônia.