A "guerra contra o narcotráfico" promovida
pelos EUA tem um aspecto econômico, político e militar. O aspecto econômico
busca impedir que surja uma forte burguesia nos países semi-coloniais apoiada
neste grande negócio, já que isto permitiria o controle de um negócio mundial
que alcança cifras em torno de trilhões de dólares. Daí sua política de
repressão seletiva, que ataca os pequenos produtores, com a destruição das
plantações de coca na Bolívia, Peru e Colômbia e com os consumidores, sem
atacar os grandes atravessadores que são os que detém o maiores no processo,
principalmente as máfias americanas e os grandes bancos que recolhem o grosso
dos lucros do narcotráfico.
É uma repressão seletiva porque busca destruir os grandes cartéis somente
quando estes assumem proporções gigantescas, como os cartéis de Cali e Medellín
que estavam constituindo grandes oligopólios mundiais por fora do controle
americano. Por isso, foram desbaratados e em seu lugar surgiram dezenas de
cartéis que continuam o trabalho inclusive produzindo e distribuindo mais
cocaína que os dois cartéis juntos. A burguesia destes países produtores
(Colômbia, Peru e Bolívia) se dividem alinhado-se ou não com o imperialismo
americano pelo controle e pela apropriação da maior quantidade de lucro que
gera para incluir no circuito "legal" do capitalismo.
Desta forma, o imperialismo, acossado pela crise econômica, busca controlar
todos os ramos econômicos dos países semi-coloniais (vide privatizações e
abertura dos mercados) e a "guerra contra o narcotráfico" é somente a
cobertura para uma luta sem quartel para controlar e garantir que os volumosos
lucros desta grande indústria seja açambarcado por suas empresas, bancos, e por
setores aliados nos países atrasados e não potencialize o surgimento de uma
forte burguesia lúmpen que rivalize com o imperialismo ou mesmo possa
enfrentá-los ainda que circunstancialmente.
Ademais, desbaratando os grandes cartéis, utiliza o dito "dividir para
reinar", já que pode infiltrar agentes da DEA e da CIA, informantes e
pilantras da pior espécie dentro das organizações mantendo, perfeitamente, um
controle sobre todo o negócio e "explodindo" os setores que não estão
totalmente "sob controle". Para isso contam com a ajuda da
subserviente burguesia latino-americana mais realista que o rei e totalmente
subordinada aos interesses do Império do Norte.
É do conhecimento de todos os escândalos que relacionam os americanos em
tráfico de drogas. Por exemplo, a esposa do coronel Hiett, o chefe dos
militares destacados para seguir na Colômbia o combate às drogas foi detida por
traficar cocaína usando os canais diplomáticos. O comércio é tão gigantesco que
uma rede dentro da American Airlines, usava as facilidades de acesso a
aeroportos para oferecer cocaína nas maiores capitais do Tio Sam.
Porém, estes dois exemplos são só a expressão de uma vasta rede clandestina
montada pela CIA, DEA e outros órgãos de inteligência americana. Em janeiro de
1980 apareceu morto um
banqueiro australiano, F. Nugan, co-proprietário de uma instituição (NUGAN HAND
INC) com sucursais nos 5 continentes. As atividades da Nugan: negócios com
pessoas com conexões provadas com drogas; intensa atividade bancária na Florida
ligada a narcóticos, tráfico de armas. Existem provas da conexão desta
"empresa" com o FBI e a CIA. O quadro de acionistas e pessoas que
tiveram relação com o banco vão desde Abe Saffron, personagem fundamental do
crime organizado na Austrália, Terry Clarck, chefe do sindicato exportador de
opiáceos chamado Mr. Ásia. Capos da Cosa Nostra americana que se conectavam com
o Banco Nugan via Sir Peter Abeles, igualmente sir Peter Strasser, equivalente
de Abeles ao nível de petróleos, Rupert Murdoch, Theodore Shackley, ex-diretor
de operações clandestinas da CIA, Richard Secord, chefe de vendas de
equipamento militar no Pentágono de 1978 a 1984, demitido depois de fraudar o
exército americano em 8 milhões de dólares. Através de Oliver North - em nome
do Conselho de Segurança Nacional, Secord foi encarregado de organizar a
conexão Irã-Contras. Os administradores e conselheiros do banco eram na sua
maioria militares de alta patente, ligados ao Conselho de Segurança Nacional
dos EUA, chefes na guerra do Vietnã, ex-diretores da CIA.
Esta grande rede controlava o tráfico de heroína e venda de armas em acordos
com os grandes cartéis, "sócios na luta contra o comunismo". Quando
este banco vai à falência, surge imediatamente um substituto, o BCCI, que passa
a ser parte desta rede clandestina e foi via ele que processou a negociata do
escândalo Irã-Contras onde o governo financiou os contras nicaraguenses com a
venda ilegal de armas ao Irã e com o tráfico de entorpecentes. O BCCI tinha uma
rede secreta composta por 1.500 funcionários dedicados ao tráfico de armas,
drogas e divisas, prostituição, seqüestros, assassinatos, etc.
Na verdade, o pretenso combate ao tráfico é a fachada para impor um controle
econômico e político na região, já que sequer consegue efetivamente o que se
propõe. O tráfico de drogas do Panamá aumentou após a intervenção imperialista
contra Noriega. O governo do ex-presidente mexicano Carlos Salinas de Gortari,
grande amigo dos EUA, tinha uma de suas bases de sustentação no tráfico e seu
próprio irmão Raúl era uma das figuras centrais do contrabando e do tráfico.
Na Colômbia, os narcotraficantes mais poderosos apóiam os paramilitares e
tiveram participação direta nas execuções de líderes sindicais, ativistas e
jornalistas. Esses crimes permanecem impunes, com a conivência das mesmas FFAA
que os EUA orientam e enchem de dólares.
O que preocupa o imperialismo é que os países exportadores de drogas se
beneficiem economicamente. Por isso dirige seus ataques à periferia: as
plantações, os centros de produção e principalmente a "lavagem de
dólares" na América Latina. Porém, não combate estas atividades com a
mesma intensidade e força em seu próprio território.
O imperialismo sabe, pela sua própria história, que o surgimento destes ramos
"ilegais" é uma forma de acumulação primitiva do capital que pode
permitir o surgimento de grandes capitais financeiros, como foi no seu tempo o
tráfico de escravos, a colonização da América, os piratas a serviço da rainha
da Inglaterra ou mesmo, mais recentemente, na década de vinte nos EUA, quando a
proibição do álcool levou à formação de impérios clandestinos que depois
transformaram-se em grandes negócios.
...recolonizar a América Latina
O aspecto político e militar da luta "contra o narcotráfico" é que a
partir do final dos anos 80 o imperialismo norte americano utiliza o
"perigo do narcotráfico" para assim justificar sua crescente
intervenção nas forças de segurança dos países latino-americanos, como na
Colômbia, Bolívia, Peru, Equador, Panamá, Brasil, Paraguai, México, etc.
Por trás dessa máscara se insinua a penetração de militares norte-americanos em
toda América Latina, cuja ponta de lança para a intervenção começa na Colômbia,
porém que está desenvolvendo seus tentáculos em todos os países da área. O
Narcotráfico é utilizado para justificar intervenções abertas e descaradas,
retrocedendo a formas coloniais que vai desde invasões, como foi o caso do
Panamá, até treinamento de FFAA com "assessores" militares como na
Colômbia, Bolívia, Peru, Paraguai, até ceder partes partes do território para
que sejam patrulhados por ianques. O imperialismo norte-americano relocaliza
dezenas de milhares de militares que estavam estacionados no Panamá,
construindo bases e acordos militares com a maioria dos países da área,
preparando-se para embates na luta contra a liberação nacional e os grandes
enfrentamentos que estão por dar-se na área, como prenunciam Colômbia, Equador
e outros.