Enquanto o governo se empenhava em festejar oficialmente os "500 anos de Brasil", vários grupos indígenas, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), organizações não-governamentais (ONGs) ligadas a questões ambientais, de direitos humanos, infância e adolescência, moradia, entre outras, protestavam e questionavam: "De quem é esta terra?", "Quem são os brasileiros?".
Quando dizemos que o Brasil foi descoberto em 22 de abril de 1500, na verdade estamos evocando a data que marca oficialmente a presença européia em terras brasileiras. Mas e os povos que viviam no atual território brasileiro antes da chegada dos europeus? E seus descendentes? Essa comemoração foi importante porque promoveu vários debates sobre a história, a organização social, a estrutura política e económica e a enorme diversidade dos modos de vida no Brasil atual. [Releia o texto Patrimônio cultural, p. 10]
Será que a história e o significado de Brasil são os mesmos para alguém que mora numa grande metrópole, um sertanejo ou um descendente de indígenas que conseguiu manter a sua identidade cultural?
Leia os fragmentos de texto a seguir, sobre as comemorações dos "500 anos de Brasil". O primeiro foi escrito por Kaka Werá Jecupé, um descendente dos Txucarramãe, povo indígena que se deslocou do rio Araguaia (Goiás) para o Norte de Minas Gerais, no início da década de 1960, e o segundo é parte do discurso feito por Matalauê, um Pataxó, povo do Sul da Bahia.
O que é índio?
Kaka Werá Jecupé
O índio não chamava nem chama a si mesmo de índio. O nome "índio" veio trazido pelos ventos dos mares do século XVI, mas o espírito "índio" habitava o Brasil antes mesmo de o tempo existir e se estendeu pelas Américas para, mais tarde, exprimir muitos nomes, difusores da tradição do Sol, da Lua e do Sonho.
(...)
Segundo os historiadores, os portugueses de 1500 tinham colonizado alguns lugares da África e da Ásia. Eles chamavam de colonização o ato de se estabelecer em terras estrangeiras como se fossem deles, colocar nessas terras feitorias (sistemas encarregados de aquisição de bens para a corte real portuguesa) em lugares considerados importantes, geralmente próximos ao litoral, e a partir de seus feitores realizavam a exploração e o comércio das riquezas do lugar.
Trechos de JECUPÉ, Kaka Werá. A terra dos mil povos: história indígena do Brasil contada por um Índio. São Paulo: Fundação Peirópolis, 1996. p. 13 e 50. (Educação paia a paz).
Discurso sobre as comemorações dos "500 anos de Brasil"
Matalauê
Hoje é esse dia que podia ser um dia de alegria para todos nós. Vocês estão dentro da nossa casa. Estão dentro daquilo que é o coração do nosso povo, que é a teria, onde vocês estão pisando. Isso é nossa terra.
Onde vocês estão pisando vocês têm que ter respeito porque essa teria pertenre a nós.
Quando vocês chegaram aqui, essa terra já era nossa. O que vocês fizeram com a gente?
Nossos povos têm muita história para contar. Nossos povos nativos e donos da terra, que vivem em harmonia com a natureza: tupi, xavante, tapuia, caiapó, pataxó e tantos outros.
Séculos depois, estudos comprovam a teoria, contada pelos anciãos, de geração em geração dos povos, as verdades sábias, que vocês não souberam respeitar e que hoje não querem respeitar.
São mais de 40 mil anos em que germinaram mais de 999 povos com culturas, com línguas diferentes, mas apenas em 500 anos esses 999 povos foiam reduzidos a menos de 220. Mais de 6 milhões de índios foram reduzidos a apenas 350 mil.
Quinhentos anos de sofrimento, de massacre, de exclusão, de preconceito, de exploração, de extermínio de nossos parentes, aculturamento, estupro de nossas mulheres, devastação de nossas terras, de nossas matas, que nos tomaiam com a invasão.
Hoje, querem afirmar a qualquer custo a mentira, a mentira do Descobrimento. Cravando em nossa terra uma cuz de metal, levando nosso monumento, que seria a resistência dos povos indígenas. Símbolo da nossa resistência e do nosso povo.
Impediram a nossa marcha com um pelotão de choque, tiros e bombas de gás. Com o nosso sangue, comemoraram mais uma vez o Descobrimento.
Com tudo isso, não vão conseguir impedir a nossa resistência. Cada vez somos mais numerosos. Já somos quase 6 000 organizações indígenas em todo o Brasil.
Resultado dessa organização: a Marcha e a Conferência Indígena 2000, que reuniu mais de 150 povos; teremos resultado a médio e longo prazo.
A terra para nós é sagrada. Nela está a memória de nossos ancestrais dizendo que clama por justiça. Por isso exigimos a demarcação de nossos territórios indígenas, o respeito às culturas e às nossas diferenças, condições para sustentação, educação, saúde e punição aos responsáveis pelas agressões aos povos indígenas.
Estamos de luto. Até quando?
Vocês não se envergonham dessa memória que está na nossa alma e no nosso coração, e vamos recontá-la por justiça, terra e liberdade.
MATALAUÊ, índio Pataxó registrado com o nome de Jerry Adriani Santos de Jesus. Folha de S.Paulo, São Paulo, 27 abr. 2000. Caderno Brasil, p. 1-4.
PARA EXERCITAR
Por que os descendentes de indígenas se consideram explorados pelos colonizadores europeus?
SOCIEDADE, A NATUREZA E O PENSAMENTO GEOGRÁFICO
A geografia estuda o espaço, constituído pelas formas naturais e pelas que foram criadas pelo trabalho humano, em conjunto com as relações que ocorrem na vida em sociedade. O espaço geográfico, ou simplesmente espaço, é analisado levando em conta os lugares, as regiões, os territórios e as paisagens. As relações sociais, econômicas e culturais explicam a sua dinâmica, o seu constante processo de transformação.
Ao estudar o espaço, porém, cada um possui o seu enfoque. Há geógrafos, por exemplo, que consideram a geografia uma ciência essencialmente social. Para outros, ela seria uma ciência da natureza. Há outros, ainda, que vêem nas relações da sociedade com a natureza o seu objeto de análise.
Neste livro, estudaremos o Brasil e o mundo tendo como base as relações da sociedade com a natureza, tratando a geografia física e a humana de forma interligada.
Leia o texto a seguir, Organização espacial. Nele, o autor apresenta a postura de análise que permeia este livro.
PARA PENSAR - GEOGRAFICAMENTE
Observe as fotos abaixo, reflita sobre outros exemplos e responda (por escrito):
1. Pense no papel que os serviços públicos têm no dia-a-dia dos cidadãos: o que muda na vida das pessoas quando as condições de moradia, transporte, educação, saúde e outros serviços públicos melhoram?
2. Quais são as nossas responsabilidades, quando utilizamos um serviço público ou privado?
O cotidiano das pessoas é influenciado, ou mesmo determinado, pela forma como o espaço está organizado. Observe as fotos e responda às questões a seguir.
Barco transportando turistas, no pantanal mato-grossense , em 2000.
Terminal de ônibus, em São Paulo, em 1999.
Rua de Fortaleza (Ceará), em 2001.
Organização espacial
Roberto Lobato Corrêa
Como a geografia objetiva o estudo da sociedade? Ou seja, qual é a objetivação da geografia que, sem deixar de ser uma ciência social, distingue-se da história, antropologia, economia e sociologia, todas elas também ciências sociais?
O longo processo de organização e reorganização da sociedade deu-se concomitantemente à transformação da natureza primitiva em campos, cidades, estradas de ferro, minas, voçorocas, parques nacionais, shopping centers etc. Estas obras do homem são as suas marcas apresentando um determinado padrão de localização que é próprio a cada sociedade. Organizadas espacialmente, constituem o espaço do homem, a organização espacial da sociedade ou, simplesmente, o espaço geográfico. A objetivação do estudo da sociedade pela geografia faz-se através de sua organização espacial, enquanto as outras ciências sociais corretas estudam-na através de outras objetivações.
Resumindo, o objeto da geografia é, portanto, a sociedade, e a geografia viabiliza o seu estudo pela sua organização espacial. Em outras palavras, a geografia representa um modo particular de se estudar a sociedade.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1988. p. 52-3. (Princípios, 53).
Outro elemento de análise muito utilizado pela geografia para interpretar a sociedade e suas relações com a natureza é o território. Podemos falar em território nacional, território indígena, território de uma gangue de traficantes de drogas, território de ação de um grupo de ajuda humanitária, etc.
Em cada um deles, há relações de poder, de posse ou de domínio, e vigoram determinadas regras ou leis. Essas podem ser institucionais - criadas pelo Estado - ou reconhecidas informalmente pela sociedade - não estão escritas, mas todos as conhecem.
O território nacional é controlado por um Estado. Dentro dos limites do território de qualquer país, administrado pelo Estado, vigoram leis próprias e várias outras normas, que deixam de ter validade fora dos seus limites físicos, delimitados pelas fronteiras político-administrativas.
Ampliando a escala da nossa abordagem, constatamos que há territórios sob a influência de instituições, organismos e empresas que extrapolam os limites dos territórios nacionais. A Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a Organização Mundial de Comércio (OMC), o Mercosul, a União Européia, por exemplo, acabam interferindo, direta e indiretamente, nas decisões dos governos nacionais, ou seja, têm ação direta e indireta sobre a gestão dos territórios nacionais.
Estado-nação - cidadania e globalização, na atual fase do processo de globalização, a gestão dos territórios nacionais sofre influências externas cada vez mais acentuadas. Leia, no texto a seguir, que além de sua dimensão espacial a noção de território deve ser associada a escalas de tempo histórico.
O território
Marcelo José Lopes de Souza
A palavra território normalmente evoca o "território nacional" e faz pensar no Estado - gestor por excelência do território nacional-, em grandes espaços, em sentimentos patrióticos (ou mesmo chauvinistas), em governo, em dominação, em "defesa do território pátrio", em ·guerras... A bem da verdade, o território pode ser estendido também à escala nacional e em associação com o Estado como grande gestor (se bem que, na era da globalização, um gestor cada vez menos privilegiado). No entanto, ele não precisa e nem deve ser reduzido a essa escala ou à associação com a figura do Estado. Territórios existem e são construídos (e desconstruídos) nas mais diversas escalas, da mais acanhada (p. ex., uma rua) à internacional (p. ex., a área formada pelo conjunto dos territórios dos países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN); territórios são construídos (e desconstruídos) dentro de escalas temporais as mais diferentes: séculos, décadas, anos, meses ou dias; territórios podem ter um caráter permanente, mas também podem ter existência periódica, cíclica. Não obstante essa riqueza de situações, não apenas o senso comum, mas também a maior parte da literatura científica, tradicionalmente restringiu o conceito de território à sua forma mais grandiloqüente e carregada de carga ideológica: o "território nacional".
SOUZA, Marcelo José Lopes de. O território. In: CASTRO, Iná Elias; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs.). Geografia, conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 81.
REFLEXÃO EM EQUIPE
PARA EXERCITAR
Responda, por escrito, à questão a seguir.
Embora existam uma Constituição Federal e outras leis e regras que vigoram em todo o território brasileiro, ele está inteira e absolutamente administrado.
Pelo Estado, pelas autoridades constituídas? (Pense nas fronteiras amazônicas e nos territórios das gangues ou dos traficantes de drogas.)
Cite exemplos e compare a sua resposta com as de seus colegas de equipe.
O LUGAR
Para a geografia, o lugar é a porção do espaço onde se desenrolam as relações cotidianas. Leia, no texto a seguir, uma de suas definições.
Definir o lugar?
Ana Fani Alessandri Carlos
Como o homem percebe o mundo? É através de se corpo, de seus sentidos que ele constrói e se apropria do espaço e do mundo. O lugar é a porção do espaço apropriável para a vida apropriada através do corpo - dos sentidos - dos passos e seus moradores, é o bairro, é a praça, é a rua, e nesse sentido poderíamos afirmar que não seria jamais a metrópole ou mesmo a cidade latu sensu a menos que seja a pequena vila ou cidade - vivida/ conhecida/ reconhecida em todos os cantos. Motoristas de ônibus, bilheteiros, são conhecidos - reconhecidos como parte da comunidade, cumprimentados como tal, não simples prestadores de serviço. As casas comerciais são mais do que pontos de troca de mercadorias, são também pontos de encontro. É evidente que é possível encontrar isso na metrópole, no nível do bairro, que é o plano do vivido, mas definitivamente não é o que caracteriza a metrópole.
(...)
Por outro lado a metrópole não é "lugar", ela só pode ser vivida parcialmente, o que nos remeteria à discussão do bairro como o espaço imediato da vida das relações cotidianas mais finas - as relações de vizinhança, o ir às compras, o caminhar, o encontro dos conhecidos, o jogo de bola, as brincadeiras, o percurso reconhecido de uma prática vivida/reconhecida em pequenos atos corriqueiros e aparentemente sem sentido que criam laços profundos de identidade, habitante identidade, habitante - lugar. São os lugares que o homem habita dentro da cidade que dizem respeito a seu cotidiano e a seu modo de vida, onde se locomove, trabalha, passeia, flana, isto é, pelas formas através das quais o homem se apropria e que vão ganhando o significado dado pelo uso. Trata-se de um espaço palpável - a extensão exterior, o que é exterior a nós, no meio do qual nos deslocamos. Nada também de espaços infinitos. São a rua, a praça, o bairro - espaços do vivido, apropriados através do corpo - espaços públicos, divididos entre zonas de veículos e calçada de pedestres, dizem respeito ao passo e a um ritmo que é humano e que pode fugir ao do tempo da técnica (ou que pode revelá-Ia em sua amplitude). É também o espaço da casa e dos circuitos de compras, dos passeios, etc.
Trechos de CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo; Hucitec, 1996. p. 20-2. (Geografia; teoria e realidade, 38).
Embora os lugares sejam percebidos na esfera do cotidiano, as relações que se estabelecem em seu interior são cada vez mais influenciadas por ocorrências dos mais variados pontos do planeta. Assim, partindo do lugar, podemos ampliar a escala para analisar a organização do espaço da cidade, da região, do estado, do território nacional, e mesmo mundial, selecionando as ações humanas que quisermos estudar.
Observe os exemplos a seguir.
Acima, Petrolina (Pernambuco), em 2001. Mais abaixo, turistas em Paris (França), em 1999.
Às vezes, só observamos a paisagem e o espaço quando viajamos. Nesses momentos também percebemos o quanto estamos ligados ao nosso país, ao nosso município e, principalmente, ao nosso lugar. Leia no texto a seguir, escrito por volta de 1962, como uma inglesa (Ianthe) reagiu diante do que observou e vivenciou em parte de sua viagem à Itália.
Duas inglesas e a Itália
Bárbara Pym
Ianthe meditou sobre a paisagem e as outras pessoas no trem, que eram tão comuns – embora de uma maneira italiana – quanto o seria um grupo semelhante de pessoas num trem inglês. As únicas diferenças eram que o padre parecia meio sujo, e o jovem casal se fitava de um jeito que não se via na Inglaterra, de repente, Ianthe que questionou: será que um pastor da Igreja Anglicana nunca parecia sujo? Será que os jovens casais ingleses nunca se fitavam de modo tão devorador: Afinal de contas, John a beijara na estação, pensou, baixando os olhos ao sentir o olhar de Sophia.
- A gente sabe que está chegando ao Sul – falou esta, com entusiasmo. – O sol está brilhando e as casas parecem diferentes.
É... os telhados planos são meio feios, não acha?
- Mas olhe só para as laranjas - disse Sophia, com reprovação.
- Quer dizer que estamos quase em Nápoles?
- Sim... temos que mudar de trem ali. Aliás, aqui, em Mergelina. O ar não é maravilhoso e diferente? - falou Sophia, enquanto saltavam do trem.
- Tem um cheiro meio estranho - comentou Ianthe.
- É... é a baía... é um tipo de emanação. Às vezes a gente também sente em Londres, em horas inesperadas.
Ianthe ficou contente por Sophia estar com ela e saber o que fazer e onde tomar o trem para Salerno. Foi só quando estavam no ônibus que serpenteava pela estrada costeira na direção de Amalfi que começou a ficar animada de novo. Uma viagem, especialmente no estrangeiro, é sempre cansativa, com o medo ou a emoção adicionais, de não saber exatamente o que se vai encontrar no final. Ianthe pensou com compaixão nas governantas inglesas que iam trabalhar com famílias estranhas. Então o ônibus entrou na estrada para Ravelo e ela esqueceu a sua estranheza na emoção mais imediata do caminho sinuoso e da vista revelada a cada curva.
(...)
Ianthe ficou aliviada quando a levaram para o se e a deixaram sozinha para desfazer as malas. Saiu para a varandinha um tanto nervosa, achando que não parecia muito segura, e olhou para baixo para acres de bosques de limoeiros. As árvores eram todas emaranhadas, deixando os frutos quase escondidos, mas Ianthe pôde sentir que havia centenas, talvez milhares de limões pendendo entre as folhas. Todos aqueles limões, pensou a enfermeira Dew diria que eles quase lhe davam arrepios. Para além dos bosques de limoeiros, pôde enxergar o mar, o que a reconfortou, pois além do mar ficavam a Inglaterra, a sua, a biblioteca e John.
Trechos de PYM, Bárbara. Uma relação imprópria. Rio de Janeiro: Record, 1982. p. 142-3
PARA PENSAR GEOGRAFICAMENTE
1. Destaque duas passagens do texto em que a autora analisa a - a paisagem e o lugar visitado (leia o item seguinte - A paisagem).
2. Ao conhecermos novas paisagens e estabelecermos contato com novos lugares mesmo que por meio de televisão costumamos compará-los com o nosso lugar: qual é mais bonito mais organizada mais agradável etc. Isso já aconteceu com você? Em que situação? Descreva por escrito.
A PAISAGEM
Quando observamos uma paisagem, seja ela de um local cujas condições naturais estão preservadas, ou do centro de uma grande cidade, podemos assumir uma postura meramente contemplativa, considerá-la feia ou bonita, tranqüila ou agitada. A forma como as paisagens se apresentam aos nossos olhos nos permite interpretar heranças do passado, tentar entender o presente e propor ações com vistas a melhorar o futuro.
Ao compararmos paisagens de lugares diferentes - rios e praias limpos ou poluídos, matas preservadas e áreas desmatadas, impactos ambientais provocados por diferentes tipos de indústrias e práticas agrícolas, etc., podemos avaliar e criticar o resultado da ação humana sobre o espaço, pois ela está impressa na paisagem.
Leia, a seguir, trechos de duas obras do geógrafo Milton Santos em que expõe um dos conceitos de paisagem para a geografia. O segundo aborda a distinção entre paisagem e espaço. Perceba que as pessoas, por serem diferentes, possuírem formações diversas, enxergam as coisas que as cercam cada qual à sua maneira.
Paisagem, o que é?
Milton Santos
Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc.
(...)
A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção, o que chega aos sentidos. Por isso, o aparelho cognitivo tem importância crucial nessa apreensão, pelo fato de que toda nossa educação, formal ou informal, é feita de forma seletiva, pessoas diferentes apresentam diversas versões do mesmo fato. Por exemplo, coisas que um arquiteto, um artista vêem, outros não podem ver ou o fazem de maneira distinta. Isso é válido, também, para profissionais com diferente formação e para o homem comum.
A percepção é sempre um processo seletivo de apreensão. Se a realidade é apenas uma, cada pessoa a vê de forma diferenciada; dessa forma, a visão pelo homem das coisas materiais é sempre deformada. Nossa tarefa é a de ultrapassar a paisagem como aspecto, para chegar ao seu significado. A percepção não é ainda o conhecimento, que depende de sua interpretação e esta será tanto mais válida quanto mais limitarmos o risco de tomar por verdadeiro o que é só aparência.
(...)
A paisagem não se cria de uma só vez, mas por acréscimos, substituições; a lógica pela qual se fez um objeto no passado era a lógica da produção aquele momento. Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos. (...).
Trechos de SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec, 1988. p 61-6. (Geografia: Teoria e realidade).
Uma necessidade epistemológica: a distinção entre paisagem e espaço
Milton Santos
Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é conjunto das formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima.
(... )
Durante a Guerra Fria, os laboratórios do Pentágono chegaram a cogitar da produção de um engenho, a bomba de nêutrons, capaz de aniquilar a vida humana em uma dada área, mas preservando todas as construções. O presidente Kennedy; afinal renunciou a levar a cabo esse projeto.
Senão, o que na véspera seria ainda o espaço, após a temida explosão seria apenas paisagem. Não temos melhor imagem para mostrar a diferença e entre -esses dois conceitos.
PARA PENSAR
1. Faça uma descrição por escrito da paisagem do lugar onde a sua escola está localizada. Se possível, cite exemplos que mostrem que "Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos".
2. Depois discuta, em grupo, como cada um enxerga essa paisagem (como variam as percepções e as interpretações da realidade).
Cada um tem a sua percepção da paisagem. O escritor argentino Julio Cortázar escreveu um conto muito divertido sobre essas diferentes visões. Vamos lê-Ia?
LEITURA
Geografias
Julio Cortázar
Demonstrando que as formigas são as verdadeiras rainhas da criação (o leitor pode tomá-lo como uma hipótese ou uma fantasia: de qualquer maneira lhe fará bem um pouco de antropofunguismo), eis uma página de sua geografia:
(p. 84 do livro; assinalam-se entre parênteses os possíveis equivalentes de determinadas expressões, segundo a clássica interpretação de Gaston Loeb.)
"... mares paralelos (rios?). A água infinita (um mar?) cresce em certos momentos como hera-hera-hera (idéia de uma parede muita alta, que expressaria a maré). Se a gente vai-vai-vai-vai (noção análoga aplicada à distância) chega à Grande Sombra Verde (um campo semeado, um mato, um bosque?) onde o Grande Deus eleva o celeiro contínuo para suas Melhores Operárias. Nesta região abundam os Imensos Seres Horríveis (homens?) que destroem nossos caminhos. Do outro lado da Grande Sombra Verde começa o Céu Duro (uma montanha?). E tudo isso é nosso, mas com ameaças."
Essa geografia foi objeto de uma outra interpretação (Dick Fry e Niels Peterson Jr.). O trecho corresponderia topograficamente a um pequeno jardim da Rua Laprida, 628, Buenos Aires. Os mares paralelos são dois pequenos canais de esgoto; a água infinita, um banho para patos; a Grande Sombra Verde, um canteiro de alface. Os Imensos Seres Horríveis insinuariam patos ou galinhas, embora não se deva descartar a possibilidade de que realmente se trate de homens. A respeito do Céu Duro desenvolve-se uma polêmica que não acabará tão cedo. A opinião de Fry e Peterson, que vêem nele uma parede de tijolos, opõe-se a de Guilherme Sofovich, que presume um bidê abandonado entre as alfaces.
CORTÁZAR, Julio. Histórias de cronópios e de famas. 6.ed.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998. p. 69-70.
FRONTEIRAS ECONÔMICAS:
AS MARCAS DAS DESIGUALDADES
O modo de produção capitalista produziu, ao longo da história, as grandes desigualdades socioeconômicas existentes hoje entre as nações.
A divisão internacional do trabalho, que estabelece as relações entre os países, foi sempre profundamente marcada pelas mudanças ocorridas no mecanismo do sistema capitalista.
A fronteira Norte-Sul, que opõe os países ricos aos pobres, é produto das políticas coloniais mercantilista (séculos XVI e XVII) e imperialista (séculos XVIII e XIX), embora tenha-se aprofundado com a globalização econômica do século XX, acentuada a partir de 1990.
Dentro dessa divisão geral, podemos reconhecer países com características bem marcantes. Muitos deles serão estudados nesta unidade, como os países de economia em transição, os países latino-americanos, os países africanos, China, Austrália e Nova Zelândia e Estados Unidos.
O capitalismo e a divisão internacional do trabalho (DIT)
"Graças à manutenção dos baixos salários na periferia, as empresas transnacionais estão tentando reconstruir o sistema da divisão internacional do trabalho mediante a deslocação para a periferia de parte crescente da atividade industrial. Urna periferia semi-industrializada emerge assim sob a forma de um espaço em que se localizam atividades industriais controladas em boa parte para o mercado desse espaço... A nova divisão internacional do trabalho permite a essas empresas alcançar um de seus objetivos: abrir espaço para a industrialização periférica no quadro da modernização."
(Adaptado de: Celso Furtado. Introdução ao desenvolvimento: enfoque histórico-estrutural. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2000. p 122.)
O capitalismo e a construção do espaço geográfico
O espaço geográfico passou a ser modificado quando o homem começou a produzir, ou seja, a extrair da natureza os elementos indispensáveis à manutenção da vida. Mas foi o modo de produção capitalista que determinou as mais profundas alterações nesse espaço.
Estabelecimentos bancários, cartões de crédito, talões de cheques, aplicações financeiras, mercados de capitais*, cotação das Bolsas de Valores, do dólar, do ouro... Quem ainda não ouviu ou utilizou essas expressões tão associadas ao dinheiro? Esses termos, extremamente comuns no cotidíano das pessoas, na verdade são partes essenciais para o funcionamento do sistema econômico e social que rege o mundo de hoje: o sistema capitalista.
O sistema capitalista move a economia-mundo na época da globalização.
Como funciona o capitalismo
Tem como principal objetivo o lucro.
Baseia-se na propriedade privada dos meios de produção.
Tem no dinheiro ou seus similares (cartões de crédito, cheques) o seu principal meio de troca.
Funciona conforme a lei da oferta e da procura -economia de mercado.
Nas relações trabalhistas predomina o trabalho assalariado. O trabalhador "vende" sua força de trabalho aos donos dos meios de produção, recebendo um salário, enquanto o proprietário fica com os lucros.
No sistema capitalista, a sociedade é baseada na divisão de classes.
A evolução do capitalismo e da DIT
O capitalismo teve origem na Europa, nos séculos XV e XVI, e se expandiu para outros lugares do mundo (Ásia, África, América, Oceania), que estavam sendo incorporados à economia mundial. Seus principais mecanismos foram sendo alterados para se adaptar às novas formas de relações políticas e econômicas estabelecidas entre as nações ao longo do tempo.
Para entender melhor a evolução do capitalismo, vamos considerar três fases principais nesse processo:
1ª fase - capitalismo comercial ou pré-capitalismo;
2ª fase: capitalismo industrial;
3ª fase: capitalismo financeiro ou monopolista.
As duas primeiras fases são caracterizadas pelas relações entre colônias e metrópoles, que praticamente estabeleceram as relações econômicas do capitalismo monopolista.
A divisão internacional do trabalho (DIT) explica as relações econômicas entre os países em determinado momento da história dos homens. Ela expressa a especialização de um país no mercado internacional. Como essas relações mudaram no decorrer dos tempos, a DIT também se alterou, refletindo as características de cada etapa da evolução do capitalismo.
O capitalismo comercial
É o período das Grandes Navegações ou dos Descobrimentos, quando novas terras - principalmente do continente americano ou Novo Mundo - passaram a fazer parte do mundo até então conhecido: o Velho Mundo. Nessa época, países da Europa ocidental (Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Holanda) obtiveram grandes conquistas territoriais no Novo Mundo e fizeram dos territórios recém-conquistados suas colônias.
As regras das relações entre metrópoles e colônias foram estabelecidas pelo Pacto Colonial, segundo o qual a colônia só podia manter relações comerciais com a metrópole. Surgiu, assim, a primeira divisão internacional do trabalho, caracterizada pelo envio de matérias-primas das colônias às metrópoles e de produtos manufaturados das metrópoles às colônias, como mostra o esquema a seguir:
Produtos manufaturados
Inspirados na teoria econômica mercantilista, os países colonizadores, através do comércio com suas colônias, geraram acúmulo de capital, que permitiu o desenvolvimento do que muitos consideram o início do verdadeiro capitalismo, isto é, a sua fase industrial.
Fonte. José Jobson de A. Arruda. Atlas histórico básico. São Paulo, Ática. 2000.
Pontos fundamentais
da política mercantilista
1. Balança comercial favorável: todo país deveria exportar mais do que importar.
2. Protecionismo: conjunto de medidas que visavam proteger a produção nacional da produção de outros países.
3. Metalismo: a riqueza e a importância de um país eram avaliadas pela quantidade de metais (moedas) que conseguisse acumular.
4. Monopólio: a metrópole tinha a exclusividade no comércio corn a colônia
As potências coloniais dos séculos XVI e XVII (Portugal, Espanha e outras) se enriqueceram e se fortaleceram com a atividade comercial e o colonialismo.
O capitalismo industrial
Essa fase do capitalismo, que se estende do século XVIII ao XX, foi marcada pela Primeira e pela Segunda Revolução Industrial e pela partilha da África e da Ásia entre as potências colonialistas europeias.
A produção industrial tornou-se a rnaior fonte de lucro, e o trabalho assalariado passou a ser a relação típica do capitalismo: quem recebia salário acabava consumindo os produtos que ajudava a fabricar. Esse pensamento pode explicar a defesa do fim do trabalho escravo nesse período, pois escravos não consumiam.
Com o capitalismo industrial, o trabalho tornou-se mercadoria. Aquele que não possuía meios de produção, nem capital, vendia a sua mercadoria, ou seja, a sua força de trabalho.
Nessa etapa, muitas das antigas colônias da América conseguiram sua independência. Como a indústria se expandia cada vez mais, as metrópoles precisavam procurar novos fornecedores de matérias-primas e novos mercados de consumo para seus produtos industrializados. As potências européias, então, partiram em busca de novas colônias, dando início à partilha da África e da Ásia. Esse período ficou conhecido como imperialismo.
A DIT da fase do capitalismo industrial, na realidade, mudou muito pouco ern relação à do capitalismo comercial. A diferença principal é que as metrópoles passaram a ser industrializadas.
Fonte. Mana Elena Simielli Geoatlas. São Paulo, Atica. 2003. p. 72.
Leitura e reflexão
O imperialismo
O desenvolvimento tecnológico de meados do século XIX causou um aumento significativo da produção industrial, que gerava grandes lucros para o empresário. Isso, porém, acarretava um sério problema: onde reinvestir o excedente de lucro e como obter suprimento constante de petróleo, ferro e cobre para alimentar a crescente produção industrial? A saída para os países capitalistas foi a busca de locais, fora de seus respectivos territórios, capazes de atender a essas necessidades, produzindo lucros garantidos aos investidores.
Dessa forma, o próprio capitalismo gerou o processo imperialista, que se realizou através da busca de novas áreas de interesse econômico para a aplicação dos excedentes de capital. Participaram desse processo todas as nações que haviam atingido a nova fase de produção industrial. [...]
O imperialismo promoveu a partilha da África e da Ásia, estabelecendo áreas de influência, através de estreitos contatos económicos, dentro do processo conhecido como neocolonialismo.
(Extraído cie: Alceu Luiz Pazzinato e Mana Helena Valente Senrse. História Moderna e Contemporânea. 8. ed. São Paulo, Ática, 1995 p. 202.)
1. Determine as vantagens das nações que se industrializaram na fase do imperialismo.
2. Compare o imperialismo do século XIX com as relações existentes hoje entre países ricos e países pobres na globalização.
A liberdade dos mercados no
capitalismo industrial
No século XVIII, as ideias liberais da burguesia passaram a dominar os países europeus e atingiram também a economia. Os economistas eram favoráveis à liberdade total do mercado, pois a concorrência de preços promoveria o equilíbrio. Portanto, o Estado não deveria intervir no processo econômico.
A teoria do liberalismo econômico foi defendida pelo economista e filósofo escocês Adam Smith (1723-1790), em seu livro A riqueza das nações, publicado em 1776. Para ele, ao Estado caberia apenas zelar pela propriedade e pela ordem.
O capitalismo financeiro ou monopolista
A fase do capitalismo financeiro se desenvolveu, principalmente, após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
O capital acumulado nas etapas anteriores precisava de outras atividades, além da indústria, para ser multiplicado. Foi quando se desenvolveram os bancos, as corretoras de valores e grandes grupos empresariais e se iniciou o processo de concentração do capital.
A união do capital industrial com o capital de financiamento (bancário) deu origem ao capital financeiro, que é a própria essência do capitalismo, caracterizado pelos mercados de capitais negociados nas Bolsas de Valores.
Os monopólios e os oligopólios
A concentração de capital nas mãos de poucas pessoas ou empresas trouxe, como consequência, a monopolização e, depois, a oligopolização de vários setores da economia, que passaram a ser dominados por grandes grupos econômicos. O objetivo da união de empresas era enfrentar a concorrência, que ficava cada vez maior.
O monopólio ocorre quando uma empresa domina a oferta de determinado produto ou serviço. Uma forma mais aprimorada de monopólio é o oligopólio, que acontece quando um grupo de empresas domina o mercado de determinado produto ou serviço.
Podemos citar as seguintes formas de oligopólio:
1. Cartel: formado por empresas independentes, que fazem produtos semelhantes e têm acordos para dominar o mercado desses produtos, como, por exemplo, montadoras de veículos, empresas de tabaco, de exploração de petróleo, etc.
2. Truste: acordo entre empresas que abrem mão de sua independência legal e se unem para constituir uma única organização. Ostrustes podem ser:
• Horizontais, constituídos por empresas que trabalham com o mesmo ramo de produtos. Por exemplo, u m truste de em presas de produtos de laticínios.
• Verticais, formados por empresas que cuidam de todo o processo de produção: desde a matéria-prima até o produto acabado. Por exemplo, uma empresa que controla desde a plantação de cana-de-açúcar até a produção industrial de açucar e álcool.
3. Conglomerado: constituído por empresas que diversificam sua produção para dominar a oferta de certos produtos ou serviços. Geralmente é administrado por uma holding. Um exemplo de conglomerado é uma empresa que atua em vários ramos de produção, como a Mitsubishi, que fabrica carros, televisores, canetas.
4. Holding: é o estágio mais avançado do capitalismo. Numa hoiding. uma empresa, criada para administrar outras, possuía maioria das ações. As grandes corporações usam essa forma de administração.
O Mitsubishi Bank é uma das empresas que formam o o conglomerado japonês.
Estado: empresário e planejador
Nesta terceira fase do capitalismo, o liberalismo econômico foi perdendo terreno, até ser provisoriamente esquecido, após a crise de 1929, decorrente da quebra da Bolsa de Valores de Nova York.
A partir de então, o Estado assumiu duplo papel como agente econômico: o de empresário, como proprietário de em presas (estatais), e o de planejador. Assim, passou a intervir diretamente na economia.
O principal teórico e defensor da intervenção estatal na economia oligopolizada foi o inglês John Maynard Keynes (1883-1946). Sua teoria, queficou conhecida como keynesianismo, propunha a intervenção do Estado na vida econômica com o objetivo de garantir o pleno emprego. O keynesianismo deu início a uma época de importantes programas de intervenção pública, ação social e reativação de indústrias nacionais com políticas protecionistas.
Após a crise de 1929, o democrata Franklin Delano Roosevelt, presidente eleito dos Estados Unidos, decidiu intervir na economia com um plano que se orientava pelas ideias de John Maynard Keynes. Esse plano ficou conhecido como New Deal, ou "Novo Acordo", e foi fundamental para a recuperação da economia norte-americana nos anos 1930.
O Estado assumiu o papel de planejador da economia, oferecendo empregos em obras públicas, criando o seguro-desemprego, controlando preços de produtos industrializados e agrícolas, apoiando pequenos empresários e agricultores e outros profissionais.
O capitalismo financeiro após a
Segunda Guerra Mundial
Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o fato mais marcante do capitalismo financeiro foi a expansão das empresas multinacionais, hoje chamadas, mais apropriadamente, detransnacionais. Essas empresas mantiveram a sede em seu país de origem e abriram unidades de produção em países subdesenvolvidos, em busca de menores custos de matéria-prima, mão-de-obra, incentivos fiscais e mercado consumidor. Como consequência, esses países subdesenvolvidos se industrializaram, como aconteceu com Brasil, México, Argentina, Índia e África do Sul, em uma primeira etapa, e, mais tarde, com os Tigres Asiáticos (Cingapura, Taiwan, Coréia do Sul e Hong Kong).
Na década de 1980, as ideias do liberalismo clássico foram retomadas. Mas, depois da lição da crise de 1929, foram vistas com um pouco mais de cautela.
O neoliberalismo prega a não-intervenção do Estado na economia, a não ser para controlar as crises. A política neoliberal cresceu e praticamente dominou a economia mundial na década de 1990.
As DITs do capitalismo financeiro
A descolonização da África e da Ásia, o surgimento dos países subdesenvolvidos industrializados e a expansão das transnacionais estabeleceram três DITs bem diferentes, que se sucederam durante a fase do capitalismo financeiro:
DITdo imperialismo. Entre o período que vai do fim da Primeira Guerra (1918) até o fim da Segunda (1945), algumas potências ocidentais (Inglaterra, França e Holanda) ainda mantinham suas colônias na Ásia e na África. Portanto, a divisão internacional do trabalho permaneceu a mesma da fase do imperialismo ou do capitalismo industrial: as colônias enviavam matérias-primas às metrópoles, das quais recebiam produtos industrializados.
As antigas colônias da América mantinham esse mesmo relacionamento com as potências da época, apesar de já estarem independentes politicamente.
Após a Segunda Guerra Mundial, duas DITs passaram a conviver na economia global e permanecem até hoje: a DIT clássica e a DIT da nova ordem mundial.
DIT clássica. Com a descolonização da Ásia e da África (1946-1975), os novos países surgidos nesses continentes passaram a fazer parte, ao lado das antigas colônias da América, do conjunto dos países subdesenvolvidos. Estabeleceu-se, então, a DIT clássica, que caracteriza as relações entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos não-industrializados.
Produtos industrializados,
investimentos e concessão
de empréstimos
DIT da nova ordem mundial. Nesse mesmo período, com a industrialização de alguns países subdesenvolvidos, uma outra DIT passou a conviver com a DIT clássica. É a que expressa o relacionamento entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos industrializados. Essa nova divisão internacional do trabalho é muito mais complexa, envolvendo o fluxo de mercadorias e de capitais de ambos os lados. Esses países subdesenvolvidos deixaram de ser unicamente fornecedores de matéría-prima para os países desenvolvidos. Observe no esquema as novas relações que se estabeleceram entre eles:
Produtos industrializados, tecnologia e
capital - empréstimos e investimentos
(produtivos e especulativos)
As teorias econômicas do capitalismo financeiro
O keynesianismo e o Estado do Bem-Estar Social. A crise de 1929 tornou-se mundial e abalou todo o sistema capitalista. Para reestruturar a economia dos países mais atingidos, John Maynard Keynes, em sua obra Teoria geral, estabeleceu alguns princípios para a ação desse governo que já começava a existir em alguns países, como nos Estados Unidos. O Estado do Bem-Estar Social deveria suprir as necessidades básicas da população, preocupando-se com condições de saúde, de trabalho, com a educação e com o sistema previdenciário.
O neoliberalismo. A volta às teorias do liberalismo econômico (neoliberalismo) se efetivou nas décadas de 1970 e 1980. O governo Thatcher, no Reino Unido, já no fim da década de 1970, foi o primeiro, entre os países desenvolvidos, a adotar o programa neoliberal. Logo depois, na década de 1980, Ronald Reagan fez o mesmo nos Estados Unidos. Entre os países subdesenvolvidos, o Chile foi o neoliberal pioneiro, nos anos 1970, durante os tempos de ditadura do general Pinochet. Na verdade, a teoria neoliberal nasceu na Europa e na América do Norte como uma reação ao Estado intervencionista e ao Estado do Bern-Estar Social (Welfare State). Sua origem está no texto do economista austríaco Friedrich Hayek (l899-1992), O caminho da servidão, de 1944. Para os neoliberais, o objetivo do capitalismo estava ameaçado pelas reivindicações trabalhistas (sindicatos) e pelos gastos sociais. Cortar os gastos e manter urna taxa de desemprego que diminuísse o poder dos sindicatos foram as soluções apontadas pelos neoliberais para eliminar esses obstáculos. A privatização de empresas estatais faz parte da política neoliberal.
A Terceira Via. Existe um caminho alternativo e muito atual: a política socialdemocrata europeia, que promete promover justiça social. Esse caminho alternativo é considerado a Terceira Via. Seus principais idealizadores são: Tony Blair (Reino Unido), Leonel Jospin (França) e Gerhard Schröeder (Alemanha). A Terceira Via perdeu força nos últimos anos do século XX e início do século XXI por falta de propostas concretas e imediatas e pela impossibilidade de convivência com o neoliberalismo, que dominou a economia mundial nesse período.
VERIFICANDO A APRENDIZAGEM
Caracterize o sistema capitalista e o seu papel na construção do espaço geográfico.
Diferencie o capitalismo comercial do capitalismo industrial.
"A expressão 'multinacional' é frequentemente usada de rnodo completamente equivocado, ocultando a verdadeira questão do domínio das empresas capitalistas de urna nação mais poderosa sobre as economias locais em perfeita sintonia com as determinações e os antagonismos mais profundos do sistema do capital global. De modo geral, as nações capitalistas dominantes defendem seus interesses com todos os meios à sua disposição pacíficos enquanto possível, mas recorrendo à guerra se não houver outra forma..."
(Extraído de: István Mészâros. Para além do capital. Campinas, Editora da Unicarnp, 2002. p. 229.)
a) Relacione multinacionais com a fase do capitalismo financeiro.
b) Dê um exemplo que ilustre o trecho sublinhado.
Compare a DIT clássica com a DIT da nova ordem mundial e destaque o papel desempenhado pelo Brasil nesse último momento.
"O neoliberalismo no poder
Empossado em 1°- de janeiro de 1995, FHC - sigla com que passou a ser chamado o novo presidente - retomou o programa de privatizações, promovendo a venda de grandes empresas estatais, como a Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda e a Companhia Vale do Rio Doce, e do sistema brasileiro de telefonia."
(Extraído de: Divalte Garcia Figueira História. São Paulo, Ática, 2000. p. 418 Série Novo Ensino Médio.)
a) Explique as principais características do neo-Liberalismo.
b) Procure no texto acima uma característica do neoliberalismo.
GLOSSÁRIO
Mercado de capitais: reúne as atividades ligadas ao capital financeiro: ações de empresas, títulos públicos, títulos de dívida de países em desenvolvimento (C-Bond), títulos do Tesouro dos EUA (T-Bond), commodities (produtos agrícolas e minerais) e câmbio (mercado de moedas).
O mundo bipolar: a guerra fria
"A guerra fria transborda da Europa; ganha outros continentes, o mundo inteiro; paralisa o funcionamento da Organização das Nações Unidas, em que a União Soviética, minoritária apesar do apoio das democracias populares, usa sistematicamente o direito de veto, o que vale ao representante soviético o apelido de 'Sr. Niet'. Esse abuso obriga a ONU a revisar suas instituições para transferir importantes atribuições do Conselho de Segurança para a Assembleia Geral: na Assembleia Geral o número faz a lei e é possível aos Estados Unidos conseguir uma maioria que passa por cima da oposição do bloco soviético. A estrutura das relações internacionais é doravante 'bipolar': tudo se reduz ao enfrenta mento de dois blocos, tudo se ordena em relação a um ou outro dos dois pólos."
(Extraído de: René Rémond. O séculoXX. São Paulo, Cultrix, 1993. p. 151.)
O socialismo
Para alguns pensadores, a ideia de um mundo perfeito inclui, entre outras coisas, uma sociedade sem divisão de classes sociais, sem a exploração do homem pelo homem e na qual não exista a propriedade particular ou privada dos meios de produção, isto é, dos meios que geram riquezas, como as indústrias, os bancos e as empresas em geral.
Agora que você já sabe como funciona o sistema capitalista, pode perceber que a maneira de pensar dos socialistas combate as principais estruturas sociais e econômicas do capitalismo, como a sociedade de classes, a propriedade privada e o lucro, que é o principal objetivo desse sistema.
Os socialistas utópicos
Os primeiros críticos do sistema capitalista surgiram no início do século XIX, a partir da Revolução Industrial e do aparecimento do proletariado, composto pelo conjunto dos operários que possuem somente sua força de trabalho para vender aos capitalistas. Eram os socialistas utópicos, também chamados de socialistas românticos.
Antes deles Thornas More, em seu livro Utopia. publicado em 1516, já havia creditado à propriedade privada todas as injustiças sociais. Entre os socialistas utópicos destacaram-se Robert Owen (1771-1858), Charles Fourier( 1772-1837] e o conde de Saint-Simon (Claude H. de Rouvroy, 1760-1825). Esses pensadores opunham-se ao sistema de produção capitalista e ao liberalismo económico e preocupavam-se, principalmente, com a busca de uma sociedade mais justa e mais humana.
Os socialistas científicos
Ainda no século XIX, outros pensadores questionaram e criticaram mais profundamente a sociedade capitalista Esses pensadores, que foram chamados de socialistas científicos por alguns autores e de materialistas históricos por outros, propuseram um modo de produção totalmente diferente do sistema capitalista. Entre eles, destacaram-se Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engeis (1820-1895). A primeira obra desses pensadores foi O manifesto comunista, publicada em 1848. Mais tarde, Marx fez uma abrangente e profunda análise do capitalismo em sua obra mais importante, O capital (1867).
Para Marx, o sistema capitalista privilegia a exploração do homem pelo homem e beneficia apenas um pequeno grupo, constituído pelos donos dos meios de produção e por pessoas que possam tirar proveito de alguma forma do mecanismo capitalista (emprestando dinheiro a juros ou comprando mercadorias mais baratas para vender por preços mais altos). Marx alertou sobre o fato de que, com o passar do tempo, essa concentração de riqueza nas mãos de poucos ficaria cada vez mais acentuada. Além disso, previu que o capitalismo, da forma como havia sido estruturado ao longo da história, também chegaria ao fim, assim como ocorreu com o feudalismo e com outros sistemas de produção anteriores. Para ele, o fim do capitalismo aconteceria com uma grande crise econômica (falências, desemprego, etc.), que desmontaria a estrutura capitalista.
A exploração do homem pelo homem foi criticada por Marx e explicada pelo conceito da mais-valia: na sociedade capitalista, o empregado produz mais lucro para o patrão do que o salário que lhe é pago. Por exemplo: um trabalhador tem uma jornada de seis horas diárias; entretanto, em cinco horas ele produz um valor equivalente ao salário de seis horas, sendo o valor da outra hora apropriado pelo capitalista. O que é produzido a mais nessa sexta hora foi chamado de mais-valia. Portanto, a mais-valia é o trabalho que não é pago ao opera rio e que é transformado em lucro pelo proprietário do meio de produção, ou seja, significa o grau de exploração do trabalhador assalariado.
Na teoria de Marx, a forma de acabar com a estrutura capitalista seria promover a luta entre as classes que formam essa estrutura: os proprietários dos meios de produção ou burguesia contra a força de trabalho ou proletariado, com a vitória dessa última classe.
O proletariado chegaria ao poder e destruiria o grande mal da sociedade capitalista - a propriedade privada dos meios de produção-, substituindo-a pela posse coletiva desses meios. Dessa forma, atingiria o seu objetivo final, que seria o fim de todas as desigualdades sociais.
A forma indicada por Marx para atingir esse objetivo envolveria duas etapas que, como veremos a seguir, popularizaram dois termos muito usados e muitas vezes confundidos: socialismo e comunismo.
Socialismo e comunismo
Não raro, essas duas palavras são empregadas erroneamente como sinônimos. Porém, na concepção de Marx, elas serviriam para designar as duas etapas do processo revolucionário que deveria acabar com as estruturas capitalistas e estabelecer a sociedade ideal.
Na primeira fase – o socialismo - haveria a necessidade da existência de um Estado controlado pelo proletariado para organizar o tuncionamento da sociedade. A propriedade dos meios de produção seria estatal e coletiva. Haveria ainda algumas desigualdades, pois cada um receberia de acordo com o seu trabalho.
Aproxima fase seria o comunismo, na qual o Estado seria extinto, por não ser mais necessário, e cada um seria remunerado de acordo com suas necessidades Nessa sociedade, valores como o consumismo e o desejo de acumular dinheiro ou propriedades e ostentar símbolos de riqueza não existiriam.
Depois de conhecer essas ideias, você pode perceber que o socialismo e o comunismo idealizados pelos socialistas científicos nunca existiram de fato. E o que dizer da ex-União Soviética, dos países do Leste europeu e de alguns outros, ora chamados de comunistas, ora de socialistas, ora de Segundo Mundo?
Na realidade, esses países tentaram uma experiência socialista que, por pouco ter em comum com a teoria político-econômica de Marx, é chamada de socialismo real, que traduz o tipo de socialismo instaurado de fato nesses países.
O primeiro país socialista
A Rússia, país de economia essencialmente agrária, apesar da extrema pobreza de sua população, havia conseguido construir um império, que ocupou enorme extensão de terras no leste da Europa e no norte da Ásia. Coube exatamente ao povo russo, após muito sofrer a tirania dos czares (título que recebiam os imperadores russos), realizar a primeira revolução socialista da história - a Revolução Russa de 1917.
Corn a vitória dos revolucionários e depois de alguns anos de guerra, que incluiu desavenças entre os vitoriosos, foi criado o primeiro país socialista do mundo, a URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas -, em 1922, compreendendo a princípio áreas que pertenciam ao antigo império russo.
Desde a sua formação até a década de 1940, a URSS anexou outras áreas ao seu território, tornando-se também o país mais extenso do mundo, com mais de 22.400 000 km2.
Fonte: Dominique et Michèle Frémy. Guri 2004 Paris, Robert Laffont. 2003.
O socialismo soviético
O socialismo real, na URSS, teve muito pouco dos ideais dos teóricos do socialismo científico. Instalou-se um governo autoritário, uma ditadura de partido único, autodenominado Partido Comunista, e uma economia em que o Estado ditava as leis do mercado: a economia planificada.
A denominação do partido que governava a URSS levou muitas vezes esse país e todos os que o seguiram a serem erroneamente chamados de comunistas. Erroneamente, pois não conseguiram chegar sequer à fase do socialismo previsto por Marx. quanto mais ao comunismo pregado por esse pensador.
O governo socialista russo exercia um rígido controle sobre a sociedade: censurava os meios de comunicação e vetava o direito de as pessoas entrarem e saírem livremente do país. Os burocratas -dirigentes do Partido Comunista (o único na legalidade) - e seus familiares tinham regalias, como carros, casas maiores do que as da população, lojas especiais para fazer compras e até mesmo casas de campo ou de praia, evidenciando a existência de uma classe privilegiada.
O Estado era dono das terras, das minas de ouro, carvão, etc. e de todos os meios de produção. Não havia propriedade privada, livre concorrência de mercado e muito menos lei da oferta e da procura.
A economia planificada
Se a economia não era regida pelas leis do mercado, o Estado deveria assumir todo o seu planejamento. Conheça a seguir alguns dos mecanismos da economia planificada.
Planejamento da produção e do consumo: não havia livre aplicação de capital nem busca de lucro. Tudo era rigorosamente planejado pelos burocratas, que visavam controlar o mercado.
Garantia das necessidades básicas: ao Estado cabia garantiros meios essenciais para uma sobrevivência decente-educação, saúde, aposentadoria, emprego. Essas garantias eram entendidas corno uma forma de redistribuição da renda.
Planos qüinqüenais: havia um órgão central de planejamento que estabelecia as principais diretrizes econômicas do país por cinco anos - o Comité Central de Planejamento (Gosplan). Sua atuação foi mais centralizadora até 1957, quando havia um planejamento ern escala nacional, em cada república e em cada região das repúblicas. A execução desses planos ficava a cargo dos ministérios.
O mundo socialista
O socialismo não ficou restrito à URSS. Muitas outras nações adotaram esse sistema para dirigir seus destinos.
Nem sempre os países que adotaram o socialismo permaneceram aliados à União Soviética durante todo o tempo de existência da potência socialista. lugoslávia e Albânia, na Europa, e China, na Ásia, são exemplos de países socialistas que romperam com a União Soviética e passaram a seguir orientações próprias.
Apenas um socialista sul-americano
Um caso especial destacou-se durante a expansão do socialismo no mundo: o Chile elegeu, em 1970, por voto popular, o primeiro governo socialista da América do Sul. Foi uma rápida experiência. Três anos depois de eleito, o presidente Salvador Allende foi deposto, após o que, supostamente, cometeu suicídio. Uma junta militar, chefiada por Augusto Pinochet e apoiada pelos Estados Unidos, iniciava uma das mais sangrentas ditaduras da América Latina, que teria fim em 1989 com a eleição direta do presidente democrata-cristão Patrício Aylwin.
Capitalismo X Socialismo
Para as gerações que nasceram nas décadas de 1980 e 1990 fica difícil imaginar um mundo dividido entre dois sistemas econômicos, opostos e inimigos. Mas agora que você já estudou as características do capitalismo e do socialismo, pode perceber que a convivência desses dois modos de produção era praticamente impossível. Por isso, tivemos um período de quase cinquenta anos, longo o suficiente para que o mundo vivesse um dos mais tensos e complicados conflitos que já aconteceram na história da humanidade. Uma guerra em que jamais houve um confronto direto entre os dois principais inimigos. Guerra fria é a terminologia usada para denominar essa luta tão peculiar, que se iniciou após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e perdurou até o fim da década de 1980.
A Segunda Guerra Mundial mudou o destino e a geopolítica do mundo onde vivemos, estabelecendo uma nova ordem mundial: os impérios coloniais desmoronaram e em seu lugar surgiram duas novas superpotências: Estados Unidos e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Com isso, o mundo foi reordenado tanto do ponto de vista econômico como do ponto de vista político.
Após a guerra, um novo capitalismo
Com as principais potências arrasadas pela Segunda Guerra Mundial, foi preciso reorganizar a economia mundial. Com esse objetivo, os aliados (EUA, Reino Unido, URSS e França), que sairiam vencedores do conflito, reuniram-se, em 1944, ainda antes do fim da guerra, na cidade de Bretton Woods, situada na costa leste dos Estados Unidos. Várias decisões foram tomadas nessa conferência, entre elas a criação de organismos financeiros com a finalidade de conceder empréstimos a países em dificuldades e manter a estabilidade da economia mundial. Desse modo, foram fundados o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), que hoje faz parte da organização Banco Mundial, ambos com sede em Washington, nos Estados Unidos.
A adoção do padrão dólar-ouro, garantido pelo governo norte-amencano, tornou a moeda dos Estados Unidos a mais importante da economia mundial. O mundo capitalista tinha uma nova potência, os Estados Unidos da América do Norte, ao mesmo tempo que ganhava um rival de peso, a potência socialista União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Um mundo bipolar
Pela primeira vez, o mundo ficou dividido entre dois sistemas opostos, que lutavam para impor seu modo de produção: o capitalismo norte-americano (Oeste) e o socialismo soviético (Leste).
Foram quase cinco décadas de disputas entre os dois blocos, época em que foram criados arsenais bélicos e nucleares que a qualquer momento poderiam destruir a humanidade. Para entender o mundo hoje é importante conhecer esse período muito especial da história, marcado pelo conflito Leste-Oeste.
Tudo começou com a derrota dos países do Eixo (Itália, Japão e Alemanha) e as conferências de Yalta e Potsdam, realizadas no pós-guerra (1945) pelas potências vencedoras para decidir o destino dos países que haviam perdido a guerra. Nessas reuniões tornou-se claro que as relações entre União Soviética e Estados Unidos, aliados durante a guerra, não seriam cordiais em tempos de paz. À União Soviética cabia expandir a área sob a influência socialista; e aos Estados Unidos, impedir que essa influência se expandisse. Na ocasião, o primeiro-ministro britânico Winston Chur-chill usou pela primeira vez a expressão cortina de ferro, que seria citada frequentemente durante a guerra fria para designar a separação entre o mundo socialista e o capitalista, numa alusão ao regime extremamente fechado adotado pelos soviéticos.
Em 1947, o presidente norte-americano Harry Truman (1884-1972) fez um discurso no Congresso, em que deixou claro que os "Estados Unidos deveriam apoiar os povos livres que resistiam à tentativa de servidão por minorias armadas ou pressões externas". Essa declaração ficou conhecida como Doutrina Truman e norteou toda a política norte-americana para a contenção do socialismo durante a guerra fria.
Uma das primeiras medidas dos Estados Unidos, dentro do espírito dessa política, foi o plano de recuperação econômica e investimentos para os países da Europa ocidental, destruídos pelos anos de operação de guerra em seus territórios. Essa ajuda afastaria a provável influência soviética nessa parte do continente e ficou conhecida como Plano Marshall, uma referência a seu idealizador, o general George Marshall (1880-1959).
Os dois lados trataram de garantir alianças e formar organizações para defender, acima de tudo, o seu modo de produção e, principalmente, a sua ideologia.
Em 1949, os Estados Unidos e seus aliados da Europa ocidental criaram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Essa aliança militar visou garantir a segurança mútua contra uma expansão maior do socialismo na Europa. Atualmente, trata-se de uma organização que visa à segurança dos países membros, que são: Alemanha, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, França, Grécia, Hungria, Islândia, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca e Turquia. Em 2002, durante a Cúpula de Praga, foram convidados a fazer parte da organização outros países do Leste europeu: Romênia, Bulgária, Eslovênia, Estônia, Letônia, Lituânia e Eslováquia, que foram admitidos na Otan em abril de 2004.
A resposta da União Soviética chegou em 1955, com a criação do Pacto de Varsóvia, aliança militar entre essa potência e os países socialistas do Leste europeu. O Pacto de Varsóvia acabou funcionando mais como um instrumento da manutenção do regime nos países satélites do que como defesa contra o capitalismo.
Enquanto a União Soviética reunia os países socialistas no Conselho de Ajuda Económica Mútua, o Comecon (1949), a Europa ocidental procurava fortalecer sua economia, com a formação do Mercado Comum Europeu (1957).
Tanto o Pacto de Varsóvia quanto o Comecon foram extintos após o fim da União Soviética em 1991. A Rússia é atualmente parceira estratégica da Otan.
Leitura e reflexão
Texto 1: Tratado do Atlântico Norte - 1949
Artigo 5. As Partes concordam que um ataque armado contra uma ou várias dentre elas, sobrevindo na Europa ou na América do Norte, será considerado corno um ataque dirigido contra todas as Partes [...].
Texto 2: Tratado de Varsóvia - 1955
Artigo 4. No caso de agressão armada na Europa contra um ou vários dos Estados signatários do Tratado, por parte de um Estado qualquer ou por parte de um grupo de Estados, cada Estado signatário do Tratado [...] concederá ao Estado ou às vítimas de tal agressão uma assistência imediata ..
(Extraídos de Kátia M de Queirós Mattoso. Textos e documentos para o estudo da história contemporânea (1789-1963) São Paulo, Hucitec/Edusp, 1977. p. 192-193,199 v 3 Coleção Textos.)
Sobre os textos:
1. Aponte os países que integravam as referidas organizações durante o período da guerra fria.
2. Determine o destino dessas organizações após o fim da guerra fria.
3. Compare os dois textos e comente as semelhanças existentes entre eles.
A guerra fria na Europa e na Ásia
A Europa foi o primeiro continente a sentir os efeitos da guerra fria ao ser dividida em dois blocos distintos: Europa oriental e Europa ocidental.
Desde os últimos anos da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética vinha ampliando sua influência sobre os países vizinhos. Com o fim dos combates, impôs o regime socialista e sua supremacia aos países do Leste europeu (Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Bulgária, Romênia e Albânia).
A lugoslávia foi uma exceção porque a subida ao poder do Partido Comunista não dependeu da União Soviética. Foi o marechal Josip Broz Tito quem expulsou os nazistas, em 1944, e constituiu um governo forte com o apoio popular no ano seguinte.
A Alemanha foi dividida na Conferência de Potsdam em quatro setores controlados pelos vencedores da Segunda Guerra: Inglaterra, França, Estados Unidos e União Soviética. Em 1949, após divergências entre norte-arnericanos e soviéticos, foi transformada em dois países distintos - um só povo, mas sistemas econômicos completamente diferentes:
Alemanha Ocidental: oficialmente. República Federal Alemã, capital Bonn. Capitalista, compreendia os setores de domínio inglês, francês e norte-americano.
Alemanha Oriental: oficialmente, República Democrática Alemã, capital Berlim, também dividida. Localizada no setor soviético, era socialista.
Em 1949, o socialismo se instalou no continente asiático, num país de grande extensão territorial - a China. Preocupados, os Estados Unidos procuraram impedir o que chamavam de "efeito dominó", isto é, que outros países asiáticos fossem atingidos pelo regime socialista. Para isso, firmaram alianças militares envolvendo países da Ásia e da Oceania, medida que ficou conhecida como "cordão sanitário". Os principais tratados foram a Anzus (Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos) e a Seato ou Otase (Organização do Tratado do Sudeste da Ásia), que, além dos países da Anzus, reuniu França, Reino Unido, Paquistão, Filipinas eTailândia.
No mundo bipolar, o padrão de "poder" não era a supremacia econômica, mas a supremacia bélica na fabricação de armas. Daí falarmos em corrida armamentista e corrida espacial.
As potências disputavam passo a passo quem conseguia produzir a bomba mais potente ou ir mais longe na exploração do espaço. Para não ficar para trás, era preciso saber todos os segredos e todos os passos do inimigo. Nessa missão ficaram famosas a CIA e a KGB (o serviço secreto dos Estados Unidos e da União Soviética, respectivamente).
A corrida armamentista
Foi o componente central do período da guerra fria, que envolveu direTamente os Estados Unidos e a União Soviética na corrida atômica e na conquista espacial. O que estava implícito era que a nação que primeiro desenvolvesse a tecnologia nuclear e conquistasse o espaço seria considerada a mais avançada cientificamente.
Os Estados Unidos iniciaram a corrida nuclear de forma dramática, ao jogar bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima (6 de agosto de 1945) e Nagasaki (9deagostode 1945), para forçar a rendição do Japão no fim da Segunda Guerra e para demonstrar sua superioridade em relação à nova rival. Só em 1949 a União Soviética anunciou que tinha conseguido fabricar a sua primeira bomba atómica.
A corrida espacial
Os soviéticos saíram na frente na corrida espacial com o lançamento do Sputnik l, o primeiro satélite artificial a ser colocado em órbita, em 4 de outubro de 1957. Em 3 de novembro do mesmo ano, lançaram o Sputnik II, com a cachorra Laika, o primeiro ser vivo a ser lançado no espaço. Em 12 de abril de 1961, foi a vez de o astronauta Yuri Gagárin comandar a nave Vostok.
Entretanto, a vitória final foi dos Estados Unidos. O dia 20 de julho de 1969 marcou a chegada do homem à Lua. Os norte-americanos Neil Arrnstrong, Edwin Aldrin Jr. e Michael Collins, a bordo da Apollo 11, foram os primeiros a conquistar tal feito e a colocar os Estados Unidos na dianteira da corrida espacial.
Em 1971, os soviéticos lançaram o Projeto Salyut, que previa a construção de uma estação espacial. Em 1973, os Estados Unidos lançaram oSkylab, estação experimental que acabou se desintegrando em contato com a atmosfera, quando a Nasa perdeu o controle de sua órbita. Nada. porérn, foi mais brilhante do que a Iniciativa de Defesa Estratégica do presidente norte-americano Ronald Reagan (1980-1988), que ficou conhecida como "Guerra nas Estrelas". Sua idéia era construir um grande escudo espacial para a defesa contra mísseis vindos de qualquer lugar da Terra e até mesmo do espaço.
A última realização dos soviéticos foi colocar em órbita, em 1985, a estação espacial MIR, que retornou à Terra em março de 2001, após o fracasso da missão. Os Estados Unidos continuaram seu programa espacial, mesmo sem a competição da potência socialista. Após a explosão do ônibus espacial Challenger (1986), os norte-americanos colocaram o telescópio Hubble em órbita, em 1990. Em 1997, a sonda Mars Pathfinder pousou na superfície de Marte.
Em 2003, outro acidente com um ônibus espacial, desta vez com o Colúmbia, que se desintegrou ao ingressar na atmosfera terrestre, causando a morte de seus sete tripulantes, voltou a abalar o programa espacial dos Estados Unidos.
O Terceiro Mundo:
principal alvo das disputas
Com o fim dos impérios coloniais, novos países surgiram no panorama mundial e foram alvos da disputa entre as duas potências. O novo conjunto foi chamado de Terceiro Mundo, uma vez que os países capitalistas desenvolvidos compunham o Primeiro Mundo e os socialistas faziam parte do Segundo Mundo.
Moscou apoiava os movimentos de independência nas colônias da África. Para impedir a expansão soviética no continente, os Estados Unidos obrigaram seus aliados a conceder a independência a essas colônias.
A demora de Portugal em conceder a independência a Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau facilitou a influência soviética sobre as novas nações em 1975.
A América Latina continuava sob a influência dos Estados Unidos, apesar do duro golpe que os norte-americanos receberam com a instauração do socialismo em Cuba, com a vitória da Revolução Cubana de 1959 e depois de um período de aproximação entre Washington e Havana (1959-1961).
Por estar situada a poucos quilômetros da Flórida, a ilha de Fidel tivera, durante muito tempo, sua economia controlada pelos norte-americanos.
Outra ameaça do Leste, na América Central, foi a Revolução Sandinista na Nicarágua, que tentou instalar um governo socialista nesse país, em 1979.
Nas décadas de 1960 e 1970, a CIA ajudou a instalar ditaduras militares em países da América do Sul, mantendo-os "livres" da influência da União Soviética. Foi o caso do Brasil, da Argentina e do Chile.
O fim da guerra fria
O mundo bipolar começou a ruir com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e desmoronou totalmente com o fim da União Soviética em 1991. Com o desmantelamento dos velhos rivais, os Estados Unidos não tinham mais a quem combater. Estava desmontada uma ordem mundial que havia durado quase cinquenta anos.
O mundo atual é uma consequência desse período: os Estados Unidos assumiram o papel de única superpotência, os conflitos étnicos e nacionais ressurgiram com força total, e o poder não é mais de quem tem as armas mais poderosas, mas de quem tem a economia mais forte.
VERIFICANDO A APRENDIZAGEM
01) "O fim das instituições sociais na Utopia é de prover antes de tudo às necessidades do consumo público e individual; e deixar a cada um o maior tempo possível para libertar-se da servidão do corpo, cultivar livremente o espírito, desenvolvendo suas faculdades intelectuais pelo estudo das ciências e das letras. É neste desenvolvimento completo que eles põem a verdadeira felicidade."
(Extraído de: Thomas More. Utopia. Em: Os pensadores - Erasmo e Thomas More. 2. ed. São Paulo. Abril Cultural, 1979 p. 231.)
a) Aponte dois aspectos do texto que não existem no capitalismo.
b) Pesquise com seu professor de história e filosofia sobre a organização política na Utopia.
02) Caracterize o conceito de mais-valia.
03) Diferencie socialismo de comunismo na teoria marxista.
04) Explique duas características do socialismo soviético.
05) Descreva a importância da corrida armamentista no período da guerra fria.
A economia-mundo
"O mundo de hoje parece existir sob o signo da velocidade. O triunfo da técnica, a onipresença da competitividade, o deslumbramento da instantaneidade da transmissão e recepção de palavras, sons e imagens e a própria esperança de atingir outros mundos contribuem, juntos, para que a ideia de velocidade esteja presente em todos os espíritos e sua utilização constitua uma espécie de tentação permanente. Ser atual ou eficaz, dentro dos parâmetros reinantes, conduz a considerar a velocidade como uma necessidade e a pressa como uma virtude. Quanto aos demais, não incluídos, é como se apenas fossem arrastados a participar incompletamente da produção da história.
Com a globalização, o uso de técnicas disponíveis permite a instalação de um dinheiro fluído, relativamente invisível, praticamente abstrato."
(Adaptado de: l. Milton Santos O país distorcido. São Paulo. Publifolha. 2002. p. 162. 2. Milton Santos. Por uma outra globalização 5 ed Rio de Janeiro, Record, 2001. p. 100.)
O capitalismo na guerra fria
Após o fim do mundo socialista, o modo de produção capitalista voltou a ser o único a reger a economia mundial. Antes de analisar o capitalismo dos últimos anos do século XX, é muito importante dar uma atenção especial às mudanças ocorridas durante a guerra fria nos países que adotavam esse sistema.
Nesse período, apesar da ameaça de expansão do socialismo, o capitalismo se manteve em sua terceira fase - o capitalismo financeiro. Porém, muita coisa havia mudado no lado capitalista. Veja quais foram as principais modificações:
Os Estados Unidos assumiram a liderança do bloco ocidental, em Bretton Woods (1944), quando o Banco Mundial e o FMI iniciaram sua fase de dominação sobre os países subdesenvolvidos e o dólar tornou-se a moeda forte da economia capitalista.
Novos países surgiram com a descolonização da Ásia e da África: Argélia, Vietnã, Índia, entre outros.
As transnacionais se espalharam pelo mundo em busca de mão-de-obra e matéria-prima baratas e de mercado consumidor.
Alguns países subdesenvolvidos se industrializaram, na dependência dos países ricos, como, por exemplo, o Brasil.
Na Europa ocidental, a Comunidade Econômica Européia preparou o caminho para sua integração total, que ocorreu nos anos 1990, com a criação da União Europeia.
A multipolaridade
Como fim da bipolaridade em 1991, os Estados Unidos viram-se transformados em "vencedores" da guerra fria e assumiram o papel de grande potência mundial. Entretanto, apesar do indiscutível poderio norte-americano, Japão e Alemanha (hoje reunificado e integrando a União Europeia) também apareciam como pólos da economia mundial, que se tornou, então, multipolar.
Essa nova situação, que o presidente norte-americano George Bush (1989-1992) chamou de Nova Ordem Mundial na Conferência de Malta, em 1989, na verdade não trouxe muita coisa de novo. O que deixava de existir era a velha ordem bipolar e a rivalidade entre sistemas económicos opostos que buscavam competir usando a capacidade militar.
Com a volta do mundo (com raras exceções) ao capitalismo, que prioriza o lucro e a propriedade privada, a economia mundial passou a funcionar segundo a lógica desse sistema.
A multipolaridade, isto é, o aparecimento de novos pólos econômicos, nada mudou na distribuição da riqueza no mundo. Os países ricos continuam ricos. E os pobres (ex-Terceíro Mundo) continuam pobres. Sem inimigo a ser vencido, a corrida armamentista perdeu força. A busca de novas estratégias para ganhar mercados passou a ter prioridade na ordenação económica do mundo.
Porém, devemos admitir que mudanças fundamentais ocorreram nessa fase do capitalismo financeiro, que passou a ser chamada de globalização. Na globalização, há um crescente aumento dos fluxos de informações, mercadorias, capital, serviços e de pessoas em escala global. São as redes, que podem ser materiais (transportes) ou virtuais (internet). A integração de economias, culturas, línguas, produção e consumo, através das informações, transformou o mundo em uma aldeia global.
A economia-mundo
A economia-mundo começou a dar seus primeiros passos quando as empresas transnacionais cruzaram as fronteiras dos Estados nacionais, deslocando seu capital para atender a seus interesses econômicos sempre que um lugar apresentasse maiores vantagens. Essas empresas têm filiais espalhadas pelo mundo todo, fazem aplicações, movimentam recursos, decidem sobre a produção e o comércio de seus produtos, independentemente dos governos nacionais dos países onde se instalam.
A facilidade e a rapidez de fluxos comerciais de capitais entre os países tornaram-nos extremamente dependentes uns dos outros, apesar da concorrência. Com a globalização e a economia-mundo, não se discutem apenas problemas econômicos na aldeia global. Pode-se falar, também, na mundialização de questões que devem ser resolvidas por grupos de países. Dentre elas destacam-se as questões ambientais, o aumento da pobreza, as crises econômicas, os direitos humanos, o tráfico de drogas e as ações terroristas.
O conflito Norte-Sul
O fim do mundo socialista não só derrubou a ordem bipolar como fez com que a antiga divisão dos países em Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo não tivesse mais razão de ser. Como o Segundo Mundo, que era formado pelas nações socialistas, não existe mais, os países são classificados em ricos e pobres, ou desenvolvidos e subdesenvolvidos. E o mundo ficou dividido em países do Norte (desenvolvidos) e países do Sul (subdesenvolvidos).
Nessa nova divisão, agora segundo critérios econômicos, podemos reconhecer algumas características:
O grande contingente de ex-colômas asiáticas, africanas e americanas (com exceção de Estados Unidos, Canadá. Austrália e Nova Zelândia) forma o bloco dos países do Sul. Apesar de terem características comuns, esses países apresentam profundas diferenças entre si.
Alguns países se destacam na oferta de oportunidades para os investimentos das empresas transnacionais. São países subdesenvolvidos industrializados ou em fase de industrialização. Apesar das vantagens oferecidas, como mercado consumidor e incentivos fiscais, esses países representam grandes riscos, em virtude da constante instabilidade econômica ou política. São os chamados países emergentes, e o Brasil está entre eles.
Os antigos países socialistas são chamados hoje de países de economia "em transição", porque passam por uma fase de adaptação à economia de mercado. Apenas Cuba, Coréia do Norte e Víetnã ainda resistem como socialistas.
A África subsaanana está à margem da economia global. Seus países sofrem com conflitos tribais, fome, seca e a aids. Além disso, encontram-se na total dependência do FMl e do Banco Mundial. Diante desse estado de miséria, a África não desperta interesse, nem como consumidora nem como opção de investimento de capital especulativo.
A África apresenta graves problemas socioconomicos. Metade da população vive abaixo da linha da pobreza, ou seja, com renda inferior a 1 dólar por dia.
Na nova ordem mundial, o conflito Leste-Oeste da guerra fria foi substituído pelo conflito Norte-Sul, que opõe entre si as grandes diferenças que separam a riqueza, a tecnologia e o alto nível de vida da pobreza, da exclusão dos novos meios técnico-científicos e dos baixos níveis de vida.
A globalização
O fator fundamental para que a economia globalizada pudesse existir é a grande novidade da nova ordem mundial: a revolução dos meios de transporte e das comunicações. Hoje, fatos de qualquer natureza são transmitidos no tempo real para o mundo inteiro. Podemos assistir e acompanhar acontecimentos de qualquer parte da Terra no exato momento em que estão ocorrendo, seja uma corrida de Fórmula 1, um jogo da Copa do Mundo ou cenas dos conflitos no Oriente Médio. E possível comprar produtos fabricados em vários países em luxuosos shopping centers, na lojinha do bairro ou mesmo na barraquinha do ambulante da esquina.
A revolução técnico-científica
O setor mais importante dessa "revolução" é a indústria da informática, com o surgimento dos programas de computadores (softwares) e o avanço na técnica de armazenamento e processamento de informações através de redes digitais e cabos de fibras ópticas. A informática invadiu bancos, Bolsas de Valores, repartições públicas, hospitais, escolas, fábricas, lojas, supermercados e até mesmo a nossa casa.
Nas telecomunicações, destacam-se os satélites artificiais e os telefones celulares de alcance mundial. Existe uma integração entre a informática e as telecomunicações: a telemática (internet).
Outros campos também apresentam novidades, como o da biotecnologia, que é aplicada à medicina, à agricultura e à produção de alimentos. As palavras genoma (código genético) e transgênico (geneticamente modificado) já foram incorporadas ao vocabulário da mídia e das pessoas em geral.
As empresas globais
Após a Segunda Guerra, as grandes empresas dos países desenvolvidos "invadiram" os países subdesenvolvidos para fabricar seus produtos e aumentar ainda mais seus mercados de consumo.
Desse modo, não só fugiam dos pesados impostos e das severas leis trabalhistas de seus países de origem, mas também aproveitavam as vantagens da mão-de-obra mais barata nas novas unidades. Como seus produtos eram feitos em vários países, ficaram conhecidas como multinacionais. Hoje prefere-se denominá-las empresas transnacionais, uma vez que não são empresas de vários países, como a antiga terminologia poderia sugerir, mas empresas de um só país cuja ação ultrapassa fronteiras.
Nos anos 1980, as grandes empresas transnacionais perceberam que o modo de produção multinacional já não correspondia ao seu objetivo básico, isto é, mais lucro e aumento dos investimentos. Portanto, procuraram uma forma de aumentar esses lucros com a maior redução de custos (matéria-prirna e mão-de-obra).
A empresa transnacional passou, então, a ser global, isto é, a aproveitar todas as vantagens que o espaço mundial oferece. Ela pode, por exemplo, fazer o seu projeto nos Estados Unidos, fabricar os componentes em Taiwan e montar o produto na Argentina. Uma transnacional se instala sempre em lugares onde encontra vantagens para que seu produto chegue ao mercado a preços rnais baixos e com lucro maior para a empresa. Na fábrica global, os processos de produção são mundializados, isto é, possuem unidades de produção complementares em vários países.
A biotecnologia é um importante ramo da revolução técnico-científica da globalização.
Globalização regionalizada
Na economia-mundo há uma grande ampliação das trocas comerciais internacionais. Por causa dessa forte interação, alguns países procuram agrupar-se para enfrentar melhor a concorrência no mercado mundial.
A formação de blocos económicos é uma regionalização dentro do espaço mundial, mas também uma forma de aumentar as relações em escala global, pois, ao participar de um bloco, um país tem acesso a vários mercados consumidores, dentro e fora do seu bloco.
Os principais blocos regionais são: União Européia, Mercosul, Nafta eApec.
A globalização de ideias
Esse processo de integração mundial, chamado globalização, não é só econômico. Ele tem ao mesmo tempo uma dimensão política, social e cultural.
Para se estabelecer mundialmente, a grande empresa precisa da globalização cultural. O lazer, as formas de se vestir, as revistas, os jornais, as formas de consumo precisam ser parecidas em qualquer lugar do mundo, isto é, devem ser padronizadas.
O rádio e a televisão têm um papel importante na formação dessa cultura, pois. ao mesmo tempo que divulgam músicas, filmes e informações, sugerem um padrão de vida e de consumo que deve ser seguido para alcançar a felicidade.
Daí a importância de preservar e valorizar as culturas e identidades próprias de cada país, ameaçadas de desaparecer, em virtude do fortalecimento das fronteiras do capital e do comércio mundial.
A globalização do crime
As atividades do crime organizado também se beneficiam das facilidades tecnológicas das comunicações do mundo globalizado.
O tráfico de drogas, de mulheres e crianças, de órgãos, as "máfias" de várias nacionalidades (chinesa, japonesa, coreana, nigeriana, russa), além da original italiana, encontram maisfacilidades para expandir suas ações criminosas. O terrorismo espalha mais rapidamente suas células de ação pelo mundo graças a essas facilidades e aos inúmeros paraísos fiscais ou financeiros existentes.
A internacionalização do capital
"Países emergentes", "crise mundial", "Bolsas de Valores", "Velha Economia", "Nova Economia" são expressões constantemente citadas nos noticiários econômicos. Todas elas constituem o panorama da economia globalizada, marcada pela internacionalização do capital produtivo e especulativo.
O fluxo de capitais pelo mundo não é uma situação nova. No mercantilismo houve a internacionalização do capital comercial; e, no imperialismo, a internacionalização do capita! industrial. Após a Segunda Guerra, o capital produtivo se internacionalizou, quando as transnacionais se instalaram nos países subdesenvolvidos. A década de 1990 foi marcada pela internacionalização do capital especulativo (smart money).
A movimentação do capital especulativo
Aplicado a curto prazo, o capital especulativo movimenta-se com rapidez por vários mercados, em busca de maiores lucros, graças ao desenvolvimento dos meios de comunicação. Os principais atrativos que esses mercados podem oferecer são juros altos e segurança.
Os chamados países emergentes são muito procurados para esse tipo de aplicação, que, na realidade, traz pouco ou nenhum benefício para as economias nacionais: não gera produção nem emprego, apenas lucro fácil para quem aplica. Como esse capital pode ser transferido de uma hora para outra, ao menor sinal de insegurança do mercado, ele é retirado por seus aplicadores, gerando graves crises nas economias emergentes.
Quando diminui a "confiança", o capital especulativo realiza um movimento conhecido como "fuga de qualidade" e vai buscar investimentos mais seguros. Os títulos do Tesouro americano (T-bonds), considerados as aplicações mais seguras do mundo, substituem os C-bonds, que são os mais negociados entre os bradies, títulos da dívida externa de países emergentes. Como na economia globalizada um país depende do outro, as crises nas economias emergentes alastram-se como epidemia por todo o mundo. Tivemos um exemplo dessa situação com a crise mundial de 1997-1999, que se originou no Sudeste Asiático em 1997, atingiu a Rússia em 1998, o Brasil em 1999 e a Argentina em 2001. Em 2002, as dificuldades chegaram a vários países latino-americanos: Uruguai, Paraguai, Equador, Venezuela e Brasil.
Aprenda um pouco mais
As Bolsas de Valores
Os capitais especulativos são negociados nas Bolsas de Valores. Em seus pregões são negociadas ações, isto é, "papéis" de empresas de capital aberto.
As empresas de capital aberto são compostas de um acionista majoritário e vários outros com participação menor (que compram ações nas Bolsas).
Como é definido o preço de uma ação:
Valor patrimonial: valor dos bens da empresa, descontados seus encargos.
Valor das oportunidades futuras: medido pelas perspectivas favoráveis ou desfavoráveis da empresa.
As Bolsas de Valores refletem bem a situação econômica do momento. Nas épocas de crise os investidores querem vender suas ações com medo do desempenho das empresas. Quando isso acontece as ações desvalorizam e as Bolsas "caem". A situação mais grave é a quebra da Bolsa (crash), como aconteceu ern Nova York, em 1929. Nesse caso, a queda no preço das ações é muito grande. O principal motivo da quebra é o fato de todos os investidores quererem vender suas ações e ninguém querer comprar. No mundo globalizado, com mercados interligados, a crise na Bolsa de um país acaba afetando todas as outras.
Muitas vezes as quedas nas Bolsas de Valores acontecem quando o "risco-país" aumenta. O que é risco-país?
Na prática, a taxa do risco-país reflete qual é a possibilidade de o país pagar ou não sua dívida interna e, principalmente, externa. Quanto maior for a taxa de risco de um país, mais altos serão os juros que o governo terá de pagar para renovar seus empréstimos ou obter novos. Os investidores vão, então, em busca de aplicações mais seguras.
Dê exemplos de situações de crise em Bolsas de Valores na década de 1990.
Explique por que os países emergentes são os mais prejudicados nessas ocasiões.
Agitação no pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
A informática e a Nova Economia
O movimento das Bolsas de Valores na atual fase do capitalismo retrata as transformações pelas quais o sistema financeiro tem passado.
Há uma separação no mercado financeiro: de um lado, as empresas tradicionais, medidas pelo índice Dow Jones da Bolsa de Nova York. Do outro, a Nasdaq, da mesma instituição e referente às empresas de computadores, informaitica e telefonia. O índice Dow Jones mede as ações da Velha Economia e o Nasdaq faz o mesmo com as ações da Nova Economia.
Estatua do touro de Wall Street, símbolo do centro financeiro de Nova York.
Como Velha Economia entendemos o mercado das empresas tradicionais: indústrias de automóveis, de tabaco, companhias de petróleo, etc.
Mas a grande novidade da globalização é o que chamamos de Nova Economia. De certa forma, a Nova Economia veio alterar profundamente o mundo dos negócios e o mercado de trabalho. Como reúne as empresas de computadores, a internet e a telefonia, ela é, em última análise, a responsável pelo processo de internacionalização dos mercados, uma vez que forneceu as facilidades tecnológicas para que isso ocorresse. Na Nova Economia, o dinheiro passa de um lugar para outro ao simples toque de um computador. A internet é a grande "estrela" desse sistema. Ela pode significar maior contato entre as pessoas ou um maior mercado para as empresas.
Entretanto essa mesma Nova Economia, que trouxe inúmeras vantagens, tem o seu lado negativo. Dependentes de alto investimento de capital e de tecnologia de ponta, as facilidades oferecidas por essas empresas se restringem a uma parcela da humanidade. A maior parte dos países pobres não tem acesso a elas, o que aprofunda mais as diferenças entre países subdesenvolvidos e desenvolvidos.
A tecnologia sofisticada também extingue postos de trabalho. É a máquina substituindo o homem. Essa situação fica evidente no uso de caixas eletrônicos pelos bancos, em estacionamentos que dispensam recepcionistas e em ônibus sem a presença de cobradores. Outras vagas são criadas nas empresas da Nova Economia. Porém, é preciso uma qualificação mais apurada para realizar o tipo de serviço que elas requerem. O funcionário que desempenhava funções mais simples, e foi substituído pela máquina, quase sempre não tem condições de assumir nenhum dos novos postos criados.
Bolsa Eletrônica Nasdaq, símbolo da Nova Economia.
As chamadas "empresas pontocom", que usam a internet, principalmente para realizar o "e-com-merce" (comércio eletrônico), foram os destaques na Bolsa eletrônica até 1999. Desde então, os tempos mudaram. Passada a euforia, muitas empresas fecharam, demitiram funcionários e colocaram o seu endereço eletrônico na internet (URL) à venda. A instabilidade dessas empresas parece continuar no mercado global.
A importância das atividades terciárias
Na atual fase da evolução do capitalismo, o setor terciário assume uma importância cada vez maior e suas atividades adotarn métodos do setor secundário, como a produção em massa e a substituição do homem pela máquina.
Entre as atividades terciárias de grande expansão na economia globalizada, podemos destacar as empresas de telecomunicação, o turismo e o setor de prestação de serviços variados, caracterizado por pequenas empresas. Verifica-se também o crescimento da informática e da internet. Essas atividades oferecem cada vez mais vagas a empregados diferenciados, uma vez que precisam de mão-de-obra mais qualificada e especializada.
Além disso, aumenta o número de indústrias que oferecem suporte técnico a essas atividades. como a produção de softwares na informática e a biotecnologia para as indústrias de alimentos e a agricultura.
As gigantes das telecomunicações
Ramo que se expande cada vez mais, compreendendo telefonia móvel e fixa, internet, televisão a cabo, emissoras de rádio, rastreamento por satélites, as telecomunicações constituem um dos setores cujos investimentos mais têm crescido nos últimos anos.
No Brasil, o setor era estatizado até a décadade 1990. Nos últimos anos, seguindo a política de privatização do governo, empresas transnacionais desse ramo estão expandindo suas atividades no país, como a Telefônica, que pertence a um grupo espanhol.
Turismo
A atividade turística compreende cerca de um terço do total global do setor de serviços, revelando um forte crescimento nos últimos anos.
Várias atividades nesse setor estão ligadas ao turismo: bares, hotéis, restaurantes, museus, galerias, monumentos históricos e igrejas. Agentes de viagens, operadoras, empresas de transporte completam esse mundo que compreende, ainda, as edições de guias para os mais diferentes lugares do mundo (mercado editorial).
O turismo cria empregos que nem sempre são bem remunerados. Em regiões que recebem muitos visitantes, é inevitável a existência de vendedores oferecendo toda sorte de lembranças e objetos típicos do lugar.
Nos países subdesenvolvidos, a população local, ainda sem formação específica para os empregos oferecidos, procura se beneficiar desses expedientes ou ocupa cargos remunerados com baixos salários.
Com a internacionalização da economia, o turismo de negócios que envolvem eventos, feiras e congressos favorece vários outros setores e torna atraentes cidades que, até então, não despertavam interesses turísticos. É o caso de São PauIo, que realiza quase 74 mil eventos por ano, os quais, em 2000, renderam à cidade cerca de 2,6 bilhões de reais. O turismo de negócios atraiu para São Paulo investimentos no setor hoteleiro, como as redes Sofitel, Sheraton, Accord, Hyatt, Marriot, Blue Tree, Hilton e outras. Beneficia, também, atividades, como restaurantes, casas noturnas e serviços de táxi.
A procura por lindas paisagens, ambientes naturais preservados e animais exóticos aquece outro ramo do turismo que está cada vez mais em alta: o ecoturismo. A Amazônia e o Pantanal são exemplos de lugares onde se desenvolve esse tipo de atividade.
Novas estratégias: a terceirização
A estratégia da indústria para obter mais lucro está sempre se aperfeiçoando. Depois das transnacionais, que buscavam vantagens nos países subdesenvolvidos, e das empresas globais, que encomendam seus produtos em países emergentes, temos a indústria "sem fábrica" em vários setores.
A terceirização é mais uma forma que as empresas encontraram para reduzir seus custos. Consiste em contratar outras companhias para fabricar produtos ou fornecer serviços.
Apesar das vantagens financeiras, quem terceiriza sua produção corre riscos. Além da quebra de sigilo, a empresa contratada pode repassar o serviço a outros e, com isso, haver queda de qualidade. Mas, na verdade, os maiores prejudicados são os empregados, que podem ser despedidos se o setor em que trabalham for terceirizado. Hoje em dia, é muito comum as grandes empresas contratarem prestadores de serviços, como firmas de limpeza, de segurança e de preparo de refeições.
O lado triste da globalização
A parte cruel da atual fase do capitalismo financeiro é a globalização da pobreza. Há uma diferença cada vez rnaior entre ricos e pobres, sejam pessoas, regiões ou países. Verifíca-se um gradual empobrecimento da população, mesmo nos países desenvolvidos.
Podemos dizer que a mesma tecnologia que trouxe conforto e melhoria de vida às pessoas reduziu os postos de trabalho. A demanda de mão-de-obra qualificada aumentou e a oferta para trabalhadores sem o preparo necessário diminuiu.
Até nas competições esportivas os países vencedores refletem as desigualdades econômicas. Você pode verificar que os países com os melhores desempenhos são ricos e estão-concentrados, em sua maioria, na Europa. Os países com os piores desempenhos são nações pobres, em sua maioria localizadas na África, na América Latina, na Europa do Leste e na Oceania.
Os protestos contra a globalização
A política neoliberal, as transnacionais e as desigualdades econômicas criadas pela globalização têm sido alvo de protestos em vários países do mundo. Em 2001, 2002 e 2003, o Brasil sediou o Fórum de Porto Alegre (Fórum Social Mundial), realizado como oposição ao Fórum de Davos (Fórum Econômico Mundial), promovido pelo G-7 na Suíça, e à forma de globalização excludente defendida pelos países que formam esse grupo. O Fórum Social Mundial tem como lema a frase "Um outro mundo é possível" e o Fórum Econômico Mundial se diz "comprometido com o aperfeiçoamento do estado do mundo".
As formas de protesto da oposição muitas vezes envolvem depredações, violência, ataques à propriedade privada, o que certamente não leva a nenhuma conquista efetiva dos opositores. Apesar disso, está claro que uma globalização mais igualitária, corn a erradicação da miséria e respeito ao meio ambiente, é o que todos pretendemos ter um dia. Falta encontrar a fórmula certa para isso.
O que há de novo?
Mumbai 2004: O Fórum Social Mundial frente à guerra ininterrupta no seio do Império
A realização do IV Fórum Social Mundial na megalópole indiana de Mumbai, na segunda quinzena de janeiro de 2004, abriu um capítulo de rearticulação dos movimentos por uma nova globalização. A emergência de uma nova marca de solidariedade e de um novo espaço de articulação de movimentos e lideranças intelectuais que se colocam contra a globalização neoliberal, contra o novo imperialismo belicista, e na disputa contra-hegemônica face ao Império, encontrou em Mumbai um laboratório para enfrentar os bloqueios postos pela criminalização geral do protesto social no âmbito da "guerra ininterrupta contra o terror".
A doutrina inaugurada por Bush procura unificar um discurso e uma prática comuns para os pólos dominantes do sistema internacional, embora a ação prática norte-americana tenha gerado um conjunto de problemas, por força do unilateralismo e com a invasão do Iraque.
O caráter local das lutas nos territórios e as dificuldades de implementar urn movimento alternativo global encontram as mais diversas barreiras organizacionais e comunicativas.
A dificuldade de articular as dinâmicas das lutas sociais autônomas e os processos políticos de resistência, para promover um deslocamento de forças de âmbito global face ao novo contexto imperial, exigia um espaço de experimentação coletiva que rompesse com o muro cultural que divide os sujeitos sociais dispostos a buscar alternativas. Tanto no centro quanto na semiperiferia, e na periferia do sistema internacional, todos atravessados pelas práticas e dinâmicas de não territorialidade, virtuais e em rede do capitalismo globalitário, foram inúmeras as dificuldades para a organização das lutas.
A primeira grande mudança foi combinar a realização de encontros ou de FSMs regionais nos continentes com o deslocamento para um outro lugar semiperiférico, do Brasil para a Índia. Saindo de uma das cidades mais ocidentalizadas e com menos centralidade enquanto cidade global no Brasil - Porto Alegre (que foi o importante laboratório de criação de projetos que reanimam o imaginário da esquerda internacional sobre a democracia direta no modo de governar) - para uma das cidades que combinam o global, o nacional e o internacional de forma tão traumática e complexa - Mumbai, na Índia.
(Extraído de: <www.fase.org br>. Acesso em mar. 2004.
01) Caracterize o "império belicista" citado no texto.
02) Explique o trecho sublinhado no texto.
VERIFICANDO A APRENDIZAGEM
Diferencie bipolaridade de multipolaridade.
Que denominação é dada aos antigos países socialistas? Cite três desses países.
Que papel a África desempenha na nova ordem mundial?
"O crescimento do desemprego na Europa oriental, na antiga União Soviética e na China é significativo e extremamente desconcertante para os apologistas do capital precisamente por isso. Pois a adoção dos ideais da 'prosperidade de mercado' não trouxe para a população desses países a 'nova prosperidade' prometida. Ao contrário, ela os expôs aos perigos do capitalismo selvagem e do desemprego em massa, generalizando assim por todo o mundo a condição do desemprego crônico como a tendência mais explosiva do capital."
(Extraído de: István Mészáros. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo, Editora da Unicamp/Boitempo Editoral, 2002. p. 336.)
O que significa a "prosperidade de mercado"?
Que causas são responsáveis por tornar o de semprego uma tendência mundial?
O subdesenvolvimento
"O desenvolvimento industrial de países subdesenvolvidos, superando parcialmente o papel histórico de fornecedores de alimentos e matérias-primas, implicaria a instauração de uma nova dependência financeira e tecnológica com relação aos países desenvolvidos."
(Extraído de. José M. Rego e Rosa M Marques, orgs. Economia brasileira. São Paulo, Saraiva, 2000. p. 95)
A situação de subdesenvolvimento não é estranha a nós brasileiros. Apesar de estarmos entre os países subdesenvolvidos industrializados, o Brasil apresenta grandes diferenças regionais, desigualdades sociais e grande dependência do capital estrangeiro, que caracterizam o subdesenvolvimento.
Para entender melhor como essa situação se tornou marcante em nossa economia e na da maior parte das nações do mundo, veremos a seguir as suas origens e as suas principais características.
As origens do subdesenvolvimento
Quando estudamos a evolução do capitalismo, pudemos perceber que a desigualdade das relações entre os países favoreceu a concentração de riquezas nas mãos de algumas nações e a generalizada pobreza de grande parte do mundo.
Podemos dizer que as origens do subdesenvolvimento estão no longo período de dominação política e econômica e no tipo de relação estabelecida entre colônia e metrópole, durante a existência dos grandes impérios coloniais.
Esses grandes impérios surgidos nos períodos denominados colonialismo (século XV a XVIII) e imperialismo (século XIX) refletiam o poder de antigas potências mercantilistas (Portugal e Espanha)e de potências da Revolução Industrial (França, Inglaterra e Holanda).
Ao se tornarem independentes, as ex-colônias somaram aos problemas decorrentes de sua antiga relação com as metrópoles outros originados da própria incapacidade de administrar seus destinos. Governos ditatoriais, submissão aos interesses de empresas transnacionais, corrupção, conflitos étnicos e dívida externa vieram agravar a situação de pobreza já existente nesses países.
O jogo do poder
A divisão internacional do trabalho (especialização de cada país no mercado mundial) sempre foi controlada pelos países ricos.
Durante o colonialismo e o imperialismo, a metrópole monopolizava o comércio com as colônias (o exclusivo metropolitano). Com a independência das colônias, as antigas metrópoles descobriram outros meios de garantir seus lucros no relacionamento com as novas nações.
Logo após a independência política, essas novas nações especializaram-se na exportação de matérias-primas agrícolas e minerais e tornaram-se mercado consumidor para os produtos industrializados dos países ricos (DIT clássica).
Após a Segunda Guerra Mundial, tornou-se cada vez maior a atuação das empresas transnacionais, que passaram a buscar nesses novos países não só um mercado para vender seus produtos e aplicar seus capitais, mas também matéria-prima abundante e mão-de-obra barata.
Com o novo papel exercido por alguns países subdesenvolvidos que se industrializaram, como Brasil, Índia, África do Sul e Coreia do Sul, a divisão internacional do trabalho ficou mais complexa e ampliou-se cada vez mais, e a dependência desses países com os países desenvolvidos aprofundou-se.
Capitais (produtivos, especulativos, juros de dívida, pagamento de royalties e lucros de transnacionais), produtos industrializados e agrícolas e matérias-primas minerais circulam ininterruptamente dos países ricos para os pobres e vice-versa (DIT da nova ordem mundial).
O antigo Terceiro Mundo
Com a decadência das potências coloniais, após a Segunda Guerra Mundial, teve início o processo de descolonização de países da África e da Ásia (1946-1975), que, somados aos países da América Latina, independentes desde o sécuío XIX, acabaram por formar um conjunto que por muitos anos foi chamado de Terceiro Mundo.
O processo de descolonização deixou claro que as antigas colônias não competiriam em igualdade de condições com as nações que já haviam realizado sua revolução industrial e atuado corno potências coloniais durante o período do colonialismo e do imperialismo.
Os novos países que nasciam tinham problemas decorrentes de anos de dominação colonial, como economias adaptadas ao mercado externo, exercendo o papel de produtores de matérias-pnmas minerais e agrícolas.
Passamos a ter, desse modo, países capitalistas ricos que ocupavam o centro do sistema por eles criado, usufruindo de todas as suas vantagens, e países capitalistas periféricos agregados ao sistema para que servissem ao capitalismo central, oferecendo, entre outras vantagens, matéria-prima e mão-de-obra abundantes e de baixo custo.
A expressão Terceiro Mundo foi criada, em 1952. pelo demógrafo francês Alfred Sauvy, que, em um artigo publicado pelo semanário francês France Observateur, comparou os problemas dos países subdesenvolvidos com os do Terceiro Estado existente na França antes da Revolução Francesa. O Terceiro Estado compreendia o grande contingente da população, que não possuía os mesmos privilégios do Primeiro Estado e do Segundo Estado, compostos pelo clero e pela nobreza, respectivamente.
Como na época em que a expressão foi criaria o sistema socialista era adotado em vários países do mundo, estabeleceu-se uma divisão que considerava o Primeiro Mundo, o Segundo Murido e o Terceiro Mundo.
O Primeiro Mundo abrangia os países capitalistas centrais; o Segundo Mundo era formado pelas nações socialistas (ricas e pobres); e o Terceiro Mundo era composto pelos países capitalistas periféricos.
Após o fim do mundo socialista, no início da década de 1990, essa classificação deixou de ser empregada.
O Movimento dos Países Não-Alinhados
As novas nações independentes surgiam num contexto mundial marcado pela guerra fria, em que socialistas (URSS) e capitalistas (EUA) disputavam avidamente o controle de cada nova nação que surgia, e os países ricos queriam manter os preços das matérias-primas no mercado mundial.
Foi nesse contexto que alguns líderes de países africanos e asiáticos defenderam o direito de manter uma postura de eqúidistância geopolítica das superpotências, isto é, não estar alinhado com nenhuma delas. Por outro lado, exigiam uma postura diferente dos países ricos no mercado mundial. Para isso, reuniram-se na Indonésia, governada por Ahmed Sukarno, em 1955, na Conferência de Bandung (Indonésia), para reivindicar seus direitos e colocar em evidência as desigualdades entre países ricos e pobres, o conflito Norte-Sul, deixando de lado o então acirrado conflito Leste-Oeste.
A conferência foi organizada por índia, Paquistão, Birmânia (atual Mianma), Ceilão (atual Sri Lanka) e Indonésia e reuniu 29 países africanos e asiáticos. Nenhum país europeu e americano esteve presente em Bandung. Os países latino-americanos não foram chamados porque eram dominados economicamente pelos Estados Unidos. O líder iugoslavo Josip Tito teria, mais tarde, importante participação na formação do bloco dos países não-alinhados.
Os principais líderes do movimento foram Gamai Abdel Nasser, do Egito, Jawaharlal Nerhu. da Índia, e Josip Tito, da lugoslávia. que, em 1956, reunidos na ilha de Brioni, no mar Adriático, tentaram, seguindo as orientações de Bandung, deixar mais forte essa "terceira força", que deveria ter papel mais atuante na Assembleia Geral da ONU, significando uma alternativa entre o capitalismo dos Estados Unidos e o socialismo da União Soviética.
Em setembro de 1961, realizou-se a Conferência de Cúpula de Belgrado (lugoslávia), onde foi oficialmente criado o Movimento dos Países Não-Alinhados (MNOAL), dessa vez com a participação de um país latino-americano: Cuba.
Desde então até fevereiro de 2004, realizaram-se doze conferências do Movimento dos Países Não-Alinhados, que reúne cento e dez países africanos, asiáticos e latino-americanos, um da Oceania (Vanuatu) e três do continente europeu (Chipre, Malta e Belarus).
As características do subdesenvolvimento
Apesar de encontrarmos grandes diferenças entre os países subdesenvolvidos, algumas características são comuns a todos eles:
Grandes desigualdades sociais: causadas pela grande concentração e injusta distribuição de renda. Péssimas condições de habitação e de saneamento básico, desnutrição e até mesmo miséria e fome são consequências dessa desigual distribuição de renda.
Dependência financeira e tecnológica: com mercados dominados pelas empresas transnacionais e organismos financeiros internacionais. Essa dependência é agravada pelo processo de descapitalização da economia, isto é, a saída de capitais que voltam como lucros ou pagamento deroyalties às sedes das transnacionais, situadas em seu país de origem.
Dívida externa: paga mentos a empresas de países desenvolvidos e ao FMI comprometem boa parte da renda, que poderia ser utilizada em benefício da população local, permitindo que ela tivesse acesso a maior número de benefícios, como escolas, creches e hospitais. A dívida externa foi a maneira que os países ricos encontraram para manter dependentes economicamente os novos países livres politicamente. Os países da América Latina e da África são os mais penalizados pelas altíssimas dívidas externas, embora a chamada África subsaariana apresente a situação mais crítica porque suas exportações de produtos primários alcançam preços muito baixos no mercado global.
Balança comerciei desfavorável: as importações quase sempre superam as exportações na grande maioria dos países subdesenvolvidos, cuja base da economia são os produtos primários.
Indicadores sodoeconõmicos desfavoráveis: podemos citar, como exemplo, altas taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo e baixa renda per capita. Compare alguns indicadores de países desenvolvidos e de países subdesenvolvidos.
Fontes: 1. ONU. Fundo das Nações Unidas para a População e Desenvolvimento (PNUD)
2. ONU. Relatório do Desenvolvimento Humano, 2003
3. World Bank. Worid Dei<eiopment Indicatws 2003
Diferenças no subdesenvolvimento
Não existe homogeneidade entre os países subdesenvolvidos. Embora sejam todos dependentes e com problemas, uns são mais pobres do que os outros.
A grande maioria dos países subdesenvolvidos manteve o mesmo status da época colonial: são exportadores de matéria-prima mineral ou vegetal. Podemos citar, como exemplo, Colômbia (café e esmeralda}, Chile (cobre), Angola (diamante), Bolívia (estanho e gás natural), Venezuela (petróleo), Iraque (petróleo), Gana (cacau) e Nigéria (petróleo).
Alguns dos países subdesenvolvidos se industrializaram no século XX, mas essa revolução industrial foi tardia e dependente do capital e da tecnologia dos países ricos.
Esse grupo rnais categorizado, entre o grande número dos países subdesenvolvidos, constitui os novos países industrializados, também chamados de economias emergentes e países capitalistas semiperiféricos.
Pertencem a esse "seleto grupo" Brasil, Argentina. México, Índia, África do Sul e os "Tigres Asiáticos" (Hong Kong, Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura), que serão estudados nos próximos capítulos. Alguns desses países possuem empresas que ultrapassaram suas fronteiras e atuam em várias partes do mundo, como você pode verificar na tabela abaixo.
Leitura e reflexão
Um mundo cada vez mais desigual
Estariam a abertura econômica e a globalização propiciando uma maior convergência entre ricos e pobres - pessoas e países - como pregam correntes predominantes do pensamento neoliberal há mais de duas décadas? O que está acontecendo com a distribuição da renda mundial, esse assunto ao mesmo tempo tão esquecido e tão difícil de estudar? Há, de fato, boas razões para integrar crescentemente as economias às correntes globais, ou os movimentos antiglobalizacão - que proliferam corno cogumelos - teriam razões adicionais para suas queixas se pudéssemos apurar com mais exatidão quem está se beneficiando delas?
Essas questões críticas para o entendimento da dinâmica econômica, social e política de nossa época ainda estão envolvidas em brumas intencionais. A dificuldade da exata apuração dos dados, sujeitos a enormes dificuldades estatísticas e econométricas - e o poderoso discurso hegemônico enfatizando os benefícios da abertura económica -, favoreceu a proliferação da idéia-desejo de que a desigualdade geral estaria diminuindo. Quem contestasse essa linha geral era imediatamente apontado como incompetente ou acometido de desvio ideológico.
Nesses três anos, no entanto, o desconforto com as consequências negativas da globalização ganhou as ruas e contaminou definitivamente os salões das conferências e das instituições internacionais. Além do expressivo aumento da vulnerabilidade externa dos grandes países da periferia, fortemente afetada pela abertura econômica - que provocou grande crescimento das importações, mas possibilitou apenas um pequeno avanço nas exportações -, um forte e geral sentimento de insatisfação mundial acionou alarmes e acendeu luzes amarelas. Em suma, o mundo tornou-se muito mais desigual entre 1988 e 1993, concentrando ainda mais os eventuais resultados do progresso. Nesse período o índice de Gini passou de 62,5 para 66,0. A renda mundial apropriada pelos mais pobres caiu 27%, enquanto a dos mais ricos aumentou em 8%. Embora os dados globais não estejam ainda disponíveis, há evidências claras de que essa tendência se agravou entre 1994 e 2002.
Mas o que fazer se, como diz Manuel Castells, "a globalização é um processo objetivo, não uma ideologia, embora tenha sido utilizada pela ideologia neoliberal como argumento para arvorar-se como única ideologia possível"? O drama consiste em que, embora as evidências estejam todas aí, não há uma proposta alternativa sólida que permita conciliar a atual e eficiente produção capitalista às demandas sociais essenciais ao equilíbrio da sociedade mundial. E o grande desafio desse início de século, à espera de boas propostas.
(Adaptado de: Gilberto Dupas. O Estado de S. Pauto, 9 mar. 2002)
Cite três elementos que confirmam o título do texto acima.
O que há de novo?
Brasil ocupa 65º lugar em ranking de informática da ONU
A ONU (Organização das Nações Unidas) publicou ontem o primeiro ranking mundial de acesso à internet e outras tecnologias da informação. De acordo com o estudo, realizado pela ITU (International Telecommunications Union), agência ligada à ONU, o Brasil é o 65° colocado entre os países com maior acesso digital.
Pelo levantamento, que leva em conta cinco quesitos - infra-estrutura, preço, alfabetização (nível de instrução), qualidade e número de usuários -, o acesso a tecnologias da informação no Brasil é inferior ao de nações como Kuwait (60º), Costa Rica (58ª), Jamaica (57ª), Argentina (54ª), Uruguai (51ª) e Chile (43ª).
No Brasil, apenas 8,2% da população têm acesso a essas tecnologias. Além disso, o estudo revela que a mensalidade cobrada pelos provedores de acesso à internet é muito alta no país - consome 11,8% da renda média mensal do brasileiro.
Com exceçào do Canadá, os dez países com maior acesso à internet e outras tecnologias da comunicação são exclusivamente asiáticos e europeus. A Suécia aparece em primeiro lugar, seguida pela Dinamarca, Islândia, Coréia do Sul, Noruega e Holanda. De acordo corn a ITU, da sexta à décima colocação aparecem, nesta ordem, Hong Kong, Finlândia, Taiwan e Canadá, Estados Unidos e Reino Unido aparecem na 11a e na 12ª colocações, respectivamente.
Os quinze últimos países no rankmg da ITU são africanos. Entre eles estão: Congo, Moçambique, Angola e Etiópia. A Nigéria é a nação com o menor índice de acesso digital entre as 178 pesquisadas pela agência da ONU.
(Extraído de: Folha on-line. Informática. 20 nov. 2003.)
Levando em consideração os índices utilizados pela ONU na elaboração do ronking de informática, faça uma análise dos resultados apresentados.
VERIFICANDO A APRENDIZAGEM
01) Leia os textos com atenção:
Terto l
"Durante a conferência de desenvolvimento de Monterrey (México), em março de 2002, circulou a ideia da criação de um Plano Marshall para os países subdesenvolvidos que, de acordo com os pedintes, livraria os países pobres das mazelas que os vitimam.
Iniciativa semelhante já havia arrebatado o mundo na virada do milênio, quando, numa improvável aliança, Bono Vox, do grupo de rock U2, e o sumo pontífice João Paulo II comandaram o projeto pelo perdão da dívida externa dos países mais pobres, conhecido como Jubileu 2000...
A história da ajuda financeira é o relato do insucesso. Não só os países que mais recebem ajuda humanitária foram incapazes de iniciar a rota do crescimento econômico como também, agora, surgem evidências de que a ajuda externa está positivamente relacionada à corrupção nesses países e ao incentivo à mamada nas tetas do Estado (ou rent-seeking, em inglês). O auxílio, quando dado tarde demais (a norma, aliás), apenas serve de incentivo para o adiamento de reformas e do processo de estabilização de um país e, de acordo com um estudo, três quartos do auxílio se transformam em inchaço nas despesas do governo sem que a escolaridade ou os serviços de saúde dos países que recebem a ajuda melhorem - indicação de que muitas das despesas vão parar em, digamos, Jersey..."
(Extraído de: Primeira Leitura, São Paulo, jun. 2002. p. 117-118.)
Texto 2
"Brasil, Uruguai e Argentina precisam implantar políticas que garantam que, assim que o dinheiro auxiliar for concedido, trará benefícios, e não simplesmente sairá do país para contas na Suíça."
(Extraído de Paul 0'Neill, secretário do Tesouro americano, Veja, 7 ago. 2002 p 38.)
a) Caracterize o Plano Marshall. Caso seja necessário, reveja o que você já estudou sobre o assunto neste livro.
b) Compare os dois textos e identifique os principais motivos que muitas vezes levam ao mau aproveitamento de verbas recebidas por países pobres.
02) Algumas características são comuns aos países subdesenvolvidos. Escolha duas e explique-as.
03) Os países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, apesar de alguns traços comuns, não formam um conjunto homogéneo de nações. Justifique.
04) Escreva sobre as vantagens que os países subdesenvolvidos apresentam em relação à instalação de transnacionais.
As economias em transição e os últimos socialistas
"O Muro de Berlim não desabou num só dia, nem sequer numa só estação. A crise na Alemanha Oriental começou quatro anos antes dos dramáticos acontecimentos de 1989, a muitos quilômetros de distância - com a perestroika e a democratização da URSS. Quando o descontentamento na Alemanha Oriental se transformou num movimento de massas, o povo sabia que minha política de 'liberdade de escolha' não era só um slogan publicitário. Sabia que não se repetiriam os acontecimentos da Primavera de Praga e os tanques do Pacto de Varsóvia não interviriam. Os alemães-orientais exerceram sua liberdade de escolha derrubando o Muro de Berlim. Nunca lamentei minha decisão."
(Mikhail Gorbachev, nas comemorações de dez anos da queda do Muro de Berlim, 7 nov. 1999.)
O Leste europeu
O primeiro país socialista do mundo, a URSS, estendeu sua influência sobre vários países da Europa. Assim, logo após a Segunda Guerra Mundial, foram instalados governos socialistas na Europa oriental.
Durante cinquenta anos, a região, também denominada Leste europeu, fez parte do chamado Segundo Mundo, formado pelos países socialistas, e foi duramente controlada pela URSS através do Pacto de Varsóvia, aliança militar firmada em 1955 como resposta do Leste à Otan.
Polônia, Alemanha Oriental, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, lugoslávia, Bulgária e Albânia formavam um bloco fechado, separado do resto da Europa pela "cortina de ferro". É preciso salientar que, apesar de se desentenderem e se afastarem de Moscou, Albânia e lugoslávia se mantiveram socialistas e sob regimes ditatoriais.
O fim do socialismo no Leste europeu
Na década de 1980, o Leste europeu começou a sofrer a transformação radical pela qual iria passar nos últimos vinte anos. As políticas postas em prática por Mikhail Gorbachev apressaram o fim do socialismo na URSS e também nos países do Leste europeu. A política da glasnost, ao restabelecer a livre expressão do pensamento e introduzir o pluripartidarismo, fez renascer nesses países o sentimento de liberdade tão severamente reprimido durante a dominação soviética.
O ano de 1989 foi decisivo para o fim do bloco socialista europeu. Sem os ataques de Moscou, os regimes socialistas da Europa oriental ruíram um após o outro. Foi precisamente no segundo semestre desse ano que Gorbachev visitou a Alemanha Oriental, precipitando a queda do Muro de Berlim e a reunificação do país.
Os pioneiros: Polônia e Hungria
A cidade portuária de Gdansk, às margens do mar Báltico, na Polônia, foi o berço do sindicato Solidariedade, fundado em 22 de setembro de 1980, que reivindicou, pela primeira vez, a liberdade de expressão dos trabalhadores atrás da "cortina de ferro". O Solidariedade foi responsável pela crise do socialismo no país. Nessa época, seus líderes, entre os quais o mais expressivo era Lech Walesa. foram presos e o sindicato colocado na ilegalidade, embora continuasse atuando de forma clandestina.
Os primeiros ares da abertura política na Polônia começaram a soprar após a legalização do Solidariedade, em 1989. No mesmo ano. a URSS começava a retirar do Leste europeu suas tropas do Pacto de Varsóvia. Sem a pressão militar dos soviéticos, as medidas liberais ganharam força, não só na Polônia como em outros países da região.
Ainda em 1989, a Polônia conheceu mudanças radicais no panorama político do país. Elegeu para o Parlamento uma maioria oposicionista que confirmou um ex-diretor do jornal do Solidariedade corno primeiro-ministro. País de tradição católica, a Polônia havia rompido relações com o Vaticano desde a chegada dos socialistas ao poder, em 1944. Mesmo com a eleição do papa João Paulo II, polonês de nascimento, em 1978, as relações não haviam sido restabelecidas. O reatamento dessas relações e a liberdade religiosa fizeram parte dessas mudanças.
Em 1990, o antigo líder do sindicato Solidariedade, Lech Walesa, preso na década de 1980, tornou-se presidente através das primeiras eleições livres realizadas no país, após s queda do regime socialista.
A Hungria também iniciou suas reformas em janeiro de 1989, quando o Parlamento aprovou a lei que permite o pluripartidarismo, acabando com a "ditadura do partido único". O país tornou-se uma democracia e passou a se chamar República da Hungria.
Cai o Muro de Berlim
O Muro de Berlim, erguido em 1961 é símbolo da divisão do mundo na guerra fria, parecia estar com seus dias contados depois que os ventos da glasnost começaram a soprar no bloco socialista. Erich Honecker, secretário-geral do Partido Comunista alemão-oriental, continuava a dirigir o país com mão-de-ferro, enquanto Gorbachev realizava reformas na URSS e outros países socialistas seguiam seu exemplo.
Essa situação causou manifestações populares que atingiram o auge durante a visita do líder soviético por ocasião das comemorações dos quarenta anos da criação da Alemanha Oriental, em 7 de outubro de 1989. Nesse mesmo mês o presidente foi afastado e o novo líder, Egon Krenz, assumiu prometendo diálogo e reformas para acalmar os ânimos do povo.
Porém, em 9 de novembro de 1989, quando, a conselho de Gorbachev, o governo anunciou uma medida que permitia que os alemães-orientais viajassem livremente para o Ocidente, a própria população tomou a iniciativa de derrubar o muro que dividia a Alemanha - o Muro de Berlim, o "Muro da Vergonha".
Em 1990, Lothar de Maiziere, primeiro-ministro da Alemanha Oriental, negociou a unificação das duas Alemanhascom o chanceler Helmut Kohl, que governava a Alemanha Ocidental. A República Democrática Alemã não existia mais. Em 3 de outubro de 1990, a Alemanha estava reunificada.
Trecho preservado do Muro de Berlim, que foi o marco visível da guena fria ao separar os setores capitalista e socialista da atual capital alemã.
Tchecoslováquia e Bulgária
Na Tchecoslováquia, país formado após a Primeira Guerra, unindo tchecos e eslovacos (1918), a Revolução de Veludo, movimento pacífico que introduziu mudanças democráticas no país, chegou ao fim com a queda do ministério e a renúncia do presidente, em novembro de 1989.
Em 1990, o dramaturgo Václav Havel opositor do regime socialista que esteve preso por algum tempo, foi eleito presidente da Tchecoslováquia, e Alexander Dubcek tornou-se o novo presidente do Parlamento.
Em 1º de janeiro de 1993, a Tchecoslováquia se dividiu, também de forma pacífica, dando origem a dois países diferentes: na sua porção menos desenvolvida, formou-se a Eslováquia; e na sua parte mais desenvolvida e industrializada, a República Tcheca, país que se destaca na produção de automóveis e de cerveja. A Eslováquia possui importante área agrária no vale do Danúbio, mas sua economia é pouco competitiva e carente de investimentos estrangeiros. A partir de 1º de maio de 2004, os dois países passaram a integrar a União Europeia.
A ponte Carlos é um dos cartões-postais de Praga, capital da República Tcheca. A cidade tem mais de 1,2 milhão de habitantes.
Na Bulgária a transição também aconteceu de forma pacifica. O pluripartidarismo foi admitido em 1988 e as reformas passaram a acontecer com o fim da hegemonia do Partido Comunista. Em 1990, o país passou a ser denominado República da Bulgária.
O país mais pobre da Europa
O último Estado do Leste europeu a implementar reformas foi a Albânia. É preciso ressaltar a extrema pobreza com que esse país encerrou sua fase socialista. Mesmo após dez anos de novo regime, atravessa uma forte crise, que tem provocado uma onda de imigração para outros países da Europa.
A Albânia vivenciou todas as experiências socialistas. Foi aliada da URSS até 1961. Nesse ano, rompeu com o regime soviético para alinhar-se com a China, da qual se afastou, em 1978, para se fechar no regime mais autoritário e mais isolado do bloco socialista, fiel à doutrina stalinista. Essa situação deixou o país completamente despreparado para a transição econômica para o capitalismo.
A Albânia, embora tenha maioria de população muçulmana, conseguiu ter o único Estado oficialmente ateu do mundo. O socialismo acabou, mas a pobreza que sempre caracterizou o país é ainda maior. Sem rumo, o governo albanês procura administrar os mecanismos do novo regime econômico ao mesmo tempo que tenta encontrar soluções para os eternos problemas de miséria e desemprego.
O violento fim do regime romeno
Na Romênia, as reformas aconteceram deforma mais lenta. Nicolau Ceaucescu, antigo ditador, mantinha o país sob seu controle desde 1965. O Secur Fate, serviço de informações do governo, vigiava a vida dos cidadãos. Ceaucescu acabou executado sumariamente, com sua mulher, Elena. A morte do casal foi transmitida em cenas chocantes pela televisão. Com uma economia superada, a Romênia tem aproveitado a entrada do capital estrangeiro, nos últimos anos, para melhorar sua situação econômica e tentar se reerguer.
A ex-lugoslávia
O desmembramento da lugoslávia deu origem a novos países: União da Sérvia e Montenegro, Eslovênia. Croácia, Bósnia-Herzegovina e Macedônia. A separação do país foi marcada por sangrentos conflitos.
As economias em transição
Os países do Leste europeu têm a difícil tarefa de adaptar suas economias planificadas às regras liberais do mercado capitalista. Por isso, são chamados de países de economia "em transição". De algum modo, todos eles introduziram mecanismos capitalistas em suas economias, como a privatização de empresas estatais, a volta à propriedade privada e a livre entrada de capitais estrangeiros (transnacionais).
Com o capitalismo, os antigos países socialistas passaram a conhecer problemas inexistentes em uma economia planificada, como desemprego, inflação alta e custo de vida elevado.
Hungria, Polônia e Bulgária
A Hungria levou vantagem nessa transição. O país já conhecia uma versão especial da economia de mercado usada pelo dirigente Janos Kadar, que conduziu o país de 1956 a 1988. O governo húngaro acelerou o processo de privatizações em 1995, promoveu demissões de funcionários e a redução de gastos sociais. A partir de 1º de maio de 2004, a Hungria passou a integrar a União Europeia.
Na Polônia, as dificuldades da transição para o capitalismo fortaleceram a oposição. No fim de 1998, o estaleiro de Gdansk, berço do Solidariedade, foi privatizado. Apesar das dificuldades, a economia do país tem crescido, em média, 4,5% ao ano, mas problemas como o desemprego e a perda de direitos sociais (habitação e emprego) desagradam à população. Desde 1a de maio de 2004, o país passou a ser integrante da União Europeia.
A Bulgária enfrentou, logo após a redemocratização, uma crise econômica agravada pela perda do mercado soviético. As reformas continuaram (privatização, redução de empregos públicos, etc.). O país terá de esperar até 2007 para ingressar na União Européia. Para isso, precisará satisfazer os requisitos exigidos pela Comissão Européia.
As ex-repúblicas da lugoslávia
Dos ex-países socialistas do Leste europeu, a Eslovênia é a que tem melhores indicadores socio-econômicos. Com uma indústria desenvolvida, também ingressou na União Européia em maio de 2004.
A Croácia, independente após a guerra com a Sérvia, procura no turismo uma forma de crescimento econômico, já que possui um litoral privilegiado ern matéria de belezas naturais.
A Bósnia-Herzegovina, com uma população heterogênea, sofreu com o mais sangrento conflito de separação da lugoslávia. Atualmente, procura reconstruir o país destruído nos combates.
A Macedônia se desligou sem lutas da federação, mas enfrenta problemas com a Grécia, que tem uma região com o mesmo nome e por isso pretende a anexação da ex-república iugoslava. Além disso, tern problemas com os albaneses da ex-província Iugoslava de Kosovo.
A União da Sérvia e Montenegro (oficializada em 2003) tem maioria de população servia. Com graves problemas econômicos, o país empenha-se na reconstrução da infra-estrutura, após a queda do ditador Slobodan Milosevic em 2000.
Os últimos socialistas
Após o fim da URSS e do mundo que essa potência comandava, Coreia do Norte, Cuba e Vietnã, ao lado da China, são os últimos países socialistas - Para superar problemas econômicos, o Vietnã seguiu o exemplo chinês, isto é, reúne uma ditadura de partido único com mecanismos de economia de mercado. A Coreia do Norte, socialista irredutível, enfrenta uma situação muito difícil, causada, principalmente, pelo isolamento em que se colocou em relação ao resto do mundo, em virtude de sua postura radical de não adotar mecanismos de economia de mercado. Em Cuba, Fidel Castro já fez algumas concessões para tentar melhorar a economia do país.
Cuba
Desde sua independência, a pós a guerra Hispano-Americana*, no fim do século XIX, até a vitória da Revolução Cubana (1959), Cuba foi controlada pelos Estados Unidos. A Emenda Platt, votada ern 1903 após a independência de Cuba, deu aos Estados Unidos esse direito em troca do apoio dado pelos norte-americanos na guerra que os cubanos empreenderar para se libertar do domínio espanhol.
Mas, em 1959, um grupo de guerrilheiros, entre os quais estavam Fidel Castro e Ernesto Che Guevara, acabou com essa interferência, ao derrubar o ditador Fulgêncio Batista, ligado à máfia e aos Estados Unidos. A princípio, o movimento guerrilheiro era essencialmente nacionalista. Porém, nos primeiros anos de governo, Fidel Castro optou por se aliar à URSS e adotar o modelo soviético.
O fato de uma ilha situada a aproximadamente 150 km da península da Flórida adotar um regime socialista foi um rude golpe para o gigante capitalista norte-americano. A punição foi o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos aos cubanos, que perdura até hoje.
O governo de Fidel Castro dura há mais de quarenta anos. Ao controlar o país com mão-de-ferro, ele gerou uma considerável massa de desertores que formaram uma "nova Cuba" na Flórida, Estados Unidos.
Durante a guerra fria, a URSS encontrou uma fórmula para manter a economia cubana: comprava o açúcar dos cubanos com preços subsidiados e, ao mesmo tempo, vendia a eles petróleo a preços, bem mais baixos do que os praticados no mercado internacional.
Com essa ajuda, o pais de Fidel Castro conseguiu indicadores sociais invejáveis no campo da saúde e da educação. Porém, a economia cubana, assim como a economia soviética, penalizava a população quanto ao fornecimento de alimentos e bens de consumo. Sem acesso à tecnologia e à modernização, Cuba parece ter parado no tempo.
Se a crise na URSS atingiu Cuba, o fim da potência socialista desorganizou sua economia já fragilizada. O velho líder. Fidel Castro, foi obrigado a aceitar modificações para salvar o regime adotado no país. Hoje o capital estrangeiro é bem-vindo à ilha. O mesmo acontece com os dólares que dissidentes do regime cubano, exilados nos Estados Unidos, mandam aos seus parentes que permaneceram no país. As primeiras empresas mistas, de capital estrangeiro e estatal, são admitidas na economia cubana.
Incentivar o turismo foi outra idéia que tem feito o país respirar. Com lindas praias, arquitetura colonial e povo hospitaleiro, é grande o número de turistas que procuram Cuba para passar as férias.
Para melhorar a imagem do país, Fidel autorizou a visita do papa João Paulo II e libertou alguns opositores do regime, presos há anos. Como estratégia econômica, procurou se aproximar dos países latino-americanos, apesar de estar fora do projeto da Alca, por exigência dos Estados Unidos.
Carros fabricados nos Estados Unidos na década de 1950 ainda circulam pelas ruas de Havana, capital cubana, como consequência do embargo econômico imposto pelos norte-americanos ao país desde 1962.
Vietnã
A República Socialista do Vietnã, símbolo da maior derrota dos Estados Unidos na guerra fria, abriu sua economia ao capitalismo, aproximou-se de seu maior inimigo (EUA) e, atualmente, recupera-se dos impactos da crise asiática de 1997-1998.
Antiga colônia francesa na península da Indochina, o Vietnã tornou-se independente em 1954, dividido em dois Estados: Vietnã do Norte, socialista, e Vietnã do Sul, capitalista.
No início dos anos 1960, começou a guerra entre o Norte e o Sul, que só terminou em 1975 e reunificou o país sob o regime socialista. O Vietnã saiu arrasado do conflito. Milhares de vietnamitas e norte-americanos morreram.
Aliados da ex-URSS, os dirigentes vietnamitas se indispuseram com a China na década de 1980. O embargo comercial dos Estados Unidos e o fim da URSS lançaram o país em uma crise, da qual só se recuperou com as reformas capitalistas introduzidas pelo governo, no fim da década de 1990, quando foram eliminadas as sanções econômicas impostas pelos norte-americanos.
Coréia do Norte
Um socialismo rígido de orientação stalmista e hereditário domina a Coréia do Norte desde 1953. O atual tirano, Kim Jong II. herdou, em 1994, o poder de seu pai, Kim II Sung, denominado o Camarada Grande Líder. Com um regime fechado, o país só se aproximou da China, cuja economia vem tomando novos rumos nos últimos anos, para solucionar o grave problema da fome que castiga a população.
País rural, de economia planificada e ditadura severíssima, a Coréia do Norte construiu o seu regime socialista sob o dogma do isolamento, o juche, que significa auto-suficiência em coreano. Como resultado, só obteve pobreza e fome, que vitimaram mais de 2 milhões de pessoas nos últimos anos. As indústrias, todas estatais, estão falidas. As enchentes de 1995-1996 e a seca de 1997 arruinaram o que havia sobrado da agricultura.
A crise econômica obrigou a Coréia do Norte a pensar na possibilidade de construir zonas de livre-comércio, onde será permitida a entrada de capital estrangeiro. Porém, o país não conta com infra-estrutura (estradas, energia elétrica) para o funcionamento de novas indústrias em seu território. Uma dessas zonas é Rajin-Sonbong, e os maiores investimentos virão da Coréia do Sul. Os sul-coreanos são os principais interessados em ajudar os irmãos do Norte, pois isso diminuiria os problemas no caso de uma futura, mas pouco provável, reunificação do país.
Na Coréia do Norte, não se pode ir de uma cidade a outra sem a aprovação do governo. O correio é controlado pelo Estado; rádio e televisão estão ao alcance de poucos. Energia elétrica, alimentos e remédios são objetos de luxo. Cada família só pode ter uma lâmpada em casa. Apesar de toda a miséria, a Coréia do Norte tem um dos maiores arsenais nucleares do mundo. Em 2003, o país enfrentou a comunidade internacional ao se retirar do Tratado de Não-Proliferaçéo de Armas Nucleares e anunciar que possui a tecnologia do processo de enriquecimento de plutônio para a fabricação da bomba atômica.
Contexto e aplicação
O presidente cubano, Fidel Castro, inaugurou ontem a primeira feira comercial de produtos americanos na ilha desde a década de 1950.
Representantes de mais de 280 empresas de 33 estados americanos participam da exposição, que durará cinco dias e se tornou possível há dois anos, com a aprovação de uma medida que abriu uma brecha no embargo comercial que Washington impõe a Cuba há mais de quatro décadas.
Pela lei americana, as empresas interessadas podern vender a Cuba - que tem de pagar em dinheiro -produtos agrícolas, desde que não financiem sua produção com recursos oficiais dos EUA.
Na feira, os cubanos podem ver de vinhos, verduras enlatadas e goma de mascar a pipoca e cereais produzidos nos EUA. Fidel percorreu o pavilhão, em Havana, demonstrando especial interesse nos búfalos e ovelhas levados a Cuba. E ironizou as declarações da véspera do chefe do Escritório de Interesses dos EUA em Havana, James Cason, segundo as quais a economia cubana não geraria recursos para pagar as importações de alimentos, que começaram há um ano. Cason qualificou de "jurássica" a economia cubana. "Pois eu o desafio e podemos apostar US$ 100 milhões - não podemos apostar menos", disse Fidel.
(Adaptado de: O Estado de S. Paulo, 27 set. 2002.)
Destaque os motivos do embargo econômico dos EUA a Cuba (1962).
Explique por que James Cason chamou a economia cubana de jurássica.
A guerra que não acabou
Separadas pelas rivalidades da guerra fria. Coréia do Norte (socialista) e Coréia do Sul (capitalista) não assinaram nenhum tratado de paz em 1953, quando cessaram as hostilidades na região. Isso significa que a guerra não acabou oficialmente na península coreana. Apenas em julho de 2000, os presidentes das duas Coréias encontraram-se para conversar sobre uma hipotética reunificação. Porém, em março de 2001, o Norte interrompeu bruscamente as negociações com a Coréia do Sul, sem nenhuma justificativa. Em setembro de 2002, as conversações foram retomadas com alguns progressos, como a construção e a recuperação de rodovias e ferrovias ligando o sul e o norte da península.
As duas Coréias não poderiam ser mais diferentes. Isso porque cada porção tornou um caminho após a separação. A Coréia do Norte ficou isolada em um regime ditatorial e socialista, que levou o país a uma situação econômica deplorável. A Coréia do Sul também não escolheu a democracia logo após a separação, apesar de optar pelo capitalismo e de ter se tornado um dos Tigres Asiáticos (moderno, industrializado e com alta tecnologia). Somente no fim da década de 1980, com a realização de eleições diretas, a Coréia do Sul seguiu o caminho democrático.
Em setembro de 2002, a Coréia do Norte realizou uma grande mudança em sua política econômica, anunciando a abertura de uma zona capitalista, uma área de 320 km2, próximo a Sinuiju, no noroeste do país. A região deverá ser comercial, industrial e financeira, sem a interferência do Estado, que, no entanto, construirá urn muro para impedir a entrada de norte-coreanos. Os capitais serão japoneses, sul-coreanos e chineses, além dos provenientes dos países do Ocidente. O chinês naturalizado holandês Yang Bin dirigirá a zona especial norte-coreana.
VERIFICANDO A APRENDIZAGEM
01) "Eu me pergunto o que acontecerá com os países mais pobres do Leste europeu, que estão apresentando tendências similares de declínio populacional. Não sei dizer, mas creio que isso também irá ocasionar turbulências nessa região. Os países antes pertencentes à lugoslávia e à União Soviética terão, na verdade, uma população menor do que aquela que possuíam há cinquenta anos. Não só por terem tido uma taxa de natalidade mais baixa, mas também porque, devido às condições econômicas e às tensões políticas, estão sofrendo uma grande hemorragia populacional. Muitas pessoas saem por decisão própria; outras são expulsas, como na Bósnia e em Kosovo, e acabam não voltando rnais. Cria-se assim um vácuo."
(Extraído de: Ene Hobsbawm. O nova século: entrevista a Antônio Polito. São Paulo, Companhia das Letras, 2000. p. 176-177.)
a) Identifique a causa da expulsão dessas pessoas da Bósnia e de Kosovo.
b) Explique uma consequência do que o autor chamou de "uma grande hemorragia populacional".
2. Sobre o Leste europeu:
a) Explique a antiga classificação dessas nações como integrantes do chamado Segundo Mundo.
b) Atualmente, como elas podem ser classificadas?
03) A Polônia e a Hungria foram os pioneiros rumo à abertura política no Leste europeu. Justifique.
04) "Cai o Muro de Berlim
O esboroamento do Muro de Berlim serve de símbolo para um dos maiores fatos históricos do século XX. A queda do muro ao qual confluíram todos os embates políticos dos últimos setenta anos serve de emblema para o fim da ideia comunista."
15 de novembro de 1989
(Extraído de: Veja - Especial 30 anos - 1968-1998,p.87.)
Evidencie duas consequências do fato histórico descrito.
05) Alguns economistas e cientistas políticos apontam o Leste europeu como uma área mais propícia e segura para receber investimentos internacionais do que a América Latina. Que fatores são considerados para tal afirmação?
GLOSSÁRIO
Guerra Hispano-Americana (1898): confronto direto entre os Estados Unidos e a Espanha, pois os primeiros consideraram uma afronta à Doutrina Monroe a repressão espanhola aos movimentos de independência de Cuba e Porto Pico.
China: potência do século XXI?
"O espírito da China moderna é o de Deng: sem ideologia, sem romantismo revolucionário. Certamente é materialista, mas com um objetívo final não desprezível, profundamente eigo, na esteira do confucionismo: fazer com que o homem viva urn pouco melhor, aqui e agora, sem pretender refazer-lhe a alma, destruindo-lhe o corpo. Em termos nacionais, seu legado a sucessores é a construção de um país que representa um desafio a todo o resto do mundo. As cifras, as áridas estatísticas do êxito econômico constituem o balanço histórico para Deng Xiao Ping: a China próspera, o colosso saído de seus males seculares, seu monumento. O pequeno homem que Mao não enxergava entrou na história como um gigante."
(Extraído de: Fernando Mezzetti. De Mão a Deng: a transformação da China. Brasília, UNB, 2000. p. 499.)
Do imperialismo ao socialismo
País de civilização milenar (mais de 4 mil anos), a China sofreu durante o século XIX grande influência de potências imperialistas (Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Estados Unidos e Portugal). Daí a existência de um enclave britânico (Hong Kong) e um português (Macau), que retornaram ao controle chinês no fim do século XX.
A submissão dos dirigentes imperiais chineses a essas potências imperialistas deu origem a um descontentamento popular que resultou no surgimento do Partido Nacionalista (Kuomintang), em 1900, em oposição ao imperador e à influência estrangeira no país. Seu fundador, o médico Sun Yat-sen, foi proclamado, em 1911, presidente provisório, porém a república não chegou a ser estabelecida em todo o país. A princípio, o Partido Comunista Chinês, fundado em 1921, atuou como aliado do Partido Nacionalista.
A morte de Sun Yat-sen, em 1925, ocasionou uma luta de poder no Kuomintang. Vitorioso, Chang Kai-chek assumiu a liderança e começou a se afastar do Partido Comunista Chinês. A aliança entre os dois partidos durou até 1927, quando uma rebelião operária, que contava com o apoio e a participação dos comunistas, foi reprimida pelo Kuomintang no episódio conhecido como "o massacre de Xangai". Os comunistas, liderados por Mao Tse-tung, passaram a agir clandestinamente nas áreas rurais. Teve início, então, uma longa disputa entre nacionalistas e comunistas pelo poder na China, que durou de 1927 até 1949, com apenas uma trégua para expulsar do norte do país os japoneses, o inimigo comum, no período de 1931 a 1945. Vitoriosos, os comunistas, liderados por Mao Tse-tung, proclamaram a República Popular da China, que ocupa a porção continental e está em terceiro lugar entre os maiores países do mundo.
Derrotados, os membros do Kuomintang, liderados por Chang Kai-chek, refugiaram-se na ilha de Formosa, ou Taiwan, a alguns quilômetros do litoral chinês, onde estabeleceram a República da China Nacionalista, que adotava o rnodo de produção capitalista. Desde então, o governo chinês considera Taiwan uma "província rebelde", o que causa constantes atritos entre as duas nações.
Dentro da política do cordão sanitário, para impedir a expansão socialista na Ásia, os Estados Unidos patrocinaram o ingresso da República da China Nacionalista na ONU, onde esta permaneceu até 1971, quando se retirou em protesto à admissão da República Popularda China na organização.
Há algum tempo, Taiwan vem recusando propostas da China para a sua reintegração ao país. A China propõe uma integração com base na máxima "um país, dois sistemas", ou seja, preservando a economia capitalista de Taiwan, como aconteceu com Hong Kong, devolvido pelos ingleses em 1997. A recusa da China insular aumenta cada vez mais a tensão entre as "duas" Chinas.
O Grande Timoneiro
Em 1° de outubro de 1947, foi proclamada a República Popular da China. MaoTse-tung intitulou-se o Grande Timoneiro e instaurou um regime totalitário controlado pelo Partido Comunista Chinês, do qual era secretário-geral. A princípio, adotou o modelo soviético de economia planificada, cujos principais pontos foram a instalação de fazendas coletivas, que receberam o nome de comunas populares, e o controle do Estado sobre os meios de produção. Na época, a população chinesa, constituída de 540 milhões de habitantes, era predominantemente rural.
Foi apenas a partir da década de 1950 que o governo chinês resolveu investir na indústria pesada, criando toda a infra-estrutura necessária para a instalação de um grande parque industrial. As indústrias de base e bélica foram prioridades no projeto denominado "Grande Salto para a Frente" (1958-1962). O plano fracassou, trazendo os mesmos problemas enfrentados maistarde pela então URSS: baixa produtividade e pouca competitividade no mercado externo.
Outro fator, a Revolução Cultural (1966-1976), acabou por juntar o caos político à crise económica. A Revolução Cultural perseguiu pessoas, impôs à população os pensamentos de Mão, que estavam ex-pressos no Livro vermelho*, e colocou o país no isolamento em escala internacional.
Afastados da URSS desde 1960, em virtude da disputa pela hegemonia nuclear no bloco socialista, os chineses romperam definitivamente com os soviéticos em 1965. Isolada, a China cedeu às tentativas de aproximação dos Estados Unidos. Em 1972, o presidente norte-americano Richard Nixon visitou o país. Nesse mesmo ano, a República Popular da China ingressou no Conselho de Segurança da ONU. O Grande Timoneiro morreu em 1976. Seu substituto, Deng Xiao Ping, realizou uma nova "revolução chinesa", a revolução para a modernidade.
Economia socialista de mercado
O processo de abertura econômica na China começou em 1978. Para contornar os problemas do país, o dirigente Deng Xiao Ping resolveu adotar alguns mecanismos da economia de mercado, isto é, do modo de produção capitalista, como a iniciativa privada. Ao mesmo tempo, permitiu a entrada do capital estrangeiro no pais para não perder a corrida pelos mercados mundiais, que estavam sendo tomados pelos seus vizinhos. Japão e Tigres Asiáticos, além dos países europeus e dos Estados Unidos.
No entanto, o governo chinês teve o cuidado de não abrir mão do regime totalitário severamente controlado pelo Partido Comunista Chinês, porque a abertura política não estava em seus planos. O inundo teve uma prova disso por ocasião da visita de Mikhail Gorbachev à China em 1989.
Há algum tempo os estudantes chineses protestavam contra a corrupção no governo e reivindicavam uma maior abertura política. Estimulados pela glasnost dos soviéticos, milhares de jovens saíram às ruas, em Pequim, pedindo liberdade política. A resposta do governo foi uma dura repressão com tropas armadas e tanques que massacraram mais de 2 mil pessoas. O episódio ficou conhecido como o Massacre da Praça da Paz Celestial, local do confronto.
Manifestação em Hong Kong no décimo aniversário do Massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido em 4 de junho de 1989.
As "Quatro Modernizações"
As reformas de Deng Xiao Ping (1905-1997) foram realizadas em quatro setores da economia: indústria, agricultura, defesa e tecnologia. Por isso, ficou conhecida como as "Quatro Modernizações".
Deng Xiao Ping começou pela agricultura, transformando o mercado de produtos agrícolas no país:
Foram extintas as comunas populares.
Os agricultores receberam permissão para vender a produção após entregar a parte que cabia ao Estado, criando um pequeno mercado consumidor.
O povo recebeu subsídios para comprar produtos agrícolas e ativar o mercado desses produtos.
Criou-se otrabalho assalariado no campo, dando condições ao camponês de tornar-se consumidor.
Essas medidas ocasionaram o aumento da produtividade e o surgimento de uma abastada classe de agricultores.
A abertura no setor industrial, porém, só começou na década de 1980. Ao permitir a entrada de capital estrangeiro, o governo possibilitou a instalação de empresas de capital misto. As empresas estatais enfrentaram, pela primeira vez, o peso da concorrência.
Foram criadas as Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), verdadeiros "oásis capitalistas", onde capital, experiência e tecnologia estrangeiros eram muito bem-vindos. As exportações tornaram-se prioridade do governo. No entanto, a principal atraçâo para os capitais estrangeiros era a barata e disciplinada mão-de-obra chinesa.
A Bolsa de Xangai começou a funcionar em 1992, representando a primeira iniciativa de liberalização no setor financeiro.
Em 1997, a China recebeu devolta Hong Kong, que desde 1842 pertencia ao Reino Unido, aumentando ainda mais seu poder económico, que desde a década de 1980 já vinha crescendo cerca de 10% ao ano. O enclave português de Macau voltou a integrar a China em 1999.
Em 1997, morreu o artífice da modernização da China, Deng Xiao Ping. Jiang Zemin, que havia sido escolhido em 1989 pelo próprio Deng Xiao Ping para ser seu sucessor, assumiu o poder e ratificou as reformas previstas por Deng. Iniciou também um gigantesco programa de privatizações de estatais, quebrando um princípio básico do comunismo, a propriedade estatal. Foi também aos Estados Unidos. A última visita de um presidente chinês ao país havia ocorrido doze anos antes.
Em 1998, a China sofreu com a crise que afetou todo o mercado do Pacífico, do qual ela faz parte. Recuperou-se em 1999, alcançando um crescimento econômico de 7% nesse ano. Desde então a economia chinesa se mantém estável.
Jiang Zemin também deu início às negociações para o ingresso da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), que se concretizou em 2001.
Eleito secretário-geral do Partido Comunista Chinês, em novembro de 2002, Hu Jintao deverá ser o sucessor de Jiang Zemin.
O outro lado do dragão
Terceiro país do mundo em extensão (com mais de 9 milhões de km2) e campeão absoluto em população (1,3 bilhão de habitantes em 2003), a China é um país de muitas faces.
As mudanças econômicas que levantaram a economia chinesa também trouxeram alguns problemas. As Zonas Econômicas Especiais, beneficiadas por essa abertura, ocupam uma pequena parcela do litoral do território chinês, ao passo que a maior parte da população está concentrada nas áreas rurais do interior do país. Esse fato fez com que a riqueza se localizasse em alguns pontos, o que aumentou as desigualdades regionais já existentes e as migrações internas. O desemprego, que não era motivo de preocupação na economia planificada, passou a ser um problema crescente nessa nova fase, pois as indústrias localizadas nas ZEEs não conseguiam absorver toda a mão-de-obra disponível no país.
Os direitos humanos não são respeitados na China. Prisões dedissidentes, perseguições a religiosos, execuções sern julgamento adequado de presos políticos e criminosos comuns são frequentes no país. Além disso, a China, desde 1950, domina politicamente o Tibete e reprime duramente o movimento separatista da província muçulmana de Sin-kiang, no oeste do país.
Potência nuclear, a China tem atualmente como principal ponto de tensão as relações com Taiwan, que os chineses pretendem reintegrar como província a o seu território.
Contexto e aplicação
Hong Kong, antiga colônia britânica, foi devolvida à China em 1997.
PIB da China cresce 7,8%
no primeiro semestre
O PIB da China cresceu 7,8% no primeiro semestre do ano para 4,554 trilhões de yuans (US$ 549,98 bilhões) impulsionado por um forte desempenho comercial e por investimentos do governo. O resultado está de acordo com as expectativas do mercado, que prevê alta de 7,8% no ano e 7,6% nos primeiros seis meses. As informações são da Dow Jones.
(Adaptado de: Priscila Néri. O Estado de S. PauIo, 15 jul. 2002.)
Justifique o grande crescimento econômico da China no século XXI.
A maior população do mundo
O resultado do censo populacional realizado em novembro de 2000. na China, preocupou o governo de Pequim. O levantamento mostra que o país é habitado, atualmente, por nada menos que 1,3 bilhão de pessoas. De dez anos para cá - quando foi realizado o último censo - a população cresceu 10% (132 milhões de pessoas). Mas a situação poderia ser pior: se não houvesse a política do filho único - criada no país há dez anos para evitara explosão demográfica - nasceriam, por ano, cerca de 20 milhões de bebês - o dobro da taxa atual.
Fonte: Georges Duby. Grand atlas historique. Paris, Larousse, 1999
Fontes: 1. École de Sciences Politiques de Paris, 2001. 2. ONU. Relatório do Desenvolvimento Humano, 2003. 3. ONU. Divisão de População, 2003
Regiões naturais e atividades econômicas
Podemos considerar duas regiões naturais na China: a China ocidental e a China oriental.
Na China ocidental estão as províncias de Sin-kiang, a Mongólia Interior e o Tibete. Marcada por climas desérticos, semidesérticos e montanhosos, é a parte menos populosa e menos industrializada da China. Alérn de ser rica em recursos minerais e energéticos (carvão, petróleo, tungsténio, estanho, manganês e minerais atômicos), a China ocidental possui áreas irrigadas para a agricultura do algodão e do trigo. No Tibete, a atividade agrícola é praticada em terraços. A pecuária é praticada sob a forma de atividade nômade na Mongólia e em Sin-kiang.
A China oriental compreende a Manchúria e a planície Oriental. O clima nessa região varia de norte para sul, de temperado continental a temperado oceânico, subtropical e de monções. Nessa região estão as principais indústrias do país: siderúrgicas (Manchúria), mecânicas (Tientsin e Xangai), químicas (Nanquim) e têxteis (Xangai e Pequim).
A Manchúria possui importantes jazidas de carvão, recurso do qual a China é o primeiro produtor mundial, e de ferro.
A planície Oriental é formada por terras férteis, compostas de sedimentos amarelos denominados loess, e atravessada pelos principais rios chineses - o Yang-tse-kiang (rio Azul) e o Huang-ho (rio Amarelo), grandes fornecedores de energia hidráulica.
Rica em recursos minerais e abrigando cerca de 90% da população, é a região mais desenvolvida do país.
A China oriental é o celeiro agrícola do país. Aí são cultivados arroz (centro-sul), trigo (China de nordeste), beterraba (norte) e cana-de-açúcar (sul). Também são cultivados outros cereais (aveia, cevada, sorgo e milho), amendoim, batata e chá.
Aí se concentram as áreas industrializadas e estão localizadas as Zonas Econômicas Especiais. O petróleo é explorado na plataforma continental.
Leitura e reflexão
A região ocidental da China inclui 12 províncias, ou "regiões autônomas", incluindo Sin-kiang e oTibete. A área é quase do tamanho da Austrália e, com os seus vastos desertos, densas montanhas e cidades isoladas, é um local quase tão hospitaleiro para visitantes quanto o árido interior australiano. Apesar disso, a população da região é equivalente à dos Estados Unidos e à do México somadas.
A maior parte da população local leva uma vida bastante modesta, com salários que equivalem a apenas um terço daqueles da próspera zona costeira, A renda per capita da isolada província de Guizhou corresponde a apenas 8% da de Xangai.
A infra-estrutura é o maior problema para aqueles que querem chegar às províncias ocidentais da China, Poucos jovens chineses que possuem instrução desejam morar na remota província de Sichuan, onde a parceira comercial da On, uma fábrica de rádios, foi instalada na época em que Mao Tse-tung estava promovendo a transferência das indústrias estratégicas para o montanhoso interior do país, a fim de protegê-las de uma potencial invasão militar norte-americana. E, antes que fosse inaugurada uma nova auto-estrada no ano passado, os caminhões carregados de semicondutores tinham que enfrentar uma jornada de três horas, por estradas esburacadas, para chegar a Chengdu, a capital da província.
Muitos dos chineses de etnia han, que vivem no oeste, foram para lá durante a primeira onda desenvolvimentista rumo à região, no fim dos anos 1950 e início dos 1960. A maioria deles se fixou no local, mesmo após as restrições às viagens terem sido suspensas na década de 1980, já que o sistema chinês de registro domiciliar exige que as pessoas permaneçam em suas moradias originais, a fim de receber educação e outros benefícios previdenciários. Agora, os filhos mais brilhantes daqueles pioneiros estão retornando ao Leste. Apesar dos apelos feitos pelo governo, é muito difícil que eles decidam ficar nas províncias ocidentais.
(Adaptado de S. Smith The New York Times. 8 nov. 2000.)
01) Compare as regiões ocidental e oriental da China.
02) Identifique os principais problemas para o desenvolvimento da China ocidental.
O que há de novo?
Relação com a China divide taiwaneses
Jovens são a favor da independência; empresários preferem aproximação com Pequim.
Chelsea Tsao, de 25 anos. trabalha no caixa de uma farmácia no centro de Taipé. Assim como muitos outros jovens de classe média baixa da ilha, Chelsea espera com ansiedade para votar amanhã pela manutenção de Chen Shui-Ban como presidente. Para ela, apenas Chen tem vontade política para proteger os interesses da ilha contra a China.
Já a empresária de comunicações Victoria Chung acredita que Taipé precisa é de estabilidade e votará pelo opositor Lian Chan. Esses são exemplos de como a ilha está dividida. Ninguém se arrisca a prever quem vencerá a eleição. De um lado, Chen promete queTaiwan "não se ajoelhará" ante a China. De outro, Lian promete uma rota de paz com Pequim.
Sondagens indicam que a plataforma de Chen parece ter mais apelo entre as classes mais baixas, moradores do interior e parte dos jovens. John Wu, vendedor de peixe, diz que o partido de oposição Kuo-mintang já esteve durante quarenta anos no poder e agora é a vez de Chen impor sua agenda: "Ele merece mais quatro anos no poder".
Quanto aos jovens, o presidente é popular entre os que querem ser identificados como taiwaneses. "Sou taiwanesa, não chinesa", frisa Cathenne Chang, advogada de 32 anos e partidária de Chen. Ela representa uma nova geração que defende a independência da ilha, possibilidade considerada inaceitável por Pequim.
Empresários, cada vez mais ligados à economia chinesa, deverão apoiar Lian. Lee Mao Nan, assistente de cozinha de um restaurante de luxo em Taipé, também votará em Lian. Para ele, a paz é o que importa "O pior que poderia ocorrer seria uma guerra entre China e Taiwan." O temor de conflito também é o motivo pelo qual 20 mil taiwaneses que moram no exterior chegaram a Taipé nos últimos dias para votar, grande parte em Lian. Esses eleitores não podem votar onde vivem, já que Taiwan, por não ser um país reconhecido, não pode ter consulados pelo mundo com direito a realizar eleições.
(Extraído de: O Estado de S. Paulo, Internacional. 19 mar. 2004)
01) Justifique o apoio dos empresários ao candidato oposicionista.
02) Explique as causas do conflito entre China e Taiwan.
VERIFICANDO A APRENDIZAGEM
01) "É muito provável que a China se torne uma grande potência, mesmo no aspecto militar. E ela é certamente o único Estado que poderia aspirar a competir com os Estados Unidos no futuro..."
(Extraído de: Eric Hobsbawm: O novo século: entrevistas Antônio Poltto. São Paulo, Companhia das Letras, 2000. p. 64.)
Em que aspectos a China poderia ser destacada como uma potência?
Justifique o trecho sublinhado.
02) Identifique as causas que culminaram com o Massacre da Praça da Paz Celestial.
03) Explique duas reformas conduzidas por Deng Xiao Ping e suas consequências.
04) Caracterize as Zonas Econômicas Especiais (ZEEs) e explique o objetivo de se Localizarem junto ao litoral.
05) "A China é urn país de muitas faces."
Explique duas faces da China.
GLOSSÁRIO
Livro vermelho: publicado em 1965, continha as principais idéias de Mao Tse-tung e, obrigatoriamente, devia ser lido e seguido por toda a população.
A REVOLUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA
AS ORIGENS DA ATUAL REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA
A economia mundial passou por um rápido crescimento do final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ao início da década de 1970, principalmente nas regiões centrais do sistema capitalista (Estados Unidos, Europa ocidental e Japão). Nesse período, ocorreu a rápida recuperação econômica do Japão e da Europa ocidental, com destaque para a Alemanha. Em menos de três décadas, esses dois países emergiram dos escombros da guerra, transformando-se na segunda e terceira potências econômicas mundiais, respectivamente. Recuperaram-se, em grande parte, graças à ajuda econômica dos Estados Unidos - a maior potência mundial - no contexto da Doutrina Truman, como vimos na unidade anterior.
No pós-guerra, não apenas os Estado, mas também as empresas vêm desempenhando um importante papel no desenvolvimento econômico e tecnológico.
A concorrência entre as grandes corporações capitalistas intensificou-se, tanto dentro de seus países de origem como no mundo todo, já que, ao espalharem filiais em vários países, se transformaram em multinacionais.
A General Motors, a maior indústria automobilística do mundo, é conhecida por produzir automóveis e caminhões. Mas a sua subsidiária Hughes Space and Communication produz satélites e outros equipamentos de comunicação de uso militar para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Na ilustração, satélite utilizado para emissão de sinais de televisão por assinatura.
O aumento da competição levou as empresas a fazer volumosos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Foram auxiliadas pelos Estados nos quais têm sede. Como resultado, houve no pós-guerra importantes avanços científicos e tecnológicos, sobretudo a partir da década de 1970.
Outras importantes alavancas para o desenvolvimento tecnológico foram a corrida armamentista e a disputa aeroespacial entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética, que marcaram o período da Guerra Fria. Esses países investiram pesada mente em pesquisas, promovendo o avanço tecnológico não apenas no setor bélico e aeroespacial, mas também em vários outros. Muitas tecnologias desenvolvidas para esses setores acabaram sendo utilizadas nos setores civis, sobretudo nos Estados Unidos, caso do computador e da própria Internet, como veremos mais à frente.
Nesse país, a maior sociedade de consumo do mundo, muitas corpo rações que fornecem equipamentos militares para as Forças Armadas também produzem bens de consumo para a sociedade civil. Na extinta União Soviética, essa migração de tecnologia foi bastante limitada por não haver uma sociedade de consumo ou uma economia baseada na livre concorrência.
Nas últimas décadas do século XX, foram desenvolvidos novos ramos industriais e de serviços, que apresentaram crescimento acelerado, como a informática, a robótica, as telecomunicações e a biotecnologia. A utilização de computadores generalizou-se em indústrias, lojas, bancos, serviços e também em residências de classe média. Os robôs passaram a ser utilizados nas linhas e montagem industrial de maneira crescente, principalmente nos países desenvolvidos. A incorporação dessas novas tecnologias possibilitou, um grande aumento da produtividade.
As telecomunicações avançaram de forma vertiginosa e hoje interligam o mundo por meio de satélites, telefones fixos e móveis (celulares), redes de televisão, agências de notícias, etc. A Internet, a partir dos anos 1980, passou a conectar o mundo todo numa rede de computadores. Informações são todas, produtos são vendidos, pessoas entram em contato.
Porém, a maioria da população mundial não está conectada à rede. Em 2000, segundo Relatório da ONU, menos de 5% da população mundial tinha acesso à Internet e menos de um quarto dela tinha acesso a uma linha telefônica.
Embora a sua difusão ocorra de forma desigual, esses rápidos avanços técnicos e científicos causaram fortes impactos na produção e circulação de mercadorias, nos transportes e na cultura. Eles caracterizam a revolução técnico-científica, também chamada de revolução informacional.
A expressão "revolução técnico-científica" é muitas vezes empregada para evidenciar que os produtos requerem crescentes investimentos em pesquisa científica e tecnológica ao serem concebidos. São cada vez mais sofisticadas as técnicas exigidas para a fabricação de chips, robôs, satélites, programas de computadores, telefones celulares e mesmo produtos tradicionais, como automóveis, alimentos, calçados ou aparelhos de barbear, por exemplo. A "matéria-prima" necessária para fabricá-los é o conhecimento.
Para o desenvolvimento de um simples aparelho de barbear, lançado em 2000, uma multinacional norte-americana investiu um bilhão de dólares no projeto, fabricação e estratégia de marketing. O projeto levou seis anos para ficar pronto e foi desenvolvido por 500 engenheiros. Foram registradas 35 patentes nos Estados Unidos, desde a lâmina de carbono até a tarja azul no alto do cartucho, que, ao ficar branca, indica a necessidade de troca (foto de 2001).
EXERCITAR
PESQUISA E DEBATE
1. Em grupos, pesquise em livros, jornais, revistas, enciclopédias, na Internet ou em publicações especializadas outros produtos ou serviços que caracterizam a revolução técnico-científica. Recolha textos e material fotográfico.
2. Monte cartazes com o material coletado e faça uma exposição. Discuta o significado desses avanços no dia-a-dia das pessoas e das empresas.
3. Descubra implicações - positivas e negativas - dos avanços tecnológicos, especialmente das tecnologias de informação, no cotidiano das pessoas do lugar onde vocês vivem.
4. Discuta com seus colegas de equipe o resultado da pesquisa. Reflita sobre como se dão a produção e a utilização desses produtos e serviços no dia-a-dia e relacione isso com a crescente importância do conhecimento e da educação na era em que vivemos.
5. Em seguida, escreva um texto sintetizando suas conclusões para apresentar à sala e ampliar o debate.
Ao longo da história, as sociedades humanas sempre acumularam e trocaram informações e conhecimentos. No entanto, as novas técnicas produtivas desenvolveram-se lentamente. O crescimento da produtividade, de maneira geral, dava-se à custa de mais mão-de-obra e exploração de maior quantidade de recursos naturais.
Com as revoluções industriais dos séculos XVIII e XIX e a introdução de novas fontes de energia no processo produtivo - o carvão mineral e depois a eletricidade e o petróleo -, ocorreu inédito salto na produtividade: era a produção em escala graças à ação do trabalho sobre as matérias-primas e as fontes de energia. Os avanços tecnológicos, entretanto, ainda eram, muitas vezes, fruto de gênios inventores, e as pesquisas científicas não tinham sido incorporadas sistematicamente à produção industrial.
Na atual revolução tecnológica, que muitos ainda chamam de Terceira Revolução Industrial, o aumento da produtividade da economia é cada vez mais baseado no processamento de informações e na geração de conhecimentos. Hoje é a ação do trabalho, cada vez mais qualificado, sobre informações e conhecimentos gerando novas informações e conhecimentos a principal responsável pelo aumento da oferta de bens e serviços e da produtividade com o correspondente crescimento do lucro. Com a revolução técnico-científica, informação e conhecimento transformaram-se em meios de produção.
Por isso, muitos estudiosos do assunto preferem nomear a revolução em curso, marcada pela aceleração dos avanços tecnológicos, de revolução informacional. Em contra posição à sociedade industrial, criada pelas duas revoluções industriais, está se gestando a sociedade informacional. O termo "informacional" evidencia a crescente importância das informações e dos conhecimentos, não apenas no aumento da produtividade e da produção dos bens e serviços, mas também em sua própria utilização.
Os motores da revolução informacional são os computadores e as telecomunicações. Os computadores passaram por enormes avanços desde a criação do ENIAC, em 1946. O mesmo ocorreu com as telecomunicações desde a invenção do telefone, em 1876, e com o desenvolvimento dos satélites de comunicação, a partir do pioneiro Sputnik I. Esse era uma esfera de 83 kg, que levava um emissor de rádio bastante simples, lançada pelos soviéticos em outubro de 1957.
ENIAC, o pai dos atuais computadores
O ENIAC (sigla que, em inglês, significa "computador e integrador numérico eletrônico") foi o primeiro computador. Foi desenvolvido por John Mauchly e J. Presper Eckert, pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, durante a Segunda Guerra Mundial, sob o patrocínio do exército Norte Americano. Assim, foi fruto da ligação entre o desenvolvimento tecnológico e os interesses militares.
O ENIAC, que ficou pronto em 7 de novembro de 1946, recebe os últimos reparos antes de ser colocado em uso.
Perto dos atuais microcomputadores de mesa, dos laptops e dos palmtops, era gigantesco. Pesava 30 toneladas, apresentava 12 m de comprimento por 3 m de altura, ocupando uma área equivalente a um ginásio de esportes. Funcionava com 18 mil válvulas eletrônicas e, quando foi ligado pela primeira vez, consumiu tanta energia elétrica que fez as luzes da Filadélfia piscarem.
Os microcomputadores atuais são centenas de vezes menores e sua capacidade de processar informações é infinitamente superior à do ENIAC. Isso demonstra claramente a aceleração tecnológica que estamos vivendo.
Em 1943, o governo britânico construiu um equipamento eletromecânico - o Colossus - para decifrar os códigos secretos utilizados pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Alguns consideram essa máquina o primeiro computador, mas, como foi construído com uma finalidade muito específica e sua existência só veio a público em 1970 (era um projeto secreto), o ENIAC foi patenteado e reconhecido como o primeiro computador multiuso totalmente eletrônico da história.
Embora as origens mais remotas da revolução informacional possam estar no telefone e no computador ENIAC, as tecnologias que, de fato, dão suporte a essa revolução são mais recentes (década de 1970). O microprocessador, computador que funciona com um único chip, foi inventado em 1971 por engenheiros da Intel, empresa localizada no Vale do Silício, Califórnia. O microcomputador propriamente dito foi inventado em 1975.
LEITURA
O QUE É CHIP?
O chip tem como matéria-prima básica o silício, um mineral não-metálico muito duro que forma cerca de 28% da crosta terrestre. Trata-se, na verdade, de uma placa de silício na qual são impressos microcircuitos integrados. O chip é o "cérebro" do computador, responsável pelo processamento de uma infinidade de dados cada vez com maior rapidez. É crescente a incorporação de chips em uma infinidade de produtos, como automóveis, fornos de microondas, geladeiras, telefones, etc.
Chip de forno de microondas fotografado em 2001.
Também na década de 1970, uma pequena empresa de programas e sistemas de computadores foi fundada por dois estudantes - Bill Gates e Paul Allen -, que abandonaram a prestigiosa Universidade de Harvard, em Massachusetts. Em poucos anos, a empresa transformou-se na atual gigante da informática, a Microsoft, e seus sócios fundadores tornaram-se bilionários.
A produção de cabos de fibra óptica em escala industrial iniciou-se nos primeiros anos da década de 1970. A fibra óptica é um material feito de silício puro, que permite a transmissão de ondas eletromagnéticas à velocidade da luz (300 000 km/s). Por isso, ela possibilita a transmissão de muito mais informações (sons, imagens e textos) a uma velocidade bem maior do que os antigos cabos de cobre.
Por um único filamento com a espessura de um fio de cabelo, podem-se transmitir 30 mil ligações telefônicas ou 50 programas de televisão por segundo. Na foto, cabos de fibra óptica sendo instalados na rodovia dos Bandeirantes (estado de São Paulo), em 1998.
Data também dessa época a invenção da Internet, inicialmente com o nome de Arpanet. Em 1969, a Arpa (sigla em inglês para Agência de Projetos de Pesquisa Avançada, pertencente ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos) instalou uma rede eletrônica interligando os computadores dos centros de pesquisas e laboratórios do governo. Em plena Guerra Fria, garantia-se que, em caso de uma guerra nuclear, mesmo que alguns nós dessa rede fossem destruídos por um ataque de mísseis inimigos, os demais continuariam funcionando, permitindo a comunicação.
Essa rede descentralizada e revolucionária foi se desenvolvendo ao longo dos anos 1970, ligando universidades e centros de pesquisas, não apenas dos Estados Unidos, mas de vários outros países. Nos anos 1980, transformou-se na rede de computadores mundial, utilizada por instituições, governos, empresas e pessoas em todo o mundo.
Diante da sobrecarga de informações, no final dos anos 1990, começou a ser desenvolvida a Internet 2; muito mais rápida, conectando apenas universidades e institutos de pesquisas em todo o mundo, sua vocação original.
A revolução técnico-científica está promovendo um significativo aumento da produção de bens e serviços, de qualidade superior e a preços mais baixos. Essa revolução é a base do processo de globalização, como veremos na próxima unidade.
A REVOLUÇÃO INFORMACIONAL NO ESPAÇO GEOGRÁFICO
O MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL
Segundo o geógrafo Milton Santos, a história da incorporação das técnicas no espaço geográfico passou por três etapas distintas: o meio natural, o meio técnico e o meio técnico-científico-informacional. Até o século XVIII, apesar da existência de determinadas técnicas, a transformação do espaço foi bastante limitada e o meio geográfico permaneceu, em grande medida, natural.
Com o transcorrer da história humana, o espaço geográfico foi sendo transformado e ganhando cada vez mais objetos artificiais - edificações, ruas e estradas, plantações, etc. Mas isso se deu muito lentamente até a eclosão das revoluções industriais. Desde então, o meio geográfico recebeu grande quantidade de infra-estruturas - fábricas, ferrovias, rodovias, linhas telefônicas, máquinas na agricultura, barragens e usinas hidrelétricas, etc. O meio geográfico tornou-se crescentemente artificial, transformando-se em meio técnico.
No atual período do capitalismo, desenvolve-se um novo meio geográfico, adaptado às exigências da economia globalizada. Incorporam-se crescentemente ao espaço geográfico objetos que apresentam um conteúdo cada vez mais alto de ciência, técnica e informação, como:
modernas redes de telecomunicações - antenas parabólicas e de telefonia celular, cabos de fibra óptica, redes de computadores, etc.;
grandes infra-estruturas de transportes - aeroportos, sistemas portuários, rodovias, etc.;
agropecuária com base na biotecnologia - alimentos geneticamente modificados (transgênicos), animais clonados, etc.;
fábricas robotizadas, prédios comerciais e residenciais inteligentes, bolsas de valores eletrõnicas, etc.
A TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO
Adap. ATLAS escolar Santillana. Madrid: Santillana, 1995. p. 21.
Descrera o que aconteceu no espaço geográfico representado nos desenhos acima.
Esse novo meio geográfico é chamado de meio técnico-científico-informacional e serve para dar suporte à aceleração do fluxo de capitais, mercadorias, informações e pessoas.
Um condomínio empresarial e industrial localizado na região de Campinas (SP) é um exemplo de meio técnico-científico-informacional. Segundo os empreendedores em anúncio publicado em revistas ao longo do ano de 2000, "(...) [o empreendimento] disponibiliza toda infra-estrutura de telecomunicações, rede de fibra óptica, transmissão via satélite, intranet e internet e uma série de serviços especialmente desenvolvidos para empresas de alta tecnologia. Tudo isso na região de Campinas, no chamado Silicon Valley brasileiro, às margens da Rodovia dos Bandeirantes, próximo ao aeroporto de Viracopos".
O meio técnico-científico-informacional aparece na cidade e no campo, incorporando a agricultura, a indústria e os serviços. Ele abrange o planeta inteiro e funciona como um sistema*. Muitos estudiosos afirmam que vivemos num sistema-mundo, no qual os fenômenos sociais, econômicos e culturais mais importantes não acontecem isoladamente porque há uma interdependência entre os diversos lugares do planeta.
Sistema: conjunto formado pelas partes ou elementos de um todo organizado, que funciona de forma coordenada.
Isso só é possível porque existe um sistema técnico unificado que serve ao planeta inteiro. Há vários exemplos disso: o funcionamento da Internet, da rede mundial de telecomunicações, dos aeroportos internacionais ou das bolsas de valores. Na realidade, o meio técnico-científico-informacional é a base da globalização. Sem ele, não seria possível a atual aceleração dos fluxos de informações, capitais, mercadorias e pessoas, nem a crescente interdependência dos vários lugares do mundo.
Com o desenvolvimento do meio técnico-científico-informacional, o espaço geográfico tornou-se mais denso em objetos artificiais, ou seja, de modernas infra-estruturas que permitem a aceleração dos fluxos da economia informacional. Assim, se ficarmos atentos, podemos observar nas paisagens a crescente instalação desses objetos.
PARA PENSAR – GEOGRAFICAMENTE
A ilustração sugere que o mundo está encolhendo. O que isso significa? Por que isso está ocorrendo? Desde quando?
MUDANÇA GLOBAL, segundo P. Dicken
PARA EXERCITAR
OBSERVAÇÂO E CARTOGRAFIA
Observe a paisagem do lugar onde você mora e identifique se há objetos que compõem o meio técnico-científico informacional.
Construa um mapa localizando esses objetos.
Escreva um texto respondendo às seguintes questões:
Para que eles servem?
Eles funcionam isoladamente ou fazem parte de um sistema?
Quais são as conexões desses objetos que você consegue estabelecer no espaço geográfico local, nacional e mundial?
As novas técnicas se difundem de modo desigual pelo espaço geográfico. Há também pessoas que incorporam as novas tecnologias em seu dia-a-dia; outras, não. Veja o exemplo da Internet. Apesar de seu rápido crescimento e de estar causando grandes transformações na economia, ainda é uma tecnologia disponível para uma pequena parcela da humanidade. Em 2000, segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, menos de 5% da população mundial estava conectada à rede, e cerca de metade desses usuários era de um único país, os Estados Unidos (que abrigam somente 4,7% da população do planeta).
Apesar disso, esses novos objetos técnicos estão se difundindo muito rapidamente (observe a figura a seguir). Embora não sejam encontrados em todos os lugares do mundo, a sua área de abrangência é o espaço geográfico planetário. Eles funcionam de forma integrada, formando um sistema de redes, cujos nós são as principais cidades, com destaque para as chamadas cidades globais.
OS NÓS DA REDE INFORMACIONAL
O espaço geográfico é coberto por um denso emaranhado de redes, por meio das quais ocorrem fluxos dos mais variados tipos. Essas redes podem abranger o espaço geográfico local, nacional, regional e mundial.
As redes não têm seus pontos de interconexão distribuídos de forma simétrica. Por exemplo, os principais nós do fluxo aéreo são os grandes aeroportos internacionais, porque os aviões de grande porte não pousam em qualquer lugar. Fazem parte dessa rede também os aeroportos menores - os nós secundários -, que recebem vôos regionais. Outro exemplo: as chamadas telefônicas também não abrangem o mundo inteiro, apenas os lugares que têm infra-estrutura para receber e emitir chamadas (centrais telefônicas, antenas, etc.). Observe os mapas da página seguinte.
O planeta é coberto por redes dos mais variados tipos: de cabos de fibra óptica, de satélites de comunicação e antenas que emitem e captam sinais na Terra, de computadores (como a Internet), de televisão, de rádio, de agências de notícias, etc. Todas essas redes formam o sistema de comunicação global, que permite o fluxo de informações cada vez mais em tempo real.
As fábricas, progressivamente automatizadas, produzem uma série de bens consumidos em escala crescente nos mais diversos lugares do mundo. A agricultura incorpora cada vez mais tecnologia de ponta, ficando menos dependente das condições naturais e aumentando a produção.
Isso tudo exige o crescimento das redes de transportes - portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, hidrovias que permitem a aceleração dos fluxos de mercadorias e de pessoas.
Com a globalização e a aceleração dos fluxos de investimentos produtivos pelo mundo, acirrou-se a competição para abrigar fábricas, grandes redes de comércio varejista, sistemas telefônicos, etc. Esses são a materialização dos investimentos produtivos no território. Os lugares que oferecem melhores condições para receber esses investimentos são os mais bem-sucedidos na globalização. E que lugares são esses?
São aqueles que apresentam maior densidade de infra-estruturas modernas (aeroportos internacionais, redes de telefones e de computadores ligadas por cabos de fibra óptica, redes de rodovias) e que dispõem de profissionais mais qualificados (cientistas, engenheiros, administradores, técnicos especializados). Lugares que reúnem essas características sediam o meio técnico-científico-informacional, o qual aparece principalmente nas cidades globais e nos tecnopólos. Muitos tecnopólos coincidem com algumas importantes cidades globais, ou estão próximos e fortemente conectados a elas.
PARA PENSAR - GEOGRAFICAMENTE
1. Você já ouviu falar em tecnopólos? Saberia dizer o que são e onde se localizam?
2. O que é uma cidade global? Onde elas se encontram? Em que elas se diferenciam das megacidades?
As cidades globais sediam o poder econômico e político mundial e apresentam uma densa e moderna infra-estrutura, que permite a instalação da maioria dos fluxos da globalização. Em suas regiões metropolitanas, encontram-se:
os grandes aeroportos internacionais, que permitem o fluxo mundial de pessoas e de cargas;
as sedes das grandes corporações multinacionais, que comandam o fluxo de capitais produtivos;
as bolsas de valores, as sedes dos grandes bancos e de outras companhias financeiras, que comandam o fluxo de capitais especulativos;
as grandes redes de televisão, os grandes jornais, as agências de notícias e os provedores da Internet, que centralizam o fluxo de informações;
algumas das principais organizações mundiais: ONU, FMI, Banco Mundial e OCDE;
os maiores mercados consumidores do mundo, devido ao elevado poder aquisitivo de suas populações.
Nova York (foto de 2000), nos Estados Unidos, é uma cidade global alfa, da mesma forma que Tóquio; Londres e Paris. Essas cidades são as mais bem equipadas do mundo e polarizam a maior parte dos fluxos globais. [O que você sabe sobre elas?]
OS TECNOPÓLOS
Os tecnopólos estão para o capitalismo da Terceira Revolução Industrial como as regiões carboníferas estavam para a primeira, ou as jazidas petrolíferas para a segunda. Constituem os pontos de interconexão dos fluxos mundiais de conhecimento e informações, sendo interligados por uma densa rede de telecomunicações e computadores. São também os centros irradiadores das inovações tecnológicas.
Geralmente, situam-se em cidades pequenas e médias, longe dos antigos centros de industrialização, porém próximo das cidades mais importantes do mundo. Muitos localizam-se na região metropolitana das cidades globais, como Tóquio, Londres, Paris, Los Angeles, São Francisco, etc. Dependem da infra-estrutura de transportes e telecomunicações dessas cidades, além de sua estrutura administrativa e financeira.
Neles encontram-se as indústrias da economia informacional, fortemente baseadas na microeletrônica: semicondutores (chips para computadores), informática (equipamentos e sistemas), robótica, telecomunicações e biotecnologia. Esses setores compõem a chamada nova economia. Observe os principais tecnopólos no mapa-múndi e, em seguida, leia o texto sobre a nova economia.
PARA PENSAR - GEOGRAFICAMENTE
O mapa registra apenas os tecnopólos mais importantes. Existem muitos outros, tanto nos países desenvolvidos como nos emergentes.
1. Como você explica a distribuição dos principais tecnopólos pelo mundo, conforme mostrado no mapa?
2. Qual é a relação entre os tecnopólos e a economia informacional?
PARA EXERCITAR
Produza um mapa localizando as cidades globais, as megacidades e os principais tecnopólos no mundo. Que correlações podem ser extraídas ao compararmos a localização das cidades e dos tecnopólos?
LEITURA
A nova economia
Os setores de alta tecnologia, típicos da revolução informacional, foram recentemente batizados pela mídia de nova economia, em oposição aos setores tradicionais da primeira e da segunda Revoluções Industriais, classificados de velha economia. Mas essa divisão é um tanto arbitrária. Como é possível fabricar hoje um automóvel, símbolo da Segunda Revolução Industrial, sem incorporar maciçamente em sua fabricação as tecnologias da informação como robôs e chips?
As ações das empresas da velha economia são negociadas em bolsas de valores tradicionais, onde elas são compradas e vendidas no pregão. Já as das empresas da nova economia geralmente são cotadas em bolsas eletrônicas, como a Nasdaq, que realizam um pregão virtual.
A Nasdáq, que significa "Pregão Automático da Associação Nacional dos Corretores" (em inglês, National Association of Securities Dealers Automated Quotation), fundada em 1971, foi a primeira bolsa de valores eletrônica do mundo. Ela realiza a compra e a venda de ações por meio de uma rede de 400 mil terminais de computadores espalhados por corretoras de vários países.
Sua sede fica em Times Square, Nova York, num prédio que abriga apenas um estúdio de televisão, de onde vários jornalistas transmitem boletins diários sobre as oscilações das cotações.
Chama a atenção o enorme painel eletrônico localizado na parte externa do edifício, que transmite a cotação das ações. Porém, o centro de operações da Nasdaq, onde estão os computadores que controlam todo o processo de compra e venda de ações, fica a uns 100 quilômetros dali, na cidade de Trumbull (Connecticut).
A Nasdaq, como parte das próprias empresas que negocia, é virtual. Em Nova York funciona apenas este painel de 70 m2, em Times Square (foto de 1999).
Até o início dos anos 1990, a Nasdaq tinha pouca expressão. Apenas as empresas que não tinham porte suficiente para terem suas ações cotadas na Bolsa de Nova York viam a Nasdaq como forma de captar recursos no mercado e crescêr. Algumas pequenas empresas de alta tecnologia começaram negociando suas ações na Nasdaq. No entanto, por terem se tornado gigantes (Microsoft, Intel, etc.), também têm suas ações cotadas na Bolsa de Nova York. A Nasdaq, embora mais conhecida pelas empresas de alta tecnologia, também lista companhias dos setores tradicionais como de transportes, de finanças, farmacêutico, etc.
No mapa da página 56, você observou que os tecnopólos estão concentrados em poucos países. A maioria se localiza nos países desenvolvidos, especialmente nas principais potências, embora já estejam surgindo alguns nos países emergentes.
O tecnopólo mais antigo e ainda o mais importante, que serviu de modelo para os demais, é o Vale do Silício, na Califórnia. Tem esse nome porque sua origem deu-se com a microeletrônica, indústria de semicondutores que produz chips para computadores.
O VALE DO SILÍCIO
O Vale do Silício abrange várias cidades do estado da Califórnia, ao sul de São Francisco, como Palo Alto e Santa Clara, estendendo-se até os subúrbios de San Jose.
A industrialização dessa região teve início nos anos 1930, mas o impulso para o seu desenvolvimento se deu com a Segunda Guerra Mundial e principalmente durante a Guerra Fria, devido à corrida armamentista e aeroespacial. Foram as indústrias eletrônicas do Vale do Silício que, por exemplo, forneceram transistores para mísseis e circuitos integrados para os computadores que guiaram as naves Apollo, cuja série 11 atingiu a Lua. Assim, o governo dos Estados Unidos, além de subsidiar as pesquisas nos laboratórios das universidades e das empresas, garantia mercado para a produção regional, comprando parte do que era produzido.
A criação, em 1951, do Stanford Industrial Park também teve um importante papel no surgimento desse tecnopólo, pois atraiu indústrias de alta tecnologia, principalmente do setor eletrônico. Desde o início, essas indústrias estiveram ligadas à Universidade de Stanford, uma das mais respeitadas dos Estados Unidos, localizada em Paio Alto. Outras universidades da região tiveram papel crucial na formação de mão-de-obra qualificada e na produção de pesquisa de ponta, como a Universidade da Califórnia, em Berkeley (cidade da Grande São Francisco).
Foi graças aos pesquisadores dessas universidades que o Vale do Silício tornou-se o principal centro de alta tecnologia do mundo. Evidentemente, a existência de um espírito empreendedor e competitivo, da disponibilidade de capitais de risco e de um ambiente que favorecia os investimentos e a gestação de novas empresas também colaboraram.
Muitas empresas que hoje estão entre as maiores do mundo foram gestadas na região: Apple, Hewlett-Packard (HP), Intel, Microsoft (esta, logo após a fundação, mudou-se para Redmond, próximo à Seattle), entre outras.
Em 1938/ dois estudantes da Universidade de Stanford - William Hewlett e David Packard - fundaram uma empresa eletrônica que ostenta seus sobrenomes. Atualmente, a HP, como ficou conhecida/ é uma das maiores indústrias de computadores, impressoras e outros equipamentos para informática. Foi uma das primeiras a serem criadas na região e a se instalar no Stanford Industrial Park, onde está sediada.
Havia uma efervescência científica e econômica muito grande no Vale do Silício. Era comum que engenheiros e pesquisadores saíssem de determinada companhia para fundar suas próprias empresas, que, muitas vezes, com o passar do tempo, suplantavam a de origem. Uma das principais empresas geradoras de outras foi a Fairchild Semiconductores, fundada em 1957 por oito engenheiros formados nas universidades da região. Várias empresas microeletrônicas norte-americanas foram gestadas nesta companhia, dentre as quais a Intel, maior produtora de chips da atualidade, fundada em 1968 por um ex-funcionário daquela empresa.
O Vale do Silício abriga as principais empresas do ramo eletrônico do mundo. Mesmo aquelas sediadas no Japão e na Europa mantêm centros de pesquisas na região. Na foto, instalações da Intel, em Santa Clara, em 2000.
OUTROS TECNOPÓLOS NORTE-AMERICANOS
Na região sul de Los Angeles, no estado da Califórnia, localiza-se um conjunto de tecnopólos.
O principal é Orange County, onde se concentra a maior parte da indústria aeroespacial do país:
McDonnell-Douglas (comprada em 1997 pela Boeing, sediada em Seattle, no estado de Washington), ockheed Martin, Hughes Space and Communications, etc.
Esses tecnopólos têm forte vínculo com o complexo militar-industrial norte-americano. Sua criação está ligada à fundação do Instituto Tecnológico da Califórnia (Caltecb), na década de 1920, e do Laboratório de Propulsão a Jato do Caltech, durante a Segunda Guerra Mundial. Esse é o mais avançado centro de pesquisas aeroespaciais do mundo.
Na região de Boston, no leste do país (estado de Massachusetts), desenvolveu-se o tecnopólo da Rota 128, a partir dos anos 1970. Também fortemente ligado à indústria bélica norte-americana, abriga inúmeras empresas de alta tecnologia e mais de 60 estabelecimentos de ensino e pesquisa. Alguns figuram entre os melhores do mundo, como o Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) e a Universidade de Harvard.
A região de Boston - diferentemente do Vale do Silício ou de Orange County, que se industrializaram durante a atual revolução técnico-científica - passou por um processo de modernização. Em torno dessa cidade, importante centro histórico norte-americano desde o período colonial, os prédios inteligentes dos setores que caracterizam a nova economia informacional surgiram no lugar de antigas fábricas, típicas da Primeira Revolução Industrial.
Vista aérea de Boston, capital do estado norte-americano de Massachusets, em 2000.
OUTROS TECNOPÓLOS DO MUNDO
A cidade da ciência de Tsukuba, no Japão, é um dos mais importantes tecnopólos do mundo Suas obras foram iniciadas em 1968 e se arrastaram ao longo das décadas de 1970 e 1980, quando foram instalados vários institutos de pesquisa do governo japonês, como a Agência Nacional Espacial de Japão (Nasda). Diferentemente dos tecnopólos norte-americanos, aqui o Estado é o principal investido' e proprietário das instalações.
Também no Japão, a cidade da ciência de Kansai, localizada entre Quioto, Osaka e Nara, começou a surgir nos anos 1980. Ao contrário de Tsukuba, em Kansai houve, além de investimentos estatais, a participação de grandes corporações japonesas, como a Matsushita e a Mitsubishi.
Outro tecnopólo localizado no continente asiático é a cidade da ciência de Taedok, que se e contra a 160 km ao sul de Seul, capital da Coréia do Sul. Foi concebido, construído e dirigido pelo Estàdo, a partir de meados dos anos 1970, num esforço de desenvolvimento tecnológico notável para um país emergente. Esse tecnopólo abriga muitos centros de pesquisas, como o Instituto Coreano de Ciência e Tecnologia Avançadas, o mais importante do país. Só mais recentemente os chaebols (nome dado aos grandes conglomerados coreanos, como a LG e a Hyundai) passaram a instalar laboratórios de pesquisa na região.
Na Grande Paris, está a maior concentração de empresas de alta tecnologia e laboratórios de pesquisas públicos e privados de toda a Europa, especialmente ao sul da cidade, numa região conh 'da como Paris Axe Sud. Considerado o "Vale do Silício da Europa", esse tecnopólo foi instituído no início da década de 1980 pelo governo francês, em associação com prefeituras, institutos de pesquisas e empresas privadas. Nele, encontram-se a Universidade de Paris XI (especializada em ciências) e 60% das mais importantes faculdades de engenharia e administração da França. Além disso, muitas empresas francesas de alta tecnologia, como a Alcatel Alsthom, instalaram-se na região.
Os modernos edifícios de la Défense (foto de 2000), na, Gande Paris, que abriga empresas de alta tecnologia.
A Baviera, no Sul da Alemanha, concentra grande quantidade de indústrias de alta tecnologia, notadamente do ramo eletroeletrônico. A maior concentração parece em torno da cidade de Munique, que por isso é conhecida como "Municon Valley", uma analogia com o Silicon Valley ("Vale do Silício", em inglês). Esse tecnopólo originou-se em meados dos anos 1970 e abriga importantes universidades e centros de pesquisas, como o Instituto de Física Max Planck, além das principais indústrias alemãs do setor, como a Siemens, e outras grandes do mundo, como a Motorola.
O tecnopólo de Cambridge, na Inglaterra, surgiu nas décadas de 1970 e 1980 em torno dessa importante cidade universitária, localizada a aproximadamente 80 km a noroeste de Londres. Concentrando indústrias eletrônicas - de hardware (equipamentos) e software (sistemas) - e de biotecnologia, entre outras, esse tecnopólo originou-se associado à Universidade de Cambridge, um dos mais importantes e tradicionais centros de pesquisas da Europa. Seu desenvolvimento conta com fatores muito semelhantes aos que favoreceram o Vale do Silício: um ambiente propício ao investimento, disponibilidade de capitais e o surgimento de empresas inovadoras.
Como vimos, os principais tecnopólos estão localizados nos países desenvolvidos. Mais uma vez, estacam-se as potências mundiais - Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e Reino Unido- sendo que os dois primeiros assumem a liderança. Entretanto, já estão surgindo em alguns países emergentes,- como Coréia do Sul, Taiwan e índia, que têm feito grandes esforços para desenvolver-se do ponto de vista tecnológico, investindo em educação e pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Todos os tecnopólos foram criados em torno de importantes universidades ou centros de pesquisas. Isso mostra que a "matéria-prima" que atrai as empresas da economia informacional é o "cérebro", ou seja, o conhecimento e as informações. As universidades e empresas ligadas aos tecnopólos, em uma enorme capacidade de atrair profissionais de outros lugares, muitas vezes de países subdesevolvidos, como mostra o texto a seguir.
Fuga de "cérebros" ameaça países pobres
Vittorio de Filippis, do Liberátion
Eles são engenheiros, médicos, profissionais de informática, professores ou economistas. E vêm da África, da América do Sul ou da Ásia. Assim que têm seus diplomas universitários nas mãos, partem para os países industrializados, em busca de trabalho.
O fenômeno não é novo, mas a fuga de cérebros dos países em desenvolvimento está alcançando níveis inusitados.
Ela é motivo de preocupação para muitos especialistas. Seguindo o exemplo de certos governos do hemisfério sul, consideram que já é hora de soar o alarme e pôr fim à "pilhagem das elites".
Os representantes da Comissão Econômica da ONU para a África se reuniram na Etiópia este ano para discutir o fenômeno.
Segundo a DIM (Organização Internacional para as Migrações), quase 100 mil diplomados africanos trabalham em países do hemisfério norte - quase um terço da mão-de-obra qualificada do continente. De 15 mil por ano na década de 80, o fluxo anual de partidas superou os 21 mil em 1999.
"Em meados dos anos 90, uma enfermeira em Manila (Filipinas) ganhava US$ 140 por mês. Se fosse trabalhar nos Estados Unidos, podia ganhar US$ 3000. Conseqüência: 3 000 enfermeiras Filipinas deixam o país a cada ano", diz Nicolas Serriêre, da DIT (Organização Internacional do Trabalho).
A mesma coisa vem acontecendo com os países do Leste europeu. Em 1995, último ano para o qual se tem cifras, quase 10 mil pesquisadores e professores búlgaros fizeram as malas e deixaram seu país.
Mas o exemplo mais gritante é o da Índia. Os países desenvolvidos vão até lá para atrair os profissionais de informática formados no país. Resultado: entre 40% e 50% dos diplomados nas universidades indianas iniciam sua carreira profissional no exterior.
Essa reserva de mão-de-obra qualificada poderá, em breve, começar a dirigir-se de forma mais intensa à Alemanha, onde o chanceler (premiê) Gerhard Schroeder anunciou recentemente a intenção de abrir as fronteiras para os profissionais de informática indianos.
"A fuga de cérebros é uma transferência de tecnologia invertida", afirmou Habib Ouane na Conferência da ONU para a Cooperação e o Desenvolvimento. "Com isso, os países menos desenvolvidos perdem um precioso fator de desenvolvimento." Para os críticos dessas teses, trata-se de um simples mecanismo de equilíbrio entre a oferta e a demanda no mercado de empregos qualificados. "Acima de tudo, é uma concorrência injusta exercida pelos poderosos à custa dos pobres", opina Ouane.
A fuga de profissionais qualificados privá os países de origem do retorno sobre seus investimentos em formação. Enquanto isso, os países industrializados podem importar essas qualificações sem incorrer em custos. "Não é o caso de questionara liberdade de movimento dos indivíduos. Mas não se pode negar que a fuga de cérebros traz efeitos nefastos para os países em desenvolvimento", diz Habib Ouane.
Os críticos não contestam o fato de que a mobilidade da mão-de-obra faz aumentar a prosperidade da sociedade mundial. Mas os ganhos são repartidos de maneira desigual entre os dois grupos de países envolvidos no processo.
(...)
DE FILIPPIS. Fuga de "cérebros" ameaça países pobres. Folha de S. Paulo, São Paulo, 18 jun. 2000. Caderno Mundo, p. A – 19.
PARA EXERCITAR
1. O que explica a fuga de cérebros dos países subdesenvolvidos em direção aos desenvolvidos?
2. Quem são os beneficiados e os prejudicados nesse processo?
3. O que Habib Ouane quis dizer ao afirmar que "A fuga de cérebros é uma transferência de tecnologia invertida."?
Após responder às questões, discuta as respostas em equipe e, em seguida, apresente as conclusões à sala, dando início a um debate.
Muitas universidades têm sido importantes indutores da instalação de indústrias de alta tecnologia, principalmente no início, quando, além da mão-de-obra qualificada, cedem seus laboratórios para o desenvolvimento de novas tecnologias. Com o passar do tempo, as próprias empresas criam seus laboratórios e ficam menos dependentes das universidades, que, no entanto, continuam tendo importante papel na formação de mão-de-obra qualificada: engenheiros de várias especialidades, físicos, matemáticos, biólogos, entre outros profissionais.
O surgimento dos tecnopólos quase sempre teve algum incentivo do Estado. Há casos em que o poder estatal bancou toda a infra-estrutura, centros de pesquisas e contratação de cientistas, como as cidades da ciência de Tsukuba (Japão) e Taedok (Coréia do Sul). Em outros, o governo teve papel menos importante, como o Vale do Silício (Estados Unidos) e Cambridge (Reino Unido), cujo surgimento se deve mais à iniciativa privada. O papel do Estado nesses casos foi de subsidiar a pesquisa e comprar parte da produção.
TECNOPÓLOS BRASILEIROS
No final da década de 1990, graças à abertura da economia, houve um grande afluxo de investimentos estrangeiros no Brasil. Entre outras, muitas empresas de telecomunicações e de informática entraram no país.
Grande parte delas instalou-se na região de Campinas (São Paulo), que se transformou no mais importante tecnopólo brasileiro. Embora muito aquém dos demais, citados acima, seu crescimento tem sido significativo. As empresas multinacionais de alta tecnologia - Motorola, Lucent Technologies, Compaq, Nortel, IBM, etc. - orbitam a Universidade de Campinas (Unicamp), uma das mais conceituadas do Brasil, além da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Puccamp) e a Fundação Centro Tecnológico para a Informática (C TI) [leia o texto a seguir].
Outro centro industrial de alta tecnologia digno de nota é o pólo aeroespacial de São José dos Campos, também no estado de São Paulo. Surgiu em torno do Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA) e do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), ligados ao Ministério da Aeronáutica. A companhia mais importante é a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), criada pelo governo brasileiro no final da década de 1960. Depois de passar por momentos difíceis, foi privatizada em meados dos anos 1990.
Atualmente, mais moderna e competitiva, transformou-se numa das mais importantes empresas aeronáuticas do mundo (as exportações de aviões corresponderam a 2,3% da balança comercial do país, em 1998).
A Embraer (foto de 2000) é a quarta maior fabricante de aviões para vôo regionais do mundo.
Na cidade, funciona também o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Ministério da Ciência e Tecnologia. Entre outras atividades, desenvolve, em conjunto com cientistas chineses, um programa de produção e lançamento de satélites. O CBERS 1 (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), desenvolvido com a Academia Chinesa de Tecnologia Espacial, foi lançado com sucesso em outubro de 1999, a partir da base de Shanxi (China).
Depois de estudar o tópico sobre os tecnopólos, leia o texto e responda às questões a seguir.
Da laranja ao computador
Monica Weinberg
A revista americana Wired fez um levantamento para descobrir quais são os mais promissores centros de produção de tecnologia no mundo. Entre 46 pólos espalhados por cinco continentes, há uma boa surpresa brasileira. Campinas, no interior de São Paulo, aparece como uma versão latino-americana para o Vale do Silício, maior conglomerado de indústrias de microeletrônica do planeta, situado na Califórnia. Além de Campinas, a única cidade da América do Sul que figura na lista é São Paulo. As duas brasileiras estão ao lado de centros conhecidos, como Tóquio e Hong Kong, e outros bem menos óbvios, como El Ghazala, na Tunísia, e Bangalore, na Índia. Que São Paulo esteja no ranking não causa nenhum espanto. É o centro financeiro do país. O que salta aos olhos é a presença de Campinas, uma cidade de interior que até pouco tempo atrás vivia de agricultura e pecuária.
Para elaborar sua lista, a Wired levou em consideração quatro aspectos que fizeram do Vale do Silício o que ele é hoje; a presença de universidades e centros de pesquisa, a concentração de grandes empresas, a vocação para fazer surgir novos negócios e a atração de capital de risco para alavancar a economia local. Cada uma dessas características valia 4 pontos. Campinas recebeu nota máxima pelas universidades. 3 pontos pela presença de grandes empresas, 1 pela vocação para fomentar novos negócios e zero pela atração de capital de risco. Atingiu a mesma pontuação de Salt Lake City, nos Estados Unidos, e 1 ponto a mais que Cingapura. O suficiente para que a Wired apontasse a cidade como um avançado pólo aglutinador de empresas no ramo de telecomunicações e um espetacular celeiro de cérebros.
O cenário pastoril de 15 anos atrás vem mudando radicalmente. Nos últimos três anos, 900 milhões de dólares foram investidos em indústrias de telecomunicações e informática, áreas em que Campinas emerge como mais importante centro do Brasil. O pólo tem hoje mais de 900 empresas. Da cidade saem celulares, computadores e equipamentos de telecomunicações para toda a América do Sul. Encontram-se ali a linha de montagem e o departamento de pesquisa em novas tecnologias de gigantes como a Motorola, a Lucent, a Nortel e a Compaq. "As grandes funcionam como as âncoras de um shopping center. Atrás delas vem uma enxurrada de outros investidores", compara Manuel Carlos Cardoso, titular da Secretaria de Cooperação Internacional de Campinas, a única do país criada para atrair e orientar novos empreendedores.
A semelhança com o Vale do Silício não está no tamanho da economia da região nem na principal mercadoria produzida. O carro-chefe dos californianos é a produção de chips para computador, enquanto em Campinas o principal filão é a indústria de telecomunicações. O ponto em comum é a atração que os centros de excelência exerceram sobre as empresas. Nos Estados Unidos, as indústrias instalaram-se próximas a universidades como Berkeley e Stanford para recrutar mão-de-obra especializada. O pólo industrial de Campinas frutificou em torno da Unicamp e da PUC, que abastecem o mercado com alunos dos melhores cursos de engenharia da computação e de telecomunicações do país. "Mudamos para Campinas atrás de mão-de-obra de alto nível", diz Renato Furtado, presidente da Lucent do Brasil. "Nossos funcionários são engenheiros que trabalham de jaleco e prancheta."
(...)
WEINBERG, Mônica. Da laranja ao computador. Veja, São Paulo, a. 33, n. 32, p. 72-3, 9 ago. 2000.
PARA EXERCITAR
REFLEXÃO
1. Quais são os principais fatores que explicam o surgimento dos tecnopólos? Quais colaboraram para o desenvolvimento do Vale do Silício?
2. Qual é a diferença entre os tecnopólos analisados quanto ao papel do Estado e da iniciativa privada?
3. Por que não há, no Brasil, tecnopólos como os de países desenvolvidos?
4. Explique a localização dos tecnopólos brasileiros de Campinas e de São José dos Campos.
O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO
O QUE É GLOBALIZAÇÃO
Correspondendo à mais recente fase da expansão capitalista, o processo de globalização está para o atual período técnico-científico ou informacional do capitalismo como o colonialismo esteve para a fase do capitalismo comercial (do século XVI ao XVIII), ou o imperialismo para o período capitalista industrial (do século XIX até metade do XX). Como nos outros períodos, busca-se o aumento dos mercados e, portanto, dos lucros.
Este período difere dos demais por dispensar a ocupação territorial. Trata-se de uma invasão de mercadorias, capitais, serviços, informações e pessoas, obtida graças à agilidade nos deslocamentos e à eficiência das comunicações e do controle de informações. Os meios físicos que viabilizam a globalização são os satélites de comunicação e de observação da Terra, a informática, a telefonia, os aviões, etc.
Como resultado dessa complexa teia, a globalização apresenta várias dimensões - socioeconômica, política, cultural, etc. - e todas elas se manifestam no espaço geográfico. Quando se iniciou o processo de expansão capitalista, com as Grandes Navegações, no final do século XV, o planeta Terra era composto por vários mundos - europeu, chinês, árabe, asteca, inca, tupi, ioruba, etc. - e, muitas vezes, os habitantes de um mundo não sabiam da existência dos outros. Ao atingir o atual período informacional, o capitalismo integrou países e regiões do planeta num único sistema, formando o chamado sistema-mundo. Mundo e planeta tornaram-se sinônimos.
A aceleração dos avanços tecnológicos é a base da globalização. Pense em como as pessoas se comunicavam antes da invenção do telefone, dos satélites de comunicação, da Internet, etc. Na foto, estação de emissão e recepção de sinais de satélite de comunicação, em Cingapura, em 1999.
Os lugares que formam o espaço geográfico mundial estão conectados a uma rede de fluxos (veremos os mais importantes a seguir), controlada a partir de poucos centros de poder econômico e político. Entretanto, não são todos os lugares que estão integrados no sistema-mundo.
Lugares de poder: o arquipélago metropolitano mundial
Olivier Dollfus
No final do século XX, os poderes que atuam sobre o mundo e as inovações que o transformam ai localizam-se num número limitado de lugares: megalópoles da América do Norte, a do Nordeste e a da Califórnia, a do Japão, centrada em Tóquio, a da Europa ocidental, entre a planície do PÓ e a bacia de Londres, englobando a ilha parisiense. Aí, 5% da população mundial vivem em 0,4% da superfície das terras. É ai que se localiza a grande maioria das 500 maiores empresas financeiras e industriais, os governos e as instituições que pesam sobre o mundo: Casa Branca e Pentágono, o Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional em Washington; as Nações Unidas e Wall Street em Nova York; os centros financeiros de Tóquio, Frankfurt e Londres; as grandes agências de informações que tratam e difundem os acontecimentos do mundo; e, em Londres, a Reuter, que monopoliza as informações financeiras. Os membros do G-7 ai residem, como os presidentes e os primeiros-ministros, que freqüentam as "conferências de cúpula". Dos novos conhecimentos, 90% se elaboram nos laboratórios dos países onde se encontram essas megalópoles.
Nesses pólos do sistema-mundo, estratégias e decisões repousam num tratamento maciço e instantâneo de informações públicas e confidenciais coletadas em todo o mundo. No anel das redes que cinge a Terra nas latitudes médias do hemisfério norte, circulam 98% das informações financeiras, e os tráfegos aéreos são aí os mais intensos. Os contatos diretos entre dirigentes conservam toda a sua importância, sem embargo da fluidez e da diversidade dos meios de comunicação: é nesse anel que se deslocam os "novos nômades" que dirigem o mundo.
Por toda parte as mesmas grandes infra-estruturas, plataformas aeroportuárias e portuárias, redes rodoviárias e ferroviárias, os mesmos grandes hotéis e as altas torres onde têm sede as grandes empresas; por toda parte os preços dos imóveis nos grandes centros urbanos são justificados pelo número de negócios das empresas mundiais que ai se encontram.
O poderio mundial se exerce numa concentração geográfica dos poderes.
DOLLFUS, Olivier. Geopolítica do sistema-mundo. In: SANTOS, Milton et al. (Orgs.). O novo mapa dp mundo: fim de século e globalização. São Paulo: Hucitec-Ampur, 1994. p. 34-5.
PARA EXERCITAR
Após ler o texto, responda:
1. O que significa, segundo Dollfus: "O poderio mundial se exerce numa concentração geográfica dos poderes?·
2. Qual seria o papel das cidades globais e dos tecnopólos [estudamos esses temas em unidades anteriores] no sistema-mundo?
3. Por que, segundo o texto, a globalização não atinge todo o espaço geográfico planetário? Dê exemplos. 4. Você e seus colegas de equipe poderiam confeccionar um mapa-múndi localizando as cidades, regiões e mencionados no texto. Procurem recortes de jornais e revistas sobre o tema para atualizar os painéis que _ fizeram na atividade anterior.
Professor titular de geografia da Universidade Paris VII (França).
A ECONOMIA GLOBALIZADA
Os fluxos de capitais, bem como os fluxos de mercadorias, são os mais importantes da globalização da economia. Os fluxos de capitais produtivos, também conhecidos como investimentos estrangeiros, cresceram significativamente após a Segunda Guerra Mundial. Seu crescimento é a face mais visível da globalização da economia, pois se materializa em instalações industriais, redes de lojas, supermercados e lanchonetes, estradas, hidrelétricas, etc. no território de vários países.
Os países empenham-se cada vez mais em atrair investimentos produtivos, porque geram riquezas e estimulam o crescimento econômico (criação de empregos, aumento da arrecadação de impostos, etc.).
Para os investidores estrangeiros, os lucros podem ser resultantes de custos menores de produção, transportes ou fretes, proximidade dos mercados consumidores e facilidades em driblar barreiras protecionistas*.
Barreiras protecionistas: mecanismos que um país utiliza para proteger seu mercado da concorrência estrangeira. As barreiras protecionistas podem ser tarifárias, quando o governo eleva o imposto de importação, tornando o produto estrangeiro mais caro no mercado interno. Podem ser não-tarifárias: estabelecimento de cotas de importação, barreiras fitozoossanitárias, subsídios aos produtores nacionais, etc.
Todos esses fatores permitem a expansão do mercado para os capitais produtivos. Como são investimentos de longo prazo, são menos suscetíveis às oscilações repentinas da economia. Podem também aumentar o volume de divisas de um país, se a produção, ou parte dela, estiver voltada para a exportação. Porém, como podemos verificar nas tabelas a seguir, a maior parte desses capitais é investida em poucos países e regiões do mundo.
Os principais agentes da globalização da produção são as grandes corporações multinacionais.
De acordo com o relatório da UNCTAD, em 1998 havia 53 mil corporações transnacionais, com 450 mil filiais espalhadas pelo mundo.
Chicago (foto de 1998) enfrentou uma forte crise econômica nos anos 1980, chegando a perder população. Nos anos 1990, porém, a cidade se recuperou, tendo sido uma das maiores beneficiadas pela concentração do fluxo de capitais produtivos nos Estados Unidos.
PARA EXERCITAR
ANÁLISE DE TABELAS
1. Quais mudanças no fluxo de investimentos é possível observar entre os períodos registrados pela primeira tabela?
2. Qual é a situação do Brasil no período? Como a evolução pode ser explicada?
3. Como estão distribuídos, em linhas gerais, os investimentos produtivos no mundo atualmente? Tente explicar essa distribuição.
A UNCTAD
A conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) é uma agencia da ONU criada em 1964. Seu objetivo, jamais atingido, é estimular o crescimento econômico dos países subdesenvolvidos e favorecer o comércio destes com os países desenvolvidos.
Todo ano, a UNCTAD publica o Relatório do investimento mundial, que mapeia o fluxo de investimentos no mundo. Os responsáveis pela globalização dos capitais produtivos são chamados corporações transnacionais.
PARA SABER MAIS
Para ter acesso a alguns dados do Relatório do investimento mundial, de onde foi extraída a tabela da página anterior, e a outras informações importantes sobre a economia global, conecte-se ao site da UNCTAD (em inglês, francês e espanhol): <www.unctad.org>.
A UNCTAD conceitua como transnacionais as empresas que têm sede em um Estado nacional e atuam, por meio de filiais, em vários outros. Essa entidade criou um índice de transnacionalidade*:
....quanto mais uma corporação concentrar suas atividades - patrimônio*, vendas, empregados - fora do país sede, mais ela é transnacionalizada. Observe as tabelas.
Índice de transnacionalidade: média de três indicadores - porcentagem do patrimônio no exterior sobre o patrimônio total da empresa, porcentagem das vendas no exterior sobre as vendas totais e porcentagem do número de empregados -o exterior sobre o total de empregados - que indica o grau de internacionalização dos negócios de uma corporação.
Patrimônio: conjunto de bens - prédios, terrenos, máquinas, veículos, etc. - pertencentes a uma empresa ou pessoa.
As empresas transnacionais mantêm vínculos com o Estado onde se localizam suas sedes, mesmo que grande parte das operações produtivas ocorra fora dele. As decisões estratégicas, a pesquisa e o controle acionário são realizados no país-sede. A Nestlé, por exemplo, embora seja altamente transnacionalizada, limita o direito de voto de acionistas estrangeiros a somente 3% do total. Os membros estrangeiros dos conselhos de administração das grandes corporações norte-americanas eram apenas 2%, aproximadamente, em meados da década de 1990.
Também é para o país de origem que é remetida a maior parte dos lucros obtidos nas filiais do exterior. Além disso, os governos dos países nos quais as corporações estão sediadas costumam apóia-Ias na competição internacional.
Assim, os termos "multinacional" e "transnacional", na prática, são sinônimos. A maioria das 53 mil empresas multinacionais mencionadas no relatório da UNCTAD surgiu e está sediada nos países desenvolvidos, sobretudo nos Estados Unidos e no Japão, como pode ser observado na tabela e no gráfico a seguir.
A preponderância das empresas sediadas nos Estados Unidos e no Japão, verificada entre as dez primeiras colocadas, se repete ao longo da lista das 500 maiores.
O pós-guerra foi marcado pela emergência de grandes conglomerados multinacionais, nos principais países capitalistas. A maioria das corporações está sediada nos países do G-7, mas já existem almas importantes sediadas em países emergentes, como a Coréia do Sul e a China.
G-7 OU G-8?
O G-7 (Grupo dos Sete) nasceu em 1975, em um encontro que reuniu representantes da Alemanha, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. No encontro de 1976, o Canadá ingressou no grupo. Assim, o G-7 é um fórum que reúne as seis maiores potências do planeta (considerando o tamanho do PIB) e o Canadá, que em 1999 já não era mais a sétima economia do mundo, mas a nona. Foi superado pela China e pelo Brasil, como pode ser observado na tabela a seguir.
Em 1997, a Federação Russa foi admitida como membro do fórum, que passou a ser denominado G-8. No entanto, não participa das reuniões que tomam decisões sobre economia e finanças.
A Rússia viveu uma grave crise ao longo da década de 1990 e sua economia encolheu muito (observe sua posição na tabela). O país tem conseguido manter o status de potência devido ao seu poderio bélico.
Todos os anos, os representantes do G-8 (presidentes e primeiros-ministros) reúnem-se para discutir as questões mundiais que mais interessam aos seus países. Como o G-8 é um fórum, não tem sede; a cada ano os encontros acontecem num país membro.
As multinacionais instalam-se nos países desenvolvidos devido ao seu forte mercado consumidor, mas, de forma geral, são unidades de produção que utilizam pouca mão-de-obra devido ao alto grau de automação. Nesses países, a maior parte da população ativa está empregada no setor de serviços.
Nos países em desenvolvimento, em geral, os principais atrativos são os elevados lucros propiciados pelos baixos custos de produção, garantidos pela mão-de-obra barata, pelos incentivos fiscais (impostos baixos) e terrenos baratos, entre outras vantagens.
Certos setores industriais utilizam mão-de-obra em grande quantidade e pouco qualificada, como os de calçados, vestuário, têxteis, eletrônicos baratos ou brinquedos. Suas novas instalações são implantadas quase exclusivamente nos países emergentes, contribuindo para a descentralização da produção industrial no mundo.
Em muitos desses países, o governo concede facilidades para exportação e remessa de lucros para as matrizes. Países mais populosos, como China, índia, Indonésia, Brasil e México, ainda conta com um grande mercado consumidor, capaz de atrair investimentos externos. Observe o mapa:
As fábricas terceirizadas dessa empresa, sediada os Estados Unidos, estão espalhadas por vários países emergentes. Mas os consumidores dos artigos esportivos que fabrica estão principalmente nos países desenvolvidos e em uns poucos emergentes, como podemos perceber no mapa.
ESPAÇO DE CINEMA
TUCKER, UM HOMEM E SEU SONHO. Direção: Francis Ford Coppola. Estados Unidos, 1988. Fox Horne Video. 1 fita de vídeo (130 rnin), VHS, som., coloro.
Baseado na história real do inventor norte-americano Preston Tucker, é uma crítica ao capitalismo monopolista dominado por poderosas corporações. Em 1948, ele construiu um Tucker Torpedo, carro melhor que os dos concorrer· tes, provocando a reação das três grandes empresas automobilísticas norte-americanas: GM, Ford e Chrysler.
Após a Segunda Guerra Mundial, principalmente a partir dos anos 1980, cresceu o fluxo de capitais especulativos, que caracteriza a globalização financeira. Milhões de pequenos poupadores. espalhados pelos países desenvolvidos, colocam seus recursos num banco ou investem num fundo de :pensão*, para garantir sua futura aposentadoria. O montante é transferido de um mercado para outro, de um país para outro, sempre em busca das mais altas taxas de juros ou de maior segurança.
Fundo de pensão: poupança privada formada por vários pequenos poupadores, visando lhes garantir uma pensão mensal, em geral para complementar a aposentadoria pública, ao final de um prazo determinado. A maioria dos fundos é administrada por empresas financeiras, que aplicam no mercado os recursos dos poupadores com o objetivo de obter lucro financeiro, garantindo-lhes o pagamento da pensão.
Os administradores desses capitais - bancos de investimento, corretoras, fundos de pensão, etc - muitas vezes não estão interessados em investir na produção, que tem retorno demorado, mas em especular nos mercados que se mostram mais rentáveis ou seguros.
Uma das modalidades de investimentos mais procuradas é o mercado de ações, comercializadas nas bolsas de valores. Ao comprar ações, o investidor adquire uma fração da empresa que as emitiu, tornando-se acionista. É como se estivesse emprestando dinheiro para ela investir na produção. Se a empresa obtiver lucros, os acionistas receberão dividendos, de acordo com a quantidade de ações que
possuírem.
Muitos investidores não estão interessados em esperar que a empresa seja bem-sucedida para obter dividendos. Preferem lucrar a curto prazo, em investimentos especulativos. Podem, por exemplo, comprar ações desvalorizadas e vendê-las logo depois, caso se valorizem. Portanto, investimento em ações tanto pode ser produtivo, capitalizando a empresa para investir na produção, como especulativo, buscando lucro rápido com a compra e venda de papéis. O lucro financeiro é a diferença entre o que, foi pago pelas ações e o que se ganhou com a venda delas, após a valorização.
Pregão é o anúncio em voz alta - feito pelos corretores - dos preços e condições de negociação das ações. Por extensão, é também o nome do local onde isso ocorre. Na foto, pregão da bolsa de valores de Nova York, em 1996.
Além do mercado acionário, há outras modalidades de investimento especulativo, como a compra e venda de títulos de dívida pública*. A emissão desses títulos pelo governo de um país é, no fundo, uma forma de tomar dinheiro emprestado. Ao comprá-las, os investidores, em geral bancos que fazem a intermediação entre pessoas e empresas que aplicam no mercado financeiro, emprestam dinheiro ao Estado, que terá de pagar juros pelo empréstimo.
Título de dívida pública: título emitido e garantido pelo governo de um país, estado ou município para obter recursos no mercado. Em geral, visa financiar o déficit orçamentário, mas também pode servir para o governo obter receita para investimentos.
Após analisar a classificação de alguns países, segundo a agência Moody's, responda:
1. O que explica a alta taxa de juros praticada no Brasil, desde o final da década de 1990?
2. Por que, em todas as crises ocorridas nos países emergentes, os investidores retiram seu dinheiro e compram títulos do governo norte-americano?
O capital especulativo, por não estar ancorado na produção, gera poucos empregos. Além disso, tende a fragilizar as economias dos países, especialmente dos emergentes, porque, na maioria das vezes, os operadores das empresas financeiras - com receio de terem prejuízos resultantes, por exemplo, de desvalorizações da moeda nacional ou das ações cotadas na bolsa local - retiram o dinheiro dos países no momento em que eles mais precisam de capital. Isso ocorreu nas crises mexicana, em 1994-1995, asiática em 1997, russa, em 1998, e brasileira, em 1999, deixando as economias desses países vulneráveis.
Atualmente, é muito fácil transferir vultosas quantias de um lugar para outro, pois o dinheiro pode circular em tempo real pelo sistema de satélites, telefones e computadores, que conectam o sistema financeiro mundial. Leia a seguir trecho de um artigo que ilustra esse aspecto da globalização financeira.
O capital errante
Exame
Essa massa amorfa de investimentos ganhou flexibilidade nos últimos anos, em parte devido à evolução tecnológica possibilitada pela combinação da informática com as telecomunicações. "Esses avanços tornaram o mundo menor e, no caso do sistema financeiro, ficou mais simples transferir bilhões de dólares de um lugar para outro sem que se tenha de colocar o dinheiro numa maleta", diz Vicente Copeland, vice-presidente mundial do Gartner Group, maior empresa internacional de consultoria em tecnologia da informação, com atuação em 53 países. Amparados em sistemas de computação, softwares sofisticados e satélites de comunicação, os bancos de investimento, as corretoras de valores e as consultorias financeiras são capazes de esparramar dezenas de bilhões de dólares em aplicações em países de que freqüentemente um investidor nunca ouvira falar antes. "Dez anos atrás, se você pensasse que investir no México poderia ser uma boa idéia, você não saberia como fazer isso", diz William Sterling, economista do Merrill Lynch, um dos maiores bancos de investimento do mundo. "Agora basta você discar o número do telefone de um fundo mútuo de investimento."
Exame, São Paulo, 29 mar. 1995.
Com as facilidades da informática e das telecomunicações, como foi visto no texto acima, as empresas financeiras rastreiam diariamente os melhores investimentos no mundo. Isso lhes dá uma enorme mobilidade e muito poder. Essa é a diferença fundamental entre a modalidade de endividamento vigente até os anos 1980 e a que passou a vigorar a partir dos anos 1990, com a globalização financeira.
Antes os principais agentes financeiros, responsáveis pelos empréstimos aos países, eram, além dos bancos oficiais como o Banco Mundial, FMI, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), os grandes bancos privados internacionais. Como vimos na unidade 4 - Da Guerra Fria à nova ordem mundial, na crise da dívida, os governos tomavam dinheiro emprestado desses bancos e investiam-no com o objetivo de pagar a dívida no futuro. Enquanto não abatia toda a dívida, o país tinha de pagar juros aos banqueiros.
Com a globalização financeira, os países que necessitam de dinheiro - para fechar o seu balanço de pagamentos, por exemplo - recorrem ao capital especulativo. Eles emitem títulos públicos comprados por investidores internacionais, como fundos de pensão ou bancos de investimentos, pagando-lhes altas taxas de juros.
A dependência aos capitais de curto prazo, que não têm compromisso com o desenvolvimento dos países, mas apenas com lucros altos e rápidos, pode ser drástica, como demonstraram as crises mexicana, asiática, russa e brasileira.
Um dos problemas mais graves da economia mexicana era o desequilíbrio em sua balança comercial. Em 1993, o país apresentou um déficit de mais de 13 bilhões de dólares. Valor idêntico foi atingido nos nove primeiros meses do ano de 1994, precipitando a crise em dezembro daquele ano. O início das operações do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), em janeiro de 1994 [leia mais sobre esse assunto no item O movimento zapatista], somou instabilidade política aos desequilíbrios econômicos.
Os investidores passaram a vender os bônus do tesouro mexicano e a retirar o seu dinheiro do país. Para conter a evasão de divisas, o governo desvalorizou o peso (moeda mexicana). Para fechar o balanço de pagamentos, recorreu a capitais especulativos, aumentando a taxa de juros de seus títulos públicos. Essas medidas agravaram a crise ao longo do ano de 1995.
Os primeiros sinais da crise asiática apareceram em julho de 1997, com a desvalorização do baht, moeda tailandesa. A situação agravou-se após a acentuada queda da bolsa de valores de Hong Kong, em 23 de outubro daquele ano. Todas as bolsas de valores do planeta foram afetadas, num efeito dominó (observe o mapa a seguir). O medo e a insegurança dos investidores levaram-nos a retirar o dinheiro investido em ações, câmbio e títulos públicos de vários países asiáticos. Com a saída maciça de dólares, os governos desses países foram forçados a desvalorizar suas moedas, aprofundando a crise econômica.
PARA PENSAR - GEOGRAFICAMENTE
Observe o mapa para explicar a distribuição geográfica de algumas das principais bolsas de valores do mundo. Onde estão concentradas?
O Brasil sofreu fortemente os impactos da crise asiática (1997) e russa (1998). [Saiba mais sobre a crise russa no item O desmembramento da União Soviética, na página 372.] Para enfrentar a crise asiática e tentar reduzir a evasão de reservas, o governo brasileiro elevou a taxa anual de juros de 19% para mais de 45%, em outubro de 1997. Os juros já tinham retornado ao patamar pré-crise, quando a eclosão da crise russa, em agosto de 1998, forçou novamente o governo a elevar os juros. A taxa atingiu 42 %, em outubro de 1998, mas a elevação não impediu a saída de capitais do país. Como resultado dessas crises, o PIB brasileiro encolheu 0,1 %, em 1998.
A queda acentuada das reservas cambiais (de 73 bilhões de dólares, em abril de 1998, para 35 bilhões, em janeiro de 1999) forçou o governo a desvalorizar o real, em janeiro de 1999. Isso provocou aumento no preço dos produtos importados, como petróleo, trigo e outros alimentos, máquinas e equipamentos industriais. A desvalorização da moeda e os juros elevados resultaram em baixo crescimento econômico. O aumento do PIB brasileiro foi de apenas 1 %, em 1999.
Em 2000, como resultado da desvalorização cambial, da gradativa redução dos juros (em dezembro de 2000, tinha caído para uma taxa próxima de 15%) e da estabilização da economia mundial, o PIB cresceu 4,2%.
As constantes altas da taxa de juros aumentaram a dívida interna e externa do país, conforme podemos constatar no gráfico.
Montem cartazes com recortes de artigos de jornais e revistas sobre a crise econômica mundial, iniciada em outubro de 1997, na Ásia, e suas conseqüências em vários países do mundo.
Pesquisem em cadernos de economia de jornais, revistas especializadas, Internet, etc. sobre as oscilações diárias das bolsas mundiais e das taxas de juros norte-americana e brasileira.
Comparem todos esses dados, discutam e depois apresentem suas conclusões à classe, Muitos jornais e revistas mantêm arquivos que podem ser acessados para pesquisa:
O CONSUMO GLOBALIZADO
Uma das facetas mais visíveis da globalização é o aumento do fluxo de mercadorias entre os paises. Com a intensificação do comércio, cada vez mais produtos circulam por uma intrincada rede de transportes terrestres, marítimos e aéreos, espalhada por grandes extensões da superfície terrestre. O serve o gráfico.
As exportações mundiais de mercadorias cresceram acima do produto mundial bruto, ao longo dos anos 1990, acompanhado tendência que já se delineava desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Uma das questões fundamentais da atualidade é o que vai prevalecer no comércio internacional multilateralismo ou regionalismo? Em outras palavras, a tendência de formação e consolidação de blocos regionais (União Européia, Nafta, Mercosul, etc.) irá enfraquecer os acordos multilaterais, país a de comércio?
Após o fortalecimento do protecionismo no comércio mundial do período entre guerras, o mutilateralismo ganhou força com a criação do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), em 1947. Desde então, o Gatt aprovou uma série de princípios, que visam estimular as trocas comerciais. Eles devem ser seguidos por todos os países signatários, que em novembro de 2000 eram 140. Toda vantagem, favor ou privilégio envolvendo tarifas aduaneiras concedido bilateralmente deve ser estendido ao comercio feito com todos os países signatários. Esse é o princípio mais importante dessa entidade: o tratamento geral da Nação Mais Favorecida (NMF) ou Princípio de Não-discriminação entre as Nações.
A última e mais complexa rodada de negociações do Gatt, iniciada em 1986, recebeu o nome de Rodada Uruguai (país que sediou as conferências). Além da discriminação das tarifas, essa rodada pretendia incorporar às regras da entidade setores como agricultura, serviços, têxteis, investimentos e propriedade intelectual. Nesses, o protecionismo dificultava a expansão das trocas.
As longas negociações foram conduzidas até abril de 1994, quando foi assinada no Marrocos a declaração de Marrakech. Esse documento finalizou a Rodada Uruguai e criou a Organização Mundial de Comércio (OMC), que começou a funcionar em 1º de janeiro de 1995. A OMC foi criada em substituição ao Gatt, que era apenas um acordo. Equiparada a organismos como o Bird e o FMI, passou a ter mais poder para fiscalizar o comércio mundial e fortalecer o multilateralismo.
O comércio internacional tem crescido incessantemente, desde a Segunda Guerra Mundial. Segundo relatório anual) da OMC, publicado em 1995, no período que se estende de 1945 a 1994, o crescimento do comércio mundial foi 160% maior do que o do produto interno bruto dos países. Como constatamos ao observar o gráfico da página anterior, ao longo dos anos 1990, o comércio o internacional manteve a tendência de crescer mais rapidamente o que o produto mundial bruto.
O aumento dos fluxos de mercadorias é resultado da expansão das empresas multinacionais, quê abrem filiais em vários países e pressionam para que haja redução das barreiras à circulação de seus produtos pelo mundo.
A constituição de vários blocos econômicos regionais também tem estimulado o crescimento o comércio mundial não apenas entre os países membros, mas também as trocas entre os blocos.
Os portos são importantes infra-estruturas que viabilizam fluxo mundial de mercadorias. Na foto, de 2001, o porto Cingapura, um dos maiores mundo. Ele é especializado é:exportar artigos industrializados de vários países do Sudeste asiático.
OS BLOCOS ECONÔMICOS REGIONAIS
Embora não seja recente, a tendência de regionalização do mundo em blocos econômicos acentuou-se no início da década de 1990, coincidindo com o fim da Guerra Fria e a emergência da globalização. Assim, a regionalização e a globalização não são fenômenos antagônicos, mas complementares Ambos buscam ampliar mercados para as empresas, especialmente as grandes.
A globalização é um fenômeno mais circunscrito à economia, movido pela força do mercado. Já a regionalização tem um caráter mais político, sendo fruto de acordos entre Estados. Seu objetivo é integrar e fortalecer economias, e os países abrem mão de parte de sua soberania em troca de vantagens econômicas. Quanto mais abrangente for a integração do bloco, maior a perda de soberania dos Estados participantes. Em uma economia globalizada e cada vez mais competitiva, a constituição de blocos regionais permite a expansão de mercados e dos lucros das empresas.
A divisão do mundo em Estados nacionais, com fronteiras, moedas e alfândegas, cria barreiras para a livre circulação de mercadorias, serviços, capitais e pessoas. A criação de blocos econômicos
uma tentativa de reduzir essas barreiras em escala regional, mas também uma forma de os países me bros se fortalecerem frente ao processo de globalização.
Os países participantes de blocos econômicos têm buscado acordos regionais para facilitar o fluxo de capitais, serviços e, sobretudo, de mercadorias. A livre circulação de pessoas tem ficado em segundo plano. A liberalização não é feita de forma homogênea. Dependendo do grau de integração, é possível definir quatro tipos de blocos econômicos: zona de livre comércio, união aduaneira, mercado comum e união econômica e monetária. Observe no mapa a seguir os principais blocos econômicos do mundo.
Os países participantes de uma zona de livre comércio firmam acordos para reduzir gradativamente as tarifas alfandegárias ou aduaneiras, ou seja, os impostos cobrados para que produtos importados atravessem as fronteiras. Por esses acordos, os produtos que circulam entre os países do bloco deixam de pagar impostos. O Acordo Norte-americano de Livre Comércio (Nafta) é um exemplo; outro, é a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A Alca, caso venha a se concretizar a partir de janeiro de 2006 (essa data foi acertada num encontro realizado em Buenos Aires, em abril de 2001), será uma gigantesca zona de livre comércio envolvendo 34 países americanos. Devido ao bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos para pressionar o governo de Fidel Castro, apenas Cuba não participará do bloco.
Numa união aduaneira, além de não serem cobrados impostos no comércio entre os países membros, como na zona de livre comércio, há uma tarifa externa comum. Em. outras palavras, os produtos vindos de fora do bloco devem pagar o mesmo imposto de importação ao entrarem em qualquer país membro. Por exemplo, imagine uma união aduaneira formada por três países, A, B e C. Antes de ser formada, A cobrava 30% de imposto de importação de automóveis, B cobrava 20% e C, 15%. Com a introdução da tarifa externa com m, todos passaram a cobrar, por exemplo, 20%. O Mercosul (Mercado Comum do Sul) é um exemplo desse tipo de bloco. Como nele ainda circulam produtos com tarifas diferenciadas, é considerado uma união aduaneira incompleta.
Num mercado comum, além da livre circulação de mercadorias e da implantação de uma tarifa externa comum, há livre circulação de capitais, serviços e pessoas. Atualmente, o único bloco desse tipo é a União Européia, no qual também houve padronização dos impostos pagos pela população e pelas empresas e de muitas leis civis, trabalhistas, sociais e ambientais. Foram criados ainda órgãos supranacionais, como a Comissão Européia, órgão executivo do bloco, e o Parlamento Europeu, órgão legislativo.
As características dos blocos são cumulativas; portanto, uma união econômica e monetária, além de incorporar todas as características dos blocos anteriores, introduz uma moeda única e padroniza políticas macroeconômicas, como taxas de câmbio, juros, nível de endividamento público, etc. Os países participantes desse tipo de bloco econômico abrem mão de sua moeda nacional e de seu banco central. É o tipo mais abrangente de integração, cujo único exemplo na atualidade é a União Européia.
A partir do início de 1999, 11 dos 15 membros do bloco implantaram uma moeda única, o euro. A Grécia o adotou apenas em 2000 porque não tinha atingido as metas macroeconômicas definidas pelo Banco Central Europeu, no ano anterior. Dinamarca, Reino Unido e Suécia optaram por não adotar o euro naquele momento.
REFLEXÃO
1. Qual dessas modalidades de integração implica maior e menor perda de soberania política por parte dos países membros? Por quê?
2. Qual delas é a mais difundida no mundo? Por quê?
O FLUXO DE PESSOAS
Nas últimas décadas, paralelamente à aceleração do fluxo de capitais e mercadorias, tem ocorrido a intensificação do fluxo de viajantes pelo mundo, seja a negócios, a lazer ou imigrando. O principal fator para o aumento do número de viajantes internacionais foram os avanços das técnicas de construção aeronáutica: os aviões ficaram maiores, mais rápidos e seguros. Além disso, os avanços tecnológicos e a maior concorrência entre as empresas tornaram as passagens aéreas relativamente mais baratas.
Os grandes aeroportos do mundo, como o de Ias Angeles, Estados Unidos (foto de 2000), são os nós mais importantes da rede de rotas aéreas que abrange o planeta.
Participam do fluxo de passageiros as pessoas que viajam por lazer, em visita às grandes infra-estruturas de entretenimento espalhadas pelo mundo (museus, parques temáticos, grandes hotéis, etc.) esse fluxo também abrange o turismo de negócios, no qual as pessoas viajam para administrar o capital produtivo globalizado - gerentes, diretores, engenheiros, técnicos, analistas, vendedores e outros profissionais. Além desses dois tipos predominantes, há viagens por outros motivos: estudos, congressos, conferências, visita a parentes, mudança de residência, etc.
Apesar desse crescimento, o fluxo de turistas pelo mundo é bastante desigual. Está fortemente concentrado em poucos países e regiões, que apresentam melhor infra-estrutura para receber os viajantes (observe o mapa e a tabela a seguir). A maioria da população do planeta jamais colocará os pés em m avião ou conhecerá outros países, ou seja, não participará do fluxo mundial de pessoas.
Vergonha tropical
Veja
Mesmo com solo ano todo, algumas das praias mais lindas do mundo e a exuberância da Floresta Amazônica, o Brasil está em 29º- lugar no ranking de turismo internacional. No ano passado [1998] recebeu o equivalente a um quarto do total de turistas estrangeiros que foram à cinzenta Polônia (em milhões de visitantes).
1. França: 70
2. Espanha: 48
3. Estados Unidos: 47
4. Itália: 35
5. Grã-Bretanha: 26
6. China: 24
7. México: 19
8. Polônia: 19
9. Canadá: 19
28. Argentina: 5
29. Brasil: 5
Organização Mundial do Turismo. In: Veja, São Paulo, 22 set. 1999.
Concomitantemente ao crescimento do fluxo de pessoas e de mercadorias, disseminam-se pelo mundo, sob a liderança das corporações globais, determinados comportamentos, hábitos de consumo e estilos de vida, principalmente a partir dos Estados Unidos. O American way af life (o modo norte americano de viver) é difundido pela produção cinematográfica, televisiva e musical, pelas agências de publicidade, que promovem produtos das multinacionais, etc.
Surgida nos Estados Unidos, a pop art celebra o consumismo e a cultura de massas. Roy Lichtenstein (1923-1997), um de seus maiores expoentes, criou pinturas inspiradas nas histórias em quadrinhos e no dia-a-dia. Em Estúdio do artista - tratamento do pé, de 1974, tanto os bens de consumo quanto as obras de arte foram retratados em cores primárias, bastante juvenis, para serem uma fonte de satisfação visual.
Para muitos, esse fenômeno redundaria numa crescente homogeneização cultural do mundo, como percebemos ao ler os textos a seguir. Porém, o que se observa é que a maior parte da população do planeta, não podendo ou não querendo acompanhar esse modo de vida, apega-se à sua cultura tradicional, muitas vezes como forma de resistência.
Texto 1
Mundialização de usos e costumes
René Armand Dreifuss
A mundialização lida com mentalidades, hábitos e padrões; com estilos de comportamento, usos e costumes e com modos de vida, criando denominadores comuns nas preferências de consumo das mais diversas índoles. A mundialização compreende a generalização e uniformização de produtos, instrumentos, informação e meios à disposição de importantes parcelas da população mundial, que "se visitam e se desvendam" através do tráfego aéreo, com um total anual de 1,25 bilhão de passageiros (350 milhões nos Estados Unidos e 250 milhões na Europa); dos quais 340 milhões de viajantes internacionais. São cerca de 14 milhões de japoneses que viajam ao exterior anualmente, número que pode dobrar até meados da primeira década do próximo século [XXI]. A essa explosão de turistas do Japão se juntarão 20 milhões de novos ricos chineses - hoje já são três milhões - e mais 20 milhões de indianos. E mais alguns milhões de coreanos, indonésios, malaios, cingapureanos, vietnamitas e tailandeses, de um universo possível no futuro imediato de 500 milhões de asiáticos de classe média. Viagens apoiadas num certo patamar de poder aquisitivo: as sociedades da França, Alemanha, Japão, Reino Unido e Estados Unidos reúnem cerca de 200 milhões de consumidores com renda anual superior a 10 mil dólares, enquanto Brasil, Argentina, China, Polônia, Paquistão, México, Coréia do Sul, Índia, Indonésia e Tailândia têm, juntos, aproximadamente 100 milhões de consumidores na mesma situação.
(...)
Trata-se de uma população mundial que - a despeito das suas diferenças históricas (culturais, sociais, nacionais e religiosas) e das distâncias físicas - consome e reconhece como "seus" os mais diversos objetos e procedimentos: marcas e tipos de refrigerantes em lata e em garrafas sem retorno, medicamentos e comidas industrializadas, cartões de crédito e músicas na parada de sucessos, relógios e cosméticos, roupas de griffes, [...] personagens do esporte e do cinema. Gente que utiliza os intercomúnicantes subsistemas fínanceiros, que paga com cartões plásticos (a maioria pertencente a três grandes bandeiras, Visa, Máster-Card e American Express) reconhecidos no mundo inteiro, e contabiliza seus gastos e compras em dólares.
(...)
Neste sentido, a mundialização lida com a massificação e homogeneização cultural, evidente no consumo de hambúrgueres, pizzas, sorvetes, iogurtes, refrigerantes, cigarros, jeans, tênis, cartões, etc. Da China à Dinamarca, da Finlândia ao Peru, são os mesmos produtos, das mesmas marcas e modelos iguais. Mas a mundialização também incorpora as particularidades - locais, regionais, nacionais, étnicas, religiosas, de grupos sociais e culturais - subsumidas na dinâmica mundial de consumo de uma heterogênea Terra.
Trechos de DREIFUSS, René Armand. A época das perplexidades: mundialização, globalização e planetarização: novos desafios. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 136-8.
Texto 2
Desafios para os estudiosos do turismo
Adyr A. Balesteri Rodrigues
Num mundo globalizado o turismo apresenta-se em inúmeras modalidades, sob diversas fases evolutivas, que podem ocorrer sincronicamente num mesmo país, em escalas regionais ou locais. Expande-se em nível planetário, não poupando nenhum território - nas zonas glaciais, nas cadeias terciárias, até nas regiões submarinas - na cidade; no campo; na praia; nas montanhas; nas florestas, savanas, campos e desertos; nos oceanos, lagos, rios, mares e ares.
(... )
Alheio às características que identificam o lugar, como único, constroem-se resorts padronizados, modelo Club Mediterranée, onde as pessoas respiram aliviadas porque se sentem em casa, ou seja, no seu lugar de origem. São paradoxalmente iguais, em qualquer parte do mundo, nos territórios os mais escondidos e exóticos, indiferentes ao entorno, cercados por muros, no interior dos quais os turistas são confinados durante quase toda sua estada. Só acedem aos territórios extramuros em excursões programadas, participando de aventuras encenadas, rigorosamente controladas e sem riscos.
No turismo massivo os clientes parecem não se preocupar com a essência - bastam-lhes as aparências. Apesar de buscarem o desconhecido, o inusitado, a aventura, são fundamentais dois elementos: segurança e conforto, além do status que a viagem empresta ao indivíduo. No dizer de Milton Santos, "Em lugar do cidadão forma-se um consumidor, que aceita ser chamado de usuário".
Trecho de RODRIGUES, Adyr A. B. (Org.) Turismo e geografia: reflexões teóricas e enfoques regionais. São Paulo: Hucitec, 1996. p. 17-19. (Geografia: teoria e realidade)
PARA PENSAR – GEOGRAFICAMENTE
Após ler os textos, pesquise em jornais, revistas, internet para responder às questões.
1. Cite exemplos de pólos turísticos, no Brasil e no mundo, que estão sob comando de grandes grupos econômicos e de pólos em que o fluxo tem caráter doméstico e artesanal.
2. O que muda na vida das comunidades locais, quando há crescimento do turismo?
3. De que forma o crescimento do turismo 'e colaborado para a padronização mundial de hábitos e costumes?
A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Outro fluxo que tem se ampliado e acelerado com a globalização é o de informações. Os satélites de telecomunicação possibilitam a circulação de informação em tempo real, ou seja, os acontecimentos são transmitidos para qualquer lugar do mundo no exato instante em que ocorrem.
Redes de computadores, com a Internet, conectam vários lugares de quase todos os países do mundo. Por meio dela, são trocadas mensagens (e-mails) e outros tipos de arquivos e programas: é computador. Pesquisas em infindáveis bancos de dados eletrônicos podem ser realizadas sem que o usuário saia de casa, mercadorias podem ser compradas e vendidas em lojas virtuais, investimentos e contas correntes são administrados e bancos igualmente virtuais.
Redes noticiosas de televisão, como a norte-americana CNN (Cable News Network) ou a britânica BBC (British Broadcasting Corporation), transmitem imagens dos principais acontecimentos em qualquer ponto do planeta. A telefonia, fixa e celular, liga o planeta inteiro. Redes de rádio também cobrem o mundo, emitindo programas de música, entrevistas, notícias, etc., em diferentes línguas.
O espaço geográfico mundial está cada vez mais denso de infra-estruturas, como redes de comunicação e de transportes, que permitem o aumento da conexão entre os lugares. Isso levou um estudioso da comunicação, o canadense Marshall McLuhan (1911-1980), a afirmar, em 1964, que o mundo se tornou uma aldeia global. Esse termo é bastante utilizado para se referir à globalização da cultura e das informações, enfatizando que os povos estão mais próximos do que nunca.
Porém, a tecnologia de comunicações é restrita a um número relativamente pequeno de pessoas. Em alguns países desenvolvidos, ela é praticamente universal, mas muitos lugares e indivíduos nos Países subdesenvolvidos ainda não fazem parte da aldeia global. Nos países periféricos, poucos participam da sociedade da informação. Leia o texto e analise a tabela a seguir, para entender melhor o que só significa.
Acesso à sociedade em rede - quem está no circuito e no mapa?
Relatório do desenvolvimento humano 1999
O poder e importância das tecnologias de comunicação são evidentes. Mas está a conduzir a uma globalização ou a uma polarização nas comunicações?
A revolução da informação, numa escala mundial, apenas começou e as suas redes estão a desenvolver-se amplamente, em cada dia. Mas estão fortemente concentradas em apenas alguns países.
(...)
No entanto, mesmo que os sistemas de telecomunicações estejam instalados e acessíveis, sem alfabetização e sem conhecimentos informáticos básicos as populações terão um reduzido acesso à sociedade em rede. Em 1995, a taxa de alfabetização dos adultos era inferior a 40% em 16 países e a taxa de escolaridade primária era inferior a 80% em 24 países. No Benin, por exemplo, mais de 60% da população é analfabeta, o que limita fortemente as possibilidades de expansão do acesso para além dos 2 000 utilizadores da Internet existentes hoje. Mesmo para as tecnologias mais recentes e mais avançadas a política mais básica e de maior alcance depende da solução: investimento em educação.
Trechos de RELATÓRIO do desenvolvimento humano 1999. Nova York: PNUD, Lisboa: Trinova, 1998. p. 61-2.
PARA PENSAR - GEOGRAFICAMENTE
Com base na leitura do texto e na análise da tabela, responda:
1. Como está distribuído o acesso aos computadores, à rede de linhas telefônicas e à Internet no mundo? Explique.
2. Por que não faz sentido falar em aldeia global?
3. Mesmo que toda a população do mundo repentinamente tivesse acesso a avançados sistemas de telecomunicações e a modernos computadores não se resolveria o que vem sendo chamado de exclusão digital. Por quê?
Espaço de cinema
DENISE ESTÁ CHAMANDO. Direção: Hal Salwen. Estados Unidos, 1995. Alpha Filmes. 1 fita de -..deo (80 min), VHS, son., color.
Retrata de forma irônica o impacto das novas tecnologias no cotidiano. Cada vez mais, as relações pessoais passam a ser virtuais: os amigos que só se conhecem por telefone, o relacionamento amoroso via telefone e fax, trabalho via computador, desenvolvido sem sair de casa, etc. Quanto mais a tecnologia facilita o contato, mais afasta as pessoas; quanto mais aumenta a produtividade, menos tempo sobra para o lazer.
Agora, para finalizar os assuntos tratados na primeira parte desta unidade, faça a atividade a seguir.
PARA PENSAR - GEOGRAFICAMENTE
Com base na leitura dos textos e na análise dos mapas, fotos, tabelas e gráficos apresentados até o momento, produza um texto contemplando as questões a seguir.
1. Os fluxos da globalização atingem o planeta inteiro, o espaço geográfico mundial como um todo, ou seja, todos os lugares?
2. As barreiras estão sendo baixadas para todos os fluxos? Noutras palavras, a globalização é realmente global?
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