O mundo atual é marcado por duas tendências simultâneas e antagônicas: globalização versus fragmentação, tendências centrípeta e centrífuga, respectivamente. Foi esta ultima que imperou na União Soviética, que já não existe mais desde o final de 1991. enquanto a maioria dos paises se globalizava, ou se esforçava para isso, a antiga super-potência se fragmentava territorial, política e economicamente, sucumbindo à crise e ao nacionalismo. Em dezembro de 1991, foi criada a Comunidade de Estados Independentes (CEI), composta pela maioria das ex-repúblicas soviéticas. Trata-se de um aglomerado de países que mantém laços econômicos, políticos e militares. É uma tentativa incipiente de acomodar os novos países independentes, mantendo relações de cooperação, embora sob a hegemonia da Rússia, que, na prática, substituiu a União Soviética no cenário internacional.
Para entender esse turbilhão de mudanças, é inevitável uma retrospectiva da história da antiga superpotência.
FORMAÇÃO TERRITORIAL
A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), ou simplesmente União Soviética, em sua expansão territorial, no pós-guerra, quando anexou os países bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia) e passou a ser composta por 15 repúblicas, chegou a ocupar o território de 22,4 milhões de quilômetros quadrados (um sexto das terras emersas do planeta), englobando mais de uma centena de povos, que somavam aproximadamente 290 milhões de habitantes. Veja no mapa.
Esse enorme país foi, na verdade, o ultimo grande Império multinacional forjado por uma potencia européia. As origens mais remotas da União Soviética remontam ao século XV, quando o czar Ivan III expulsou os mongóis e unificou o país em torno da capital, Moscou. Surgiu então o Império Russo. No século XVI, o czar Ivan IV, o Terrível, conquistou uma parte da Sibéria, dando inicio ao grande processo expansionista russo.
Várias culturas diferentes e vários povos não-russos foram incorporados pelo expansionismo czarista na Europa Central, no Cáucaso, ma Ásia Central e na Sibéria. Mas a União Soviética estruturou-se meso a partir de 1922, como resultado da vitória dos bolcheviques na famosa Revolução de Outubro de 1917. sob a liderança de Vladimir Lênin, o ultimo dos czares, Nicolau II, foi deposto e iniciou-se um período de enormes transformações políticas, econômicas e culturais na velha Rússia.
TRANFORMAÇÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS
Politicamente, consolidou-se sob o governo de Josef Stalin (1924 – 1953) um regime de partido único extremamente centralizado e autoritário. A fortaleza de poder desse imenso país localizava-se no Kremlin, em Moscou. A ditadura czarista foi substituída não pela ditadura do proletariado, como pregava a utopia marxista-leninista, mas pela ditadura da burocracia do PCUS (Partido Comunista da União Soviética). Os burocratas predominantemente russos eram, os políticos que realmente controlavam o destino do país, particularmente os membros do politburo, de onde saía o dirigente máxima da União Soviética, o secretário-geral do PCUS.
A economia foi estatizada, ou seja, todos os meios de produção passaram a ser controlados pelo,Estado. Seu funcionamento era regido pelos planos qüinqüenais, elaborados pelo órgão de planejamento central, o Gosplan. Os planos definiam as principais metas as serem alcançadas pelos vários setores econômicos. Essas metas, no entanto, eram apenas quantitativas, ou seja, o conceito de produtividade da planificação soviética, não levava em conta a qualidade dos produtos, mas apenas sua quantidade.
Sob a economia estabilizada e planificada, a União Soviética foi alçada de uma posição secundária no cenário político e econômico do inicio deste século ao posto de segunda economia do planeta, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, posição que ainda manteve durante longos anos. O país torno-se também uma superpotência nuclear e aeroespacial, rivalizado com os Estados Unidos durante o período da Guerra Fria. A verdade é que apesar dos gritos ideológicos contrários a essa evidência, a União Soviética cresceu aceleradamente, avançou de maneira significativa em termos tecnológicos e fortaleceu-se bastante econômica e militarmente, sob a economia estatizada e planificada. Então, durante muito tempo, esse tipo de sistema, do ponto de vista econômico, funcionou relativamente bem, conforme se pode constatar pelos dados a seguir.
Por que, então, a União Soviética enfrentou uma séria crise, que se agravou na década de 80 e acabou por levar Gorbatchev ao poder com um discurso e uma prática reformista?
A economia soviética funcionou relativamente bem no período em que o mudo ainda se guiava pelos padrões tecnológicos ditados pela Segunda Revolução Industrial. Enquanto a produção e, portanto, a tecnologia, os índices de produtividade e de competitividade tinham como referencial as indústrias nascidas ou aperfeiçoadas durante a Segunda Revolução Industrial, - industriais siderúrgicas, químicas, petrolífera, aeronáutica, naval, etc., - a União Soviética estava em pé de igualdade com os países capitalista desenvolvidos. Em alguns momentos, até esteve à frente, a exemplo de quando lançou, em 1957, o primeiro satélite artificial (Sputnik), ou quando colocou o primeiro cosmonauta em órbita da Terra (luri Gagarin), em 1961.
Até 1970, os planejamentos soviéticos priorizavam as indústrias de bens de produção, com o objetivo de propiciar autonomia ao país, além de investir na infra-estrutura necessária para sustentar o processo de industrialização. Indústrias como a siderúrgica, a petrolífera, a de máquinas e equipamentos tiveram um crescimento explosivo. Foram construídas barragens, ferrovias, redes de transmissão de energia, portos, aeroportos, etc. também a industria bélica foi priorizada, particularmente no terceiro plano qüinqüenal (1938 – 1944), quando o país entrou na guerra, estimulando, por razões, de segurança, o deslocamento industrial para o leste. Aproveitando-se assim, as reservas minerais e fósseis da Sibéria e da Ásia Central. Não podemos esquecer que, até a Segurança Guerra Mundial, a União Soviética era o único país socialista do mundo. O quarto plano qüinqüenal (1946 – 1950) foi direcionado para a recuperação da economia e para a reconstrução das fábricas e das obras de infra-estrutura destruídas pela guerra. Os planos seguintes continuaram enfatizando o setor industrial pesado e bélico, já no contexto da Guerra Fria. Tudo isso possibilitou um grande boom econômico.
O que mudou então, para explicar a crise que se abateu sobre o país já na década de 70, aprofundando-se de forma dramática na década de 80, período em que os países capitalistas desenvolvidos atingiram um novo patamar cientifico e tecnológico?
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